Retrospectiva da montanha 2008 – Parte II

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Segunda parte da matéria especial sobre o que aconteceu de mais marcante no montanhismo do Brasil, Portugal e do mundo no segundo semestre do ano de 2008. Reviva a memória e releia as matérias.

 

Os reflexos do mal tempo na temporada paquistanesa de escalada surte efeitos catastróficos. 18 montanhistas de diversas expedições falecem após o desprendimento de um grande bloco de gelo. Eles se concentraram na região onde aconteceu o acidente, pois lá é um grande “gargalo”, onde cada pessoa tem vez para passar. O mau tempo obrigou todos a subirem na mesma janela de tempo bom, ocasionando algo semelhante com o que ocorreu em 1996 no Everest. Foi a pior tragédia de todos os tempo nesta que é considerada a montanha da morte.

Ao mesmo tempo em que acaba a temporada do Paquistão, dá-se inicio à temporada do pós-monção no Himalaia. Com o Tibet fechado por causa das turbulências das Olimpíadas de Pequim, poucas pessoas se dirigem às montanhas, dentre elas o argentino-brasileiro Maximo Kausch que parte ao Cho Oyo, a sexta montanha mais alta do mundo. Ele vai como guia da expedição, uma das poucas que não foi proibida de subir.

Enquanto isso no Brasil, um artigo publicado pelo colunista do Altamontanha, Julio Fiori, alfineta os montanhistas de clube no país. Em “Faliram os clubes do montanhismo?”, ele relata a mudança na relação entre montanhistas e clubes, assim como o esvaziamento destas agremiações. Artigo era destinado ao Estado do Paraná, mas recebe muitas críticas do Rio.

Setembro

Um mês de chuvas, é isso que pode ser resumir Setembro no Sul e Sudeste. Por conta deste inconveniente climático, há poucas atividades a serem reportadas, mas o montanhismo não se restringe à esta porção do mundo.

Mesmo com chuvas, um incêndio dentro da área do Parque estadual do Pico Paraná consome a vegetação do Morro da Pedra Branca, mas é rapidamente controlado por montanhistas voluntários e brigadistas dos bombeiros.

Algumas notícias vindas da Argentina deixam os pretendentes de ir ao Aconcagua preocupados, pois o já inflacionado “permisso” soferá reajuste de 50%, passando a custar 450 dólares na próxima temporada.

Ao mesmo tempo, no Paraná, a FEPAM realiza uma assembléia que nomeia a nova diretoria. Dentro da pauta é votada a abertura para que pessoas físicas se filiassem diretamente à entidade. A maioria votou contrário e isso provocou a revolta de montanhistas independentes, com o inicio de um grande debate das vantagens da filiação direta na entidade aqui no site.

Nos Estados Unidos, um feito inusitado. O jovem Alex Honnold, de 23 anos, escala em solitário e solando, a rota normal do Half Dome em apenas duas horas e 50 minutos.

Na Europa, um Recorde. Dois italianos, Franco Nicolini e Diego Giovani escalaram todos os 82 cumes de mais de quatro mil metros dos Alpes em apenas 60 dias! O recorde anterior era do esloveno Miha Valic, que morreu em outubro deste ano no Cho Oyo.

Outubro

Após quase dois meses de expedição, Maximo Kausch chega ao cume do Cho Oyo, sem oxigênio e em apenas 5 horas desde o último acampamento.

Em Curitiba, luto! Falece aos 96 anos de idade um dos pioneiros do montanhismo paranaense, o Professor Erwin Gröger.

Enquanto isso na escalada esportiva, brasileiros alcançam o ponto mais alto no pódio do campeonato centro-sul americano de escalada. Janine Cardoso e Cesar Grosso vencem e se classificam para os jogos mundiais a serem realizados no ano que vem. Estes jogos são uma espécie “Olimpíadas” dos esportes de demonstração olímpica.

Atila Barros, colunista do Altamontanha, provoca os montanhistas de shopping com seu artigo: Escaladores de Alma. Nele ele diz que não é melhor aquele que tem os melhores equipamentos e afirma que o bom montanhista é aquele que tem amor ao que faz e não o que compete para aparecer.

Rodrigo Granzotto Peron finaliza e publica no Altamontanha as estatísticas sul-americanas no Himalaia, com dados de todas as expedições do continente que estiveram nas montanhas da Ásia. Ele também publica as crônicas do Karakoram, com fatos e curiosidades que aconteceram no Paquistão na temporada de Julho.

Na espeleologia, um novo projeto nefasto ameaça 70% das cavernas brasileiras.

