O Gigante

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Sim, existe mesmo uma montanha com este nome tão ambicioso, mas ela bem o merece. Quando você olha lá de baixo no Vale do Paraíba em direção ao Maciço de Itatiaia, nem sempre nota uma formação com cristas acidentadas à sua frente. Ela é a Serra do Alambari, menos elevada do que o maciço, mas dotada de lindas escarpas rochosas. 

Gorila e Gorilinha, Serra do Alambari, RJ

O acesso mais fácil me parece pela bucólica vila da Serrinha, que está no seu sopé. Ela fica numa saída da estradinha que vai à conhecida estância de Visconde de Mauá. Foi num fim de semana que me encontrei lá com um guarda parque, para subirmos a duas formações do Alambari chamadas de Gorila e Gorilinha.

Depois de um longo aclive pela abundante mata de encosta, você encontra os rochosos que deverá atravessar para chegar ao Gorilinha. Agora, você terá de alcançar o colo que o separa do Gorila, a partir do qual uma agradável, porém cansativa escalaminhada o conduzirá ao cume. A visão desses altos da Mantiqueira é sempre especial, alcançando grandes encostas, vales profundos e picos abruptos.

Serrinha do Alambari, RJ (Fonte – Divulgação)

Nosso plano era acampar nas partes altas, mas o rápido progresso nos convenceu a retornar antes. Ao cair da tarde ainda estávamos no interior da mata, onde resolvemos pousar. Foi o bonito pio de um jacu que me acordou na manhã seguinte. Nosso retorno cedo nos permitiu aproveitar a cidadezinha.

Mas, se você está lá em baixo na Serrinha, o visual mais impressionante é mesmo o do Gigante. É uma montanha mais elevada, com quase 2.200m, com uma depressão profunda para o pico ao lado, chamado de Ovo (aprox. 2.100m). É o colo pronunciado que torna tão interessante esse conjunto e justifica o nome de Gigante para sua formação mais alta.

O Gigante por trás do Ovo, Serra do Alambari, RJ (Fonte – Divulgação)

Então, claro que marcamos um novo encontro na Serrinha para chegar ao Gigante (embora seja também possível alcançá-lo pelas terras altas do PN de Itatiaia). Saímos no começo de uma fria manhã, mas logo no início da subida pela mata fomos interrompidos por um grito. Era o dono do terreno, desafeto de meu amigo guarda florestal, que nos ameaçava com um revólver. Era um velho magro e nervoso, nos mandando voltar. Tentei argumentar com calma, dado que sua implicância não era comigo. Não adiantou, retornamos. Desta vez, frustrado pelo incidente, não tive tanto interesse em passear pela vila.

Sempre que retornei à região, escolhi o planalto acima, onde estão as notáveis montanhas do PN de Itatiaia. Anos depois, conheci os Três Picos (nada a ver com o de Friburgo), uma bela formação mais baixa e bem próxima, e nem me lembro se de lá pude enxergar o Alambari. Mas revi o Gigante numa travessia, dominando uma das encostas do Parque. Quem sabe o velho já subiu para o céu e não mais me impedirá de subir até o Gigante?

Travessia em Itatiaia, com o Gigante ao Fundo (Fonte – Roberto Lacaze)

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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