Nem mesmo o atraso causado pelo relapso em esquecer de tomar o sagrado bus das 8:20 diminuiu nossa empolgação da trip. Pelo contrario, juntamente com outra galera q aguardava o mesmo coletivo pra ir pra outro atrativo da Serra do Mar mogiana – no caso, a Cachu Furada - , passamos o tempo na rodoviária de Mogi entre uma conversa e outra, porém resignados em saber q nosso cronograma pra aquele domingo ensolarado não permitia falhas. Explico: nosso destino era beeem distante dos rolês habituais pela região, ninguém havia pisado nele, e as , poucas infos q dispúnhamos vinham do folclórico Seu Geraldo, tradicional matuto local.
Qdo o latão partiu as 9:40, eu, Clayton, Fernando, Lucilene, Leo e Carlos nos acomodamos nos bancos empoeirados do coletivo e zarpamos rumo à SP-98, mais conhecida como Rodovia Mogi-Bertioga. Saltamos no km77 q assinala o pto final da Balança e lá nos juntamos ao Fabio, Vivi e Gabriel, q la nos aguardavam já a um bom tempo.
Sem perda de tempo pusemo-nos a caminhar pelo asfalto, pois a jornada ate o inicio da trilha era longa, mais precisamente distante uns 7km dali. Apesar de numeroso nosso grupo ate q andou bem rápido, e as 11hrs já cruzávamos os limites municipais de Bertioga e Biritiba-Mirim, depois te nem ter reparado nas entradas pra Cachu Furada e pra Trilha do Itapanhaú. Descendo a serra suavemente tive uma breve pausa no km82 pra minha primeira fotografia, no caso, um mirante com bela vista de Bertioga reluzindo numa costela espremida pelo azul do mar e o verde da serra.
Cruzado o Rio Sertãozinho e o Monumento da Bica d Água, percebemos q a estrada faz a curva rumo pra esquerda, agora ao lado das encostas serranas cada vez mais verticalizadas por onde escorrem constates filetes d´água. E logo numa curva um imponente vale se descortina onde a silhueta nas montanhas ao seu redor faz um gigantesco “V” q se destaca da geografia local. Esse vértice assinala o Vale do Guacá, cuja ponte cruzamos as 11:50, no km85. Já do alto podemos ver o furioso rio despencando em varias cachus e poços sob a gente, aperitivo pro q viria a seguir. O sol do meio-dia brilhava forte e minha ânsia por um banho naquelas águas , era partilhada por td galera.
Cruzada a ponte de concreto, demos um jeito de saltar a mureta e cair numa picada q desceu ate baixo da mesma. Uma vez lá reparamos q alguém vivia literalmente “em baixo da ponte”, provavelmente algum ermitão q no momento não se encontrava ali. Mas era incrível em como havia organizado td numa aparente cozinha em tão exíguo espaço, na forma de uma pia com captação, um pequeno pomar e um rústico “fogão” a lenha dividindo espaço com pilhas de garrafas de pinga (vazias, infelizmente), louças, latas vazias e algum lixo.
Pois bem, desta “residência” parte uma trilha q sobe a encosta da serra bem forte, numa inclinação quase vertical. E la vamos nos, ganhando altura rapidamente na base da escalaminhada em meio à mata, com o suor começando a escorrer farto no rosto. No exato momento em q a subida aparenta nivelar em pequenos ombros serranos , – onde sinais visíveis de acampamento surgem – ela ressurge implacável, aos ziguezagues, através de emaranhados de raízes no chão q servem de escada, tal qual a “Trilha do Itapanhaú”. O pessoal ameaça varias vezes parar pra descansar, mas eu e o Carlos não permitimos esse privilegio, pois temos q recuperar o tempo perdido na rodoviária, do contrario a volta seria no escuro e isso tava fora de cogitação.
Mas eis q a subida tem fim e agora a caminhada fica mais amena e agradável e se dá ora pela encosta ora pela crista serrana, com mato caindo de ambos os lados. Mas não demoram a surgir bifurcações (e muitas) onde nosso bom senso sempre dita manter-nos sempre na mais batida (nordeste), na q se mantenha em nível e acompanhe o agora fundo vale do Guacá, cujo trovejar é audível da encosta q perambulamos, porem bem baixinho. No caminho surge mta mata tombada e vários mega-deslizamentos, dos quais desviamos intuitivamente por meio de picadas improvisadas justamente pra este fim até cair outra vez na vereda “principal”, por assim dizer. O bom é q água é o q não falta no caminho pq sempre tem algum corregozinho cristalino pronto pra molhar a goela ou abastecer o cantil menos favorecido.
A caminhada então se mantém nesse mesmo compasso durante um bom tempo, através de cristas ou encostas sentido nordeste. Após cruzar por um acampamento de palmiteiros aparentemente abandonado, a picada ameaça desviar do vale, mas apenas contorna desníveis maiores à nossa esquerda pra logo retomar o rumo desejado. Mas logo nos vemos perdendo altitude, inicialmente numa crista descendente e depois em meio uma funda vala erodida no q parece ser o meio da serra.
Enfim, as 13:30 desembocamos numa larga clareira no planalto, as margens do Guacá q aqui corre mansamente e nem lembra o raivoso rio lá de baixo. Aqui tb havia outro acampamento de palmiteiros ( ou caçadores, sei lá) abandonado, porem de proporções maiores. Lonas dispostas numa estrutura precária de bambu dividia espaço na clareira com muito lixo, um pé-de-limão e sinais antigos de fogueira. Seu Geraldo havia nos alertado desta gente, q abre muitas trilhas nessa região q acabam confundindo quem trafega pela principal, isto é, a q sobe ate o planalto.
