Texto: Eduardo Prestes
:: Veja a quarta parte do Especial sobre os Alpes de Eduardo Prestes
Zell am See
Nosso roteiro inicia em Zell am See, mais um encantador balneário histórico austríaco, às margens de um lago e cercado por montanhas. A população é de cerca de 10.000 pessoas e a altitude média é de 750 metros. Situada junto à bifurcação da estrada que leva ao Grossglöckner, Zell am See pode ser uma boa opção para esperar um dia de céu claro para cruzar os Alpes. No verão, a cidade funciona como balneário. O centro é composto por edificações típicas, compondo um conjunto charmoso e que justifica a visita. A praça, marcada pela torre em pedra da Igreja de Santo Hipólito, é especialmente bela. No inverno, as encostas suaves das montanhas acima de Zell am See transformam-se em disputadas pistas de esqui. Um moderno teleférico faz a ligação entre a área urbana e o cume do Schmittenhöhe (2000 m), onde existe restaurante e outras facilidades, além de mirantes.
Gostando de caminhadas e havendo tempo, a partir do cume do Schmittenhöhe existe uma famosa trilha alpina, conhecida como Pinzgauer Spaziergang, fácil mas longa, com cerca de 19 km, sempre no alto das montanhas e com pouca variação de altitude no percurso. Por acompanhar as cristas, o caminho é em grande parte panorâmico, com vistas dos lagos e dos cumes gelados na região do Grossglöckner. O final da trilha é a cidade de Saalbach, outra bela vila alpina cercada por encostas íngremes. A caminhada deve durar entre 6 e 8 horas, podendo ser acrescida em dificuldade com a subida em algum dos cerca de 10 cumes nas imediações, inclusive o Geisstein (2363m), que carrega a fama de ter a melhor vista do Kitzbuehl Alps (considerar mais 2 horas de percurso). O caminho é bem marcado e sinalizado, com abrigos e pontos de parada. Saalbach é um conhecido e bem equipado centro de esqui e esportes de inverno, com vários teleféricos e cabos aéreos para as montanhas do vale. É possível esquiar o ano inteiro por lá, inclusive no verão europeu. O retorno para Zell am See pode ser feito em ônibus ou alugando bicicletas, uma pedalada de 18 km pela principal estrada de acesso.
Kaprun
Próximo de Zell am See, a apenas 8 km ao sul, está um outro centro alpino importante, Kaprun, na base da pirâmide do Kitzsteinhorn, com 3203m. Sendo um outro destino turístico importante na Áustria, Kaprun conta com prédios típicos e uma ampla rede de lojas, hotéis, bares e restaurantes. Saindo do Centro, caminhando uns 15 minutos, existe um estreito cânion, por onde corre o Rio Ache. O cânion pode ser percorrido por uma passarela em madeira chumbada na rocha, permitindo passear entre cascatas e poços azuis, num ambiente único. O local é conhecido como cânion de Sigmund-Thun, sendo passeio obrigatório para quem visita Kaprun. Mais acima no vale, foi construído um espetacular sistema de represas, encravadas entre encostas íngremes, que também vale conferir. Há estrada e linha de ônibus até lá. Tanto as obras de engenharia como a paisagem impressionam. Este vale dá acesso também às vertentes norte e oeste do Grosses Wiesbachhorn (3564 m), um dos gigantes austríacos, já dentro do Parque Nacional Hohe Tauern. Outra escalada popular nesta área é o Hohe Tenn (3368 m), cujo ponto de partida é o abrigo Gleiwitzer.
Mas o principal atrativo de Kaprun está nas montanhas, em especial o Kitzsteinhorn. Um sistema de teleféricos leva as pessoas para as partes altas do maciço, onde há glaciares com neves eternas, permitindo esquiar em qualquer estação. A estrutura de apoio é ampla e variada, com hotel, restaurante, cinema, lojas, passarelas e mirantes. É o mais equipado centro alpino da região, para desgosto dos puristas. Os cabos aéreos cruzam a montanha e cumes subsidiários, em todas as direções, permitindo um fácil deslocamento aos esquiadores nas encostas. Lamentavelmente, não há como deixar de mencionar que o Kitzsteinhorn foi palco de uma grande tragédia em 11/11/2000, quando um trem funicular, que subia ao alto da montanha por um túnel de mais de 3 km de extensão, incendiou. A queima de matéria plástica dos vagões acabou intoxicando as pessoas, causando 155 mortes. Apenas 12 pessoas sobreviveram. Este foi o mais grave acidente já ocorrido em funiculares ou teleféricos de montanha nos Alpes e no Mundo. O túnel foi fechado e hoje em dia toda a circulação de pessoas no Kitzsteinhorn é feita em cabos aéreos.
Estrada do Grossglockner e o mirante Franz Josefs
Na vila de Brück, a 6 km ao sul de Zell am See, está a bifurcação que leva para a estrada do Grossglockner (ou Grossglocknerstrasse), considerada a mais bela rodovia alpina da Áustria. Este percurso, com cerca de 90 km, segue para o sul até Lienz, nas Dolomitas Austríacas. No caminho, passa ao largo da maior montanha da Áustria, o Grossglockner, com 3.798 m. Por cruzar o Parque Nacional Hohe Tauern, a circulação é controlada, com guarita, pagamento de taxa e horários de acesso, normalmente entre 8h e 17 h (a confirmar, conforme a época). A estrada costuma estar aberta apenas nos meses quentes, entre maio e outubro.
