A lua cheia ainda brilhava redonda sobre o centrão de Sampa qdo eu e a Bárbara (tb conhecida como Bah ou Babi) chegamos às pressas na Estação da Luz, um pouco antes das 6hrs. Haviamos sido relapsos ao esquecer q as festividades noturnas da “Virada Cultural” promovidas pela prefeitura durante td fds certamente deixariam as ruas centrais intransitáveis e qq tipo de transporte coletivo seria desviado de sua rota normal. Dito e feito, por conta disso fomos obrigados a atravessar quase td centro velho a pé no meio do q parecia ser um campo de guerra repleto de jovens moribundos embriagados jogados no chão. Som de rock e reggae vindo de um lado, axé e rap do outro, pelamor! Francamente, já não tenho mais paciência de curtir essas manifestações mais antropológicas q “culturais” como outrora. Seriam esses sinais inevitáveis da velhice o de não curtir o tradicional “pão e circo”? Quiçá. Apenas q nesta vida trilheira ou se curte o dia ou a noite. E eu optei por aproveitar integralmente este primeiro.
Felizmente chegamos a tempo de encontrar a Paulinha e o Ronaldo na Estação da Luz, e assim zarpar no trem pra Mogi antes das 7hrs embalados em muita conversa mas principalmente mortos de sono em função da noite mal dormida. Uma vez em Mogi encontramos o Carlos q lá já nos aguardava, as 8hrs, e imediatamente pusemo-nos a andar em direção à Pça da Bandeira, com desenvoltura e calmaria mto maior q na capital paulistana.
Meia hora depois embarcamos bocejantes no latão em direção ao bairro rural de Manoel Ferreira, e ainda mortos de sono por fim saltamos na Balança algo de 45min intermináveis depois, já km77 da SP-98, mais conhecida como Mogi-Bertioga. A lua cheia a muito tinha ido embora dando lugar a um céu azul pontuado por um sol de rachar miolos, motivo pelo qual mal começamos a andar pelo asfalto nossas costas e rostos logo se empaparam de farto suor.
Mas as 10hrs deixamos a estrada em favor da famosa picada q desce a serra, no km 81, e assim mergulhamos no agradável e bem-vindo frescor da mata q agora seria nossa companheira pelo resto do dia. A pernada é tranqüila e sem dificuldades e 10min após iniciada a trilha desembocamos no Rio das Pedras, q cruzamos com água ate as canelas à outra margem. Aqui nos chama a atenção de um enorme grupo de jovens mochilados (algo de mais de 30 pessoas!), q depois nos informamos eram adventistas e estavam rumando tb pra Cachu Elefante.
Logicamente q apressamos o passo pra nos distanciar deles, apesar q a possibilidade de qq esbarrão posterior com os mesmos fosse nulo em virtude do ritmo de caminhada deles se igualar ao de tartaruga manca por conta do numero de pessoas.
Dessa forma prosseguimos pela trilha num ritmo forte e compassado, agora começando a descer o vale atraves de largos ziguezagues pela encosta da montanha. Ao dar de cara com um mega-deslizamento bastou contorna-lo por uma precária picada recém roçada pra esta finalidade ate cairmos na trilha oficial, logo mais abaixo. Na sequencia a encosta dá lugar a uma crista descentente interminável, onde a caminhada se dá por meio de raízes e galhos como se fosse uma escada natureba.
Qdo o terreno aparenta embicar surge uma bifurcação onde a trilha normal prossegue pela direita, mas a gente opta pelo atalho da esquerda onde se perde altitude num piscar de olhos por terreno erodido quase vertical. Assim logo damos nas primeiras clareiras q assinalam a proximidade da cachu, cujo rugido cresce a medida da nossa aproximação. Cruzamos um corregozinho e acompanha uma picada pela mata rio acima e pronto, chegamos na famosa Cachoeira do Elefante pontualmente as 11hrs. Esta queda sempre nos impressiona, ainda mais agora com suas larga e enorme véu de água despencando do alto e reluzindo ao sol do quase meio-dia!
Pausa merecida pra curtição e descanso, claro. Enqto a Paulinha e o Carlos permanecem nos largos rochedos ao pé da cachu beliscando alguma coisa, a Bah e o Ronaldo decidem tanto se banhar nas águas ao sopé da queda como escalaminhar os rochedos à frente da mesma. Independente de entrar ou não na água, daqui td mundo sai ensopado por conta do úmido borrifo q a grandiosa queda impõe a quem se aproxima. Na sequencia, nos juntamos com o resto do pessoal e mandamos ver um lanche reforçado goela abaixo, refeição esta providenciada pelo Ronaldo, q costuma sempre levar comida prum batalhão. É aqui tb q a Paulinha me informa o porquê da cachu ter o nome de um paquiderme, duvida q sempre martelou na minha cachola. Diz ela q tem uma enorme pedra à frente da cachu q vista de certo ângulo lembra a frente da cabeça de um elefante. Não fui lá conferir mas uma coisa é certa: Paulinha tb é cultura.
