É em Diamantina que o Espinhaço se abre em duas escarpas, com um grande planalto entre elas. Nele existe uma imensa reserva vazia. Mas ela convive com duas outras áreas de conservação, bem instaladas e muito visitadas. Descrevo agora estas duas últimas.
Diamantina surgiu como o Arraial do Tijuco, onde o contratador de diamantes, então o homem mais poderoso da Colônia, apaixonou-se por uma negra. Foi ela Chica da Silva, a escrava que se fez rainha.
Ao contrário do ouro, o diamante perdurou por mais de um século, interrompido pelas descobertas na África do Sul. Mas persiste lá a atividade garimpeira: milhares de homens dedicam-se ainda hoje a este sonho fugaz.
Diamantina é uma linda cidade colonial, situada num platô elevado e panorâmico, frontal a uma grande parede em quartzito. É a capital do Alto Jequitinhonha, essa região fria, árida e rochosa, cujo céu estrelado até hoje reflete os diamantes do passado.
Veja agora as duas reservas mais próximas a Diamantina:
Biribiri: O PE do Biribiri tem uma história curiosa, quando o Bispo de Diamantina decidiu fundar lá uma fábrica de tecidos, para empregar moças pobres. Funcionou por cem anos e acabou fechando, doando suas terras em troca das dívidas. Surgiu então uma graciosa UC adjacente a Diamantina, com a apreciável extensão de 17.000 ha. Sua cobertura vegetal é composta por cerrados e campos rupestres.
As principais atrações são duas cachoeiras, formadas pelos Rios Sentinela e Cristais – pequenas quedas de uma beleza rústica, que merecem de fato ser visitadas. O Biribiri costuma ser passagem ou destino de travessias entre os Parques do Rio Preto, das Sempre Vivas e do Itambé. Abriga também parte do Caminho dos Escravos, são 20 km entre Diamantina e Mendanha.
Mas este é quase um parque urbano, dada a proximidade com a cidade e a boa condição do acesso. Portanto, evite os fins de semana, para que sua natureza não seja invadida pelo barulho dos humanos.
Rio Preto: O PE do Rio Preto dispõe hoje de 12.180 ha, que devem ser logo ampliados. Acredito que, junto com Ibitipoca e Rio Doce, seja o mais bem estruturado de Minas: apresenta excelentes alojamentos, ampla área para camping e boa sinalização.
Localiza-se em São Gonçalo do Rio Preto, ao norte de Diamantina. O Parque abrange as nascentes do Rio Preto, que o atravessa no sentido norte e integra a bacia do Jequitinhonha. Sua vegetação alterna formações de cerrado e campo rupestre, com matas ciliares nas vertentes dos córregos (ver mapa).
O maior acidente geográfico é o Pico dos Dois Irmãos, formação dupla com 1.830m. A região apresenta uma natureza um tanto dura, entretanto amenizada pelas praias e poços, corredeiras e cachoeiras, em especial no Rio Preto e no Córrego das Éguas.
As atrações ficam ao norte, por onde, aliás, você ingressará no Parque. A razão disso é que sua topografia se torna acidentada a sul, à medida que começa a Chapada do Couto. Você partirá da altitude de aprox. 750m da sede do Parque até os 1.600m dos campos altos do Couto.
Há dois roteiros populares, dos mirantes e das cachoeiras. Dos primeiros, existem os da Estrada Real, da Pedra e do Monjolo. Das segundas, a trilha mais interessante são os 12 km que chegam à Cachoeira do Crioulo e retornam pela Cachoeira Sempre Vivas, duas quedas muito bonitas. A visitação às corredeiras do Rio Preto, com suas lajes rosadas e suas águas vivas, exige 10 km ida e volta – menos de 3 km acima, fica o Poço Capão.
Mas o caminho mais exigente é aquele que percorre a Chapada do Couto, no sentido do Pico Dois Irmãos, com 36 km ida e volta a partir da sede. Durante talvez 7 hs, você atravessará cerrados de candeias e campos de arbustos e gramíneas, passando por diversos afluentes do Rio Preto. Existe lá em cima uma casa de apoio, a 1.400m, onde você poderá pousar. Mas você pode subir mais rapidamente, em menos de 1 hr, se chegar de carro até a base do pico pelo lado oposto.
Você pode acampar ou alojar-se no Parque por alguns dias, pois há várias outras atrações, como lapas com pinturas rupestres, praias com areias brancas e muitos poços naturais. Mas agende antes, algumas trilhas necessitam de permissão.
Na coluna seguinte, vou abordar o PN das Sempre Vivas, com um visual austero e grandioso – e infelizmente desconhecido e abandonado.