Inicialmente, a estrada sobe as encostas de um belo vale arborizado. Um primeiro atrativo para os montanhistas é a visão do Grosses Wiesbachhorn (3.564 m), uma imponente pirâmide gelada a oeste da estrada. Considerada o vizinho mais importante do Grossglockner, a montanha é um tradicional objetivo para os escaladores austríacos. A vertente mais frequentada é a noroeste, por uma rota conhecida como Kaindlgrat (uma crista), acessada a partir da represa Mooserboden (a estrada inicia em Kaprun). Dali, uma escalaminhada de 4h leva ao abrigo Heinrich-Schwaiger (2802 m), encravado na crista da montanha, já na parte alta. A partir do abrigo, a investida ao cume do Grosses Wiesbachhorn é feita em cerca de 6h, ida e volta, com a rota em boas condições. A Grossglocknerstrasse, no entanto, passa pelo outro lado da montanha, contornando a impressionante face sul, com mais de 2400 metros de altura, uma das maiores paredes dos Alpes. O ponto de referência para este setor é a vila de Fusch, às margens da estrada.
A partir de certa altura, a estrada penetra em zona alpina. A paisagem torna-se mais seca e rochosa, com glaciares e cumes nevados. Saindo de 800 m em Fusch, a estrada atinge, numa distância de apenas 26 km, a marca de 2500 m de altitude, no túnel Hochtor, com 311 m de extensão, de onde inicia a descida para Heiligenblut. Uma trilha histórica permite cruzar o Passo Hochtor caminhando, por cima do túnel, em cerca de 30 minutos. O trecho é parte de uma trilha que existe desde a antiguidade, utilizada há mais de 4000 anos para a travessia dos Alpes, fato comprovado por inúmeros achados arqueológicos.
Existem 3 mirantes principais ao longo da Grossglocknerstrasse. Vindo do norte, a primeira parada seria o Edelweiss Spitze, acessível por uma curta e sinuosa rua de paralelepípedos, saindo da rota principal, que sobe até o topo de uma colina, a 2571 m. É o ponto mais alto acessível em veículo. Ali existe um prédio com loja, bar e restaurante, com um amplo terraço no topo, com lunetas e vista para a cadeia da montanhas de Hohe Tauern. Ao lado, existe ainda uma pousada (Edelweisshütte), também com restaurante (há outras opções ao longo da rodovia). Em um dia claro, as vistas são estupendas, inclusive para o Grossglockner (um pouco distante). A segunda parada é um curioso campanário de pedra, já na estrada principal, conhecido como Fuchser Törl (a 2428 m), antes do acesso ao túnel Hochtor (outra parada tradicional).
Mas o maior atrativo de todo o percurso, sem dúvida, é o terceiro mirante, conhecido como Kaiser Franz Josefs, justamente em frente à vertente norte do Grossglockner. Após o Túnel Hochtor, na descida, há uma bifurcação para oeste que dá início ao acesso de 8,5 km até o Centro de Visitantes Kaiser Franz Josef. Este é um dos principais pontos turísticos da Áustria, portanto prepare-se para encarar uma provável multidão. No caminho até lá, a estrada passa junto a dois lagos e à Represa Margaritzen. Também à beira desta via de acesso está o Glocknerhaus, uma opção de hospedagem para quem deseja conhecer com mais detalhes os atrativos da área.
No fim do acesso está o Centro de Visitantes, um prédio de 4 pavimentos com edifício-garagem, museu, exposições, cinema, lojas, bar, restaurante, etc. Em 1856, o Kaiser Franz Josef caminhou até o local com a Imperatriz Sissi, a partir de Heiligenblut, para observar deste mirante privilegiado o ponto mais alto do seu reino, o Grossglockner. Posteriormente, em 1876, o Clube Alpino Austríaco implantou ali um abrigo de montanha. Com a inauguração da estrada do Grossglockner em 1936, o abrigo passou a ser acessível por veículos, tornando-se um importante atrativo turístico do percurso. Num dia claro, a visão da vertente norte da montanha é inesquecível. Desde 1997, o Centro de Visitantes não oferece mais hospedagem.
O local é ponto de partida para algumas trilhas e passeios interessantes. Em 10 minutos, chega-se ao Observatório Wilhelm Swarovsky, uma torre de vidro que tornou-se a marca registrada do local. Dentro, estão à disposição lunetas de grande precisão, algumas apenas em exposição, outras liberadas para uso. Com elas, é possível explorar a paisagem e até acompanhar a evolução dos alpinistas no Grossglockner. O Observatório foi financiado pela empresa de cristais Swarovsky, que tem vínculos históricos com a região e suas montanhas.
Do Centro Franz Josef, é possível descer até a borda do Glaciar Pasterze, um dos maiores dos Alpes Orientais. A descida pode ser feita em funicular ou a pé, pela encosta (30 minutos). Para os leigos, há passeios guiados pelo Glaciar. É possível também caminhar até a Represa Margaritzen ou mesmo até Heiligenblut, a cerca de 12 km abaixo no vale. Os alpinistas cruzam o glaciar em busca das vias e trilhas da face norte do Grossglockner, na outra margem do Pasterze.
