Projeto Pico Paraná

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Aprovei o espaço que me é concedido nesta página para esclarecer alguns equívocos em relação a retirada das escadas do Pico do Paraná. Inclusive discordo de vários argumentos usados por meu colega Julio Fiori, que assim como eu, quer ver mais ordem e conservação da montanha em questão.

Em primeiro lugar gostaria de lembrar que nenhuma escada foi colocada com o objetivo de facilitar o acesso. Como o próprio Julio frisou, a sua falta não impediria a acesso ao cume. As escadas, os blocos de paralelepípedo e a madeira usada na trilha têm a função de contenção de erosão.

Já me chegou ao conhecimento que o vândalo que retirou algumas escadas de locais que tiveram o processo de erosão controlado e hoje se encontravam totalmente recuperados, tão recuperados que o cidadão julgou serem desnecessários naquele ponto. Gostaria de frisar esse aspecto, pois, ele é muito importante. O fato do local estar totalmente recuperado, após 10 anos da colocação dos degraus, levou o ladrão de escadas a acreditar que eles eram dispensáveis. O erro fatal foi desconhecer o histórico do trabalho de recuperação.

Vou falar um pouco sobre o Projeto Pico Paraná, um vínculo institucional entre o Clube Paranaense de Montanhismo e o Instituo Ambiental do Paraná. Esse projeto teve início em 1996 e continua em permanente execução. Na primeira etapa realizou um senso entre os visitantes do Pico Paraná. Para surpresa geral (inclusive do Julio) já naquela época a maioria das pessoas que subiam a montanha estavam indo pela primeira vez, isso quer dizer que a ausência das escadas na época não impedia o acesso dos menos experientes. Ai vem a pergunta dirigida à comunidade de montanhistas: Se não tivéssemos colocado os degraus a visitação nesses últimos 12 anos teria sido diferente? Se naquela época aproximadamente 60% das pessoas estavam indo pela primeira vez, esse fluxo teria se alterado?

Um outro ponto importante é o aspecto técnico do trabalho. A colocação de degraus visa a delimitação da trilha, de forma que os visitantes não se agarrem à vegetação, fazendo com a mesma se recupere o não desabe junto com o solo, assim como vem acontecendo na trilha noroeste do Abrolhos (nas correntes e escadas), que atualmente vive um processo rápido de recuperação. Inclusive é técnica está de acordo com o que atualmente se conhece sobre manejo de trilhas.

A erosão do solo na maior parte da trilha nada tem haver com a face oeste ou leste da montanha, com frisa meu colega Julio. Se ele dá parabéns a quem tirou os degraus ou se ele acha que impedindo o acesso a trilha vai se recuperar sozinha ele está muito enganado. Julio é arquiteto e o seu desconhecimento sobre solo talvez seja como o meu para arquitetura, ou agora eu vou aplaudir quem constrói prédio com areia de praia?

A erosão precisa ser contida imediatamente. Isso não tem sido feito pois o Clube Paranaense de Montanhismo carece de voluntários para realizar o trabalho. Outra dificuldade é a distância até o Pico Paraná. Com pouca gente fica difícil carregar material até tão longe. É por isso que o clube tem trabalhado no trecho que vai até o abrigo 1.

Por falar em voluntários, muita gente gosta de botar a boca no trombone, mas ajudar nada! Falta vontade, moral, ética? O que falta pra essa gente? O clube tem um pilha de paralelepípedos na Fazenda Pico paraná que estão lá para serem colocados na trilha. Até hoje não vi uma única pessoa carregar uma pedra sequer. E o Dílson, proprietário da Fazenda? Certamente não pede pra ninguém ajudar, afinal ele cobra uma tal tacha que é para o “benefício do montanhista”, como ele gosta de dizer, mas até hoje nem o CPM nem o Nas Nuvens Montanhismo viu um centavo sequer dessa tacha pra ajudar no trabalho que só eles realizam. Pra onde vai esse dinheiro? Será que ele paga imposto?

Por último quero falar sobre ética na montanha. Pra quem não sabe existe um código de ética em escala, que pode servir também pra qualquer ambiente natural:
http://www.cpmorg.com.br/cpm/codigo_de_etica_escalada.asp

Faltou ética pro ladrão de escadas, faltou respeito com quem trabalhou duro pra conservar a montanha. Se o Pico Paraná virar um lixo, o IAP vai fechar a montanha. O Projeto Pico Paraná surgiu para impedir esse processo de degradação e permitir que até mesmo o ladrão de escadas possa subir a montanha.

E quem vem até o CPM pra ajudar? Eu mesmo respondo: pouquíssima gente.

Assim como eu agradeço, gostaria que vocês também agradecessem o trabalho dos voluntários durante esse 12 anos, o esforço de quem permitiu que a montanha ainda estivesse aberta. O mesmo trabalho que é feito por outras associações no Marumbi, Canal, Anhangava, São Luis do Purunã, Araçatuba, Itapiroca.

Enfim, falar é fácil, fazer é que é difícil.

Marcelo L. Brotto
Presidente do Clube Paranaense de Montanhismo

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Sobre o autor

Marcelo Brotto é montanhista, ex presidente do Clube Paranaense de Montanhismo e engenheiro Florestal formado pela UFPR.

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