Por Pedro Hauck:
O dia internacional das montanhas foi uma data estipulada pela ONU para chamar a atenção dos povos do mundo para o problema das regiões montanhosas. Nelas, concentram-se mais de um quarto da população do planeta e destas áreas extraem-se recursos de grande importância econômica e humana, sem falar que são em regiões montanhosas onde nascem os principais rios do mundo e elas tem papel muito importante na regulagem do clima do planeta.
As regiões montanhosas do mundo sofrem atualmente de grandes problemas políticos, que inclusive abalam a paz, como é o caso do leste do Congo, e conseqüentemente problemas naturais que advém da falta de planejamento, corrupção e descaso.
Nosso país, o Brasil, não está à par desta situação. Temos em nosso território importantes áreas montanhosas, mas nelas há muitos problemas de uso e ocupação do solo que resultam em catástrofes como a que aconteceu em Santa Catarina.
Infelizmente nossas autoridades não se sensibilizam com o sofrimento causado pelos refugiados ambientais. Há ainda no Brasil projetos ambiciosos que irão causar grandes desequilibrios em nossos fragilizados geossistemas montanhosos.
No próprio Estado de Santa Catarina há uma discussão da alteração do código Florestal em que permitirá a ocupação de áreas de encosta, considerada ilegal hoje por nossas leis ambientais. No Estado do Paraná, O DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Trânsito), pretende rasgar a Serra do Mar ao meio e construir a Rodovia BR 101, interligando a Régis Bittencourt (BR 116) até o município de Garuva – SC, atravessando as encostas da Serra do Ibitiraquire, onde fica o Pico Paraná.
Em Minas Gerais está talvez a situação mais grave, pois lá a mineração já existe há muito tempo e ela consome os morros de “Cangas” da Serra da Moeda e dos maciços próximos à Belo Horizonte. Trata-se de , uma atividade necessária, mas violenta que transforma a paisagem em poucas décadas.
O Montanhismo é uma atividade saudável e de pouco impacto ambiental. Nossa cultura abrange o auto conhecimento e o respeito à natureza. Além desta importância, o montanhismo é uma forma saúdavel de se conhecer e divulgar as paisagens de montanha, este sim, o maior recurso destes frágeis e importantes geossistemas terrestres.
Às autoridades e planejadores do Brasil, fica este recado, escrito por nós montanhistas, mas assinado pela ONU, pois preservação não existe sem conhecimento e o desenvolvimento só acontece com respeita à sociedade e à natureza. Que tal então, ao invés de gastar com a destruição de nossas serras com estes projetos “faraônicos” aos moldes BR101 do Paraná, gastar esse dinheiro com a manutenção e ampliação de parques que só existem no papel?
Infelizmente os interesses dos financiadores, empreiteiros e transportadores são muito maiores do que dos ambientalistas e montanhistas, que têm interesses em comum, mas eles próprios não se entendem. Contudo, só quem tende a perder é a sociedade, principalmente os mais pobres, que são aqueles que, sem opção, ocupam áreas de risco.
Seis anos após o ano internacional das montanhas, ainda temos que repetir a lição não aprendida pelas autoridades. Até quando a natureza e o homem agüenta?