Poluição branca! O maldito saquinho plástico!

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Quantas vezes você não quis mandar a mãe da caixa do mercado para um lugar nada legal porque ela pega sua compra de 15kg e coloca somente em uma sacolinha de plástico, ela ainda diz que vai agüentar, não tem porque levar outra.


Metros adiante a sacola rasga e toda laranja e maça que você selecionou com todo cuidado do mundo vai parar no chão. Além do trabalho que você vai ter para recolher tudo que rolou pelo estacionamento do mercado, você terá de pedir uma outra sacola, dessa vez umas cinco para garantir a integridade do alimento.

Mas para onde vai à sacola que rasgou e as novas que você pegou? Não seria mais fácil ter uma sacola resistente que você mesmo poderia ter levado de casa? Essa sacolinha que você levou para casa acaba servindo de saco de lixo se misturando com matéria orgânica e se tornando super difícil de reciclar. Talvez essa seja a forma mais fácil de se aproveitar as tão indesejadas sacolinhas, mas será que é o correto a se fazer?

O saco de plástico, popularmente sacolinha de mercado, é um objeto utilizado no cotidiano para transportar pequenas quantidades de mercadorias. Introduzidos nos anos 70, os sacos plásticos rapidamente se tornaram muito populares, especialmente através da sua distribuição gratuita nos supermercados e outras lojas. É também uma das formas mais comuns de acondicionamento do lixo doméstico e, através da sua decoração com os símbolos das marcas, constituem uma forma barata de publicidade para as lojas que os distribuem.

Estas sacolinhas de plástico são feitos de polietileno de baixa densidade, polietileno linear, polietileno de alta densidade ou de polipropileno, polímeros de plástico não biodegradável (Problemão!), com espessura variável entre 18 e 30 micrometros. Estas beldades anualmente circulam em todo o mundo entre 500 bilhões a um trilhão. É sacolinha que não acaba mais, e não acaba mesmo.

Falando em impacto para o meio ambiente, os sacos plásticos não são formas de transporte adequadas por dois motivos essenciais: o elevado número de sacos produzidos por ano, cerca de 150 por pessoa e a natureza não biodegradável do plástico com que são produzidos. Além disso, a manufatura do polietileno faz-se a partir de combustíveis fósseis e este acarreta a emissão de gases poluentes. Ou seja, não temos como dizer quem é melhor ou menos pior para o meio ambiente.

Calcula-se que cerca de 90% dos sacos de plástico acabem a sua vida em lixeiras ou como lixo. Este número pode parecer assustador mais na verdade estes saquinhos ocupam apenas cerca de 0,3% do volume acumulado nas lixeiras. Mesmo assim, dada a sua extrema leveza, se não forem bem acondicionados os sacos plásticos têm a tendência de voar e espalhar-se pelo meio ambiente. Normal ver um destes vagando pelas estradas e acabando dependurados em galhos de árvores. Esta situação pode provocar outros tipos de poluição. A China, por exemplo, chama este tipo de sujeira de poluição de branca.

Nos países menos desenvolvidos, onde não existem métodos eficazes de coleta e acondicionamento de lixo, os sacos plásticos são quase totalmente abandonados depois do uso e acabam invariavelmente nos cursos de água. Nas áreas mais carentes, os sacos plásticos são o grande vilão de interrupção de fluxo de água em córregos causando transbordo nos mesmos. Em Bangladesh, por exemplo, a questão atingiu proporções alarmantes que exigiram a tomada de medidas drásticas para evitar que os cerca de 10 milhões de sacos plásticos usados por dia tivessem como destino os rios e sistemas de esgotos do país. O rio Buriganga que banha Dacca, a capital, ganhou por diversas vezes barragens artificiais de sacos plásticos e os entupimentos de esgotos foram responsáveis pelas cheias devastadoras registradas em 1988 e 1998.

Quase todos os sacos plásticos não acondicionados em lixeiras acabam, mais cedo ou mais tarde, chegando aos rios e oceanos. Os ambientalistas chamam a atenção há vários anos para este problema e citam o fato de milhares de baleias, golfinhos, tartarugas e aves marinhas morrerem anualmente asfixiadas por sacolas plásticas. O caso mais dramático ocorreu em 2002, quando uma baleia anã chegou morta à costa da Normandia com cerca de 800 kg de sacos de plástico dentro de seu estômago. Esses animais confundem a sacola plástica com seu alimento natural, lulas e outros moluscos e acabam por engolir o material. Quando a morte não se dá por intoxicação, acontece por asfixia.

A República da Irlanda foi a pioneira européia na tomada de medidas sobre a produção descontrolada de sacos de plástico ao introduzir em 2002 o PlasTax um imposto que cobra €0,15, cerca de USD0,19 ao consumidor por cada saco distribuído. O resultado desta iniciativa foi a arrecadação de cerca de 23 milhões de euros para serem investidos em projetos ambientais e uma redução no consumo de 90% das sacolas plásticas. O Reino Unido está estudando a hipótese de aplicar uma legislação semelhante. Na Alemanha, os sacos plásticos são pagos pelo consumidor em todos os supermercados e é habitual o uso de sacos de pano reutilizáveis ou caixas de papelão.

