Temos candidatos sérios que lutam sim por nossos diretos e se preocupam com o meio ambiente e com os mais necessitados, temos sim um candidato à presidência que não usa um terno Armani ou uma bolsa Louis Vuitton, não é loira e têm os cinco dedos em cada mão. Sem dar nome aos bois, ou melhor, aos candidatos, existem ótimas pessoas na política, mais será que nós, os eleitores, queremos isso?
Quantos de nós usamos o jeitinho brasileiro para furar filas de banco ou passar na frente na entrada de uma boate? Quantos de nós compramos CD pirata e faz questão de dizer para todo mundo que já viu o filme antes mesmo de sair no cinema, ou melhor, faz download do filme com ajuda de um software ilegal que achou na internet, mesmo que o filme esteja em péssima qualidade só para ver primeiro que todos? Quantos de nós já fomos pegos em blitz da polícia com a documentação do carro atrasada e deu aquele cafezinho para o bondoso policial? Quem aqui já não saiu embriagado de uma festa e usou seu celular, cópia de um original da Apple, para acessar o Twitter para saber onde estava a blitz da Lei Seca e passar longe dela? Quantos aqui não inventaram gastos fantasmas durante o preenchimento do imposto de renda justificando seu erro nos roubos do governo? Quantos aqui estacionam em vagas de deficiente, colaram nos exames da universidade ou assinaram TV a cabo ilegal de alguma milícia que toma conta do bairro e ainda acha que, depois deles, a região ficou mais segura? Quantos aqui tomaram suas regras por corretas, invadiram propriedade privada, fizeram fogueira em área de preservação ambiental, derrubaram cercas, arrancaram degraus e conquistaram vias em paredes onde a vegetação é endêmica? Quantos?
Espero que nenhum dos leitores desta coluna. Espero sinceramente que nenhum dos leitores deste site tenha cometido estas irregularidades, mas somos humanos e sujeitos a erros. Mas persistir é burrice. Infelizmente mais da metade da população de nossa nação faz tudo isso e acha mais que justo. O jeitinho brasileiro das coisas já é cultura enraizada no cidadão e quem não faz é tido como idiota, bobo ou honesto, quase um crime nos dias de hoje.
Como exigir políticos sérios nos representando se somos iguais a eles? Roubamos, dissimulamos e achamos justos nossos atos, assim como eles. O que muda nesse jogo são as cifras. As deles são bem mais altas que a dos pobres e inteligentes eleitores, mas eles se justificam dizendo que gastam mais e o eleitor se justifica que rouba só um pouquinho e que não vai fazer falta.
O mesmo eleitor que pede mais política ambiental e reclama da poluição nas grandes cidades, torce o nariz quando vê alguém com uma bicicleta ou prancha de surf no metrô. O mesmo motorista que reclama do trânsito caótico das grandes cidades, fala mal do ciclista, odeia o pedestre e reclama quando fica horas ilhado em uma enchente causada por dez minutos de chuva forte. Esta enchente foi causada pela maldita sacola plástica que ele insiste em levar para casa ao fazer compras em um supermercado a quinze passos de sua casa, alegando que essa sacolinha serve para limpar as fezes de seu cachorro Pit Bull que mordeu uma criança em legítima defesa.
Posso parecer careta, mas vou trabalhar a pé e escalar de bicicleta, minha mãe tem dois gatos vira-latas e minha cadela Rotwailler nunca viu a cara da rua. Se não é para entrar e escalar, não escalo. Se não acho justa a proibição, procuro entender do porque e me inteiro do assunto.
Não compro CD pirata e faço compras com uma sacola ecológica pra lá de brega. Não sou ambientalista fanático, e na maioria das vezes não separo meu lixo… Tenho de melhorar isso. Talvez eu seja um pouco diferente dos exemplos que citei, e acho que muitos também são. Por isso não vou deixar de votar em quem pode me representar dignamente.
Não votar é permitir a continuidade do jeitinho brasileiro de ver o mundo. Eu não quero isso para meus filhos e netos.
Força sempre e boas escaladas!
Atila Barros.