Uma trilha mais longa e bastante atrativa seria a Gamsgruben, que acompanha a encosta norte do Glaciar Pasterze, passando por túneis e mirantes, por quase 1h. A trilha acaba na borda de outro glaciar, de onde apenas os montanhistas prosseguem, até os abrigos mais altos, como o Oberwald. Esta área não é muito utilizada para a escalada do Grossglockner, que está na outra margem do glaciar. A partir do abrigo Oberwald, os principais objetivos seriam o Johannisberg (3460 m), o Hohe Riffl (3338 m) e o Fuscherkarkopf (3.331 m). O maior atrativo destas montanhas não seria a escalada em si, mas as vistas deslumbrantes para o Grossglockner e toda a região.
Caminhar nas montanhas é uma atividade com longa tradição na Europa. Em todas as regiões, encontram-se excelentes opções de trilhas, sinalizadas e mapeadas, com paradas estratégicas ao longo do caminho (abrigos, restaurantes, vilas). No Grossglockner, não seria diferente. Há, por exemplo, uma trilha que circula este setor inteiro da cordilheira, cruzando inclusive o próprio Grossglockner, na encosta noroeste. É conhecida como "Glockner Runde" (ou Volta do Glocker) e o percurso completo exige sete dias. O início pode ser feito na Represa Mooserboden (acessível a partir de Kaprun), passando por abrigos de montanha, pela vila de Kals, mirante Franz Josef e Fusch, retornando depois à represa (pelas encostas do Grosses Wiesbachhorn) . É possível também percorrer apenas alguns trechos escolhidos, o que permite acomodar a atividade em qualquer cronograma. Em muitos pontos, há transporte público disponível (ônibus, teleféricos), que podem "acelerar" uma etapa ou servir como ponto de início ou fim da caminhada.
Outra trilha digna de ser citada, ao menos como curiosidade, inicia justamente no Centro Franz Josef. É chamada de Alpe-Adria, indo dos Alpes (Grossglockner) até o Mar Adriático (Trieste e Muggia, na Croácia). O trajeto é inteiramente mapeado (trechos diários de 6 horas de caminhada) e sinalizado. São 38 estágios (ou 38 dias), passando por Áustria, Alpes da Eslovênia, Itália e litoral da Croácia. Evidentemente, também podem ser feitos apenas trechos selecionados. Informações completas podem ser obtidas no site www.alpe-adria-trail.com.
Heiligenblut
Retornando do desvio para o abrigo Franz Josef , a descida da estrada do Grossglockner conduz até a encantadora vila de Heiligenblut (1300 m), com cerca de 1000 habitantes fixos, situada no mesmo vale onde está o glaciar Pasterze. A foto típica de Heiligenblut traz a capela e seu campanário, construídos ainda na idade média, com o Grossglockner ao fundo. Em dias claros, é quase uma obrigação criar a sua própria composição fotográfica para esta paisagem de cartão postal. No verão, Heiligenblut funciona como base para hikers e montanhistas; no inverno, é mais uma das estações de esqui da Áustria.
Perto do centro da cidade, parte um teleférico que leva até o cume do Schareck (2604 m), um desnível de 1300 metros. Há uma estação intermediária, chamada Rossbach (1752 m), junto à estrada do Grossglockner. O teleférico é panorâmico, sendo um belo passeio. Um outro ramal de teleférico desce do Schareck até a estação Fallbichl (2200 m), também às margens da estrada do Grossglockner, mas em outro ponto, mais acima e próximo do túnel Hochtor. Do cume do Schareck parte a trilha conhecida como Geotrail Tauernfenster, que passa pelo cume do Rossköpfl (2588 m) e sobre o túnel Hochtor, de onde é possível alcançar rapidamente a estação Fallbichl. É uma bela caminhada, quase toda em cristas, com vistas para a cadeia do Hohe Tauern, com cerca de 2 horas de duração (5 km).
No inverno, há outros ramais de cabos aéreos em funcionamento, acessando o Hochfleiss (2902 m) ou o Viehbühel (2420 m). Um detalhe curioso é o primeiro estágio da linha que vai até o Hochfleiss, feito pelo Tunnelbahn Fleissalm, um trem funicular que percorre um túnel de 3 km. O trem funciona apenas nos meses frios, uma vez que, durante o verão, o túnel é inundado pela água que desce do degelo das encostas acima.
Winklern e Flattach
Voltando para a Grossglocknerstrasse, a 22 km ao sul de Heiligenblut, está o vilarejo de Winklern, sem maiores atrativos, exceto o modesto Museu dos Cristais, que ocupa uma torre medieval na praça central. Para os montanhistas, o museu pode ter um especial interesse. Esta região dos Alpes possui uma grande variedade e quantidade de cristais aflorando nas grutas e encostas das montanhas, o que originou, já há alguns séculos, uma ampla atividade extrativista. Uma vez esgotados os aglomerados de fácil acesso, os garimpeiros partiram para as cavernas e áreas altas das montanhas, explorando inclusive as encostas mais íngremes, ainda no início do século XX. Com isso, houve uma fusão das duas atividades e os garimpeiros tornaram-se montanhistas. Esta é a origem de uma forte escola de escaladores austríacos, que passavam o ano inteiro nas montanhas, atrás dos cristais e também buscando conquistas esportivas. Entre muitos nomes conhecidos que participaram do garimpo nas encostas dos Alpes Orientais, o museu dá especial destaque para Hans Kammerlander, um alpinista italiano e tirolês, que alcançou 13 dos 14 cumes com mais de 8000 m (muitos em parceira com Reinhold Messner), sempre sem oxigênio. Para demonstrar a importância que esta atividade de garimpo alcançou na economia da região, basta lembrar que a sede mundial da Swarovski (empresa que comercializa cristais e jóias, fundada em 1895) está situada em Wattens, a 17 km de Innsbruck e nas imediações da Cordilheira Hohe Taeurn.
