O tempo das coisas

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Na montanha meus olhos contemplam o que tem acontecido ao longo de milhares de anos; tudo o que vejo hoje, num passado muito muito distante, um dia foi mar. As rochas embrutecidas, têm semelhanças com os delicados corais dos oceanos, tento imaginar o tempo de existência de toda a paisagem; dos animais primitivos que ali viveram em outros períodos geológicos e que talvez hoje sejam somente fósseis escondidos no meio das pedras, todavia elas ficam confusas em minha cabeça pois são milhões de anos e não consigo comparar com a minha breve existência na condição de ser humano..

Quanto tempo há esta paisagem?

Daí volto meu pensamento para períodos mais próximos, dois a três séculos atrás e imagino as pessoas que já nesses locais pisaram e daqui já partiram.

Nosso acampamento no monte Roraima

Provavelmente o motivo que me faz subir a montanha foi o que fez as gerações antigas subirem também! Certamente tiveram as mesmas visões contemplativas que eu tive, sentiram uma alegria semelhante à minha quando estiveram no cume! Daqui a duzentos, trezentos anos, serão outras as gerações que estarão subindo as montanhas! Buscando aquilo que nós e nossos ancestrais buscaram e tendo sensação semelhantes às que tivemos.

Mudam os séculos, as gerações mas as vontades, os sonhos permanecem!

Enquanto a montanha tem milhares de anos, a grande maioria de nós não tem nem cem anos para permanecer aqui.

Daí me questiono sobre o que realmente é importante em minha vida, a ansiedade, a ganancia, a raiva, o rancor, muito em breve isso tudo será nada, assim como eu.

Então preciso me desvencilhar daquilo que é obstáculo e atrapalha o meu caminho, a realização dos meus sonhos. Não temos a eternidade das montanhas, somos passageiros numa viagem muito curta e quando eu chegar na estação final, quero olhar pra trás e ver que consegui vivenciar a beleza que meu planeta exibe há milhares de anos! Que conheci lugares inóspitos nos quais cheguei através do meu esforço! Quero ver que em todas as estações que passei eu consegui viver momentos que me trouxeram alegria. Assim, seguirei em paz para a terceira margem.

(Inspirações durante a expedição ao Monte Roraima)

 

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Sobre o autor

Marise Cestari é médica neurologista e aventureira. Começou sua vida de aventura no Caminho de Santiago, onde descobriu que o trekking é uma terapia para o corpo e a alma. Desde então não parou mais, já tendo realizando diversos trekkings e ascensões nos Andes e Venezuela, inclusive curso de escalada em rocha.

3 Comentários

  1. Maravilhoso texto! Me fez refletir na insignificância do ser humano diante de tamanha grandeza que é a natureza…Obrigada Marise pelas fotos e pelas palavras sempre muito bem colocadas…

  2. Lindo texto!!! Reflete exatamente o que sentimos qdo estamos na montanha!!! Nosso tempo é agora e temos que aproveitar todas oportunidades para estar nas montanhas… 💙

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