Quem é o bôbo da corte?

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Considerãções sobre o Turismo em terras ermas.

 

Há alguns anos tenho conversado com colegas, bem como tentado nesta coluna refletir sobre o turismo de “montanha” no Nepal e Tibet.

Minhas reflexões mostravam-me claramente que o típico turista dessas regiões é muito similar aos antigos colonizadores europeus dos séculos passados. Consumindo a terra, o povo, sua alma e o quê mais encontrarem. Não existem nenhuma simetria, mas uma verdadeira relação marxista de poder de um sobre o outro.

Andam por todos os lugares, abraçam os deuses para fotos, como se fossem as suas próprias mães. Tudo é válido para trazerem para suas distantes casas o maior troféu: a prova de que estiveram lá. Alias, refletindo sobre isso, acredito que de tantas histórias escutar, se usar o Photoshop, ninguém desconfiará que nunca andei pelas terra do Tigre, mas este não é o foco desta coluna, fica para outro dia.

Essas condutas exploratórias dos turistas, que estão mais preocupados em uma cama e chuveiro no fim da viagem (mesmo que seja no acampamento base do Everest), deixavam-me angustiado, ainda mais quando eram fotos do triste e sofrido “povo” local.

Porem, conversas mais recentes e estudos sobre o assunto, trouxeram-me uma nova ideia para ser debatida. Estudos de antropólogos sobre índios de uma certa região, mostraram que estes, por maior que estava sendo o turismo, não estavam perdendo praticamente nada de sua cultura, mas muito pelo contrário, estavam reafirmando suas práticas em um novo meio, longe do olhar ocidental.

Demonstrou-se que os índios identificaram exatamente qual era a figura que o turista gostaria de encontrar em seus passeios (um índio, alias, diferente daquele que eles eram), sendo que quando na presença dos turistas, eles utilizavam “roupas indígenas”, vendiam “comidas indígenas” e até falavam a “língua indígena”, que por sinal estava sendo ensinada por um professor de Tupi-guarani, já que os índios dessa região falavam uma língua bem diferente, mas como era o que os turistas queriam, era o que tinham que fazer.

Os índios começaram a trabalhar para serem índios, sendo que até achavam graça nas frases que diziam em línguas estranhas. O mais interessante na tribo, era, a noite, rir dos turistas, lembrando como podiam ser tão ingênuos e acreditar nas baboseiras mais ridículas.

Os povos não são passivos, sabem muito bem se amoldar a novas situações.

Uma vez colocada a ideia, surgem as dúvidas, ainda sem respostas concretas: até que ponto as profundas viagens ao Nepal não são na verdade extremamente superficiais; e até que ponto, as tradições são maquiadas para os turistas?

Ainda estou convicto que economicamente a exploração é atroz, e os estragos que estão sendo gerados, de difícil reparação – o turista ainda é um colonizador. Mas a diferença agora é que esse colonizador não está destruindo, talvez, a essência do povo, mas sim sendo ludibriado por uma essência que o próprio turista gostaria de ver. Um verdadeiro João-Bobo.

Precisamos deixar de ter uma visão paternalista na crítica sobre o turismo que ocorre em terras ermas. A sociedade é muito mais complexa do que pode parecer numa primeira vista.

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