No Brasil, o uso de sacos plásticos é generalizado e na maioria das lojas é distribuído gratuitamente. No passado antes das sacolinhas, nossas mães e avós faziam suas compras com as boas e ecológicas bolsas de pano, as velhas bolsas de feira. Pouco mais tarde também foi usado o carrinho de feira, aqueles que ninguém gostava de puxar por entre as barraquinhas, uma solução ecologicamente correta em tempos onde ninguém se preocupava com o aquecimento global (Odiava ir a feira com a minha mãe!). Tinham também as sacolas de papel reciclado que sempre deixa a gente na mão, era só colocar algo um pouco mais úmido na sacola, como um yogurte e a coitada se desfazia.

Mesmo com esse contratempo, esta ainda é uma solução não poluente em muitos países. Em várias cidades da Argentina, como Ushuaia e Calafate, o uso da sacolinha não é proibido, mas simplesmente é evitado, só utilizando as sacolas de papel, o resultado disso é uma cidade limpa longe da porcalhada das sacolas plásticas.

Em alguns países africanos, o problema chegou a tais proporções que na África do Sul o saco plástico foi apelidado de flor nacional por Mohammed Valli Moosa, o Ministro do Turismo e Ambiente. Este país introduziu recentemente uma lei que torna ilegal o uso de sacos com menos de 30 micrometros, uma medida destinada a torná-los mais caros e fomentar o reuso.

Ainda em Bangladesh, a informação de que sacos plásticos provocavam o entupimento dos esgotos e as cheias obrigaram a tomada de medidas extremas, enquanto o país não organiza um sistema de coleta de lixo eficiente. A manufatura, compra e posse de sacos de polietileno é expressamente proibida por lei e implica multas pesadas e até penas de prisão para os reincidentes. Se um engraçadinho é apanhado com um saco plástico na mão neste país custa cerca de €7,5, uma facada levando em conta o salário mínimo no Bangladesh. A iniciativa prejudicou gravemente a indústria do plástico no Bangladesh mas possibilitou oportunidades de negócio para as crianças de rua, que passaram a ganhar a vida a vender sacos artesanais de papel.

No estado indiano do Himachal Pradesh, as autoridades locais adotaram medidas semelhantes pelos mesmos motivos e a reincidência na posse destes itens pode valer €1,500  de multa e uma pena de prisão de até sete anos.

Ao longo destes anos foram desenvolvidos materiais plásticos biodegradáveis que prometem, a um custo um pouco maior, resolver o problema ambiental causado pelos sacos comuns. Para se ter uma idéia, um saco plástico comum pode demorar cerca de 100 anos dependendo da exposição à luz ultravioleta e outros fatores para se decompor, enquanto que o novo material levaria cerca de 60 dias.

Já no Brasil, pensando na preocupação global com o meio ambiente e na tendência do mercado adotar novamente a utilização das sacolas e sacos de papel, algumas empresas já trabalham linhas de sacolas de papel ecologicamente corretas. Um exemplo são as sacolas produzidas com papel Kraft 85 e 125g e alça de papel torcido. As sacolas ecológicas surgem com a necessidade de buscar alternativas ecologicamente corretas para o descarte de materiais prejudiciais ao meio-ambiente (Produzidas pela AGENFLEX). Outra solução legal é a linha de sacolas ecológicas feitas de fio PET. A Ecobag da Fivebras chega ao mercado como uma opção ecológica de reaproveitamento de materiais reciclados. As sacolas são fabricadas com um tecido de fio PET 100% reciclado, denominado Ecotess. As sacolas são impermeáveis e podem ser produzidas em grande variedade de cores e estampas, utilizando-se tintas que não agridem o meio ambiente. Alguns mercados e lojas de conveniência de grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo já estão vendendo sacolas retornáveis a seus clientes por preços bastante acessíveis e atraentes (Concordo que deveria ser de graça!), fidelizando assim seu cliente e passando uma mensagem ecológica. Não é muito, mas já é um começo. É um preço justo para não ter suas compras no chão e não poluir o meio ambiente.

Idéias e tecnologia já existem para frear esta poluição branca, como chamam os chineses. Cabe agora dar um fim ao costume do uso abusivo das sacolas plásticas. Não é nada legal estar caminhado por nossas trilhas e escalando por nossas montanhas e encontrar sacolinhas de mercado no meio do caminho. Estamos até acostumados com isso, mas não podemos ser coniventes. Trocar certos hábitos e diminuir o consumo dos mesmos já ajuda bastante.

Logo, antes de enfiar uma barra de cereal em três sacolinhas de mercado, coloque a barrinha na mochila mesmo, menos um saquinho no mundo que vai parar pendurado em alguma arvore estragando a paisagem ou juntando lixo em algum córrego da sua cidade. Velhos hábitos devem dar lugar a bons e novos pensamentos!

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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