Situado oficialmente dentro de uma histórica fazenda q tb tomou emprestado o nome do ribeirão, o Cabuçu é detentor de uma respeitável cachu q não se destaca pelo volume dágua despejado e sim pelo q seu generoso formato q propicia um impressionante toboágua natureba. Inserida teoricamente dentro de propriedade particular q demanda pré-agendamento de visitação, esta queda tb é passível de acesso por meios “alternativos”, pois ela realmente pertence ao Pq Est Serra do Mar. Este é o relato da nossa incursão ao lugar, uma aventurinha q quase terminou na delegacia, cercados por pm´s fortemente armados, um caseiro com facão em punho e uma enraivecida tiazinha q quase voou no pescoço de um integrante do nosso intrépido trio.
O céu azul daquele inicio de manhã prometia. A atmosfera transparente do firmamento permitia largos vislumbres do horizonte ate onde a vista alcançava, ainda mais qdo a paisagem abriu-se maravilhosamente ao descer a serra pela Rodovia Anchieta. No carro, eu, o Nando e a Alê estávamos empolgadíssimos em visitar uma cachu das quais poucas (ou sequer nenhuma) info concreta é encontrada, nem mesmo buscando exaustivamente pelo mundo virtual. Até hj, claro.
Caimos então na SP-55 (antiga BR-101), mais conhecida como Rio-Santos e dali tocamos estrada acima adentrando na área continental da Baixada Santista, atentando pra kilometragem percorrida. Não tardou e ao chegar no km 241 chegamos ao nosso destino, a entrada oficial da Fazenda Cabuçu (“vespa gde”, em tupi), situada no meio de nada e lugar nenhum às margens da rodovia. O relógio marcava pontualmente 10:15hrs e o sol fritava nossas cabeças qdo fomos buscar informações da tão almejada cachu. Uma simpática senhora nos atendeu e apresentou-se como esposa do caseiro local. Perguntamos se poderíamos adentrar pra conhecer a queda e ela foi reticente q isso não seria possivel. Para tal era necessário um pré-agendamento com os proprietários (por tel ou email), algo q segundo ela era demorado mas com paciência de Jó, possível. Pedimos os contatos por formalidade mas ela so nos passou um telefone. Bem q tentamos insistir em q ela fizesse uma excessão permitindo nossa entrada, passando por cima de tds essas formalidades burocráticas de praxe, alegando q senão perderíamos td viagem até ali. Mas não teve jeito. A retada sra se manteve ressoluta e inflexível em cumprir a risca seu dever de não permitir o acesso a ninguém sem a devida permissão. E ela tava mais do q certa, apenas cumprindo sua função.
Pois bem, acionamos então o “Plano B”. Deixamos o veiculo ali (sim, isso era possível!) pra andar estrada acima. Se não era possível chegar na cachu pela entrada oficial, o faríamos bordejando os limites da propriedade varando mato até interceptar algum afluente do Rio Cabuçu pra então subir o rio até a queda, q pelos estudos prévios via Google Earth não distava mto da rodovia. Comecamos então a pernada pelo asfalto, passamos por um pequeno pontilhão sobre o manso Rio Cabuçu e tocamos em frente. Andamos menos de 1km e mergulhamos na mata q ornava a beira de estrada, azimutando a bússola pra norte/noroeste. A idéia era rasgar mato no peito até chegar numa visível linha de torres de alta tensão, onde decerto deveria existir alguma picada/trilha de manutenção q facilitaria o avanço. Se a mesma iria estar roçada ou não já eram outros quinhentos.
O inicio do rala-mato foi tenso. Um emaranhado de espessa vegetação formada de cipós espinhentos, lírios-do-brejo e arbustos empoeirados custou a ser transposto, mas passado este trecho inicial o avanço ficou mais aceitável, já no miolo deste pré-bosque selvático. Depois a caminhada arrefeceu, e o avanço tornou-se ritmado e compassado, bastando desviar dos obstáculos q por ventura surgiam no caminho, como enormes buracos no chão, pequenos córregos cristalinos ou voçorocas espinhentas de mato tombado.
Um tempo depois emergimos da mata fechada pra cair no aberto, mas não do vara-mato. O alto capinzal exigia longas passadas pra q a medida q avançássemos o mato baixasse pra quem vinha atrás, e assim sucessivamente. Mãos tb ajudavam muito, afastando da frente galhos, espinhos e folhas mais urticantes. Eu e o Nando nos reverzávamos nessa árdua tarefa, deixando o caminho aberto pra sempre lady, sorridente e pau-pra-td-obra Lelê. Algumas bananeiras no caminho redobram nossa cautela, uma vez q as mesmas costumam ser abrigo natural pra cobras peçonhentas. Aos poucos já conseguíamos avistar a proximidade das torres de alta tensão e rumar em sua direção.
