E o q descobri foi q o Capuava agrega as melhores características doutros picos: do Saboó (São Roque), o desnível acanhado de apenas 300m; do Urubu (Mogi), a facilidade de acesso e presença de praticantes de vôo livre; e da Pedra Gde (Atibaia), a deslumbrante panorâmica descortinada do entorno, no caso, do Alto Tietê. Programa breve e tranqüilo de ascenção de serrote doméstico ideal pra alguem q, como eu, dispõe apenas meio-dia prum bate-volta.
Chegamos mais rápido q o previsto na pacata e tranquila Pirapora do Bom Jesus, importante centro de peregrinação religiosa de São Paulo (“A cidade com a fé viva”, conforme divulgação local). A facilidade de acesso e ausencia de trânsito tanto na Castelo Branco (SP-280) como na Estrada dos Romeiros (SP-312) fez com q pisássemos no famoso centro peregrino por volta das 9:30hrs. O clima interiorano de cidade “pé-verméia” se faz sentir logo na entrada, qdo tivemos alguma dificuldade de estacionar o veículo por conta dum par de cavalinhos circulando tranquilamente, numa boa, bem no meio da rua principal.
Sem pressa alguma eu, Lore, Carol e a irriquieta Chiara nos demos o luxo de tomar um delicioso desjejum no Bar do Thiaguinho, na base de café fresco, salgados e um suco “natural” q mais parecia anilina entupida de açúcar. O sol a pino daquele horário nos calçara previamente de protetor e bonés, uma vez q a pernada seria na ausência completa de sombra, feita no aberto. Além do mais, não sabendo o q encontrar no alto do pico almejado praquele dia, levamos água de sobra pois o calor decerto ia pegar forte dentro de algumas horas mais.
Mochilas nas costas, ajeita aqui e ali, e finalmente começamos a pernada, primeiro subindo a rua ao lado da Igreja Matriz pra depois tomar qq outra q fosse na direção do morro repleto de cruzes próximo dali, a leste. Serpenteando as ruas locais, num piscar de olhos caímos outra vez no asfalto da Estrada dos Romeiros, um nível mais acima, pela qual seguimos instintivamente durante bom trecho. Qdo ass casas e estabelecimentos de Pirapora ficam pra trás, no cruzamento sgte basta acompanhar a sinalização “Araçariguama – Via Pedagiada”, sem problemas. Vale mencionar neste trecho, feito na segurança do acostamento, a abundancia de cruzes fincadas a margem da estrada. Boa parte delas é pagação de promessa, embora tb algumas sejam de gente vitimada na estrada.
Abandonamos o asfalto logo após subir um tantão as 10:30hrs, mais precisamente ao lado duma cruz com os dizeres “14ª Estação – Jesus é colocado no sepulcro”. Mas o q ajuda mesmo é a presença constante de setinhas amarelas (nos postes) apontando a direção a ser tomada, provavelmente deixadas pela galera praticante de bike e moto-cross. Daqui em diante a pernada nivela e basicamente descreve o contorno do morrote avistado da cidade (aquele das cruzes). A poeirenta estrada é agraciada pela sombvra fresca do arvoredo apenas no inicio, pq depois o visu abre e o horizonte descortinado pelas largas vistas merece menção. Percebe-se q ate aqui nossa ascenção já foi de quase 100m, pois avistamos já tanto a pequenina Pirapora, a oeste, como o largo serrote da Serra do Voturuna, ao sul. Com menos ou quase nenhum trafego, neste trecho a Carol pode largar a pulguenta Chiara, q ate então nos acompanhada folgadamente carregada no colo. A farta vegetação do trajeto igualmetne deu lugar a encostas peladas, com mato ralo ou ressequido, e algumas pequenas arvores retorcidas evocam um quê de cerrado ao entorno.
