A Semana Brasileira de Montanhismo é um evento guarda chuva para diversos outros eventos menores. Dois destes eventos começaram hoje e se entendem até quinta feira, são eles: O 2? Encontro de Parques de Montanha e o 1? Encontro Científico sobre Uso e Conservação de Montanhas.
Nestes eventos tivemos a participação de pesquisadores e gestores de Unidades de Conservação que puderam mostrar seus estudos e experiências. As maiorias dos participantes têm em comum a paixão pelo montanhismo. Tanto pesquisadores, quanto gestores de parques eram montanhistas que decidiram estudar aquilo que gostavam e se profissionalizaram. Alguns foram para a academia, outros para órgãos ambientais.
A primeira apresentação foi do Dr. Gustavo Martinelli, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Martinelli falou do Programa Nacional de Pesquisas e Conservação em Ecossistemas de Montanha. A ênfase da apresentação foi nas biociências, que é área deste pesquisador. Martinelli, no entanto, engrandeceu iniciativas multidisciplinares e enalteceu a importância dos estudos de montanhas dentro dos estudos ambientais. De acordo com o pesquisador, as montanhas são ambientes que sentem primeiro as mudanças ambientais que ocorrem de maneira natural. Compreender estas mudanças é de importância vital para o ser humano.
Na sequência das apresentações, o Dr. Edson Struminski, da UFPR, apresentou um panorama do site Pesquisa em Montanha, que foi idealizado por ele e que reúne textos científicos com a temática da montanha em diversas áreas de conhecimento já publicados em outras revistas científicas. O acervo de mais de 300 artigos de seu site puderam dar base estatística para Struminski, mais conhecido no meio do montanhismo como “Du Bois”, tecer algumas considerações. O Pesquisador fez um mapa da pesquisa de montanha no Brasil, concluindo que os Estados que mais produzem conhecimento sobre montanha são Rio de Janeiro e Paraná e as instituições que mais produzem sobre este tema são respectivamente suas principais universidades: UFRJ e UFPR. Tal dado foi muito interessante, pois mostrou que a experiência com o montanhismo pode ser um dos principais agentes motivadores para a pesquisa em montanha. É de conhecimento público que a Universidade de São Paulo responde por cerca de 2/3 de toda a produção científica nacional. Neste tema, tal universidade, apesar de contar com bom número de pesquisas, desempenha um papel secundário.
Continuando as séries de apresentações, Kátia Torres, do ICMbio, ministrou a palestra “Pesquisas necessárias nas nossas montanhas”. Kátia ressaltou a importância da pesquisa como aliada à necessidade de gestão das Unidades de Conservação.
Após breve intervalo, a turismóloga da UNIRIO Laura Sinay, apresentou seu projeto sobre Uso Público, ecoturismo e conservação. De acordo com Sinay, grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas trarão para o Brasil 12 milhões de turistas estrangeiros por ano ao país. Para que este turismo se reverta em algo bom, o país terá que ser preparar. Neste sentido, uma equipe de pesquisadores da UNIRIO realizou uma proposta para preparar o país para este aumento rápido no número de turistas estrangeiros. Laura criticou gestões proibicionistas em alguns parques e ressaltou que o visitante muitas vezes trabalha como um fiscal, denunciando irregularidades nas Unidades de Conservação.
Um dos trabalhos que mais emocionou o público foi sobre a tese de doutoramento em História de Alessandra Izabel de Carvalho, hoje docente da UEPG. Alessandra apresentou o trabalho “Montanhas e memórias, uma identificação cultural no Marumbi”. Mais do que descrever somente a história do marumbinismo, Alessandra falou de como o ato de subir montanhas se tornou uma cultura no Paraná. A pesquisadora leu textos deixados nos cadernos de cume das montanhas nas décadas de 1940 e 50 que emocionaram o público e que mostraram a relação íntima entre pessoas e montanhas. Um dos textos, deixados em um caderno de cume, falava de um casamento que ocorrera lá na montanha. Por coincidência, foi o casamento dos pais do atual gestor do Parque do Marumbi, Lothário Stolz, que estava na platéia.
O geólogo Edson Mello, da UFRJ, explicou um pouco sobre as origens das rochas de um dos principais maciços montanhosos do Rio de Janeiro, o Parque Estadual da Pedra Branca, mostrando a origem dos granitos, diques de diabásio e gnaiss.
Finalizando as apresentações de hoje, Flávio Bocarde, do ICMbio, gestor do Parque Nacional do Pico da Neblina, falou da experiência em administrar um parque maior que o Estado de Sergipe que reúne diversas etnias de índios e diversos problemas que resultaram no fechamento da visitação deste parque. Os problemas na área são tão grandes e difíceis, que o funcionário do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) Harvey Schlenker afirmou: “Você têm problemas, nós temos percalços”.
De acordo com Bocarde, os problemas administrativos do Parque do Pico da Neblina advêm da sobreposição de Unidades de Conservação sobre áreas indígenas Yanomami. Além deste problema, há a questão da tríplice fronteira Brasil x Colômbia x Venezuela, com conflitos ocasionados por traficantes e garimpeiros. Bocarde afirmou que a visitação, seja com turismo ou montanhismo, poderia impulsionar a economia da região, mas os percalços impedem quase todo tipo de visita, até mesmo a científica e pelo jeito, fazer montanhismo na montanha mais alta do país tardará para acontecer, infelizmente.
Amanhã o evento prosseguirá. Confira a programação.