Ao tropeçar finalmente com as referidas torres, qual nossa surpresa sua base se encontrar no mais puro brejo pela proximidade de um pequeno afluente. O jeito foi bordejar o charco até o córrego q o abastecia, nos firmando no mato q tivesse a mão. E foi ai q encontramos vestígios não de trilha mas sim de vegetação pisoteada, indicio de circulação de algo ou alguém. E com certeza daria nalgum lugar mais seguro. Resolvemos acompanhar o rastro pois ele ia na direção desejada, sempre bordejando esse afluente, mas foi ai q percebemos q logo teríamos de cruzá-lo pois a picada aparentemente começou a retornar pro asfalto. Estudamos a profundidade do mesmo e encontramos um trecho onde era possível atravessar as águas frias e cristalinas daquele riozinho com agua até um pouco acima da cintura. E la fomos nos atravessando o dito cujo, pisando cuidadosamente o fundo arenoso ao mesmo tempo em q equilibrávamos as mochilas acima da cabeça.
Na outra margem retomamos a rasgação de mato no peito, no mesmo compasso anterior e sempre tocando pro norte. No caminho, babaneiras, alto capinzal e alguns cipós são relativamente facil transpostos qdo de repente é possível avistar a proximidade de um terreno bem aberto ao nosso lado. Não pensamos duas vezes em sair daquela ralação e assim, as 11:15hrs, caímos numa larga e precária estrada desativada, q a principio pensamos se tratar de manutenção das torres mas depois ficamos sabendo q pertenciam á Faz. Cabuçu mesmo. Ou seja, estavamos dentro da propriedade particular e, em tese, éramos invasores.
Ignorando este fato e supondo q estávamos nos limites legais da fazenda, simplesmente tocamos pela precária via, pois ela ia no sentido desejado, ou seja, pro norte. A caminhada pela bucolica estrada era um luxo se comparda á ralação anterior; bem batida, larga e sombreada, nada podia ser melhor aquela altura do campeonato. E o melhor, acompanhava o tempo td o cristalino Rio Cabuçu, q marulhava mansamente ao nosso lado. Limo esverdeado e enormes raizes do arvoredo em volta brotavam em profusão na superficie pela via palmilhada, indicando q realmente aquela vereda estava a mto desativada mas q um dia tivera gde movimentação dada suas dimensões.
Após andar um retão interminável sem desnível nenhum e passar por um casebre abandonado á esquerda, as 11:40hrs a estrada terminou e deu lugar a uma trilha, q deu continuidade a nossa decidida pernada. Neste trecho cruzamos com um quarteto com material de filmagem retornando, a quem apenas cumprimentamos cordialmente.
Visivelmente nos encontrávamos no inicio do sopé serrano pois a partir daqui o caminho começou a ascender suavemente. Da mesma forma, o Cabuçu mostrava-se agora mais furioso e cada vez mais encachoeirado, era nossa constante companhia à direita. A medida q avançávamos o terreno se tornava cada vez mais acidentado, ao mesmo tempo em q cruzava sempre com pequenos filetes q desaguavam no rio principal. O terreno embicou e subitamente nos vimos ganhando altitude através de uma crista suave e densamente florestada, desviando de raizes q teimavam em emergir pela trilha. Foi ai q já era possível ouvir o rugido de uma gde queda próximo, sinal q já estávamos chegando ao nosso destino.
Dito e feito, ao meio-dia exato a vereda nos levou finalmente as margens do enorme e translúcido poço onde as águas do Cabuçu eram despejadas espetacularmente de uma altura de quase 20m de uma enorme, larga e respeitavel laje semi-vertical, cuja inclinação beirava facilmente acima dos 45 graus. Estávamos na Cachu Cabuçu e a pernada havia valido a pena pelo cenário q tínhamos a nossa frente. Acima da cachu a laje tinha continuidade e se perdia na vegetação ao redor, o q dava uma noção exata da grandiosidade e imponência daquele belo lugar. Jogamos as mochilas na margem pedregosa do lago e nos presenteamos com um refrescante e gelado tchibum, q nunca esteve tão gostoso. Um detalhe curioso é q o GPS do Nando indicou q ali estávamos um pouco acima dos 100m de altitude, ou seja, a cachu não pertencia a fazenda. A partir daquela cota altimetrica, teoricamente, aquela área pertence ao Pque Estadual Serra do Mar!