Um desvio possível, antes do final da Estrada do Grossglockner, seria até o Mölltaller Gletscher, uma espetacular estrutura para esportes na neve, a 32 km a leste de Winklern. Ali é possível esquiar mesmo no verão, em glaciares, com o apoio de trens, teleféricos, cabos aéreos e outros serviços. E quem visita o Möltaller não deveria deixar de percorrer os 800 metros do Raggaschlucht, em Flattach, um percurso em passarelas de madeira, inaugurado em 1882, que cruza as estreitas passagens do cânion Ragga, entre cascatas e piscinas.
Sem este desvio até Möltaller e Flattach, seguindo para o sul na estrada do Grossglockner, seriam apenas mais 17 km de Winklern até Lienz, que marca o final da Estrada do Grossglockner.
Lienz e as Dolomitas Austríacas
Lienz é uma cidade histórica, com cerca de 12.000 habitantes e altitude média de 673 m, localizada na planície de um vale no sul da Áustria, próxima da fronteira com a Itália, sendo a capital da Região do Tirol do Leste (Osttirol). A área central tem belas ruas e construções, que valem um passeio, uma refeição ou um pernoite na cidade. O castelo Bruck, nas imediações da cidade, é uma visita altamente recomendada.
O belo conjunto urbano é emoldurado pelas imponentes encostas rochosas das Dolomitas Austríacas (ou Dolomitas de Lienz), a poucos quilômetros ao sul, considerada parte dos Alpes de Gail (ou Gailtaler Alpen). A denominação não é sem motivo, uma vez que Lienz está a apenas 78 km a leste de Cortina D'Ampezzo, considerada o centro geográfico das Dolomitas Italianas. Um de seus mais belos setores, o Sesto, onde está o Parque Natural Três Cumes (de Lavaredo), localiza-se junto à fronteira com a Áustria, bem próximo a Lienz.
Ter uma primeira impressão das Lienzer Dolomites não é difícil, uma vez que o conjunto é circundado por estradas. A volta completa em torno das montanhas, com saída e retorno em Lienz, tem uns 110 km. Mas a essência das Dolomitas Austríacas deve ser procurada em suas montanhas e vales, acessíveis por várias trilhas, ferratas e vias de escalada. São 3 pontos principais de acesso. Ao norte, o ponto de referência é o Lienzer-Dolomiten Hütte (abrigo das Dolomitas), a 12 km do centro de Lienz, passando ao largo do Tristachersee (um lago). Ao sul, a referência seriam as vilas de Tuffbad ou Lesachtal. A leste, a referência seria a charmosa e pequena cidade de Oberdrauburg, a 20 km de Lienz, às margens do Rio Drau.
Há trilhas cruzando os vales das Lienzer Dolomiten em todas as direções, mas vamos destacar aqui três percursos em especial. Do abrigo Dolomiten (1616 m), parte uma estreita estrada entre árvores (há uma trilha alternativa e mais interessante, chamada Rudl-Eller), vale acima até o Karlsbader Hütte (2261 m), junto ao Lago Laserzsee e na sombra de imponentes agulhas e montanhas. Existem vários abrigos nas Dolomitas Austríacas, mas o Karlsbader é o mais dramático e em maior altitude. Dali, este percurso segue para oeste, até o Schutzhaus (1902 m), para descer ao longo do Rio Kerschbaumertalbach até a ponte Klamm, de onde retorna ao abrigo Dolomiten e estacionamento Bruckl. Serão cerca de 6h de caminhada, com desnível de cerca de 700 metros, tarefa para um belo dia nas montanhas. O percurso é conhecido como "Alpenmohn Wanderung".
A segunda trilha é uma travessia norte-sul (ou ao contrário), entre o Dolomiten Hütte e a vila de Tuffbad, cruzando o Passo Zochen e a região do Lago Laserz. A trilha é fácil e bem sinalizada, com cerca de 10 km, e permite conhecer o "coração" das Dolomitas Austríacas.
A terceira trilha é mais longa e corresponde a um clássico local, cruzando a cordilheira no sentido oeste-leste. O percurso chama-se "Drei Törl Weg" (ou Caminho dos Três Passos), iniciando justamente no abrigo Karlsbader, seguindo daí para leste, ultrapassando os três passos, chamados de Laserztörl, Kuhleitentörl e Baumgartentörl, para então chegar à vila de Unholdenalm e, um pouco adiante, à cidade de Oberdrauburg. Serão cerca de 10 horas de caminhada. Alguns fazem o percurso em 1 dia, mas o melhor seria fazê-lo em 2 ou 3 dias, com um pernoite no Kallsbader Hütte e outro ao final, em algum abrigo nas imediações de Unholdenalm. O percurso permite ainda atravessar uma das maiores montanhas da região, o Hochstadel, com 2681m, com direito a parada no cume. No final, junto ao Kalserhütte, é possível optar pelo desvio do Zabarot Steig, um caminho antigo e mais vertical, com escadas de madeira fixas em barrancos (ou seja, uma curiosa via-madeirata).
