Psicobloc nos Cânions do rio São Francisco

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Continuando nossa busca por psicoblocs pelo Brasil viemos conferir o potencial dos Cânions do Rio São Francisco.


Não tínhamos nenhuma informação sobre o lugar nem como chegar, nisso passamos por algumas roubadas que contaremos abaixo.

A única informação que conseguimos, após vasta pesquisa em internet e revistas, era sobre o passeio de catamarã para a Gruta do Talhado. As imagens desta gruta eram de animar os olhos e movidos por elas decidimos pegar um vôo para a Aracajú e de lá um translado para a cidade de Canindé de São Francisco de onde saem os passeios.

Quarta-Feira, 2 de junho.

Saímos do Rio de Janeiro as 05:30h da manhã e após algumas conexões chegamos ao aeroporto de Aracajú sem saber como chegar em Canindé. Após perguntar para alguns taxistas locais nos informamos que podíamos facilmente pegar um ônibus, na rodoviária, para Canindé. Foi onde começou o primeiro perrengue.

Na rodoviária descobrimos que o “facilmente” não era tão fácil assim. Apenas duas companhias faziam o trajeto e poucas vezes por dia. O mais próximo nos deixaria esperando por três horas na rodoviária. Sem outra opção esperamos.

Quando nosso ônibus chegou, para nossa surpresa, era um micro-ônibus lotado de pessoas com caixas, gaiolas, crianças. Muita gente em pé, amontoada e nós, com nossas mochilas cargueiras da Deuter, tivemos que nos amontoar também. Para complementar a situação fizemos os 220km até Canindé em quatro horas parando em mais de dez municípios e ainda ao som de muito forró.

Dez e meia da noite estávamos com nossas cargueiras nas costas rodando pela cidade à procura de uma pousada. Após quarenta minutos caminhando para encontrar algumas com quartos mofados e sem janelas, outras lotadas e outras ainda com a recepção fechada, conseguimos nos acomodar no único hotel da cidade.

Já na recepção do hotel o gerente nos arranjou o contato de uma pessoa que poderia conseguir um barco independente para rodarmos o rio São Francisco em busca de psicobloc, já que nossa intenção não era fazer turismo no catamarã.

Quinta-feira, 3 de junho.

Às oito horas da manhã o guia sugerido pelo hotel, o senhor Washington, já estava batendo em nossas portas para partirmos. Com nossas caras amassadas fizemos as compras no mercado e fomos em direção ao barco.

Para nossa surpresa Washington nos explicou que apesar dos passeios saírem de Canindé as imagens que vimos da gruta e do Cânion ficam mais próximas à cidade de Olho D’Água do Casado em Alagoas. E que seria mais rápido e barato irmos de carro até lá e somente neste ponto pegar uma embarcação pequena que pudesse nos acompanhar. Fizemos então o trajeto de 35km por 50min e chegamos no local.

Foi aí que conhecemos o bar Show da Natureza e seu proprietário Lorival. Um bar as margens do rio, no Cânion do Talhado onde pegamos o barco.

Menos de cinco minutos navegando num pequeno barco de alumínio e já avistávamos arestas, negativos, e grandes arcos que faziam nossos olhos brilharem, mas ao chegar mais perto percebemos os dois problemas do psicobloc na região. Primeiro a rocha é um arenito extremamente esfarelento e quebradiço. Segundo, a região que foi alagada pela construção da usina possui inúmeros galhos secos e pontudos das antigas árvores que ali existiam saindo para fora d’água. Em nossa mente só veio uma cena do jogo Mortal Kombat.

Galhos de árvores submersos

Mas, para nossa alegria, após mais dois minutos navegando encontramos o primeiro setor, sólido, negativo e com quedas limpas. Ali conquistamos a primeira via, “Maria Bonita”, uma seqüência de monodedos e bidedos com um crux bem forte acima dos 10mt. Logo ao lado, obviamente, conquistamos a linha “Lampião”.


Esq.: Flavia na via “Maria Bonita”, Dir.: Felipe na via “Lampião”

Após a conqusita de “Lampião” e “Maria Bonita” seguimos em busca de outro setor. Passamos por muitas paredes e quase sempre os mesmos problemas: arenito e galhos. Mas como o Cânion é gigante encontramos o setor mais alucinante do dia. Entramos de cara uma linda aresta totalmente negativa com lacas sólidas porém duvidosas e a ela demos o nome de “Macaxeira Voadora” após alguns vôos.

Felipe na via “Macaxeira voadora”

Com os braços bombados e cansados, pois todas as vias que entramos eram bem negativas, a chuva chegou na hora para o descanso.

O Lorival e o Washington sugeriram que fizéssemos uma trilha acima no cume dos Cânions do Rio São Francisco.

Após alguns minutos de trilha nos deparamos com um chalé da pousada “Mirante do Talhado”. Sonho de consumo de qualquer escalador. Ambiente totalmente rústico porém com muito conforto e uma vista alucinante para os Cânions do Talhado.

