Um século depois, já não restava sequer um único tupinambá vivo na região do Rio de Janeiro. Aqueles que conseguiram fugir para o sertão originaram os atuais caiçaras.
A estratégia para a criação do Parque me pareceu interessante. Ele abrange apenas as encostas altas dos municípios costeiros de Mangaratiba e Angra dos Reis, bem como as áreas das divisas destes com o planalto. Ou seja, ele evitou a inclusão das baixas regiões agropastoris já ocupadas.
Como resultado, ele só é continuo nas paredes litorâneas e nas regiões serranas elevadas. Nas encostas do planalto, explorados desde os tempos do café, ele ocupa apenas os espigões das serras. Isto evitou a oposição dos fazendeiros.
É um Parque grande, o segundo em tamanho do Estado. Apesar de dividido em uma dezena de setores, no planalto e no litoral, não possui qualquer estrutura. É bastante diverso, incluindo montanhas, cachoeiras, rios e poços. Nele passei três dias de investigação, subindo em alguns picos e visitando algumas quedas.
Mas a história que quero contar é outra. É sobre a vila de São João Marcos, que é vizinha ao Parque. Ela era o centro das atividades do Comendador Breves, dono da Fazenda da Grama e maior cafeicultor do Brasil. Naturalmente, ficou uma vila algo esquecida quando o café foi embora.
No início do século XX, foi construída na região a represa do Ribeirão das Lages para gerar eletricidade. Mas as águas subiram mais rápido do que o esperado e metade da população rural morreu por afogamento ou por malária.
Mais tarde, durante a ditadura de Getúlio Vargas, o Ribeirão das Lages foi escolhido para suprir de água a cidade do Rio. Isso implicava na expansão da represa. Inicialmente, a vila não seria ameaçada, mas a cota escolhida foi aumentada, para garantir o abastecimento. Isso agora acarretaria a inundação do vilarejo.
Foram oferecidas aos moradores residências em municípios vizinhos. As casas dos habitantes que optaram por sair foram sendo sistematicamente demolidas, até que nada sobrou da vila. Quando o lago da represa encheu, descobriu-se que suas águas apenas bordejaram a vila. Inutilmente destruída, ela nunca chegou a ser inundada.
São João Marcos era uma vila linda, uma espécie de Parati rural. Toda construída em pedra, tinha no seu centro um desenho radial. Dos seus alicerces remanescentes, é ainda possível imaginá-la a partir das fotos antigas: a igreja, a prefeitura, o teatro, a cadeia, o colégio. Só restou intacta a Ponte Bela, num lago próximo. Sobre as ruínas da vila cresceu um bosque mágico de suenãs, árvores altas e retas que conheci floridas de vermelho.
Lá foi feito um museu que documenta a história que relatei. Ele é vigiado por uma bonita cachorra peluda. Ela é amistosa, irá acompanhar a sua visita. Mas quando você ingressar nas ruínas, ela vai parar e só ficar observando, como se conhecesse a tragédia que as causou. Ela parece saber que no passado, como disse Celso Serqueira, a cidade teve vida e foi habitada por algo mais do que pequenos pássaros.
3 Comentários
Olá Alberto, tudo bem? Gostaria de acrescentar algumas informações ao seu relato sobre o Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, criado no local onde um dia foi a cidade de São João Marcos. O Parque, situado no município de Rio Claro, vai comemorar em junho de 2018 sete anos de atividades que resgatam a memória da antiga cidade de São João Marcos, sua história e tradições culturais. Patrocinado pela Light e pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e gerido pelo Instituto Cultural Cidade Viva, o Parque promoveu, desde a sua inauguração, em 2011, mais de 60 eventos culturais e já contabilizou 65 mil visitantes, entre eles mais de 17 mil estudantes de escolas públicas, que visitaram o Parque dentro de um programa educativo estruturado. Todos os visitantes dispõem de conforto e segurança para desfrutar em paz de uma verdadeira experiência multissensorial. Durante um passeio pelo Parque, o frequentador pode apreciar as deslumbrantes paisagens que mesclam as belezas da Mata Atlântica e de Ribeirão das Lajes, ouvir o canto e observar os pássaros, abundantes na área perto da represa, e ainda degustar no Quiosque São João Marcos quitutes resgatados de livros de receitas de antigos moradores. Uma festa para os sentidos. Estão à disposição dos frequentadores um Centro de Memória, guias turísticos, anfiteatro, salas multimídia e de exposições e um campo de futebol em homenagem aos craques do Marcossense Futebol Clube, time considerado imbatível na lembrança dos antigos torcedores.
Convido a todos os leitores do Alta Montanha uma visita ao Parque. Fica aberto de quarta a sexta-feira, das 10h às 16h. Sábado e domingo, das 9h às 17h. Endereço: Estrada RJ 149 (Rio Claro – Mangaratiba) Km 20 – Rio Claro – RJ. Telefone: (21) 2233-3690. E-mail: [email protected]. Aproveitem para se conectar conosco na internet pelo Facebook: http://www.facebook.com/ParqueSaoJoaoMarcos ou http://www.saojoaomarcos.com.br. Obrigada!
A Ponte Bela não está em um lago. Foi construída no século 19 sob o Rio Pires, que está represado. O que parece um lago, é o Rio.
e lamentavel tal atrocidade a custa de um progresso que nunca foiu de real nesscessidade ao estado do r janeiro destruir uma cidade historica com milhares de habitantes alguns ainda vivos.que emocionados falam das suas doces saudade e uma enorme tristeza ver sua ciudade dinamitada por interresses multinacionais que tanto nos prejudicam ate hoje sou frequentador e admirador do parque arqueologico e figo imaginando o quanto de vida e historias se passaram por aquelas ruinas de casas e ruas .tenho hoje mais de 60 anos e sou tao discrente do bem sem interresse financeiro pois nada vi que os passsados e presentes governos trouxeram de verdadeiro para o bem estar do poivo apenas compreendo que a fama o poider o dinheiro falam mais alto que um plkanejamento jenuinoi e saudavel duradouro para o poivo nao sou politico alias e algo que jamais serei poius nao quero levar nas minhas costas o sofrimento e suor do meu semelhante em meu beneficio.