Escalando nas Dolomitas Austríacas
Pensando em escaladas, as Dolomitas Austríacas podem ser divididas em 3 setores, para simplificar. A oeste, os destaques seriam as montanhas Spitzkofel (2717 m) , Eggenkofel (2591 m) e Weittalspitze (2539 m). O Spitzkofel pode ser escalado por uma via ferrata fácil (nível A/B) em 3h30m, a partir do abrigo Kerschbaumeralm-Schutzhaus e passando pelo Linderhütte, um pequeno abrigo para emergências, o mais antigo nas Lienzer Dolomites (construído em 1883). O Eggenkofel é um maciço isolado com 2 cumes, podendo ser alcançado por trilhas a partir do sul, com início nas vilas de Obertillach ou de Untertillach, no Vale Lesachtal, uma das mais remotas e preservadas paisagens nos Alpes Orientais. A vista do cume principal do Eggenkofel é considerada a mais bela da Lienzer Dolomites. Por outro lado, a rocha do Eggenkofel é muito fraturada e isso restringe as escaladas nas paredes. O melhor é ficar nas duas trilhas de acesso ao cume. Já o Weittalspitze abriga uma interessante via ferrata, a Allmaier Toni Weg, com 800 metros de extensão e 280 metros de ganho vertical a partir do seu início, junto ao Passo Zochen. O nível é C/D. O percurso é circular, iniciando no abrigo Kerschbaumeralm, dali ao Zochenpass, depois ao cume do Weittalspitze, descendo pelo outro lado até o Weittalscharte (outro cume), de onde volta-se ao abrigo.
O segundo setor é o central, que concentra várias agulhas e torres, numa geografia digna da denominação "Dolomitas". O ponto de referência deste setor é o abrigo Karlsbader. Aqui a rocha é mais compacta, um calcáreo de excelente qualidade. O ponto mais alto da cordilheira, o cume do Grosse Sandzspitze, pode ser alcançado por uma ferrata com 400 metros de extensão, chamada de Gebrigsjäger (primeiros 130 m) e Ari Schubel (últimos 270 m). O nível é B/C (moderada). Outras duas vias ferratas espetaculares são a Laserz e a Madonnen. A Laserz tem 400 m, com nível C/D consistente, levando ao cume do Kleine Laserzwand (2568 m). A Madonnen tem 390 m e nível C (inclui uma ponte em cabos de aço com 16 metros de extensão), levando ao cume do Grosse Gamswiesenspitze (2486 m), uma das mais belas torres da cordilheira. Outras duas vias ferratas dignas de nota neste setor são a Panorama e a Seekofel. A Via Panorama tem cerca de 1000 metros de extensão e percorre a parte alta do Grupo Laserz, passando por 8 cumes, inclusive o Grosse Sandzspitze (nível C/D). A Seekofel tem nível C e 150 metros de extensão, conduzindo ao cume de mesmo nome, a 2744 m, passando ainda pelo cume do Eggerturm (2700 m). Esta montanha chamava-se Roter Turm, mas teve seu nome modificado recentemente para homenagear o escalador ítalo-austríaco Toni Egger, parceiro de Cesare Maestri na polêmica tentativa na face norte do Cerro Torre, em 1959, durante a qual faleceu. Egger habitava em Lienz e as Dolomitas Austríacas eram o seu campo de treinos.
As escaladas técnicas mais frequentadas das Dolomitas Austríacas estão no setor central, próximas do abrigo Karlsbader. No Kleine Laserzwand, uma boa indicação é a via Bügeleisenkante, com 380 metros e nível moderado. O acesso é feito por uma derivação da trilha Rudi-Eller. O Roter Turm é uma agulha cujo cume é acessível apenas por rotas técnicas. A via normal é uma escalaminhada um tanto desafiadora, mas fácil para um bom escalador. Outra via recomendada para este cume seria a Schmittkamin, com cerca de 200 m e de média dificuldade. A Teplitzer Spitze é outra agulha similar, exigindo uma abordagem mais técnica. A via normal é fácil, mas exposta, e apenas bons escaladores vão arriscar uma ascensão sem cordas. A parede norte é vertical e tem vias mais exigentes, com até 400 metros, a 30 minutos de caminhada do Karlsbader Hütte. O Kleine Gamswiesenspitze é provavelmente a montanha mais procurada pelos escaladores, por seu formato piramidal, por suas belas paredes e pela qualidade da rocha e das vias. Há várias opções, especialmente na parede norte, onde estão a Gamsplatte e a Nordostkant, ambas com cerca de 300 metros.
Já no setor leste das Dolomitas Austríacas, o grande destaque fica com o Hochstadel (2681 m), uma montanha isolada com uma das melhores vistas da região. A via normal é uma trilha de montanha, que faz a travessia do cume, de oeste a leste (faz parte do percurso da Drei Törl Weg). Mas o grande diferencial do Hochstadel é a sua parede norte, com mais de 1300 metros. Ela pode ser observada da estrada entre Lienz e Oberdrauburg, nas vilas de Lavant e Nikolsdorf. Em termos de escalada, é o objetivo mais ambicioso nas Dolomitas Austríacas.