Almoçamos ali mesmo um delicioso peixe local e degustamos algumas cachaças. Conversamos com o simpático dono, seu José Francisco, sobre a possibilidade de ficar no chalé que por sinal era mais barato do que o hotel em que estávamos e apenas 10min para o barcos de Lorival, ou seja, 2 min para o primeiro setor de psicobloc. E dali encerramos o dia.

Sexta-feira, 4 de junho.

Washington havia comentado sobre uma parte do rio com paredões imensos brotando da água. Seria o Cânion do Xingozinho, divisa entre Sergipe e Bahia. Animados perguntamos se poderíamos ir no mesmo dia, ele disse que sim. Então conversamos com Lorival, pegamos um motor reserva e partimos em direção ao Xingozinho. Ainda dentro do Cânion do Talhado, para o nosso azar, que nos persegue desde Arraial, o motor do barco quebrou e o reserva não dava conta do recado. Tivemos que ficar por ali mesmo o que acabou sendo bom, pois a chuva veio forte e tivemos que nos abrigar de baixo de um teto de uma parede bem negativa. Após alguns minutos de conversa esperando a chuva passar percebemos que estávamos abrigados bem debaixo de uma linha alucinante, a mais forte que entramos nessa viagem. A via que só veio a ser encadenada dois dias depois levou o nome de “Mulé da Peste”

Flavia na via “Mulé da Peste”

Quando a chuva parou decidimos voltar para as conquistas e explorar melhor o cânion. Encontramos um setor com uma outra aresta muito interessante e com um crux bem alto a qual foi batizada de “Feijão de Corda”.

Esta aresta ficava bem de frente para o setor das vias “Maria Bonita” e “Lampião” e de lá resolvemos voltar para o mesmo setor e conquistar uma via entre as duas. Com um lance dinâmico longo a via ganhou o nome de “Os Cangaceiros” e finalizamos o dia.

Felipe na via “Os Cangaceiros”

Sábado, 5 de junho.

Neste dia Lorival veio com o motor consertado e pudemos subir o rio até a Bahia pelo cânion do Xingozinho. Atravessamos todo o cânion do Talhado, passamos a junção com o rio São Francisco e atravessamos vários pequenos cânions no caminho. Chegando perto da Bahia, já no Xingozinho, encontramos um setor com paredões incríveis, uma muralha de falésias com cerca de 60m de altura.&nbsp, De longe parecia que estávamos no paraíso dos psicolbocs. Para nossa decepção, de perto a coisa era diferente. Ao encostar na pedra nos deparamos com paredes lisas com poucas opções de agarras e uma rocha bem quebradiça. Não pudemos conquistar nenhuma via ali.

Após 3h horas de exploração que nos rendeu um visual exuberante, porém nenhum psicobloc só nos restou voltar ao Cânion do Talhado e continuar as conquistas por lá.

Logo na entrada do Cânion um paredão vertical com agarras grandes e sólidas nos chamou a atenção. Estávamos convencidos que ali seria possível, mas não podíamos deixar de lado o procedimento padrão: um bom mergulho para estudar o fundo. E daí, a surpresa, logo abaixo do espelho d’água dezenas de galhos pontudos nos esperavam. Fica ai o aviso, nem sempre o perigo está a vista. Quem for escalar no local além de nossas vias conquistadas deve estudar bem a área.

Depois disso, decidimos voltar ao setor da aresta “Macaxeira Voadora”, pois já havíamos percebido que a parede&nbsp, ao seu lado tinha um incrível potencial. E o Felipe iniciou os trabalhos subindo um lance de buracos e lacas alcançando um grande platô. Esta via ficou sendo a “Bode Seco”. Logo depois, Felipe subiu e conquistou uma outra linha poucos metros para a esquerda. Uma via bem negaiva e tijolante que ganhou o nome de “Bode Molhado”.

Felipe na via “Bode Seco”

Felipe na via “Bode Molhado”

A exploração ao xingozinho nos tomou bastante tempo e nesse dia não saíram mais vias, em vez disso descemos o rio em direção ao bar Show da Natureza e continuamos, após o mesmo, até chegar num setor com várias grutas. É um trecho do caminho de Lampião por onde ele atravessava o cangaço e se escondia da policia.

Flavia e Felipe na gruta do Lampião

Domingo, 6 de junho.

Domingo cedo acordamos com seu Zé, que tem seus 71 anos e é dono da pousada ‘Mirante do Talhado”, nos propondo fazer uma trilha, em vez disso convencemos ele a fazer psicobloc conosco.

Descemos para o barco com ele e sua neta Gardênia mas antes de coloca-lo para escalar mostramos como é a modalidade.

Já com uma linha nova na cabeça, partimos para a primeira conquista do dia. A linha começa a direita da via “Maria Bonita” e segue até um teto onde o crux é bem aéreo. Com certeza é a melhor linha deste setor. A via foi batizada de “Cabra Macho”.