No Rio, entre os dias 22 e 25 de outubro é realizado o 8° Festival de Filmes de montanha. Os destaques ficam para a animação carioca “Uruca” e Culinária Casca Grossa de Minas.

Novembro

Neste mês, completamente fora de temporada, o jovem gaúcho Rodrigo Oleinski, parte para o Sajama, a montanha mais alta da Bolívia. Rodrigo nega ser guiado e não dá atenção aos avisos das autoridades bolivianas e desaparece na montanha. Sua mochila é encontrada dias mais tarde, mas fica a reflexão: Que atitudes são mais perigosas na montanha?

No Pico Paraná, um grupo de religiosos causa polêmica ao abandonar na montanha todo o lixo que deveriam trazer de volta nas mochilas. Este acontecimento força o dono da Fazenda que dá acesso à montanha a restringir o acesso durante a semana.

Enquanto isso, na Argentina, começa a nova temporada do Aconcagua. , No Brasil, uma tragédia ambiental consome o Parque Nacional da Chapada da Diamantina, acontece o pior incêndio de todos os tempos na região.

A polêmica do ano acontece de volta na coluna de Julio Fiori. Em um relato sobre uma travessia que ele realizou no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, seis anos atrás, provoca repúdio de escaladores cariocas que enxergaram maldade em seu relato.

Enquanto isso, a temporada de escalada vai terminando com a aproximação do verão. Neste ano a temporada foi pífia. Em Curitiba contabilizou-se 15 fins de semana seguidos de chuva e a temporada mesmo se restringiu ao mês de Julho. A saturação de água no solo, seguido de um dilúvio de mais de 200 mm de chuvas em um só dia provocou o maior desastre natural de Santa Catarina no final do mês.

Voltando à escalada, o Altamontanha dá as dicas para quem não quer parar de escalar nesta baixa temporada de chuvas e calor de verão. A dica é: Escale em São Luis do Purunã –PR.

O mês de novembro finaliza o campeonato brasileiro de escalada com suas duas últimas etapas, em Curitiba e em São Paulo. Cesar Grosso e Janine Cardoso se consagram novamente campeões brasileiros em um campeonato pouco competitivo pela falta de atletas. A última etapa de São Paulo contou com apenas sete atletas na categoria masculina.

Enquanto isso, Felipe Camargo opta pelas competições européias, conseguindo pela primeira vez se classificar para uma final de um campeonato da IFSC e termina o ano no 44° lugar do ranking mundial. O holandês Joerg Verhoeven consagra-se campeão mundial pela primeira vez.

Dezembro

O mês começa conturbado no cenário da escalada esportiva nacional. Após anos amargurando prejuízos, o Ginásio Casa de Pedra, o maior de São Paulo e um dos maiores do Brasil divulga seu fechamento. Seria o quinto no Estado a ter suas atividades encerradas nos últimos anos. Fora o ginásio, várias lojas também fecharam, é um sinal de que a escalada sofre um retrocesso.

A decisão é mudada. Alê Silva, proprietário do ginásio divulga que irá fechar a unidade do Morumbi ao invés da de Perdizes. Entretanto, após a mobilização de escaladores ele decide manter abertas as duas unidades, se ele conseguir mais associados.

Mais ao sul, uma ação impensada da prefeitura de Florianópolis mostra que o desincentivo é generalizado no meio da montanha e escalada no Brasil. Foi quando funcionários da prefeitura destruíram um muro de escalada público localizado abaixo de um viaduto na cidade.

Na Europa, o escalador americano Chris Sharma encadena o projeto “Golpe de Estado” que assim como Jumbo Love é cotada em 9b na graduação francesa, algo como 12b na graduação brasileira, um marco na escalada esportiva.

O ano de 2008 para a montanha e escalada.

No meio natural, pudemos observar ao longo deste ano diversas reações de montanhistas diante do problema de proibições nos lugares de escalada e talvez por todos estes motivos o momento atual da escalada, mesmo com grandes conquistas, não seja dos melhores.

Vemos muitos lugares sofrendo deteriorização por mau uso (Pico Paraná, Falésia dos viciados, Valle Encantado) e tudo isso levou nosso colunista Pedro Hauck rever a mudança de pensamento em relação homem e montanha.

O ano de 2008 contou com momentos antagônicos no montanhismo, onde superações estiveram ao lado de tragédias, onde conquistas ocorreram ao mesmo momento em que proibições e avanços conviveram com retrocessos. Nunca o Brasil teve um resultado tão expressivo em campeonatos internacionais de escalada, mas nunca o campeonato brasileiro esteve tão esvaziado. 2008 foi um ano de contrastes, conquistas e desastres.

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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