Em
Setembro de 2009, o mineiro “Felber” ou melhor, o Luis Antônio Felber,
escalou a 6a. maior montanha do mundo, o Cho-Oyo no Himalaia. Outros
brasileiros já fizeram isso, e vale a pena dar uma checada na história
do “himalaísmo” brasileiro : https://altamontanha.com/news/50/exibe/news_cat.asp?CatID=28&Cat=Especial%20Brasil%20no%20Himalaia
Inclusive vale a pena ler o relato do Reinhold Messner sobre o Cho-Oyo : http://www.marski.org/escalada-em-alta-montanha/94-todos-8000m-cho-oyo-messner
Estou escrevendo este breve artigo para mostrar uma planilha que
gentimente o Felber me enviou… tenho um interesse especial por estas
questões de aclimatação, oximetria, saturação de oxigênio, etc…
O fato é que o Felber teve a oportunidade de realizar diversas
medições, e são elas que quero compartilhar com vocês. Inclusive a tal
da planilha pode ser obtida clicando AQUI.,
inclusive você pode ver alguns outros arquivos que podem ser de
interesse para quem faz alta montanha ou quer treinar para tal :
http://www.marski.org/downloads/altamontanha/
É um fato inegável que para que uma escalada de alta montanha seja
bem sucedida, uma série de fatores tem que contribuir para o sucesso.
Estes fatores vão desde o bom tempo durante o “ataque ao cume”, uma boa
estratégia de aclimatação, boa alimentação, bons descansos, e por aí
vai… um dos fatores que certamente contribuem para o sucesso é
justamente a forma física do escalador.
Uma forma bastante precisa de medir ou avaliar o “quão preparado”
está o sistema cardiovascular do escalador é através de testes que
informem o seu valor de VO2max. Quanto maior este valor, mais “em
forma” o escalador se encontra. O VO2máx é o volume máximo de oxigênio
que o corpo consegue pegar do ar que está dentro dos pulmões, levar
até os tecidos através do sistema cardiovascular e usar na produção de
energia, numa unidade de tempo.
O Felber, em 2008 quando foi para o aconcagua ano passado possuia um
VO2max da ordem de 62,5 (ml.kg.min), e em 2009, quando escalou com
sucesso o Cho-Oyo ele estava com um VO2Max de 64.
Ele levou também um oxímetro, que possibilita saber de forma
bastante precisa a quantidade de saturação de oxigênio que a
hemoglobina está tendo em um determinado momento. Quanto mais saturada,
ou seja, quanto mais próximo dos 100%, melhor… o limite da
consciência é entre 60 a 70% de saturação de O2. Vale explicar que o
Felber propositadamente *não* fez leituras de saturação (Oximetria) no
dia de “ataque” ao cume, para que eventuais leituras “ruins” não
influenciassem em seu estado psicológico.
Nos links abaixo eu aprofundo um pouco mais este assunto (saturação de oxigênio, etc…) :
- http://www.marski.org/artigostecnicos/123-saturacao-de-oxigenio-na-hemoglobina
- http://www.marski.org/artigostecnicos/17-fisiologia-entendendo-como-o-seu-pulmao-funciona
- http://www.marski.org/artigostecnicos/201-danocerebral
- http://www.marski.org/artigostecnicos/211-fcmax
A tabela a seguir mostra de forma clara a estratégia da escalada do
Felber, vale dizer que ele utilizou oxigênio suplementar para o
“ataque” ao cume, e isso certamente faz toda a diferença. Os valores
E o resumo disto tudo foi :
Vale dizer que esta ascensão total , de 9600m, foi a soma das
ascensões realizadas no processo de aclimatação a partir da cota dos
5000m
Essa estratégia de aclimatação é seguida por praticamente todos os
escaladores de alta montanha, e consiste em expor gradativamente o
organismo a altitudes cada vez mais elevadas, estimulando assim uma
resposta fisiológica à esta altitude (aumento na concentração de
hemácias e outras adaptações), e dormir em altitudes mais baixas,
O gráfico a seguir mostra isso de forma bem clara :
O Felber ainda levou consigo um cardio-frequencímetro mais
sofisticado que armazenou sua freqüência cardíaca e também os seus
dados de EPOC, não vou explicar o que é EPOC neste artigo (fica para
outro artigo) , até porque o Felber utilizou oxigênio suplementar…
(EPOC = Excess Post-exercise Oxygen Consumption literalmente: consumo
de oxigênio em excesso após o exercício).:
Notem que ele ficou diversas horas com sua freqüência cardíaca acima
de 110BPM, teve uma média de 118 BPM e sua máxima foi de 148 BPM, tudo
isso usando oxigênio suplementar ! Ou seja, o escalador de alta
montanha necessita estar em excelente forma cardiovascular para poder
realizar suas tentativas de cume com segurança. O Cho-oyo é considerado
o mais “fácil” de todos as montanhas com mais de 8000m, suas
dificuldades técnicas são poucas e estão a “baixa altitude” (claro,
comparando-se com as demais montanhas de 8000m).
Agradeço novamente ao Felber por ter-me disponibilizado sua planilha, para saber mais sobre ele :
http://www.felber.com.br/blog/