As duas horas sgtes ficamos ali, merecidamente descansando e curtindo aquele belo e bucólico remanso, com direito a muito tchibum, lanche, descanso e mais tchibum. Não necessariamente nessa ordem, claro. A Lelê o Nando ate deslizaram (após criar mta coragem) pelo enorme e respeitável tobogã natureba ate caír no piscinao, loucura da qual assumidamente declinei pq já não tenho mais idade pra esse tipo de ousadias. O acesso ao topo da cachu é sussa e se dá por ambas encostas: pela esquerda, mediante uma íngreme crista ascendente; ou pela direita, numa piramba q alterna enormes blocos de pedra desmoronados. Outro detalhe é q o lugar, por estar espremido num vale estreito, nunca esta 100% iluminado pelo sol. Durante td tempo q ficamos ali os braços do Astro-Rei so abraçavam alguns determinados ptos tanto do poço como da cachu, mas não td de uma vez só, motivo pelo qual o lugar é predominantemente frio e pouco iluminado, mesmo ao meio-dia. Mas creio q nalguma outra época do ano o Sol privilegie aquele pequeno paraíso com seus acolhedores raios de forma senão plena, ao menos com mais vigor q naquela ocasião.
As 14hrs, satisfeitos e revigorados, emprendemos o mesmo caminho de volta, agora sentindo o mormaço abafado daquele calorento inicio de tarde. E tome trilha, estrada, rio, vara-mato e asfalto, onde pisamos novamente as 14:30hrs, sendo a volta mto mais rápida q a ida. Mas foi ai q começou a dor-de-cabeça, q coroou com uma amarga cereja de bolo a nossa deliciosa incursão ao Cabuçu.
Ao nos aproximar do veiculo havia um jovem e um senhor nos esperando, este último empunhando um enorme facão. “Agora ces vão se ver com a ´puliça´ q já ta vindo pra cá!”, esbravejou na nossa direção. O referido senhor era o caseiro do lugar e seu filho, pronto pra nos repreender. Não tardou em se juntar a dupla a tal simpática e dócil senhora com q tínhamos conversado horas antes, agora com sangue nos zóio e um olhar q fuminaria qq um com uma única piscadela. “Vcs são sem-vergonha! São ´salteadores´! Eu avisei q não podia entrar!”, a outrora dócil senhora vociferou na nossa direção, beirando o descontrole. Foi ai q começou um imbróglio mais q desnecessário, q no final concluímos q não passou de mero teatrinho da parte deles. Explicamos tin-tin por tin-tin nossa rota, mas principalmetne q a cachu não tava na propriedade q eles tanto cuidavam. Logicamente q não quiseram nem saber, e então calmamente ficamos ali prostrados e dispostos a esclarecer o babado com a policia mesmo, q segundo eles já tava a caminho.
Durante a interminável espera foi possível conversar mais sensata e civilizadamente com o caseiro da fazenda, agora mais calmo, q realmente percebeu q não queríamos nada além senão curtir a cachu e não destruir/farofar/caçar no lugar, q era seu real receio. Foi ai q tomamos conhecimento q os limites da fazenda iam bem além do rio, e não a partir dele, como supúnhamos, uma vez q rios costumam ser divisa natural na maioria dos casos. E a velha sra? A dita cuja encolerizou de tal forma conosco q so não chegou as vias de fato com Nando (“Ah, não falo mais com vc!”, disse ele pra ela) pq seu esposo e filho a puseram pra dentro da casa, e não escoderam ficar enrubescidos pelo desequilibrio emocional dela. Em tempo, estacionado do lado do nosso carro havia outro veiculo encostado, pertencente a um caçador (!?). E no rio, dentro da fazenda, havia um pescador divertindo-se tranquilamente (!?!?). E nada da policia chegar pra nos autuar por “invasão de propriedade”.
Qdo a viatura chegou, após mais de uma hora de interminável espera, os policiais desceram com metranca na mão, provavelmente na esperança de encontrar ladrões, saqueadores ou qq espécime-sangue-ruim no lugar. Contudo, não conseguiram disfarçar seu desapontamento pq ao invés disso se depararam com um inofensivo trio de jovens q unicamente quis curtir um tchibum de cachu num dia quente (cansado e sedento, claro!), porém tranqüilo e bem-disposto a prestar qq esclarecimento. “Bem, acho q vcs já se entenderam, suponho! Visivelmente este pessoal é de bem!”, disse um dos policiais ao caseiro enqto guardava a pistola. Ainda assim o caseiro fez questão de registrar a ocorrência, mas nesse meio termo conversamos animadamente com os policiais, já q dois deles haviam sido escoteiros e conheciam bem as quedas da Baixada, como a Cachu do Morro e do Caruara. Com eles pegamos dicas valiosas pra outras empreitadas locais, mas a informação q mais nos chamou a atenção era a de q, segundo os policiais, a Cachu do Cabuçu tinha outro acesso “público” pela rodovia, coisa de dois kms dali pra frente!!! Pois é, td aquele mal-entendido (e gasto desnecessário do dinheiro público) poderia ter sido mto bem evitado se a esposa do caseiro tivesse dado essa simplória informação desde o inicio!!! Disto so posso concluir q a Fazenda Cabuçu deseja a td custo manter o monopólio de acesso à cachoeira por ali, ou seja, através da sua propriedade. E quiçá seja por isso q apenas é somente uma agência a única credenciada a fazer o passeio á bonita queda.
