Pedro Hauck se torna o primeiro brasileiro a chegar ao cume do Spantik no Paquistão

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O montanhista Pedro Hauck se tornou o primeiro brasileiro a chegar ao cume do Pico Spantik (7.027 m) em 26 de agosto. Durante cerca de um mês, ele se aventurou em terras paquistanesas descobrindo as belezas dessa montanha.

Pedro Hauck no cume do Pico Spantik. Foto: Arquivo Pessoal

Pedro, Alex e Mehboob no topo da montanha. Foto: Arquivo Pessoal

 

Pedro contou que se interessou pela montanha em 2023, quando conheceu Maria José Cardell, de Andaluzia, esposa de Denis Urubko, durante uma expedição ao Gasherbrum II, também no Paquistão. “A Maria José me falou maravilhas do Spantik. Apesar de sua grande altitude, ela descreveu a montanha como um lugar para ‘desfrutar’. O Spantik tem a fama de ser uma montanha fácil, o que me atraiu. Escalar um gigante do Karakoram sem me expor ao mesmo perigo das grandes montanhas dessa cordilheira parecia ideal. Mas não foi exatamente assim que aconteceu”, relatou o montanhista.

De volta ao Brasil, Pedro convidou algumas pessoas para participar da expedição. Em agosto, ele viajou para o Paquistão com Thiago Melo, também do Brasil, e se uniu a Alex Ignatov, da Rússia, e ao paquistanês Mehboob Ali.

Pedro explicou que os desafios começaram já na trilha de aproximação. São 42 quilômetros a pé desde a cidade de Arandu até o acampamento base. Essa caminhada foi dividida em 3 dias, durante os quais enfrentaram muito calor, com temperaturas acima dos 30ºC, e nevascas. Segundo ele, o terceiro dia foi o mais difícil, pois foi necessário caminhar sobre uma geleira, pulando gretas.

Pedro, Alex e Thiago no início do trekking. Foto: Arquivo Pessoal

Começo da caminhada em na aldeia de Arandu com os carregadores. Foto: Arquivo Pessoal

Início do trekking. Foto: Arquivo Pessoal

Paisagem entre as montanhas. Foto: Arquivo Pessoal.

Greta no glaciar.
Foto: Arquivo Pessoal

 

Ele relatou que foi durante a aproximação que encontrou os primeiros montanhistas retornando da montanha, após desistirem da escalada devido às más condições climáticas . Eles também estavam abalados pelo falecimento de dois montanhistas japoneses alguns dias antes. De acordo com Pedro, esse primeiro contato foi assustador e deixou o grupo apreensivo.

O início da escalada

Após um breve descanso no Acampamento Base, Pedro e a equipe iniciaram o processo de aclimatação subindo até o Acampamento 1 (5.100 m). No entanto, o calor deixou a neve do glaciar em péssimas condições, dificultando essa primeira etapa. “Por causa do forte calor, todos afundavam no gelo, o que causava um desgaste excessivo, agravado pela altitude. Além disso, devido ao mau tempo, a fixação de cordas foi precária, e as poucas cordas disponíveis na montanha permitiam pêndulos e quedas em gretas”, explicou.

A situação mudou após uma nevasca que manteve a equipe dos brasileiros presa dentro das barracas por quatro dias. Após esse período de ócio e ansiedade, as condições do gelo melhoraram, permitindo uma subida mais segura.

Eles então correram contra o tempo para alcançar os acampamentos mais altos. “No total, foram 6 dias nos acampamentos superiores, carregando muita carga e enfrentando todas as dificuldades técnicas e físicas da montanha sem descanso, aproveitando uma janela perfeita que nos permitiu subir e descer com poucas preocupações”, disse Pedro.

Dias de espera dentro da barraca. Foto: Mehboob Ali

Trecho com corda fixa. Foto: Arquivo Pessoal.

Outras expedições na montanha. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Infelizmente, Thiago teve que desistir devido a mal-estar e fortes dores de cabeça. Segundo Pedro, a escalada foi difícil, marcada pelas más condições de gelo e por uma temporada bastante conturbada. Eles foram os últimos a chegar ao cume este ano.

Acampamentos superiores. Foto: Arquivo Pessoal.

Visual desde o acampamento para as demais montanhas do Paquistão. Foto: Arquivo Pessoal.

Um brasileiro no Paquistão

O montanhista contou que é bastante incomum ver brasileiros escalando no Paquistão, um país com processos burocráticos complexos, onde conseguir um visto de entrada pode levar meses e até transferir dinheiro é difícil. Pedro destacou as dificuldades encontradas, como a precariedade no interior do país, onde é difícil conseguir alguns equipamentos. “Além disso, é um país distante, com passagens aéreas caras e uma cultura muito diferente”, revelou.

Na montanha, o principal desafio é o clima extremo, que ocasiona longas esperas e exige muita paciência para lidar com o isolamento. “Eu me sinto feliz em poder representar meu país e mostrar que há bons brasileiros praticando montanhismo de altitude. Diferente de outros ocidentais, eu estava liderando uma expedição, carregando mais equipamentos nas costas, assumindo a responsabilidade, desenvolvendo minhas estratégias e estando na ponta da corda. Por fim, o paquistanês que me acompanhou até o cume, Mehboob Ali, que é um porter, ficou feliz pela oportunidade de chegar lá. Ele vive na vila na base da montanha e foi sua primeira vez no cume”, finalizou.

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

1 comentário

  1. Alberto Ortenblad em

    Que montanha bonita, Pedro! E, pelo que você descreve, nada fácil, não fosse pela janela de bom tempo. É porque os Deuses da montanha protegem os bons! Parabén! Abraços, Alberto.

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