Conquistada por Fábio Guerra, Oswaldo Baldin, Robson Silveira, Sandro Souza e Zudivan Peterli, a via "O Tempo e o Vento" é a maior via de escalada do Espirito Santo, Estado que concentra um grande número de vias de parede. Ela transcorre pela face de maior extensão da Pedra da Lajinha, lado que apresenta um enorme espigão, em sua parte superior, em formato de uma enorme lâmina, em cima do qual passa a linha da via.
A via de escalada estará contemplada no guia de escaladas do Espirito Santo que será lançado por Oswaldo Baldin em breve.
A história da conquista desta grande via de escalada é contada por Baldin:
Essa impressionante muralha me foi apresentada pelos amigos escaladores de Afonso Cláudio, Robinho, Roberto e Silvestre, em 2004. Na época, vislumbrei uma linha que cortaria a face de maior extensão da montanha, passando pelo seu imponente espigão. A empolgação era total naquele momento, porém esse projeto se manteve adormecido por um bom tempo.
Foi somente em 2012 que o pontapé inicial para a conquista foi dado. Chamei o Sandro Souza, parceiro de algumas escaladas complexas e que é bem técnico; o Fábio Guerra, que adora carregar peso e sofrer parede acima; e o anfitrião Robinho, que com sua paciência e disposição inigualáveis, só tinha a somar muito a essa conquista.
Havíamos reservado três dias para a primeira investida, porém, quando foi sacada a furadeira para fazer o primeiro furo da Lajinha, eis que ela não funcionou por nada! No momento, bateu um desânimo geral, pois a parede a nossa frente era imensa. Foi a hora em que o Sandro colocou ‘pilha’ e resolvemos, então, que os próximos dias seriam furando no punho! E assim fomos, vencendo a parte inicial daquela muralha, conseguimos conquistar 700 metros nessa primeira investida, vencendo a parte escura da parede e chegando ao início do espigão. Já há alguns anos costumo dizer que ‘mais difícil do que realizar uma conquista, é conseguir conciliar a disponibilidade dos conquistadores’. A continuidade da conquista na Lajinha teve predominância deste fator. Passaram-se três anos de marca desmarca, marca chove, não concilia, marca chove…
Eis que em 2015 o ‘Fabim’ abriu mão e nos liberou para inserir um outro integrante. Tínhamos a pessoa certa: o Zudivan Peterli, outro cabra que é pau pra toda obra e que gosta de sofrer. O Robinho optou por não entrar na parede e se concentrar em nos dar apoio nessa investida, o que foi de grande ajuda. Separamos mais três dias para a segunda investida, objetivávamos atingir o cume! Ganhamos tempo subindo pelo colo que conduz até a metade da parede. Repetimos as enfiadas que nos levariam até a P12 e iniciamos, então, a conquista do intimidador espigão. No segundo dia, gastamos muito tempo mesclando os demorados artificiais com as pancadas de chuva. Nos molhamos bastante com aquele tempo instável e o vento forte naquela aresta exposta nos castigava, fator que fortificou o nome da via.
No terceiro dia, resolvemos partir para o tudo ou nada e finalizar, nem que tivéssemos que fazer uma pernoite forçada na parede. As jumareadas pelas cordas fixas na aresta, aos primeiros raios de sol, foram congelantes. Atingimos a parte superior do espigão e dali em diante foi só escalada em livre por mais muitos metros. Alcançamos o cume às 14 horas, bem antes do que havíamos previsto. Logo chegou ao cume, através da caminhada, nosso anfitrião, sem combinarmos, com água e bons alimentos. A sensação dessa conquista foi imensurável, parcerias que só somaram momentos agradáveis e de sintonia. Ficam nossos agradecimentos ao Nino e à Adriana, que moram aos pés da Lajinha e que nos acolheram tão gentilmente todo o tempo, e aos amigos locais, Roberto e Cosme, pela força.