Felipe na via “Cabra Macho”

Agora, com o intuito de ver seu Zé escalando fomos para a via “Feijão de Corda” onde o senhor Zé mostrou disposição e coragem para aquela bonita aresta. Muito empolgado Lorival também encarou o desafio.

Esq.: Zé Francisco na via “Feijão de Corda”, Dir.: Lorival na via “Feijão de Corda”

Seguimos de volta para o setor de Maria Bonita e Lampião pois tínhamos visto uma linha alucinante porem duvidosa ao mesmo tempo pois suas agarras pareciam que iam esfarelar nas suas mãos.
A via começa vertical e entra numa seqüência de domínios de tetinhos e barrigas. De fato as agarras destes domínios são duvidosas e cobertas de areia, porem suficientes para agüentar nosso peso. Foi ai que o psico realmente pegou. A via levou o nome de “Couro de Bode”

Flavia na via “Couro de Bode”

Nesse dia a empolgação era grande. Já estávamos bem ambientados com o lugar e com os setores. Agora era só hora de atacar as muitas linhas que passamos os três dias anteriores visualizando.
Fomos para o setor da aresta tentar novamente a via “Mulé da Peste”. Já na segunda entrada da via a caneda saiu. Realmente a via é muito bonita e também muito forte.

Felipe em dois momentos na via “Mulé da Peste”

Bem ali perto, as conquistas continuaram. E exatamente entre as vias bode seco e bode molhado abrimos uma via com um inicio bem forte que termina numa seqüência de agarroes fáceis. Por esse motivo a via se chama “Cachaça com mel”.

Flavia em dois momentos na via “Cachaça com Mel”

Tentamos também um projeto de monodedos e bidedos que ficou sem cadena. Seu nome “Forró Safado”

Felipe no projeto “Forró Safado”

Após tantas e tantas conquistas e braços bombados botamos pilha no nosso barqueiro, o Lorival que estava super empolgado com o psicobloc, para entrar a vista em uma linha, ou seja, conquista! Ele acabou aceitando o desafio e abriu a via “Show da Natureza”, nome que ele próprio escolheu em homenagem a seu bar.

Lorival conquistando a via “Show da Natureza”

E realmente o bar é um show da natureza, finalizamos nossa trip com um delicioso filé de peixe e feijão de corda à beira do rio curtindo o visual do Cânion do Talhado.

Flavia, Lorival e Felipe almoçando aos pés do Cânion do Talhado

Segunda-feira, 7 de junho.

Achávamos que a viagem tinha chegado ao seu fim, mas ao conferir a hora do vôo percebemos que ainda dava tempo de mais um peguinha. E de fato ainda saíram uma via e dois projetos. A primeira com o nome de “Não me Peça Fiado” e as seguintes foram batizadas de “Pé-de-Serra” e “Cão Tinhoso”

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Felipe na via “Cão Tinhoso”, Dir.

Gostaríamos de agradecer aos nossos apoios, Deuter e Sea To Summit pelas mochilas e sacos estanques que foram essenciais para o psicobloc.

A todos os amigos que fizemos no nordeste, pela paciência, pelo carinho e pela hospitalidade que só o povo nordestino tem.

Abraços a todos, e boa trip ao nordeste,

Felipe e Flavia

Informações:

Localização do psicoblocs e locação do barco:

Bar Show da Natureza, Paraíso Talhado, Cânion do Xingo. Procurar o proprietário Lorival Pereira Gomes
Município: Olho D´Água do Casado, AL
Aeroporto mais próximo: Aracajú, SE

Onde ficar:

Pode-se ficar acampado no Bar Show da Natureza onde está se trabalhando na construção de um abrigo.

Também sugerimos a pousada Mirante do Talhado que fica do outro lado do rio no alto dos cânions. Do bar até a pousada, de carro, são 40min, pois se deve contornar as fazendas locais, porem por uma trilha que só pode ser feita a pé são apenas 10 min.
Tel: (82)9972-2074 (79)9122-9217, José Francisco ou Dona Inácia

Para quem prefere ficar na cidade pode-se escolher uma pousada em Piranhas, AL ou Canindé de São Francisco, SE. Nesse caso será necessário translado diário para o cânion. Ambas ficam a cerca de 35km, de carro, do Bar Show da Natureza.

Translado:

Para o translado entre o aeroporto e as pousadas ou camping do bar pode-se procurar o Sr. Washington Correia da Canistur. O preço é fechado para ida e volta com data marcada.

Ele também faz o translado diário entre a pousada e o Bar caso tenha-se escolhido ficar em Piranhas ou Canindé.
Tel. (82)8841-2759 (79)9967-9792.

Onde comer:

No Bar Show da Natureza serve-se tilápia com arroz, feijão de corda, vinagrete e salada por R$ 20,00. Ideal para duas pessoas.

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