Achei que seria interessante comentar sobre a PETA, a maior organização mundial de defesa dos animais, naturalmente baseada nos Estados Unidos. Na coluna anterior você conheceu sua atuação no mais comentado caso de ativismo animal da história. Mas infelizmente parece haver um lado sombrio no funcionamento da PETA.
O ativismo em defesa dos animais costuma ser dividido em dois campos. O primeiro é o do bem-estar dos animais, que defende seu tratamento humanitário, mas que não se opõe a todos os usos que deles são feitos – tipo por exemplo a morte indolor. A maior ONG é a HSUS, ou Sociedade Humanitária dos Estados Unidos.
O segundo é o do direito dos animais, que procura acabar com todos os usos humanos dos animais, desde a alimentação ao entretenimento. Seus agentes são mais radicais, a exemplo da americana PETA, ou O Povo pelo Tratamento Ético dos Animais, ou da inglesa AFL, a Frente de Libertação Animal, organização clandestina sem liderança definida, que alguns consideram terrorista.
A PETA foi fundada em 1980 e tem sede na Virgínia, funcionando sob o princípio de que os animais não nos pertencem e não devem ser abusados. É a maior organização desta natureza no mundo, com mais de 6 milhões de afiliados e receitas de inacreditáveis US$ 70 milhões. Ela conduz investigações e pesquisas, campanhas de protesto, resgate de animais e educação pública.
A PETA se concentra em quatro áreas, nas quais acredita que o maior número de animais é sujeito por mais tempo aos maiores sofrimentos: a produção de alimento, o comércio de vestuário, as pesquisas nos laboratórios e a indústria de entretenimento.
Ela combate o abuso dos animais e a devastação ambiental nas fazendas de criação; a morte dos animais para a confecção de casacos, bolsas e suéteres; a dor, o confinamento e a solidão durante os experimentos nos laboratórios; e as exibições, as punições e os encarceramentos nos zoos, aquários e circos.
Você encontrará ao lado algumas imagens de animais, como o cachorro e o cavalo vitimados, a ovelha e o coelho. Evitei as situações dramáticas, com animais desfigurados.
Mas uma consulta aos espaços dos ativistas animais revelaria cenas horrorosas, com o tratamento sórdido a raposas, gatos, elefantes, porcos e macacos, para não mencionar aves e répteis. É espantoso como populações civilizadas convivem sem culpa com esses museus de horrores.
Entretanto, a PETA tem sido surpreendentemente acusada de exterminar os cães e gatos sob sua guarda. O quadro anexo resultou de uma investigação oficial em 2010.
Não apenas 94% dos animais foram por ela sacrificados, mas 90% o foram nas primeiras 24 horas de sua admissão. As estatísticas durante as duas últimas décadas são horrorosas. De fato, o Departamento de Agricultura chegou a considerar reclassificar a organização de abrigo de animais para clínica de eutanásia.
A PETA alega que, se os animais forem mantidos em cativeiro por longos anos à espera de adoção, eles se tornarão deprimidos, agressivos e doentios. Abrigos onde não são mortos costumam logo atingir a plena lotação e serem forçados a rejeitar novos animais. Estes acabarão sofrendo eutanásia em outros lugares. E santuários para animais não são economicamente viáveis.
É bom lembrar que a PETA tem publicamente apoiado as leis sobre a eutanásia de animais. Como disse uma sua representante: a eutanásia resulta no amor pelos animais que não têm ninguém para amá-los.
Numa resposta a uma indagação minha, eles se consideraram uma clínica de último recurso, com animais extremamente doentes ou seriamente feridos. São ativos praticantes da eutanásia e da esterilização.
Mas nem sempre existe uma linha nítida entre ativismo e terrorismo. A PETA tem também sido acusada de conduzir campanhas agressivas e radicais, bem como de apoiar incendiários, ativistas violentos, eco terroristas e até mesmo criminosos. Mas tem, inversamente, sido censurada por atitudes tolerantes e colaborativas com agentes suspeitos de crueldade.
É sempre difícil transitar entre os abismos da intolerância e da leniência e quase impossível obter consenso sobre a proteção aos animais.