Vale ainda indicar duas vias ferratas peculiares. A OTK é um percurso que inicia em Oberpirkach (no setor leste, próxima a Oberdrauburg), subindo por cerca de 240 metros o estreito cânion do Pirkner Bach, passando por duas barragens até sair por uma trilha no alto. A OTK acompanha várias quedas de água e piscinas, com pontes em cabos sobre o rio, num belíssimo ambiente enclausurado e que deve render muita diversão e fotos. A via tem nível C.
Outra via ferrata "aquática" é Millnatzenklamm, que sobe o Rio Millnatzen, a partir de Ladstatt, no vale Lesachtal (setor sul). A via passa ao lado de belas cachoeiras, cruzando duas vezes o rio, com pontes em cabos. O nível é B/C e o percurso tem mais de 200 metros, levando em torno de 1h30m para ser completado.
Ao sul do Vale Lesachtal: Os Alpes Cárnicos
O Vale Lesachtal é um recanto alpino preservado, cercado por belas formações rochosas, com o Rio Gail ao centro, com cerca de 50 km de extensão. Ao norte do vale, estão as Dolomitas Austríacas. Já ao sul, junto à fronteira com a Itália, existem algumas montanhas e vias ferratas que merecem ser destacadas. O conjunto é conhecido como "Carnic Alps" ou "Karnischen Alpen".
A partir do oeste, a primeira parada seria a vila Kartitsch, de onde é possível alcançar o Standschützen-Hütte, em 4h de caminhada. O abrigo é ponto de partida para duas ferratas espetaculares. Para o Grosser Kinigat (2689 m, conhecido como Monte Cavallino pelos italianos), uma formação de beleza incomum que inclui o Königswand, serão cerca de 3h de subida, por uma linha bastante vertical e técnica, com desnível de 450 m e graduada em "D". Um pouco ao leste, está o Filmoorhöhe (2457 m), onde existe uma bela ferrata, a D'Ambros Corrado, nível C e com cerca de 850 metros. A aproximação é normalmente feita por território italiano.
Mais além, ainda em direção leste, outra possibilidade seria o Porze (2589 m), uma montanha rochosa ampla e maciça, com 2 ferratas até o cume e algumas opções para escaladas técnicas nas suas paredes. Neste caso, o melhor ponto de partida seria o Porzehütte, acessível desde a vila de Obertilliach.
Neste setor oeste está o único cume com acesso por teleférico e cabos aéreos nos Alpes Cárnicos, o Monte Helm (Elmo, para os italianos). No final do teleférico, tem início uma bela caminhada que leva ao abrigo Silianer, numa encosta com vistas espetaculares das Dolomitas Italianas (setor de Sesto, onde está o "Parco Naturale Tre Cime"). O acesso ao teleférico é feito já em território italiano, na cidade de Versciaco ou em Sesto (a 40 km de Lienz, aproximadamente).
A origem de muitas vias ferratas nos Alpes Cárnicos está na Primeira Guerra Mundial, quando esta região de fronteira foi palco de intensos combates entre os batalhões de montanha da Itália e do Império Austro-Húngaro. As vias foram criadas para facilitar o acesso dos militares aos pontos de observação (cumes e cristas) e para a circulação de tropas e mantimentos. Após o fim do conflito, a infraestrutura foi preservada e os percursos passaram a ser utilizados e mantidos pelos montanhistas. Existem ainda muitas casamatas escavadas na rocha, relíquias deste conflito sangrento e que servem hoje, eventualmente, como abrigos de emergência.
No outro extremo do Vale Lesachtal, a leste, está a pequena cidade de Mauthen, a 15 km de Oberdrauburg. Dali parte a rodovia que leva ao Passo Plocken, na fronteira com a Itália. Perto da área urbana de Mauthen, existe uma interessante opção para a prática de canionismo, a Klabauter Klettersteig, uma via com cerca de 150 metros, nível C, e que desce por dentro da água as estreitas passagens do Rio Valentin, ao longo do trecho conhecido como Mauthner Klamm. A travessia exige o uso de capacete, kit para via ferrata, calçado resistente e roupa de neoprene, pois trata-se de água de degelo dos glaciares mais acima. Serão cerca de 2h na água, tempo suficiente para gelar os ossos, na falta de uma proteção eficiente.
Seguindo de Mauthner em direção ao Plöckenpass, há uma bifurcação a oeste que leva ao Valentimalm, uma pousada logo abaixo das paredes verticais do Kunzköpfen. A paisagem é de tirar o fôlego. O principal objetivo nas imediações seria o cume do Hohe Warte (os italianos o chamam de Monte Coglians), ponto culminante do Karnische Alpen, com 2780 m. A ferrata Koban-Prunner, com 550 m de desnível e quase 1600 m de extensão, permite um acesso relativamente protegido ao topo, em cerca de 8 h de esforço. A via é classificada como nível B, com trechos de escalaminhada. Existe uma variante interessante no primeiro terço, a ferrata militar Weg der 26er, com nível D e cerca de 250 m. Uma visita ao abrigo Wolayer, às margens do Wolayersee e próximo da base do Hohe Warte, é altamente recomendada, pela beleza do local e opções de trilhas e escaladas. Valeria a pena programar ao menos um pernoite no Wolayersee Hütte.
