Entretanto, idade é besteira, basta o sujeito não parar de praticar e ter motivação, de acordo com o Fernando Vieira. Temos vários exemplos para provar esta tese. Aliás, para certas atividades de resistência e condições complexas em montanhas, a idade avançada aliada à experiência é um trunfo importante. Até em vias esportivas muitos coroas se saem bem, o número não é maior porque haja saco para ficar trabalhando via, como é o caso do André Martins (Godofe) de 45, que fez pela segunda vez uma via de 10a na Barrinha.
Na América do Norte e na Europa é comum escaladores/montanhistas quarentões e cinquentões fazer grandes travessias e escaladas de longa duração com velocidades muito abaixo da média. Levando em conta a proporção, aqui no Brasil não é diferente, alguns colegas fazem o mesmo. Somos poucos porque o nosso universo é pequeno.
O “segredo” de escalar rápido, em minha opinião, pode ser resumido no seguinte: conhecer bem as técnicas de segurança mas ignorá-las com sabedoria (segurança em excesso = lentidão); saber fazer as costuras certas nos lugares certos (saber usar costuras longas é importante); estar em boa forma (técnica, física e psicológica); escalar o mais leve possível, pra quê levar em vias longas: GPS, rádio, comida em excesso, água que dá para tomar banho, agasalhos pesados, material técnico em acesso do tipo ATC + Gri-gri + 2X a quantidade de material móvel necessário, etc…
Aqui vai um conselho: esticar a corda toda em certas vias não é sinal de eficiência e rapidez, porque o atrito e o peso diminuem muito a velocidade do guia, que acaba ficando lento.Enfim, existem muitas técnicas, macetes e conselhos para poder escalar rápido. Certa vez montei uma palestra sobre o tema, mas não a ministrei.
Já vi muita gente, mas muita gente mesmo pagar um preço muito alto por levar equipamentos em excesso, do tipo “estou preparado para o que der e vier”, mas esta frase tornou-se falsa. Mas às vezes escalar excessivamente leve pode ser também ruim. Mas aí entra a experiência, um bom planejamento e conhecer razoavelmente o ambiente em questão. Escalar rápido não é subir correndo como um maluco, é preciso planejamento e conhecimento.
Exemplo: semana passada Diego #@&$$**!! e eu escalamos a Leste do Pico Maior de Friburgo em 56 minutos. Levamos uns 40´ para rapelar. A tática foi usar apenas uma corda de 8,2mm X 60m e 20 costuras (10 longas). Usamos a corda em única e costuramos apenas certos grampos, os que davam atrito eram ignorados (em geral pulávamos um ou dois grampos, às vezes mais…).
Obviamente a escalada foi em simultâneo da base ao topo. Planejei tudo, conhecia muito bem a via e sabia exatamente o que fazer. Tem risco? É óbvio que existem riscos, mas você tem plena consciência desses riscos e isto é importante.
O que tem de especial escalar rápido? Nada, a não ser o fato de se cansar menos e ficar “tirando onda”, deitado e bebendo whisky no gramado lá embaixo. Ok, deixando a brincadeira de lado, em certos lugares escalar rápido é sinônimo de segurança, especialmente em ambientes alpinos.
Enfim, tenho vários amigos quarentões que são escaladores fantásticos e posso dizer que a idade não pesa, alguns, inclusive, continuam comportando-se como velhos adolescentes. O André Ilha, por exemplo, completando agora 50 anos, parece que tem como dieta básica granola com formol.
Tenho colegas no RJ sessentões, ou quase lá, que continuam escalando muito bem.
E aqui vão os parabéns pelos feitos de Élcio Ferreira.
Antonio Paulo Faria
(*) O Emerson de Sabará (MG) certa vez disse… depois de ter bebido 1/5 do whisky da minha garrafa: “São Foda é o padroeiro das putas!”. É verdade, nós somos velhinhos normais, a galera é que anda muito devagar Hahahaha. Não levem estes comentários muito a sério.