Perigo de tsunami no Nepal?

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Desde pequeno, Funuro Sherpa conhece um lago situado perto da sua vila natal, Dingboche, no vale do Khumbu, Nepal. O seu avô porém, lembra que aquele lugar era coberto por glaciares há 50 anos atrás. Hoje já não é mais assim…


O avô de Funuro é apenas uma das milhares de pessoas que testemunham o incontestável derretimento de glaciares em tempos recentes.

Cientistas estimam que o glaciar Imja, situado na cidade de Funuro, retrocede até 70 metros por ano! O derretimento de tanto gelo criou um lago gigante que poderia até engolir várias vilas como Chukhung, Tsuro, Pangboche, Debuche e mesmo as mais baixas como Phakding.

Como acontece?

Glaciares “empurram” material rochoso na sua frente, criando um grande acúmulo. Este acúmulo é chamado de morena frontal e quando um glaciar derrete, seja lá qual seja a razão, acaba ficando um grande buraco no lugar que era anteriormente pelo gelo. A morena frontal serve como barreira para a água que ainda derrete do glaciar e isto acaba criando um lago. No norte da Eurásia, América do Norte, Nova Zelândia e Patagônia há uma abundante presença de lagos que provavelmente foram criados durante as últimas eras glaciares.

Algumas morenas frontais porém acabam não agüentando o peso da água e podem ceder. O problema é que milhares ou mesmo milhões de metros cúbicos são liberados num vale repentinamente e isso obviamente tem conseqüências desastrosas para a paisagem e seus habitantes. O “tsunami” é chamado de GLOF em inglês (glacial lake outburst flood).

Nepal

Em 1996 um estudo feito pela Comissão de Água e Energia do Nepal alertou que 5 glaciares estavam em perigo de gerarem GLOFs (Dig Tsho, Imja, Lower Barun, Tsho Rolpa, e Thulagi). Um deles, o Tsho Rolpa, é represado por uma morena frontal não consolidada com 150 metros de altura. Ele está crescendo a todo ano por causa do derretimento e retrocesso do glaciar Trakarding e se tornou o maior e mais perigoso lago no Nepal com 100 milhões de litros de água armazenados. Se este volume de água for liberado no vale, aproximadamente 100km serão devastados, pondo em risco a vida de 10 mil pessoas.

O Dig Tsho por exemplo, gerou um GLOF em 1985 e destruiu a planta hidrelétrica de Namche Bazar, levando consigo plantações, animais, pontes e trilhas na confluência dos rios Dudh Koshi e Sun Koshi, situada a 90km do glaciar. Mesmo o famoso Apa Sherpa, conhecido por ter escalado o Everest 19 vezes, perdeu sua casa e granja na pequena Thame (situada a 10km do glaciar) durante o GLOF do glaciar Dig Tsho. 7 pessoas morreram na catástrofe.

Um estudo mais recente revelou mais 27 glaciares perigosos no Nepal e 24 no Tibet (somente no vale do Arun Koshi). Segundo a ICIMOD (International Centre for Integrated Mountain Development), o degelo começou há séculos e o processo no Himalaya é até 8 vezes maior do que no resto do mundo. Dos 2460 lagos nepaleses, 20% podem sofrer GLOFs nos próximos anos. Entre eles está o Imja que foi mencionado acima e armazena 36 milhões de metros cúbicos de água.

Estes estudos são alarmantes para a população de vales populosos como o Khumbu (estimada em dezenas de milhares). A solução para o problema não é nada fácil. Muitas pessoas se recusam a abandonar as suas casas. Drenar os lagos é quase que impossível para a economia do Nepal, além de ter resultados limitados.

Dados: AFP
Texto: Maximo Kausch

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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