Voltando para a estrada principal e subindo até o estacionamento no Plöckenpass, existem quatro ferratas que levam ao cume do Frischenkofel (2241 m) e justificam uma investida, pela vistas estupendas e a facilidade de acesso. Na primeira metade, até o cume do Cellonschulter, as opções seriam as ferratas Oberst Gresselweg ou Cellonstollen. A Oberst Gresselweg possui 290 m e nível C/D, com tempo estimado de 1h30m. Também é possível chegar ao topo deste cume subsidiário por trilha ou ainda por outra ferrata, a Cellonstollen, nível B e que percorre um inusitado túnel vertical. Uma vez no topo do Cellonschulter, há duas opções para seguir até o cume do Frischenkofel. A Weg Ohne Grenze é uma via de crista, panorâmica, com 260 m de extensão e nível D. Já a Steinberg-Weg é um pouco mais fácil, nível C, subindo uma canaleta. Desde o Plöckenpass, a linha terá cerca de 900 m de extensão, exigindo cerca de 3h de esforço. A descida pode ser feita por trilha ou pelas ferratas, especialmente na metade superior.
A trilha vermelha da Via Alpina ("www.via-alpina.org") cruza os Alpes Cárnicos pelo alto, ao longo das cristas de cumes, no sentido leste-oeste, com várias opções de abrigos no caminho. A caminhada (conhecida como "Karnischer Höhenweg") seria uma bela alternativa para conhecer em detalhe este conjunto de montanhas espetaculares, na fronteira entre a Áustria e a Itália. É um trajeto para 5 ou 6 dias, do Silianer Hütte até o Untere Valentinalm, próximo ao Plöckenpass.
Felbertauern Strasse
A Estrada Felbertauern faz a ligação entre Lienz e Mittersill, a 66 km ao norte, passando em meio aos maciços do Grossvenediger e do Grossglockner. No percurso, estão, entre outras vilas, Matrei e Innergschloss, logo antes do túnel Felbertauern (com 5,3 km de extensão). É um belo trecho de rodovia, mas que não rivaliza com a Grossglocknerstrasse.
A oeste da Felbertauern Strasse, o maior atrativo seria o Grossvenediger, com 3.666 m, uma montanha dominada por glaciares, sendo a segunda mais alta no Parque Nacional Hohe Tauern e a quarta na Áustria, se desconsiderados cumes subsidiários. É uma escalada considerada fácil, mas tipicamente alpina, com progressão quase inteiramente sobre gelo. Pelo sul, o ponto de partida habitual é a vila de Hinterbichl. Há uma rede de abrigos no Grossvenediger, a partir dos quais são feitas as investidas ao cume. Do abrigo Defreggerhaus, por exemplo, serão apenas 2h30m até o cume. O Johannishütte é outro abrigo muito frequentado na encosta sul. Já pelo norte, o ponto de partida seria a vila de Innergschloss, acessível por uma bifurcação logo antes do acesso ao túnel Felbertauern. Uma vez ali, vale uma visita à curiosa Felsenkapelle, uma capela escavada na rocha em 1870, após o templo original ter sido destruído por avalanches. Uma trilha segue pelo vale e sobe a encosta norte do Grossvenediger até o abrigo Neue Prager. Dali, serão mais 3h30m até o cume do maciço. Há outras rotas e também é possível caminhar entre um abrigo e outro, atravessando a montanha.
Vale ainda registrar mais um belo atrativo da região, o grupo de cascatas conhecido como Krimmler Wasserfälle. Com um volume imponente, o conjunto é composto por 3 quedas, num total de 380 metros. Localizada junto à vila de Wald im Pinzgau (20 km a oeste de Mittersill), o conjunto de cascatas pode ser visitado por uma trilha centenária, com pouco mais de 4 km, que acompanha a garganta do Rio Krimmler e permite ver as quedas da água de ângulos privilegiados. Há também uma estrada que acompanha o Rio Krimmler, e que também permite explorar o entorno das cascatas em veículo. Estas são as maiores quedas de água da Áustria e o parque é visitado por mais de 400.000 pessoas por ano, então há uma ampla infra-estrutura de apoio, com pousadas, hotéis, restaurantes, etc.
Escalando o Grossglockner
E enfim chegou o momento de tratar do atrativo principal de nosso roteiro, o Grossglockner. Sendo a maior montanha da Áustria e uma das mais conhecidas dos Alpes Orientais, tem um especial destaque no contexto europeu, atraindo muitos escaladores. Com sua silhueta piramidal, elegante e isolada de outros maciços, o Grossglockner é uma formação estupenda, oferecendo paredes rochosas com mais de 2400 metros. As rotas são variadas, algumas mais acessíveis e outras bastante técnicas. A aproximação é feita principalmente por duas cidades, Heiligenblut ou Kals, esta última no caminho para Lucknerhaus, ponto de partida para a via normal do Grossglockner.
Saindo de Lienz, em direção a Mittersill, o acesso para Kals está um pouco antes da vila de Matrei, numa bifurcação para leste. Kals é uma pequena vila alpina, com cerca de 1200 habitantes fixos. No inverno, é uma estação de esqui, com opções de pistas nas encostas da montanha vizinha, o Blauspitze (2575 m). No verão, é um ponto de partida para as inúmeras trilhas e atrativos do Parque Nacional Hohe Tauern, recebendo mais de 100.000 visitantes nesta época. A partir de Kals, um belo passeio seria em direção ao Vale Dorfertal, onde está a Garganta Dabaklamm. A partir de certo ponto no vale, tem início uma trilha espetacular, que passa por túneis, mirantes e encostas, acompanhando um cânion estreito com cascatas sucessivas de águas azuis. Para quem fica mais de um dia em Kals, seria um programa obrigatório.
