Após rodar um tanto pela Rod. Mogi-Bertioga (SP-98) e descer td serra tomamos o anel q dá acesso a Rod. Mario Covas (SP-055), onde tocamos sentido Santos. A manhã estava radiante, realçando o contraste vivido e exuberante da cor esmeralda da Serra do Mar recortando o horizonte do azul escuro do firmamento. No carro eu dava as coordenadas pra nossa motora da vez, a Priscila, enqto a Simone, Lore e Alê não apenas se espremiam no banco traseiro como tb apreciavam a paisagem emoldurada pelas janelas do veículo.
Mas não demorou pra atentar pra sinalização indicar a proximidade com bairro santista do Caruara, quase na divisa com município de Bertioga. Abandonamos a rodovia pela direita de modo a tropeçar na entrada do “Condomínio Parque Caiubura II”, as 9hrs, onde basta se identificar e dar continuidade ao trecho de estrada, agora de terra e não raramente enlameada. Dali é só se informar onde fica a casinha da Sabesp, ou seja, uma pequena estação de controle de mananciais ao pé da serra. Pra isso nos mantemos na rua principal por td tempo, da Alameda Iguaçu cair na Alameda Caembura, sempre na direção noroeste. Percebe-se q isto aqui fora uma antiga enorme fazenda, hj loteada e repleta de casinhas de veraneio, pousadas e alguns poucos estabelecimentos comerciais, td bem espaçado entre si em meio a muita mata secundária. Na verdade, nossa direção vai de encontro com a das linhas de torres de alta tensão.
Estacionamos rente um riachinho e dali prosseguimos pela estrada de terra, q se torna cada vez mais precária e com menos residências ao longo dela, sempre acompanhando o raso riozinho q marulha calmamente a nossa esquerda. Mas não tarda a tropeçar no final da rua, assinalada por uma velha casa da Sabesp onde uma lacônica placa adverte não apenas da proibição de entrada como da advertência de evitar qq espécie de poluição na água, visto q ali é uma região de mananciais. Dali, pela esquerda, percebe-se uma estreita vereda q ladeia a tal casinha e, sempre seguindo por ela e ignorando uma saída pela esquerda, contornamos a cerca q protege a casa até finalmente cair nas margens dum riozinho.
Saltando cuidadosamente de pedra em pedra reencontramos a trilha na outra margem, agora mergulhando no frescor da mata fechada. Pronto, uma vez aqui não tem mais segredo pois já estamos adentrando no comecinho do tal “Vale dos Borrachudos”. Na verdade, palmilhamos uma vereda q acompanha um afluente do rio anterior, q por sua vez adentra numa dobra serrana a oeste. A caminhada é tranquila, desimpedida e agradável, ganhando altitude de forma imperceptível de tão suave q é. Obstáculos? Nenhum, as vezes surge uma árvore caída da qual se desvia com enorme facilidade. No caminho, é percebida uma discreta picada q nasce da principal e vai de encontro um outro afluente. Guardamos esta vereda na memória e prosseguimos em gente, pois aquela é a vereda da cachoeira.
Pois bem, chega uma hora em q a vereda se divide em duas, sendo q em ambas opções ela sobe forte. Após tomar equivocadamente o ramo da esquerda (q nos levou apenas à base duma das torres de alta tensão, onde não havia saída alguma), nos pirulitamos pelo da direita do qual não arredamos mais pé e foi por este q seguimos até o fim! Dali em diante é subida forte e íngreme, em largos ziguezagues pela encosta, q logo emergem em terreno aberto. Num piscar de olhos ganha-se altitude incrível e frestas na mata revelam q nada mais q vamos de encontro outra torre de alta tensão, situada por sua vez num dos ombros serranos deste cafundó.