Dez minutos depois alcançamos um largo patamar q serve de mirante, onde inúmeras cruzes enormes fincadas no solo demonstram a devoção dos peregrinos em busca de pagação de promessas. De tds os tipos, formas e tamanhos, estas cruzes tem as mais variadas inscrições e são a melhor representação do sincretismo religioso q tipifica a pacata Pirapora. “Ta vendo q não era cemitério isto aqui? É q visto de baixo parece mesmo..”, falei pra Lore. Uma enorme cruz branca disposta num patamar divide espaço com as demais fincadas pelos devotos, assim comocom alguns pratinhos de cerâmica contendo despachos e afins, demonstrando q o lugar não discrimina religião alguma. Mas o melhor mesmo do lugar é o visual, q contempla tanto a pequena Pirapora como oferece o primeiro vislumbre do espichado serrote q abriga o Morro do Capuava, coroado por duas enormes torres no alto. Tristeza apenas era constatar o morro totalmente chamuscado de queimadas, onde uma evidente linha cortado-o pela metade delimitava o trecho intocado e verdejante daquele atingido pelo fogo, preto ou amarelado.
Pois bem, a partir daqui é visível nossa rota a seguir, não tem erro. Sem necessidade alguma de bussola ou GPS, basta acompanhar a estradinha de chão palmilhada e prestar atenção na sinalização do caminho. No caso de duvida, se é q isto é possivel, siga a placa “Vôo livre – Motocross”, cujo desgaste já desbotou boa parte das inscrições. No trajeto, a espoleta Chiara encontrou uma cobrinha verde recém-atropelada no meio da estrada. “Cuidado, não chega perto! É cobra-cipó mas vai saber se não ta viva ainda!”, alerta Carol.
Surge uma bifurcação no caminho e a lógica sugere q se tome a via da esquerda, uma vez q sua variante a direita é visivelmetne a via de acesso de veículos ao cume. Uma vez na bifurcação, a estrada estreita-se a tal ponto na mesma medida em q valas e buracos a tornam precária ate demais. “Agora sei pq os carros não vem por aqui! Esta é a rota das motocas!”, pensei comigo mesmo. A subida então aumenta a declividade de forma suave pra se manter outra vez em nível. Apesar de tranqüila, a pernada é sentida por conta do sol escaldante na cachola e a ausência tanto de sombra como de brisa, e qq sombra no caminho é motivo prum breve pit-stop. A impressão q se tem é q o calor emana do chão. E não é pra menos. A vegetação ressequida (e principalmente queimada) das encostas peladas do morro aumentam a sensação de desolação e o desgaste não tarda a se sentir na pele.
Mas após contornar uma dobra serrana em nível, passar o q restou duma pequena construção e cruzar algumas arvorezinhas maiores, a estrada embica de vez nas piores condições possíveis, tornado-a apenas transitável pra motos ou veículos tracionados 4×4. Ate q finalmente por volta das 11:30hrs pisamos no alto do Morro do Capuava, onde havia meia dúzia de pessoas q pela cara era um instrutor de parapente e seus alunos. O topo é largo, gramado e se estende de norte a sul, e atraves duma picada principal é possivel apreciar tds os panoramas q se descortinam pra onde quer q se lance o olhar: o leste, o espelho dágua do Represa de Pirapora reflete o céu azul daquele horário, enqto a geometria vertical de Barueri eleva-se ao fundo, assim como o Pico do Jaraguá, logo acima; ao sul, destaca-se o maciço da Serra do Voturuna tendo o Morro Negro como seu pto culminante; a oeste apreciamos a minúscula Pirapora e a Represa do Rasgão, assim como Cabreuva e a Serra do Pirai, logo atrás; e finalmente ao norte temos os recorte escarpado da Serra do Japi delimitando o horizonte, assim como outros serrotes menores na frente.