De Kals, ainda não é possível enxergar o Grossglockner, cuja visão é obstruída por outras montanhas. A aproximação é feita pela estrada (com pedágio) de 8 km que leva até o Lucknerhaus, um hotel situado num vale de sonho, junto com outras casas típicas e uma vista desimpedida da face sul do Grossglockner. O Lucknerhaus é ponto de partida para as duas vias mais frequentadas até o cume. A via normal é um longo trajeto, que inclui travessia de glaciar, escalaminhada e trechos de via ferrata. Do Lucknerhaus, há 2 caminhos possíveis. O mais frequentado e curto vai até o Stüdlhütte (2801 m), a 2h30m, seguindo dali até o abrigo Erzherzog-Johann (também conhecido como Adlersruhe, são outras 3h), já no ombro do Grossglockner. Este é o abrigo mais alto da Áustria, a 3451 m, atualmente com 120 leitos tendo sido inaugurado em 1880. O caminho até lá é bem marcado, mas exige cruzar um glaciar e subir uma via ferrata de nível C. Outra possibilidade é seguir de Lucknerhaus até o Glorerhütte (2h), depois ao Salmhütte (mais 1h30m) e dali ao Adlersruhe (outras 3h, por via ferrata), num total de cerca de 6h30m. Apesar de mais longo, este percurso é mais seco, com menor exposição às incertezas do gelo (gretas, consistência). Vale lembrar que o Salmhütte pode ser alcançado também a partir de Heiligenblut (4h30m) ou do Mirante Franz Josef.
Do abrigo Adlersruhe, a via normal torna-se uma escalaminhada até o cume, com trechos em gelo e proteção por cabos de aço nos trechos mais verticais ou expostos. Apesar de exigir o uso de cordas, a ascensão do Grossglockner é bastante acessível em termos técnicos, o que significa também a presença de muitos montanhistas nos dias de clima favorável.
A segunda via mais frequentada no Grossglockner é a Stüdlgrat, uma escalada em crista rochosa com cerca de 1000 metros de extensão e 500 metros de desnível vertical. A primeira ascensão é de 1864. Há trechos obrigatórios de 4º grau em ambiente alpino, com proteções fixas (muitos pitons, alguns cabos de aço e chapeletas), mas exigindo peças adicionais (especialmente para gelo). Num bom dia, a via estará cheia. O tempo estimado para completar a rota fica entre 4h30 e 9h30m. O ponto de partida é o abrigo Stüdlhütte.
As vias mais técnicas de ascensão ao Grossglockner estão na face norte, quase todas alpinas (em gelo), acessíveis a partir do Centro de Visitantes Kaiser Franz Josef. As vias mais famosas seriam a Pallavicirinne (uma canaleta de gelo com 12 cordadas) e a Meletzkigrat (escalada de crista, com 1900 m de percurso e 750 m de desnível vertical).
Com uma pesquisa na internet é possível obter informações mais detalhadas sobre as vias e os seus croquis (as indicações básicas são o "summitpost.org" e o "bergsteigen.com"). Há uma rede de trilhas nas encostas do Grossglockner, interligando os abrigos, o que permite cruzar a montanha e passear por suas encostas, sem necessariamente subir ao cume.
Encerrando
Mais uma vez, o que havia sido planejado como um texto mais curto e resumido sobre os atrativos de uma região alpina acabou se ampliando, pela beleza dos recantos e as inúmeras atividades possíveis. Nunca é demais ressaltar o grande diferencial dos Alpes em relação a outras regiões de montanhas, que é a inacreditável infraestrutura instalada. Em todas as montanhas e vales, há trilhas, abrigos, vias ferratas e técnicas, além de paisagens pitorescas e um tanto de história. Com esta sequência de matérias, buscamos oferecer informações sobre alguns destinos alpinos, destacando atrativos naturais e atividades a céu aberto. Em português, na internet, encontram-se muitas dicas sobre hotéis e restaurantes, mas poucas indicações sobre trilhas e montanhas. Esperamos que esta colaboração venha a ser útil aos curiosos, mochileiros e outras tribos de viajantes.
A Áustria é um país com belas cidades e paisagens pouco conhecidas pelos brasileiros. Os visitantes inevitavelmente irão vivenciar momentos de surpresa e encantamento, em meio a edificações históricas e nos recantos de um território quase inteiramente ocupado por montanhas. E com um pouco de empenho, além do passeio, é possível trazer ainda um ou dois cumes na mochila, o que vale pela experiência e para a posteridade. Afinal, é o tipo de história que se conta para impressionar os netos, enquanto eles tentam adivinhar se é verdade ou mentira. Por isso, nossa última dica seria: chegando ao cume, nunca esqueça a foto !
1 comentário
Prezado Eduardo Prestes,
Parabéns pela sua descrição minuciosa dessa região do Grossglockner e Dolomitas austríacas. Pretendo fazer esse percurso no final de Maio de 2021.
Em relação à estrada, imagino que deve ter muitas curvas, mas você considera perigosa? Com exceção de eventual mau tempo, há trechos de curvas muito fechadas ou até mesmo escorregadios em virtude de neblina?
Creio que uma velocidade média de 40 km/h em trechos de curvas é suficiente, certo?