Mas não demora pra emergir no sopé da primeira torre, onde a pernada aparentemente nivela ou ganha mais altitude de forma imperceptível. Dali em diante a rota acompanha a linha das torres, sempre sentido sudoeste, agora percorrendo a encosta do espigão principal. Trechos abertos, com sol fritando o côco, se alternam com agradáveis trechos sombreados das dobras da serra, onde o frescor da sombra é mais q bem vindo, além da goela ser brindada com a presença de oportunas bicas, cujo liquido nunca foi tão bem apreciado. A paisagem, por sua vez, descortina uma nova perspectiva tanto da SP-055, q serpenteia a verdejante planície litorânea, como do espelho d’água do Canal de Bertioga, q separa a Ilha de Sto Amaro (Guarujá) da Área Continental de Santos.
A pernada se mantem nesse compasso de subida suave até q emergimos na próxima torre, q pela numeração é a “106”, onde costuramos pro outro lado, rasgando voçorocas de samambaias, mas não demora pra retornar ao lado direito das linhas de alta tensão. Dali em diante é possível avistar a fileira de torres indo de encontro ao selado q desejamos chegar, e td verdejante encosta q é necessária percorrer até lá. Mas não tem pressa alguma, pq aqui a pernada não tem mta variação de altitude e se mantém a maior parte nivelada, só aumentando mesmo no final. No caminho, pra variar, bicas com agua geladinha fazem a festa dos “sem-cantil” naquela manhã insuportavelmente quente.
Mas no badalar de exatas 11hrs e exatos 280m de altitude é q alcançamos a “última” torre, pois é apenas a última no alto daquele setor serrano pq agora a linha desce e percorre a planície litorânea por um bom trecho até o Morro do Cabrão pra depois findar no porto de Santos. Ruinas de antigas construções dividem espaço com um par de casas recentes onde haviam dois rapazes q fazem a segurança do q era instalações de manutenção da Codesp, ou seja, das torres vindas da Usina de Itatinga. Em meio a estridentes latidos dum trio de pulguentos inofensivos, comentaram q quase ninguém vai até ali a não ser gatos-pingados da baixada, e ainda de moto.
Instrumentos de medição meteorológica (um pluviômetro) próximos dum simplório balanço indica q o pessoal se encanta com os raros visitantes, sempre bem dispostos a uma prosa. Mas o melhor de td é a paisagem q se revela deste outro lado da serra, do “Mirante do Caetê”, q pode ser apreciada tanto em pé como dum decrépito banco de madeira construído faz tempo justamente pra essa finalidade: sob um grande céu aberto q preenche td quadrante sudoeste, avista-se a geometria alva da cidade de Santos, o sinuoso espelho dágua do Canal de Bertioga serpenteando o verde manguezal em torno dele. Claro q tivemos ali nosso primeiro pit-stop do dia, onde além de descansar as pernocas beliscamos algo ao mesmo tempo em q buscávamos alguma sombra pra nos proteger do sol inclemente do meio-dia.
Zarpamos dali pouco depois do meio-dia e refizemos td caminho da ida, agora apreciando tds os visus a nossa frente sob nova perspectiva, e praticamente parando em tds as bicas com precioso líquido, no caminho. O calor era palpável e parecia emanar do chão. Um banho refrescante e revigorante era mais q urgencial àquela altura do campeonato e isso só seria possível nalgum rio ou afluente nas entranhas do Vale dos Borrachudos, cujo rugido era mais q audível logo no início da descida. E assim perdemos altitude até cair quase no comecinho da vereda, mais precisamente onde tivemos nosso primeiro perdido, lembra?
Pois bem, dali bastou seguir pela vereda principal e atentar pro discreto caminho q partia, agora pela esquerda. Como memorizara o lugar na ida não foi mto difícil encontrar, mas em caso de dúvidas, basta procurar na margem direita do afluente do rio palmilhado. Dito e feito, após cruzar cautelosamente pelas pedras o tal córreguinho encontramos a picada, óbvia e bem pisada, acompanhando o mesmo pela direita, subindo suavemente o curso d’água em meio a verdejante e exuberante mata primária. Uma clareira a meio caminho indica q o lugar costuma ser point da galera local, q além de se refrescar nos remansos do rio se esquece de levar o pouco lixo ali deixado. Lamentável.