Diferente de suas encostas, no topo corre um vento forte q justifica o local como pto de decolagem pra galera de vôo-livre. Há ate inclusive um pequeno abrigo construído pela “Associação de Vôo Livre e Preservação Ambiental do Capuava”, onde a gente foi se refugiar tanto do vento como do sol a pino. Munido de banheiros e uma área pra churrasqueira, foi la mesmo q nos prostramos e ficamos um tempo de boa, descansando e beliscando algo. Ali tb conhecemos o Xuxa, figurinha carimbada local q ajuda nos vôos e com quem pude saber mais a respeito do lugar. Contou q o abrigo é recente e q logo deve receber um “puxadinho” onde irá residir em breve. Mas o mais interessante era a vida do próprio senhor, q não devia ter mais q seus 40 anos: Ex-mochileiro, viajava pra td lugar com seu enorme cachorro numa mala repleta de furos; foi “adotado” pela galera paraglider do morro e ia casar em breve com uma “moça q conheceu na internet”. Enqto proseávamos, a Chiara desdenhava os avanços do felpudo Napoleâo, o vira-lata de Xuxa. “Chiara é periguete! Só provoca mas depois não quer nada..”, dizia Carol enqto Xuxa repreendia seu assanhado pet com um inconfundível e hilário“Napoleãããão!”.
Descansados naquele inicio de tarde escaldante, resolvemos retornar as 13hrs. Pra não voltar pelo mesmo lugar emprendemos a volta pela precária via utilizada pelos veículos, ou seja, aquela q sai próximo das torres q coroam o morro. E la fomos nos, perdendo rapidamente altitude onde, num piscar de olhos, nos vimos do outro lado do serrote onde já pude estudar (no olhômetro) a volta por outra trilha avistada do alto. Uma vez no “mirante das cruzes”, tocamos por uma larga vereda q acompanhava paralelamente o Capuava por outra dobra serrana, sentido norte, ate desembocar num amplo e largo terreno descampado. O lugar tinha cara de ser local de pouso da galera do parapente, mas o legal era a vista privilegiada q proporcionava tanto de td extensão do Capuava como da Represa de Pirapora, de cujo alto paredão despencava furiosamente o Rio Tietê.
Dali o sentido a tomar é obvio, uma trilha bordeja as laterais de um simplório e rustico cemitério pra então desembocar no asfalto da SP-312, onde após algumas quebradas tomamos a Rua das Avencas e, minutos depois, caímos no largo central da Igreja Matriz de Pirapora. Por ser cedo e a volta se mostrar mais rápida q a ida, coisa de 13:45hrs, deu tempo ainda pra estacionar num botequinho na rua principal, beliscar uma porção e mandar ver 3 cervejas esptupadamente geladas, enqto observávamos o vaivém da simpática cidade. Pra completar o agradavel ar interioranos dali, um bem-vindo som de MPB (e não funk) ao vivo tocando no coreto ao lado inundou nossos ouvidos fechando assim a tarde com chave de ouro. Zarpamos algumas horas depois, bem antes do dia findar, dando tempo suficiente ainda pra chegar em SP e dar continuidade a nossos respectivos compromissos “noturnicos”, no caso, baladinha e pizzada familiar.
Pirapora do Bom Jesus é um charme de cidade e importante centro de peregrinação religiosa de São Paulo. Pirapora (“peixe q pula”, em tupi) recebe romeiros e turstas o ano inteiro. Eles chegam de carro, bike, charrete, cavalo e a pé. Mas com o Morro do Capuava é possivel constatar q eles tb chegam voando, de paraglider ou parapente. Como já foi dito anteriormente, é possivel chegar ao alto do morro rapidamente de carro, mas pra quem tiver disposição e apenas uma hora de tempo recomenda-se a subida pela precária via das motos. Não é nada do outro mundo nem tampouco nada desafiante, montanhisticamente falando, mas não deixa de ser um programa sussa e tranqüilo de subida de serrote domestico de menos de meio-dia, q pode ser emendado perfeitamente a outros programas tradicionais da região. Resumindo, um topo com vista magnífica acessível pra qq um.