O Parque Nacional de Itatiaia e seus problemas

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Para mim o Pico das Agulhas Negras já foi “a montanha”. Hoje não ponho mais os pés no Parque Nacional de Itatiaia. Como a diretoria do PNI conseguiu afugentar o montanhista e ao mesmo tempo não resolver nenhum dos problemas ambientais do Parque…

O Parque Nacional do Itatiaia, PNI, já foi considerado uma “meca” do montanhismo brasileiro. É o primeiro Parque Nacional do país e seu ponto culminante, o Pico das Agulhas Negras, é uma das montanhas mais altas do Brasil. Além do potencial do montanhismo, ainda há muito que se fazer em escalada em rocha e em travessias. Por todos estes motivos o PNI é um lugar muito importante na História do montanhismo tupiniquim.

Entretanto toda esta importância que as trilhas, vias e montanhas de Itatiaia têm para o montanhismo parece não ser o suficiente para que a diretoria do PNI permita que os montanhistas, que historicamente freqüentam o parque, pratiquem seu esporte livremente.

Já faz mais de 15 anos que existem travessias proibidas dentro do PNI. Acampar lá está fora de cogitação e se não bastasse estas restrições, o Parque agora obriga que montanhistas tenham um equipamento mínimo para fazer algumas ascensões, como nas Agulhas Negras e Prateleiras, isso nos revoltou.

Os equipamentos obrigatórios são mínimos, uma corda de 30 metros, uma fita de 4 e dois mosquetões, além de cadeirinha. A grande questão é a seguinte: Pra que esses equipamentos?

A resposta do parque,  é que com estes equipamentos você pode dar segurança para uma pessoa num trecho de” trepa pedra” e também fazer um rapel numa emergência.

As intenções são as melhores, entretanto esta regra é inútil e não resolverá os reais problemas do parque por dois motivos:

1) Os montanhistas mais experientes não precisam de segurança em trechos de “caminhada”.
2) As pessoas leigas, e que precisariam ter segurança, não sabem usar estes equipamentos.

Por causa de regras que resultam em nada e só geram entraves, das proibições e também por causa do Alsene que é um camping caro, ruim e pior, o único lugar onde se pode acampar no Itatiaia, é que nunca mais botei os pés neste parque que eu gosto tanto! Cada vez que eu ia para o PNI eu me revoltava e por isso não vou mais. Pra falar verdade, as regras do PNI me faziam sentir um idiota!

Hoje, esfriando a revolta contra estes normatistas que controlam o parque, consigo entender o porquê de tantas restrições.

No Brasil, a legislação faz que o diretor de um parque seja responsável por tudo o que aconteça dentro dele. Isso quer dizer que se uma pessoa morre por causa de um acidente, o diretor vai responder judicialmente. Estes termos de responsabilidade que assinamos na portaria dos parques não tem valor legal algum e por isso que tanta coisa é proibida. É ai que tudo começa…

Em lugares como Itatiaia, onde os montanhistas freqüentam há muito tempo, há escaladas e travessias que não são pra qualquer um. Ao mesmo, o acesso ao parque é muito fácil e ele fica perto de grandes centros urbanos e isso atrai as pessoas leigas da mesma forma que nos atrai.

Todos os fins de semanas e feriados o PNI enche de gente. Há pessoas de todos os tipos, mas o que predomina são pessoas que não são montanhistas. Há gente bem intencionada, que sabendo de suas limitações, contratam um guia, e gente sem noção alguma que fazem muitas barbaridades. Justamente por causa dessas pessoas sem noção que há tanta restrição.

Trabalhar num Parque Nacional não é fácil, há pouco efetivo e os funcionários não têm como controlar o afluxo das pessoas. Para resolver este problema eles tomam, infelizmente, as piores medidas, que é nivelar todo mundo por baixo e a partir daí ditar as regras. É isso justamente o que me revolta, esse olhar “democrático” míope…

A minha sugestão é que o PNI faça uma distinção de seus visitantes, pois há uma grande disparidade entre eles. Acho que é injusto com o montanhista ter que seguir as mesmas regras para as pessoas leigas.

Esta distinção abre a possibilidade para um sonho de qualquer diretor de parque, obrigar que pessoas despreparadas tenham que contratar um guia. Este guia além de assegurar os visitantes leigos (usando com eles a cadeirinha, corda de 30 metros e a fita solteira) ainda estaria “vigiando” os mal educados, não permitindo que eles cometessem barbaridades ambientais.

Obrigar o leigo a ter um guia é muito mais justo e correto do que encher a montanha de escada e acabar com a aventura em prol de que os despreparados possam subir com segurança. Alíás, sou contra escadas em qualquer montanha, como há aqui no Paraná. Acho que se uma pessoa não consegue subir a montanha sem escadas ela tem que se preparar para subir e não a montanha se preparar para recebê-la.

O problema seria em como distinguir os montanhistas dos turistas. Para mim, isso não é difícil, pois é para isso que existem os clubes de montanhismo. Quem é de clube tem a capacidade de subir a montanha sem guia e as regras têm que ser mais brandas. Se esta pessoa de clube fizer uma “cagada” o clube é multado. Isso fará que os clubes tenham mais cuidado e exijam mais preparo de seus sócios.

Acho que isso resolve muitos problemas, não só no PNI como em todos os parques que ficam próximos de centros urbanos e que sofrem com os mesmo problemas.

Odeio normatização, mas em se tratar de áreas verdes que foram fagocitadas pela civilização é preciso ter regras e essas regras têm que dar resultados e não serem meros entraves para afastar algumas pessoas, que em geral, são somente quem respeita regras.

Na minha visão, a única coisa que a diretoria conseguiu fazer até agora com as restrições, foi afastar quem realmente tinha amor e respeito às montanhas. Quem nunca seguiu regras, joga lixo no chão, provoca queimadas, faz barulho etc… esse continua indo à Itatiaia aos montes.  Tiraram as montanhas de quem é montanhista e as entregou aos farofas. Bela democracia!

Pedro Hauck, colunista do Altamontanha.com é também dono e editor do site Gentedemontanha e tem apoio de Botas Nômade.

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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