Mas é da clareira q a subida aperta, e aperta pra valer! O q vem a seguir é uma subida pirambeira quase vertical, onde raízes e degraus pouco nivelados exigem fôlego extra de td trupe, q se dá através duma crista serrana ascendente. Mãos e braços ganham mesma importância q pernas, se agarrando no q tiver a disposição, seja arvore, mato ou terra. Num piscar de olhos o rio fica distante, bem abaixo, me deixando na dúvida se estávamos no caminho certo. Mas após um tempo nesse ritmo árduo a pernada amansa e nivela pela encosta esquerda da supracitada crista, pra depois cair vertiginosamente na direção do afluente até então acompanhado. Logo, o som trovejante de mta água correndo próxima reascendeu a esperança de q estava no caminho certo. Ainda bem q não perdi o hábito q seguir meus instintos, mais valiosos q qq coordenada exibida no visor dum GPS.
Após cruzar um pequeno afluente, desviar de mata tombada e desescalaminhar uns rochedos tremendamente escorregadios é q chegamos na base dela, a “Cachu do Vale dos Borrachudos”, as 13:45hrs. Enfiada numa estreita dobra serrana q mais parecia um mini-cânion, a queda se mostra escondida no vale de uma forma geral, de onde o riozinho se despejava duma altura aproximada de menos de 30m em vários patamares rochosos. Sim, a altura da cachu era insignificante mas o contexto lhe conferia um charme especial. Logicamente q a descoberta daquela oportuna e bem-vinda queda foi motivo mais q suficiente pra nos refrescarmos nas águas do poção formado ao sopé dela. E ali, naquele pequeno paraíso reservado ficamos um tempão, sem saber o motivo dali se chamar “Vale dos Borrachudos”, dos quais não vi sinal. A exceção da Simone, claro, q foi devorada pelos supostos famigerados sanguessugas. Pererecas, pelo contrário, havia aos montes, razão pela qual fiquei tentado em mudar o nome q encabeça este relato.
Após um tantão q pareceu eterno iniciamos o caminho da volta, desta vez agora na base da descida da íngreme e longa piramba, onde recolhemos o pouco lixo no caminho e assim fazer nossa parte no quesito de preservação ambiental. Dessa forma chegamos no carro um pouco depois das 15:30hr, num horário mais q apropriado pra empreender retorno pela Rod. Imigrantes e assim fugir dos habituais congestionamentos q infestam as subidas serranas final de dia. No caminho, pela rodovia, uma última olhada pra esta bela serra q exibe agora td caminho palmilhado, tanto as torres como o Mirante do Caeté, vistos agora de baixo, quase do nível do mar. É, são coisas bem diferentes. E, claro, teve boteco. Mas foi apenas qdo já estávamos na segurança e conforto da Zona Oeste.
Existia antigamente uma travessia q era realizada por agências do litoral, a “Caetê-Caruara”, q nada mais percorria quase td descrito neste relato, do qual abrimos mão apenas a descida do Mirante do Caetê até o asfalto da SP-055. Ela se dá através duma vereda de pouco mais de 1km q, em ziguezagues q percorrem a íngreme encosta do morro, cai até a rodovia. A gente dispensou esse breve trecho por não ver nenhum atrativo nele, por desejar curtir a cachoeira e por questões logísticas, uma vez q cozinhar os miolos por quase 5kms entediantes no asfalto apenas pra resgatar o veículo não era nada convidativo. Mas com bom planejamento ou transporte q já deixe na entrada da trilha, ao sopé do Mirante, é possível fazer a pernada no sentido contrário e deixar a cachoeira pro final. Bem, aí a escolha é sua. De qq forma, o “Vale dos Borrachudos” é pedida sussa, refrescante e agradável de caminhada pela Serra do Mar paulistana. Independente de qq sentido q for adotado.
1 comentário
Olá, boa tarde!
Poderia descrever mais brevemente como é a entrada para a trilha e o trecho? Também fiquei em dúvida de como identificar que a trilha esta correta!
Obrigada!
Luiza