O fato é q essa canseira imprevista nos tomou um tempo precioso q tínhamos planejado pra visitar outros atrativos do litoral, e so fomos liberados qdo eram quase 16hrs!! Nos despedimos do caseiro, seu filho e dos policiais e nos mandamos dali, a procura urgentemente de um boteco pois estavamos com a goela bem seca e ainda queriamos aproveitar ainda o restante do dia. Não pensamos duas vezes e fomos pra Bertioga, q estava ali do lado, estacionar na Prainha Branca. Enqto aguardávamos a balsa pra Ilha de Sto Amaro já fomos calibrando a garganta com latas geladas de Colônia, q estavam em promoção num mercado. A travessia do Canal de Bertioga foi embalada com tantas outras latas, q já deixaram nossas pernas cambaleantes assim q pisamos na ilha em questão.
Passamos o “Portal da Estrada Parque da Serra do Guararu” e tomamos a picada rumo a Prainha Branca já meio q na inércia. Decidimos finalizar o dia assistindo o por-do-sol naquela bela praia q a Lelê não conhecia. Eu não pisava na ilha havia mais de dez anos e pra mim foi uma grata surpresa constatar poucas mudanças, tanto q penso seriamente retornar em breve. Uma das primeiras q saltou aos olhos foi a melhoria da trilha de acesso á praia, com chão cimentado e corrimão. Subimos o morro devagar-quase-parando pra depois começar a desçê-lo do outro lado, ao mesmo tempo em q se descortinava o belo visual céu celeste limitado pelo oceano azul, pontilhado de ilhas. Pernada esta de encosta q guarda semelhanças com aquela q leva da Vila do Oratório à Praia do Sono, na Joatinga.
Vinte longos minutos depois chegávamos na rústica vila da Prainha Branca, onde vi q aparentemente td continuava igual. Reconheci ate o camping onde havia acampado década atrás. Imediatamente estacionamos no primeiro boteco a beira-mar e la nos prostramos, entornando mais uma geladas e comer uns salgados pra fechar o dia. A Lelê ainda teve disposição pra ainda dar tchibum no mar e o Nando reencontrou um pulguento com o qual dividira uma noite de amor na barraca, mês atrás. E la ficamos de boa, so no relax bebemorando aquele final de dia bastante produtivo e q nos reservara algumas surpresas.
Zarpamos somente depois das 19hrs, enxotados pelo maluco rastafári dono do boteco q fechava antes da hora. A volta pela trilha foi feita na total escuridão, onde o caminho irregular foi iluminado na base dos celulares acionados. So isso impediu q torcêssemos ou tropeçássemos varias vezes naquele breu. A travessia de balsa foi tranqüila e assim q pisamos em Bertioga estacionamos num quiosque pela ultima vez, onde mandamos ver delicioso pastel e dogão pra aplacar a larica. O Nando ainda mandou ver uma Cambuci, afinal q voltaria dirigindo seria a Lelê, a única alma sóbria do nosso trio q so bebe refri. Claro q eu votei dormindo td resto da trip de volta.
Resumindo, a Fazenda Cabuçu é uma referência histórica da Baixada Santista; já serviu de abrigo á Companhia de Jesus, catequizou indígenas, foi gde produtora de banana e até forneceu lenha durante a 2ª Guerra, mas atualmente não tem nenhuma ocupação econômica. Existe apenas um convênio entre a Prefeitura de Santos e o Grupo Sete Lagoas Agricola S/A, atual proprietário do lugar, em manter a fazenda preservada pra fins “ecológicos”. Entre eles a visitação monitorada da Cachu Cabuçu mediante pré-agendamento. Outra alternativa de acesso a queda é a dica dada pelos policiais, ou seja, buscar essa trilha pública q nasce da rodovia e bordeja os limites da fazenda. Cabe a vc investigar a veracidade dessa info, se é q ela ainda é valida. Apenas evite a qq custo entrar sem autorização em propriedade particular sob risco de ter a mesma dor-de-cabeça e chá-de-cadeira (desnecessários) q tivemos. Pois pelo visto é somente aqui, na região sudeste, q trilheiros conscientes são ainda vistos como “invasores”, status q aparentemente supera (com ampla e larga vantagem) o dos verdadeiros extratores ilegais.
Jorge Soto
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1 comentário
Cai aqui por acaso vibrei ai tu fala da prainha branca os caminhos a noite aff s balsa e a chegada a Betioga..viajei no no relato outro tempos adorei