Descansados e de bucho cheio, ao meio-dia exato começamos nossa subida de cachoeira rumo à Véu da Noiva. Saltando de pedra em pedra vamos em direção á extremidade esquerda do sopé da cachu, onde um totem assinala o único local de acesso á parte de cima. A partir daqui vem uma legitima escalada de rocha, onde as mãos se firmam tanto nas agarras da pedra como nas raízes e troncos a disposição. Pode parecer difícil pela declividade quase vertical mas não é, as agarras são seguras, o terreno é firme e tem sempre onde se segurar. Dessa forma nossa ascensão é rápida ate emergir da mata num degrau rochoso onde começa uma escalada apenas pela pedra. Felizmente a aderência é boa e este trecho é vencido sem dificuldades, coisa q não deve ser no caso de chuva.
Ganhamos então novo patamar onde as vistas se ampliam e podemos avistar os contrafortes serranos ao redor, onde o famoso Mirante da SP-98 figura como um mero pontinho em meio a uma moldura esmeralda. Subindo ainda pelas aderências atravessamos um curto trecho forrado de bromélias e acompanhar o rio ate um poção represado no alto. Aqui decidimos cruzar á margem esquerda do rio e prosseguir por ela, uma vez q há uma tendência natural pra formação de ilhas no meio do rio, e nos manter na margem esquerda é garantia de não ficarmos ilhados mais acima no caso do rio se tornar intransponível.
Dessa forma subimos o rio pela sua íngreme margem esquerda alternando escalaminhada pelos paredões rochosos e, nos trechos mais verticais, varando mato pela encosta q tb não era menos pirambeira, mas havia ao menos onde se segurar, fosse raiz ou galho. Já logo neste trecho de vara-mato um susto ao quase pisar numa elegante e colorida jararaca, q deixou a Bah feliz da vida pois a guria tem um encanto por peçonhentas desde longa data. Desviando da bichinha damos continuidade à nossa lenta ascensão, agora redobrando atenção onde pisar.
Bordejando um trecho de paredão onde o rio corre furioso do nosso lado e depois transpondo sucessivos vara-matos em meio a taquarinhas, bambu seco e td espécie de mata caída facilmente contornável, eis q deixamos a mata pra cair nos gdes rochedos q antecedem o enorme dique na base de uma gde cachu, as 13hrs. Era ela, a Véu da Noiva. Pausa pra curtição e descanso. O rio despenca de um gde gargalo rochoso semi inclinado ate desaguar num enorme piscinão, pra depois serpentear enormes rochas e e dali despencar na Cachu do Elefante. A vista daqui tb é magnífica: de um lado a gde queda, e do outro a SP-98 surge como um risco alvo cortando a verdejante serra nas montanhas opostas.
Missão cumprida, era hora de partir. Afinal o sol e céu azul a muito haviam ido embora dando lugar a uma nebulosidade clara e opaca q encobria o topo da serra no entorno. Pois bem, pra não ter de retornar td ate a base do Elefante decidimos fazer o obvio, azimutar pro lado e varar-mato ate atingir a picada na crista pela qual viéramos. Só havia q decidir por onde começar pois a declividade era bem íngreme onde quer q se olhasse, sendo q havia muitos paredões rochosos verticais impossíveis de subir. Mas ai a Bah encontrou um acesso por pedras desmoronadas e foi na dianteira, escalaminhando a mata em ziguezagues sucessivos e sendo seguida pelo resto. Alguns trechos pirambeiros não havia onde se firmar e daí não restava opção senão se segurar no capim ou troncos podres e torcer pra eles não cederem. Adrenalina total.
Nesse ritmo acabamos dando na base de um muralha rochosa vertical impossível se escalar, mas daí bastou acompanhar a base do mesmo ganhando altitude lentamente. No final do paredão veio uma ultima piramba na encosta q vencemos com alguma dificuldade ate finalmente caír na crista q queríamos, as 13:30, mais precisamente na trilha pela qual viemos na altura da placa em memória dos “perimbeiros”. Agora sim, missão cumprida.
Descansamos alguns minutos e retomamos a pernada sem pressa, subindo ao planalto novamente em meio as brumas q agora tomavam conta da serra. As 14:30 chegamos no Rio das Pedras onde nos presenteamos com um merecido tchibum de meia hora em suas águas frias, porem revigorantes e refrescantes. Dose era evitar os mosquitos q naquele horário estavam impossíveis e já haviam deixado dois calombos na minha testa.
Dali pra SP-98 foi num piscar de olhos, onde a monótona e interminável caminhada de 5km pelo asfalto nos levou outra vez na Balança as 16hrs, onde comemoramos com sodas, brejas e salgados a conclusão da trip. Lá encontramos o folclórico Seu Geraldo q entre uma pinga e outra nos sussurra dicas de outro atrativo da região, o Poço das Antas. Anotado, já garantimos nova missão qdo la formos retornar.
Tomamos o busão de volta pra Mogi meia hr depois, cujo restante da trip convém nem comentar, pois nem me recordo por estar tremendamente sonado de cansaço acumulado. E assim finalizando, num pais repleto de quedas chamadas de “Véu da Noiva” onde fica difícil afirmar ou garantir qual é a mais bela e espetacular, a Véu do Itapanhaú surge como um programa diferenciado e adrenado à sua mais conhecida queda. E mais uma opção refrescante às tantas cachoeiras q a verdejante Serra do Mar oferece àqueles q se dispõem a explorar seus sinuosos, desconhecidos e acidentados caminhos.
Texto de Jorge Soto – Fotos: Jorge Soto &, Paula Neiva
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