Veja na coluna anterior um comentário sobre os muitos PEs vizinhos ao PETAR e que compõem com ele um gigantesco contínuo natural.
Este que é um dos mais antigos parques de São Paulo, é também um dos mais belos do Brasil. Seus grandes atrativos são as cavernas calcárias, das quais existem cerca de 400. Após as pesquisas pioneiras de Richard Krone no século XIX, São Paulo adquiriu inicialmente dez cavernas, que foram o embrião para a formação do parque.
Com 36 mil ha, é distribuído pelos municípios de Iporanga e Apiaí. Iporanga é uma vila antiga, com casario que remonta à sua fundação no século XVI, motivada pelo ouro. Apiaí teve a mesma origem, porém dois séculos depois. Como é comum em lugares isolados, a região contém antigas comunidades quilombolas, caipiras e caiçaras. Ela é meio morta, devido à impossibilidade de explorar a acidentada mata atlântica que a recobre.
O parque é dividido em quatro núcleos, sendo Santana o principal deles. Os demais são Caboclos, Ouro Grosso e o pouco visitado Casa de Pedra. São hoje no total doze cavernas visitáveis. Além delas, apresenta belíssimas cachoeiras.
A mais visitada caverna do parque é Santana, localizada numa abrupta vertente no vale do Rio Betari. Ela é enorme, com grandes salões e um lago surreal, sendo lindamente decorada. Só seus 500m iniciais são visitáveis, com ajuda de escadas e passarelas. Mesmo sendo turística, você não deve evitá-la, tão surpreendente é a sua beleza.
Água Suja é muito especial para mim, foi meu primeiro passeio ecoturístico, numa época (ante-diluviana) em que achava que levaria meus pertences em malas, não em mochilas. É uma formação molhada, onde mais ao fim você deve mergulhar para encontrar uma maravilhosa cachoeira interna. Morro Preto e Couto são duas cavernas interligadas e a pequena Cafezal é conhecida por sua decoração. Ao longo do Betari você poderá conhecer as incríveis quedas de Andorinhas e Beija Flor – a maior do parque é a Cachoeira das Arapongas (65m), no rumo de Apiaí.
A Caverna Ouro Grosso fica no núcleo de mesmo nome, sendo uma das formações mais radicais do parque. Existem nada menos do que quatro cachoeiras no seu interior, cujo acesso é bastante difícil. Outras formações são Alambari de Baixo, com seu pórtico gigantesco, e Lage Branca, com seu imenso salão, infelizmente fechada – é inesquecível o dia em que todos apagamos as luzes para ouvirmos na negra escuridão uma melodia de flauta.
A grande atração do núcleo Caboclos é a Caverna Temimina, atingida depois de uma longa trilha. As dolinas, causadas por enormes desabamentos, formam um cenário mágico, que a visão capta mas a mente custa a compreender. Em contraste, a caverna em si é graciosamente pequena, apesar de só ser atravessada com água pela cintura. O núcleo contém ainda as delicadas Chapéus e Aranhas.
Tive a sorte de penetrar (e dormir) na Caverna Casa de Pedra quando não era ainda proibida. A aproximação de sua parede gigantesca, que parece querer desabar sobre você por dentro da mata, foi uma das mais fortes experiências que tive. Sua boca de 215 m é uma das maiores do mundo, vale a pena a longa caminhada de 3 hs de ida apenas para conhecê-la. Mas talvez você deva esperar para visitar o PETAR, pois novas atrações estarão sendo habilitadas – sobretudo, Casa de Pedra.
Parece oportuno lembrar como se dá a formação das cavernas calcárias. Esta rocha é solúvel na água, desde que ácida. Nos locais onde o relevo é acidentado e fraturado, ela penetra nas fendas e aos poucos dilui a rocha. Formam-se cavidades que vão sendo ampliadas, gerando os corredores e salões das cavernas. Cavernas não têm luz, calor, vento ou barulho – quando este existe, o ruído é apenas o eco dos rios de seu interior. E nem vegetação, apenas fungos e bactérias. Os poucos animais que lá habitam não têm cor nem olhos, já que sem luz não podem ver nem ser vistos.
Queria terminar este texto com uma reflexão sobre o significado para mim das cavernas. Meu hobby são as montanhas, mas reconheço que as cavernas – talvez junto apenas com o fundo do mar – são manifestações únicas e extremas da natureza. Às vezes eu as vejo como úteros profundos, que parecem abraçar e proteger. Outras vezes como catedrais, na sua monumentalidade de pedra. Às vezes como relicários, preservando nosso passado no seu escuro silêncio. Ou ainda como amedrontadores seres mágicos de uma vida sem tempo.