:: VEJA MAIS. Relato da Travessia Alpha Crucis de 2012 – Por Élcio Douglas Ferreira
Em 2012 os montanhistas Élcio Douglas Ferreira e Jurandir Constantino fizeram aquilo que muitos só sonhavam um dia realizar: Unir em uma única travessia 48 cumes da Serra do Mar paranaense percorrendo 3 travessias pré existentes e fazendo o que seria considerado por muitos como a mais difícil travessia entre montanhas no país: 105 km percorridos em 10 dias nos 3 principais blocos montanhosos do sul do país.
Não foi apenas a Matemática da travessia que impressionou, mas principalmente a Geografia. A Serra do Mar paranaense, diferente da Mantiqueira, tem menor altitude e com isso há mais vegetação e calor. Com mais vegetação há os famosos trechos de “quissassa”, onde bambus cortantes e cipós com espinhos se entrelaçam e formam emaranhados de vegetação intransponível. Com o calor há mosquitos, cobras e aranhas, e claro muito suor que causa desidratação. Estes trechos de ambientes quentes contrastam com os de ambiente frio, afinal estamos falando de montanhas que em sua parte alta venta, faz geada e pior, chove bastante. A Serra do Mar é um dos locais onde mais chove no Brasil, com médias pluviométricas superiores à Amazônia. Tudo isso com desníveis topográficos enormes, pois a travessia se faz entre 3 serras, que são blocos montanhosos afastados, cheio de subidas e descidas.
Após a realização do primeiro feito, como não poderia deixar de ser, vieram as críticas. As mais contundentes era sobre o fato que a Alpha Crucis ser a junção das Travessias da Serra do Ibitiraquire, Farinha Seca e Alpha Ômega (Serra do Marumbi) e justamente nestas junções era necessário caminhar por estradas e trilhos de trem, ainda que estas interligações fossem curtas, a travessia não se dava 100% por terreno natural.
Mesmo com as críticas, a Alpha Crucis se consagrou como um grande desafio do montanhismo. Ela foi repetida três vezes e uma das repetições rendeu até mesmo uma indicação ao Prêmio Mosquetão de Ouro.
As críticas, no entanto foram combustível para que Élcio, pioneiro e entusiasta da travessia melhorasse o desafio, fazendo que ele planejasse um novo traçado evitando os trechos criticados e assim ele fez.
Das críticas à realização da Alpha Crucis Express
Após muito tempo de planejamento, uma equipe composta por Élcio Douglas, Israel Silva, André Frazon e Ivon Cesar Sales, o grupo começou a caminhada no dia 11 de junho de 2019, enfrentando o primeiro trecho que é a subida da Crista Leste do Ferraria. Neste primeiro dia, o grupo conseguiu chegar apenas até o acampamento A1 do Pico Paraná e lá Ivon Sales, o “Sexta” acabou desistindo. Esta foi a segunda baixa, pois um dia antes do dia marcado para a travessia começar, Raffael Galápagos, que participou de todo o planejamento, se contundiu e não pode ir.
No dia seguinte o grupo continuou e atingiu o cume do Pico Paraná, onde Élcio comemorou seu centésimo cume nesta emblemática montanha.
Nos dias seguintes a equipe diminuta continuou sua jornada, atravessando a Serra do Ibitiraquire até seu fim, onde tiveram que passar por um dos trechos criticados. Entre o final da Serra do Ibitiraquire, no chamado marco 22 da Estrada da Graciosa até o inicio da trilha que sobe o Mãe Catira, primeira montanha ao norte da Serra da Farinha Seca, é necessário caminhar 2100 metros pela estrada da Graciosa e a Graciosa antiga. A solução para evitar este trecho não natural foi o seguinte, nas palavras de Élcio Douglas:
“No regulamento da travessia, caminhar em estradas é inválido. Sendo assim, ao sair no marco 22, exatamente no outro lado da estrada da Graciosa (alinhado), fizemos uma trilha que liga com o caminho colonial da Graciosa, e dai andamos por ele até chegar na entrada pra casa de pedra, onde se atravessa a estrada de volta, alinhada com um nova trilha do outro lado, q liga com a casa de pedra, sem usar a estradinha de chão”
A Serra da Farinha Seca é um dos piores trechos da travessia. Na Alpha Crucis original de 2012, seu término se dá pela descida do Morro da Balança, chegando na Usina Hidrelétrica do Marumbi e percorrendo a estradinha que conecta Prainhas até a Estação Engenheiro Lange. Nas novas regras, esta estrada 4×4 deveria ser evitada e assim ele o fez.
