O Morro de São Jerônimo é o ponto culminante da Chapada dos Guimarães. Sua interessante situação isolada e sua formação em arenito serão belas novidades para alguém acostumado com as montanhas do Sudeste – bem como as impressionantes cristas escarpadas e a variada vegetação do cerrado ao redor.
São Jerônimo
Existe um Parque Nacional à volta da Chapada dos Guimarães, com a estrutura precária de sempre, pelo menos quando o visitei muitos anos atrás. As altitudes do Parque variam de 200 a mais de 800 metros, devido à presença tanto de cristas e patamares, como de depressões.
É formado por arenito sedimentar e recoberto por savana arbórea, característica do cerrado brasileiro. Abriga rios que correm rumo ao Pantanal e integram a bacia do Rio Paraguai. Uma típica região de cerrado e arenito, que com tanta frequência aparecem associados.
O aspecto mais interessante do Parque são as cristas acidentadas conhecidas como Cidade de Pedra, que decoram grandes blocos areníticos isolados. Estes surgem de forma monumental, acima das veredas e cerrados das planícies verdejantes mais abaixo.
Seus topos planos é que são conhecidos como chapadas. Arenitos são como plátanos, ambos tão sensíveis ao meio ambiente – os primeiros acusando as forças erosivas no seu desenho e os segundos, a marcha das estações na sua folhagem.
Esta é uma região de natureza exuberante, embora áspera, pois o cerrado abriga uma grande diversidade biológica, mas não tem o visual fértil e úmido da Mata Atlântica.
É mais um ecossistema brasileiro que está em risco de extinção, dado o impressionante avanço da agropecuária de exportação, com enormes extensões de algodão, pasto, soja e cana.
Talvez a árvore mais emblemática da região seja o ipê amarelo, lá chamado de paratodos, devido ao seu amplo uso alimentar e medicinal. Você ainda verá o pequi, a sucupira e a lixeira, além dos buritis nas veredas úmidas. Nas matas ciliares, terá a surpresa de encontrar frondosos jatobás e jequitibás.
A fauna é muito rica, com antas e quatis, além das lontras e capivaras dos banhados. Veados, lobos e tamanduás tentam escapar da ferocidade das temidas jaguatiricas. Não será tão difícil avistar grandes aves como emas, voadoras coloridas como araras e pássaros menores como garças.
O São Jerônimo é bem mais elevado que toda a região ao redor. Para chegar até ele você terá de atravessar o Parque até sua extremidade sul. Saindo da portaria, tome o rumo das cachoeiras até sair numa estrada. À sua frente estará a Casa de Pedra, uma bela gruta que vale a pena conhecer. Voltando à estrada, prossiga até encontrar uma ponte, que estava detonada quando passei por lá.
Esta ponte acessa uma estrada até o pé do morro. Com a ponte intransitável, o acesso ao São Jerônimo tornou-se bem mais longo. Tive de percorrer por cerca de uma hora uma exaustiva estrada arenosa depois da ponte, sob o terrível sol mato-grossense. Hoje existe uma casa de apoio – e não sei se a estrada está novamente transitável.
Logo você verá a bela parede rochosa e o corpo isolado da montanha. A trilha começa a partir de um expressivo pé de pequi, com todos aqueles galhos retorcidos.
Você passará por um anfiteatro de pedras, um passo, uma mata e um campo alto – depois, por ravinas rochosas e íngremes, até subir por uma fenda exposta porém segura.
O cume do São Jerônimo está a 835 metros e é um tanto decepcionante, por ser um campo plano, sem formações rochosas. A vista alcança a planície cuiabana 50 km além, bem como os altos da Chapada.
Devido à longa aproximação, este será um percurso exigente. Nesta versão mais longa, foram 22 km ao todo, que me tomaram umas 6-7 hs. A ascensão não é grande, praticamente limita-se à montanha, algo como 300 metros.
A volta repetirá o mesmo percurso, talvez com um sol menos inclemente ao longo da estrada e com direito a algum banho de cachoeira mais tarde.
Vale a pena visitar algumas das quedas, em especial a Véu da Noiva. O entorno da cachoeira é meio mágico, com o grande paredão em arenito, a cerrada vegetação circundante e a imaterial cortina d´água.
Fora do Parque, você deverá conhecer a impressionante Gruta Aroé Jare, que fica a 40 km, no rumo de Campo Verde. Seu nome significa morada das almas no idioma indígena, pois até um século atrás eles lá realizavam cerimônias fúnebres. Tanto tempo depois, a memória desta gruta me acompanha até hoje, com o misterioso lago no seu final.
Visite também lá perto a Lagoa Azul, onde as águas têm uma bela coloração azulada. O arenito e o cerrado tornam a Chapada um tanto seca, o que valoriza a presença das suas águas.
Era baixa estação e a vila estava quase deserta quando estive lá. Se puder, escolha uma ocasião festiva para conhecer também um pouco da colorida natureza humana da região.