Pois bem, da clareira a picada aparentava continuar acompanhando o Guacá, rio acima. No entanto, como nosso objetivo é o Poço das Antas deixamos a vontade de prosseguir por ela pra outra ocasião. Sendo assim e pelas infos q dispúnhamos, bastava acompanhar o manso rio sentido asfalto, agora ate o pto onde ele começava a despencar serra abaixo, em tese. Retrocedemos então um pouco pela picada q viéramos afim de encontrar alguma bifurcação rente ao rio e bingo, encontramos. Dali foi so seguir sem dificuldade por ela, ora margeando ora afastada do Guacá, q marulha placidamente agora à nossa direita. As vezes o mato parece fechar e a trilha se perder, mas logo ela ressurge mais adiante, não tem erro.
Após cruzar pelos restos de uma antiga barragem, eis q as 13:50 finalmente desembocamos na praia fluvial e pedregosa do Guacá q atende pelo nome de Poço das Antas. As infos batiam e as fotos da internet tb, ou seja, missão concluída! O local é um charme, isolado de td e tds em meio ao coração da Serra do Mar. O Guacá aqui corre manso represando vários piscinões de diversas profundidades em meio aos rochedos, pra logo em seguida iniciar sua encachoeirada e furiosa jornada rumo o litoral. O GPS do Fabio marca 650m de altitude, e é nesse plácido remanso q finalmente nos presenteamos com uma longa Prada pra descanso, lanche e contemplação. O tão almejado tchibum não foi esquecido, com exceção da Vivi, Lu e alguém q trajava uma blusa azul ostentando “Leozinho”, lagarteando nos lajedões.
Nos regateávamos de sandubas, salgados, frutas, sucos e bolachas enqto o Fabio colocava o fogareiro pra ronronar qdo de repente um negrume tomou conta do céu e nuvens ameaçadoras pairavam sobre a gente. Alguém se lembrou de verificar a previsão pra aquela tarde? Q nada. Primeiro começaram pingos minúsculos aqui e ali, q ignoramos solenemente, mas logo depois desabou uma chuvarada q nos pegou tão de surpresa q ensopou num piscar de olhos até quem não se aventurou a entrar no rio. Hora de voltar. Nosso plano inicial era descer pelo rio, mas com a chuva ele foi imediatamente descartado pq naquelas condições era tremendamente perigoso. Ficava pra próxima.
Sendo assim, nos protegemos o qto podíamos embaixo das arvores afim de nos preparar pra voltar pelo mesmo caminho, já q nossa exploração havia terminado e a missão, cumprida. Sendo assim retomamos a pernada chapinhando td a volta. A trilha transformara-se num verdadeiro rio diante daquele inesperado temporal q nos deixara feito pintos molhados num instante, e caminhar rápido era a única maneira de esquentar o corpo, espantando o fantasma do frio q ameaçava dar as caras.
O dilúvio escureceu a mata a tal pto de parecer q andávamos á noite, isso em plena tarde. Portanto td cautela e atenção na trilha foi redobrada, o q não impediu q muitos levassem tombos constantes durante td trajeto. O Fabio havia plotado o caminho na ida, mas mesmo assim isso não nos poupou de perdidos, principalmente na complicada volta, onde nos separamos uns dos outros e perdemos contato provisoriamente. Bem no trecho final havíamos tomado uma picada errada q nos levou no q parecia um abismo. Voltamos e retomamos a rota certa. Uffa! A piramba final foi um desafio pra tds. Escorregadia feito sabão, os galhos e troncos aqui tiveram papel fundamental na redução significativa de capotes, mas q não poupou alguns de parecer q haviam recém-saído do chiqueiro.
Alcançamos finalmente a segurança da SP-98 as 16:40, ainda com o rosto sendo fustigado pela chuva q insistia em cair incessantemente. Mas o rolê ainda sequer havia terminado, pois ainda tínhamos 7 intermináveis e enfadonhos quilômetros pela frente. Affee!! E la fomos nos, camelando cansativamente a volta sem esperança alguma de carona naquelas condições. É, o Rio Guacá é um programa q deve ser lapidado no quesito transporte ou resgate.
Chegamos tropegamente na Balança as 18hrs, onde pra nossa desgraça esta td fechado. Desta vez não teríamos nossa sagrada bebemoração habitual. Q desaforo. Mudamos nossas vestes úmidas por outras mais aconchegantes e ficamos à espera do busão, q so passou uma hora depois. Em Mogi sim, mais tarde, estacionamos num boteco a frente da Estação Ferroviária onde comemoramos o perrenguinho molhado daquele dia, regado a cerveja e varias porções. So cheguei em casa por após a meia-noite, diga-se de passagem, após cochilar e perder o pto de descida do bus, me abrigando a andar ainda algo de 4km adicionais pela Raposo Tavares na madru ate o aconchego do lar.
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E esse foi nosso cansativo e perrengoso bate-volta q serviu de introdução ao Rio Guacá. Primeira incursão de muitas, diga-se de passagem. Aprimorando-se apenas a logística de acesso pra bate-voltas ou adicionando mais um dia pra compensar o deslocamento, o Guacá avista possibilidades como travessias até Casa Grande ou à Represa Andes, assim como uma descida radical por td sua extensão. Isso apenas pra começar. As trilhas q se ramificam ao seu redor sugerem inúmeras possibilidades, e portanto garantias de muitas aventuras vindouras. Uma diferente da outra. Coisas q somente a nossa majestosa Serra do Mar pode oferecer.
Texto e fotos de Jorge Soto
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