Por que as cholas da Bolívia têm um chapéu-coco inglês?

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Por Duda Teixeira

Elas não são um símbolo dos indígenas pré-colombianos. Pelo contrário, são o resultado da mestiçagem com os europeus

A imagem das cholas, com saia tipo pollera, poncho coloridos, ouro nos dentes, joias e um chapéu-coco são consideradas como um símbolo da Bolívia indígena autêntica.
São consideradas como aquilo que, na constituição do país, de 2009, definiu-se como povos “indígenas originários campesinos”. O país, aliás, é o único no mundo a ter um Vice-Ministério de Descolonização, com a missão de rebobinar a história dos últimos cinco séculos.
Mas a chola boliviana não é a representação dos indígenas que viviam na América antes da chegada dos europeus. Ela é o contrário disso. A chola nasceu da mistura entre os povos americanos e europeus.
“A mulher de pollera (saia) é a identidade do povo de La Paz. Herdeira da mestiçagem, voluntariosa, incisiva na sua fala cotidiana e melosa quando tem interesse em obter algo”, escreveu o historiador boliviano Antonio Paredes Candia (1924-2004) no seu livro A Chola Boliviana.
Segundo Paredes, a palavra chola vem de chulo, o ajudante que, nas touradas, distraía o animal enquanto o toureiro trocava de capa.
O termo foi usado de forma depreciativa para denominar os índios que tinham se mudado para as cidades e adotado o estilo de vida urbano e mestiço. Outra forma como os índios são chamados é “Kolla”, palavra que vem de “Kollasuyo”, a parte sul do império Inca na qual estava a atual Bolívia, além da Argentina e Chile. Os bolivianos descendentes de espanhóis ou miscigenados com os guaranis das terras baixas de Santa Cruz de La Sierra, foram os que deram este apelido aos bolivianos descendentes de indígenas do Altiplano. Por sua vez, as pessoas de Santa Cruz e Tarija são chamados de “Cambas”.
A vestimenta da chola remonta ao século XVIII. Após algumas rebeliões contra o domínio espanhol, a coroa proibiu os indígenas de usar roupas que lembrassem o período inca. É a partir daí que as mulheres passam a usar saia de pollera, blusa e manta.
Alguns dizem que o uso do chapéu-coco, que só foi inventado depois, teria sido uma evolução natural decorrente dessa obrigação.
Outros dizem que os bolivianos passaram a usá-los imitando o costume dos ingleses que trabalhavam em ferrovias e minas na Bolívia.
Depois que a moda pegou, eles passaram a ser importados dos Estados Unidos, da Itália e da Alemanha.
Na Bolívia, conta-se ainda a história de um importador que, no início do século XX, teria trazido um carregamento de chapéu-coco, todos marrons. Como os homens só gostavam de chapéus pretos, as peças acabaram indo parar na cabeça das mulheres. Esse rumor, contudo, ninguém confirma.
O chapéu-coco (em inglês, bowler hat), foi criado em Leicester, na Inglaterra, em 1849, para proteger os cavaleiros dos galhos baixos das árvores. Depois, tornou-se o uniforme de muitos homens de negócios na City londrina. Um dos maiores apreciadores do bowler foi o primeiro-ministro Winston Churchill.
Fonte: Revista Veja
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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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