Ao invés de descer o Morro da Balança, Élcio e sua equipe atravessaram os campo dos Ciprianos e os Morros dos Coroados, montanhas pouquíssimo frequentadas e chegaram assim no caminho do Itupava.
“Descendo o Coroados/Passadiço (todas trilhas abertas por nós), saí exatamente na altura da represa Véu de Noiva, por onde se cruza para 5 minutos à frente interceptar o caminho do Itupava. Descemos então o Itupava, e na altura da ponte pênsil do rio Taquaral, varamos mato para chegar diretamente na trilha do Antoninho Palmiteiro, para chegar a vila do Marumbi. Isso para evitar a estrada de chão que leva a Eng Lange.” Disse Élcio sobre o novo itinerário.
Uma vez no Marumbi, bastou ao grupo realizar a travessia Alpha Ômega completa, subindo a Ponta do Tigre pela trilha Noroeste e chegando, após 8 dias de travessia, no Morro do Canal. De acordo com Élcio, que já tem fama de fazer travessias impossíveis, foi a “travessia mais insana e desumana, de longe, a coisa mais difícil que já fiz na vida”.
Convencido com a Alpha Crucis Express é a travessia mais difícil do Brasil, Élcio afirma que fez o impossível para andar somente em caminhos naturais. De acordo com ele: “Durante toda a travessia, atravessa-se 3x a Graciosa, e 3x a estrada de ferro. Eu medi a largura de atravessar a estrada, e a soma de todas dá 80 metros. Ou seja, anda-se por trilha 99,97% do caminho”.
Élcio salienta que a travessia foi realizada 100% autônoma, sem deixar depósitos de comida e equipamentos, sem ajuda externa, carregando tudo o que foi utilizado durante a caminhada. Uma verdadeira travessia raiz.
Um ciclo de desafios encerrado
Com a realização desta travessia, Élcio se diz satisfeito com grandes desafios e pretende parar de puxar tanto seus limites. O montanhista paranaense já realizou feitos extremos em sua carreira de mais de 30 anos de montanhismo. Ele é responsável pela abertura de diversas trilhas na Serra do Mar paranaense, dentre ela a Crista do Ferraria, a Travessia Ciririca x Graciosa e outras caminhadas épicas e desafiadoras.
Além de ter sido o primeiro a fazer a Alpha Crucis, também se envolveu em diversas outras travessias extremas que lhe rendeu indicações ao Mosquetão de Ouro, como a Travessia Leste x Oeste do Pico Paraná em 2016 junto com Jurandir Constantino e Raffael Galápagos e a travessia Araçatuba x Monte Crista de ataque junto com Arlindo Rossi. Seu feito mais famoso foi em 2008 ele escalou o Aconcágua em 3 dias sem aclimatar e ainda fazendo cume cume de camiseta.
:: Veja mais sobre Élcio Douglas Ferreira no blog do Pedro Hauck
8 Comentários
“Ceis são loco”!
Parabéns!
Não sei dizem que Elcio fez cume Aconcágua em 3 dias, ele mesmo deveria pedir para corrigir esse erro.
Alias nem tem como chegar no topo em 3 dias sem aclimatação.
Veja a matéria onde fala que fez em 6 dias.
Seria legal corrigir para evitar que as pessoas pensem pode pode ser feito em 3 dias.
http://www.oswaldobaldin.com.br/2008/01/ascenso-ao-aconcgua-em-6-dias.html
Ele fez cume em 3 dias e em 6 dias subiu e desceu
PARABENS SEUS LOCO, AGORA PASSA A TREKING PRA NOIS REALIZAR ESSA TBM HAHAHAHAHHA
Parabéns
Er loco del Aconcágua kkkkkk
Bom já que estão falando do ercião , tem que perguntar sobre ele quem o conhece , porque o cara é um fenômeno , sabe aquele morro que vc aja que subiu em 2:30 e vc se achou rápido , ele sobe em 1:15 e imaginando que na próxima ele faz em 1 hora , esse é o Elcio …monstro …kkkk
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