Rumo ao Esporão dos Franceses, no Gasherbrum II

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Está quase…quase quase…já não contamos os dias mas as horas. Às 18:35 de Domingo (7 de Junho), entramos no avião para Londres, iniciando assim o percurso que nos levará ao sopé do Gasherbrum II.


O Gasherbrum II, com 8035 metros encontra-se na cordilheira do Karakorum, na Republica Islâmica do Paquistão.

O nome foi atribuido pelo povo Balti e a montanha é a segunda em altitude do grupo das “montanhas brilhantes”.

A primeira ascensão foi realizada pelos Austriacos Larch, Wilenpart e Moravec em Julho de 1956 após quase três meses de expedição.

A escalada foi realizada pela aresta sudoeste, hoje adoptada como via normal da montanha.

A segunda ascensão foi protagonizada pelos internacionalmente famosos alpinistas Franceses, Marc Batard e Yannick Seigner, passados 19 anos da conquista da montanha.

Estes escolheram o esporão Sul para a sua escalada de 1975.

Desde então, essa via ficou conhecida como: “Esporão dos Franceses”.

Na época de 2008, depois de aclimatar na via normal até aos 7000 metros, tentámos escalar o Esporão dos Franceses em estilo alpino. Entrámos pela linha que nos pareceu mais óbvia e segura, pela direita de uma grande torre de rocha, continuando por uma aresta muito afiada que conduziu a outra aresta inclinada antes de instalar-mos a tenda numa plataforma (que tardámos quatro horas a cavar!) aos 6500 metros.

Até aí, a escalada revelou-se mais dura que o calculado. Por várias vezes tivemos de montar reuniões no gelo e proteger determinadas passagens. No entanto, estávamos decididos a continuar até receber a mensagem do Vitor Baía que nos informava que a frente de mau tempo tinha-se adiantado relativamente ao previsto.

No dia seguinte, uma travessia horizontal exposta de escalada mista, com uns 60 metros, demorou-nos mais de duas horas a realizar.

Contas rápidas determinaram que era-nos impossivel alcançar o cume antes do mau tempo cair sobre as montanhas.

Abortámos assim, a nossa tentativa destrepando e rapelando directamente, desde o ponto em que desistimos.

De volta a casa e, após alguma investigação, descobrimos que não existem referências de expedições terem entrado na via pela direita da torre rochosa inicial. Sem o saber, acabámos por inaugurar uma variante de entrada ao Esporão dos Franceses.

Este ano retornamos à mesma via.

O nosso plano consiste em, mais uma vez, aclimatar na via normal do GII e posteriormente, tentar a ascensão do Esporão dos Franceses em estilo ligeiro.

Um aspecto curioso é o facto de a linha que sonhamos escalar, estar intimamente ligada ao nascimento da Daniela.

No dia 17 de Junho de 1975 Marc Batard e Yannick Seigner preparavam-se para iniciar a escalada que os levaria ao cume do GII, através do esporão sul, nunca antes subido.

Por cá, em Portugal, mais ou menos pela mesma altura, tendo em conta a diferença horária, a Daniela anunciava o seu nascimento, chorando a plenos pulmões.

Quase 34 anos volvidos, está quase…quase quase… ejá não contamos os dias mas as horas que faltam para regressar.

Às 18:35 de Domingo (7 de Junho), entramos no avião para Londres, iniciando assim o percurso que nos levará ao sopé do Gasherbrum II.

Após 1 ano o nosso sonho volta a transformar-se em realidade. Não foi fácil percorrer os dias que nos separaram desta aventura. Não foi fácil, mas passamos por eles cheios de entusiasmo e a acreditar sempre que era possível voltar (apesar de vermos as nossas carteiras cada dia mais vazias, já que desta, a expedição saiu-nos financeiramente do bolso…todinha!).

Relembro uma frase de um livro do Luís Sepúlveda, que desde que a li permanece na minha cabeça “Só consegue voar quem se atreve a faze-lo”.

Esta simples frase resume o percurso percorrido até aqui. Foi a acreditar e a trabalhar para este projecto, que o vamos conseguir realizar.


Daniela Teixeira, colunista do Altamontanha é escaladora e montanhista de Portugal. Conta com o apoio de Rab, Pod sacs, Faders, Edelweiss, Princeton Tec e Espaços Naturais.

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Sobre o autor

Daniela Teixeira e Paulo Roxo é uma dupla portuguesa que pratica escalada (rocha, gelo e mista) e alpinismo. O que mais gostam? Explorar, abrir vias! A Daniela tem cerca de 10 anos de experiência nestas andanças e o Paulo cerca de 25. A sua melhor aventura juntos foi em 2010, onde na cordilheira de Garhwal (India - Himalaias), abriram uma via nova em estilo alpino puro na face norte da montanha Ekdante (6100m) e escalaram uma montanha virgem que nomearam de Kartik (5115m), também em estilo alpino puro. Daniela foi a primeira e única portuguesa a escalar um 8000 (Cho Oyu). O Paulo é o português com mais vias abertas (mais de 600 vias abertas, entre rocha, gelo e mistas). Daniela é geóloga e Paulo faz trabalhos verticais. Eles compartilham suas experiências do velho mundo e dos Himalaias no AltaMontanha.com desde 2008. Ambos também editam o blog Rocha Podre, Pedra Dura (rppd.blogspot.com.br)

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