A escalada
A pedra pode ser dividida em duas partes bem distintas: A inferior, que transcorre até seus 700 metros (com grampos) por uma rocha de tom escuro. E a parte superior (em chapeletas de inox), que segue pela rocha de tom esbranquiçado e passa pela aresta do espigão. Na parte inicial da via, há uma parede com maior inclinação até a P3, a partir daí vai ficando positiva. As três enfiadas iniciais possuem algumas passadas mais técnicas, com predominância de agarras, e alguns poucos lances em aderência. Na saída da quarta enfiada, há um lance de IV, depois a parede vai perdendo inclinação. As enfiadas seguintes, da quinta à nona, possuem lances bem fáceis (I a III graus), com esticões, possuindo apenas os grampos das paradas. A décima e a décima primeira enfiadas, ainda com lances mais fáceis, já começam a entrar na parede esbranquiçada da Lajinha. A saída para a décima segunda enfiada marca a saída para o grande espigão. O início dessa enfiada é ainda positivo, mas após uma travessia para a esquerda, existe um lance de VIIa definido por uma passagem vertical, bem protegida que, após dominada, segue para a direita até um pequeno platô onde está a P12.
A décima terceira enfiada marca o início da parte mais íngreme do espigão e, a partir desta, a via passa a ser protegida até o cume por chapeletas de inox. É uma enfiada mista, em livre até a quarta chapeleta. Nesse trecho há um lance técnico de VIIa em uma parede vertical. Depois a via segue por uma sequência em artificial de parafusos de 5/16” (inox). Quando a parede perde um pouco a inclinação, em meio a alguma vegetação, a linha tende para a esquerda, em livre, até a P13, que é tripla. A saída da décima quarta enfiada possui uma pequena passagem em livre e volta ao artificial em parafusos em uma sequência maior, transpondo o trecho mais íngreme do espigão. Quando este vai perdendo a inclinação, o artificial segue um pouco para a direita até a parada. Após a segunda chapeleta da décima quinta enfiada, a via passa em meio a uma vegetação seguida de uma pequena fenda – que é possível proteger com Camalot #.5 e #.75, mas que não é essencial – e, depois de um lance de face (VIsup), chega à parada. Neste ponto, a via sai finalmente da aresta do espigão e, adiante, a rocha ganha grandes proporções em largura. As duas enfiadas seguintes vão em direção a uma espécie de grota à direita, sendo que a décima sétima passa pela parede formada à esquerda da grota, em um lance um pouco exposto.
A décima oitava sai à esquerda, depois segue por uma travessia para a direita e sobe em linha reta em meio a muitas bromélias. A décima nona enfiada transpõe uma grande laca/diedro e progride, em seguida, por uma parte de aresta, em um trecho bem protegido. A enfiada final é bem fácil, passa em meio à vegetação que compõe o entorno do cume, onde é finalizada. Bem ao lado da P20 está o livro de cume. Depois é só continuar caminhando por poucos metros e chegar ao cume da Laginha. O local possui ruínas de uma antiga estação de transmissão de TV. Essa via pode consumir um dia inteiro, havendo a possibilidade de se chegar ao cume à noite. Uma opção para escalar de maneira mais tranquila, com menos preocupação com o tempo gasto, é fazer a primeira parte (aproximadamente até décima enfiada) e sair caminhando para a direita até acessar o colo que fica na metade da montanha. Este colo possui uma matinha com ótimas árvores nas quais é possível armar redes e dormir, para só no dia seguinte escalar as outras dez enfiadas para o cume.
Descida: Do cume existe uma caminhada que desce pelo lado oposto ao da escalada, com aproximadamente 2 horas de duração. Se optar pelo rapel, a melhor opção é rapelar a parte superior da via utilizando 2 cordas de 60 metros e descer caminhando pelo colo da montanha. O colo atravessa trechos em costões e em mata, até finalizar em um cafezal. Do cafezal, desça por uma estrada de terra até a casa do Nino e da Adriana. Essa caminhada dura aproximadamente 40 minutos. Uma última opção seria rapelar a via toda, acrescentando mais 10 rapéis até a base.
Equipo: 15 costuras (5 longas), fitas diversas, 2 alças de cabo de aço (para o artificial em parafusos), 2 estribos (4 facilitam), ascensores e corda de 60 metros.