A localidade é conhecida por suas belezas naturais e estar ali foi um desafio que valeu muito a pena para os caminhantes do Centro Excurcionista Teresopolitano (CET). Além de pessoas experientes em caminhadas, o grupo contava com novatos nessa investida. A caminhada, embora exuberante, apresentou trechos que exigiu muito esforço físico, principalmente daqueles que não estavam acostumados. Mas, como em todos os finais, valeu a pena ter se superado e ter alcançado o cume, pois de lá de cima se tem uma visão panorâmica de outras montanhas tão surpreendentes como as Torres de Bonsucesso.
Às vezes os obstáculos não são apenas os exteriores, os quais superamos com muita força e determinação, e sim aqueles que vêem de dentro de nossa alma, que nos paralisam e nos impedem de seguir adiante. Obstáculos esses que podem ser mentais ou físicos.
Senti isso na pele. Meu corpo estava mal, minha mente e meu coração não respondiam e a vontade de ficar era enorme. Porém, busquei no íntimo de meu ser, o resto de força para me impulsionar para cima.
A cada passo sentia uma resposta do corpo, pedindo socorro, pedindo para parar, voltar para casa e ficar quietinha em meu canto, esperando a tempestade interna passar. Mas não me entreguei e continuei, aos poucos fui vencendo o árduo caminho e vislumbrando as lindas Torres de Bonsucesso.
No silêncio de minha alma e de meus lábios, pude ouvir melhor o caminho e aqueles que passavam por ele. Observei que muitos precisam de ajuda, de um apoio, de uma mão estendida, não importa o quanto sejam experientes, todos, em algum momento, podem cair.
Acompanhei o sofrimento de quem inicia e sente as dores nas pernas, mas que por amor, resiste até o final, sempre ouvindo dos caminhantes que o topo estava bem próximo.
Percebi que a subida é bem mais fácil quando confio em mim, em minha força e minha determinação. E que olhar para baixo só é permitido na hora de ajudar alguém ou quando se chega ao final.
Notei que, assim como eu, haviam outros em profunda comunhão com o ambiente, observando o que se é dito e se satisfazendo em notar o quanto é guerreiro e pode vencer.
Na decida vi que o retorno é uma tarefa árdua e exige coragem e força de vontade.
E, quando tudo parecia estar sob controle o guia, aquele o qual a iniciativa é um dom, também estava sujeito a cometer erros. Estava no caminho certo, porém, por insegurança decidiu que deveria ir por outro lugar, o qual não levava a lugar algum. Às vezes precisamos acreditar mais em nos mesmos, em nossos instintos e ter em mente que por mais que se de voltas na vida, sempre encontramos o caminho certo, o que nos leva para um lugar seguro.
Em meio a insegurança, percebi um silêncio solitário, silêncio de quem busca em suas pegadas de experiência, um meio para levar todos com segurança de volta para suas realidades. Mas é preciso entender que é nas intempéries da vida que conhecemos um pouco mais os caminhantes.
Nesse momento muitos sugerem esse ou aquele caminho, muitos resmungam e outros simplesmente acreditam que tudo vai dar certo. Estes estendem suas máquinas fotográficas e aproveitam o tempo para registrar os últimos momentos do dia.
Eu? Já esqueci minhas dores do corpo e da alma, me renovei e aproveito a oportunidade para conhecer detalhes tão íntimos de cada um, que talvez nem mesmo eles tenham conhecimento disso. Registro em minha mente e em meu coração esses momentos de sabedoria, de exposição de fragilidades e de superações que a cada dia são gratificantes para cada pezinho que se propõe a caminhar.
Pois a vida não é simplesmente estar sentando em frente a televisão, esperando a chegada da morte, é levantar, lavar o rosto, e seguir em frente, ou melhor, ao alto. Descubro, a cada nova jornada, que o melhor não está lá em cima do morro, junto com lindas imagens, mas a cada tombo, a cada pé preso numa fenda, a cada corte na mão, a cada mão que se estende ou a cada mão que deveria ter sido estendida. O melhor da vida é viver, é fazer dela um quadro em branco, onde pincelamos nossa história com tintas coloridas de amizades e amores.