Antes de qualquer coisa é preciso salientar que a prática da escalada livre de equipamentos é muito usual, tanto no Brasil quanto fora! E muitos dos adeptos do “solo” nunca sofreram um acidente. Aliás, mesmo que não sejam adeptos, muitos escaladores já escalaram uma ou outra via sem o uso do equipamento e, inclusive, posso me colocar neste grupo.
Um dos acidentes, ocorrido na região do Buraco do Padre, próximo à cidade de Ponta Grossa, nos trouxe muito pouca informação, tornando assim impossível determinar o que realmente ocorreu. Inicialmente, observando os dados repassados, podemos imaginar que o acidentado estava preparando uma equalização, ou para escalar posteriormente a via em top rope, ou para praticar o “famoso” rapel. Contudo, como afirmei, a falta de informações não possibilita uma análise melhor dos fatos ocorridos.
Já com relação ao outro acidente, no morro do Anhangava, vitimou com algumas fraturas um grande amigo que estava “solando” uma via chamada Vaca Profana (7B). Esta via não possui uma linha para guiar, e pode ser feita tanto de boulder quanto com corda de cima, instalada na terceira chapeleta de uma via lateral, chamada Escoteiros (6º). (veja imagem)
Trata-se de um escalador experiente, que assumiu os riscos quando foi solar a via. Ele mandou a via sem maiores dificuldades e, para sair, continuou a escalada pela via Escoteiros, em seu trecho mais fácil (um 4º grau), onde ao final, desescalaria a via Andorinhas (3º Sup). Por motivo desconhecido sofreu a queda, exatamente num trecho fácil, que raramente vemos alguém sofrer uma queda.
Porém, como eu disse, trata-se de um escalador experiente, que tem plenas condições de assumir tais riscos, da mesma forma que qualquer um assume os riscos ao fazer uma caminhada até uma montanha qualquer ou escalar uma via tradicional de grande parede!
Entretanto, nas conversas e discussões, vemos muitos montanhistas falarem dos acidentes como imprudência dos próprios montanhistas.
Ora, acidentes acontecem, e o montanhismo, seja na modalidade trekking ou escalada, sujeita seu praticante a tais riscos. É inerente que vez ou outra estes riscos far-se-ão notar através de – pequenos e insignificantes ou grandes e desastrosos – acidentes!
E como montanhista, vejo que necessitamos aprender a conviver com estes acidentes e, ao invés de criticarmos o risco assumido pelos acidentados, devemos simplesmente procurar os possíveis erros que eles cometeram, utilizando-os como aprendizado para evitá-los e que não sejam cometidos novamente!
Cada um deve escolher o risco que lhe caiba, sabendo de antemão suas reais condições de enfrentar este risco, desde àquele que se julga proficiente para enfrentar a parede sul do Aconcágua em solo, como fez Messner, ao que entende que uma caminhada pelo belo gramado do parque central da cidade oferece sérios riscos à sua integridade física!
Viva as diferenças!
Abrazos!