Em 9 de agosto de 1912, 126 anos após a conquista do Mont Blanc, nascia Erwin Gröger em Viena, capital da Áustria. Talvez por influência da data de seu nascimento, um dia após o Dia do Montanhismo Moderno, ou talvez pela presença das montanhas nos seus primeiros anos de vida, Gröger se tornou um exímio montanhista, com vasto conhecimento sobre o assunto.
Em 1939, ele deixou seu país natal, que havia sido anexado à Alemanha nazista de Hitler, e imigrou para o Brasil. Passou alguns anos tentando se estabelecer com sua família. Mas foi somente por volta de 1949, quando já morava em Curitiba, que Gröger conheceu a Serra do Mar Paranaense em uma viagem de trem para Paranaguá e se apaixonou pelas montanhas incrustadas na Mata Atlântica.
Ao retornar da viagem, prometeu a si mesmo que voltaria para as montanhas do Marumbi, onde encontrou um dos seus lugares preferidos. A partir de então, percorreu inúmeras vezes as trilhas da Serra do Mar Paranaense e realizou importantes conquistas de montanhas e vias de escalada.
O Professor
O austríaco também foi agrônomo, pioneiro em atividades de reflorestamento, professor de francês, inglês, desenho e história, conhecedor e pintor de orquídeas e poeta. Contudo, foi por conta do seu enorme conhecimento de montanhismo, que ele fazia questão de compartilhar com outros amantes da montanha, que ele ganhou o carinhoso apelido de Professor.
A escalada paranaense era muito rudimentar até a chegada de Gröger. Os grandes feitos eram realizados apenas com a vontade e a coragem dos montanhistas da região em vencer os desafios impostos pelas montanhas. Já Gröger possuía conhecimentos técnicos e fez contribuições importantes para o montanhismo paranaense, especialmente nas décadas de 1950 e 1960. Ele não apenas subia montanhas, mas também se dedicava à escalada em rocha.
Mesmo sem os equipamentos modernos (sapatilhas, cordas dinâmicas, freios, costuras e mosquetões) realizava escaladas audaciosas, inclusive algumas com dificuldades superiores ao sexto grau. Junto com Orisel Currial, realizou investidas para conquistar a fenda principal no Abrolhos, uma escalada que até hoje desafia a resistência física e psicológica de escaladores experientes.
Além das escaladas, o Professor também dedicou parte de sua vida às artes e adorava fazer suas pinturas na montanha. Ele possui pelo menos 16 obras feitas in loco (nos cumes do Marumbi) e chegou a ter um “apartamento” no meio da Serra, uma gruta/caverna que usava como ateliê para suas pinturas.
Apaixonado pela natureza, pelas montanhas e principalmente pelo montanhismo, o Professor sonhava em ver o abrigo do Pico Paraná terminado, bem como os refúgios do Ciririca em funcionamento. Um sonho que não conseguiu realizar até sua morte em 2008, aos 96 anos de idade.
O Professor teve uma vida longa, saudável e cheia de aventuras. Em 1984, em entrevista ao Clube Paranaense de Montanhismo (CPM), ele deixou sintetizado em uma frase o que seria seu principal ensinamento e legado: “A montanha é a melhor escola, e zelar por ela é uma obrigação para a nossa sobrevivência e para toda a humanidade.”
Em honra a memória do Professor, todos os anos seus amigos se reúnem em uma celebração no Bosque que leva seu nome na capital paranaense. Este ano o encontro está marcado para às 19 horas na Rua Benedito Correia de Freitas, 67.