O voo bivaque

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Desde o início, a prática do voo livre com um paraglider requeria a subida de uma montanha normalmente caminhando para que a decolagem fosse possível. Com o passar do tempo, o esporte foi se popularizando, o número de praticantes aumentou e em virtude de novos acessos as montanhas, seja de carro ou por um teleférico, além da busca pelo máximo aproveitamento do tempo e menor esforço, esta prática foi ficando de lado e hoje a grande maioria dos pilotos acessa de forma motorizada uma rampa de voo livre, mas isso está mudando…

Graças a evolução tecnológica dos materiais, hoje é possível encontrar no mercado parapentes ultra leves que pesam ao todo cerca de 2,5 kg. Isto está possibilitando que pilotos de parapente apaixonados também pelo montanhismo possam desfrutar das montanhas que eles sempre subiram e desceram caminhando de uma forma mais completa e divertida, decolando de seus cumes.

Lembro-me que quando comecei a voar de parapente, vislumbrava lá na frente à possibilidade de voar nas montanhas que eu escalava. Passado alguns anos, foi o que fiz e estes vôos foram os mais especiais que já realizei, pois ver de outro ângulo as montanhas que você sempre limitou-se a subir e descer caminhando, tem um sabor muito especial.

Mas apenas limitar-se a subir uma montanha com seu paraglider nas costas e descê-la voando é uma prática que também já está ficando ultrapassada. Em 2003 aconteceu o primeiro X-Alps, uma corrida de montanha composta de caminhada e vôo livre que em suas últimas edições teve início em Salzburg na Áustria e chegada em Mônaco na Itália, em um percurso com cerca de 1.000 quilômetros! Desde então esta prova acontece de dois em dois anos e coloca os pilotos montanhistas em seu limite para alcançar o objetivo no menor tempo possível.

Isto estimulou pilotos do mundo inteiro a criar seus próprios desafios. Este estilo de vôo é chamado de vôo bivaque, pois em virtude das distâncias percorridas o piloto tem que carregar todo o equipamento de vôo, mais o equipamento para camping, pois normalmente o pouso é necessário em lugares remotos. Alguns feitos já se destacam como a jornada de Nate Scales, Nick Greece, Matt Beechinor e Gavin McClurg que percorreram 800 km começando em Hurricane Ridge ao sul de Cedar City, Utah seguindo pelo norte de Wasatch, passando por Star Valley até Jackson Hole. Outro piloto e montanhista em busca de uma aventura inesquecível é Dave Turner, que planejou percorrer sozinho toda a “Sierra” na Califórnia, um trajeto com cerca de 850 km que neste momento está sendo percorrido (acompanhe clicando aqui).

No Brasil ainda não temos relatos de pilotos que tenham se dedicado ao voo bivaque, pois o maior desafio procurado ainda é o vôo Cross Country de maior distância possível sem pouso chegando a voar mais de 400 km em algumas horas, mas alguns pilotos montanhistas já fizeram seus vôos decolando de montanhas como o Dedo de Deus, Pico maior de Salinas, Pico Paraná entre outras.

Assista abaixo um filme sobre o tema:
 

Red Bull X-Alps

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Sobre o autor

Rafael Wojcik, escalador com mais de 18 anos de experiência no mundo do montanhismo atuando não somente como praticante, mas também em empresas de varejo, importação e distribuição de equipamentos para montanhismo como consultor técnico nas áreas esportiva e profissional durante cerca de 10 anos, o que lhe proporcionou um amplo acesso as mais atuais informações técnicas fornecidas diretamente por tradicionais fabricantes de equipamentos. Rafael já contribuiu para o montanhismo abrindo maisde uma centena de rotas de escalada, inclusive com até 1.000 metros de altura em diferentes regiões do Brasil. Também dedica-se a prática de parapente com ênfase no voo em montanhas onde o acesso é possível apenas caminhando.

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