São Lourenço da Serra Vapt Vupt

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Vizinho de Cotia, Embu e Itapecerica, São Lourenço da Serra é muito mais que um município pra se construir sitio e relaxar. Situado entre a Região Metropolitana de São Paulo e o Vale do Ribeira, seu nome presta homenagem ao padroeiro da cidade e ao rio que banha (e abastece) a cidade, o São Lourenço. E foi num breve bate-volta neste lugar que tb integra a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica que conhecemos não apenas uma prosaica e bela trilha no sertão de Itatuba como tb a simpática “Cachu dos Prata”. Uma visita que mal arranhou o lugar mas escancarou, inclusive, q a cidade não explora td potencial eco turístico que tem, a despeito da alcunha de “Cidade Natureza”

Reconheço que pensei mais de uma vez se realmente estava afim de sair naquela manhã de chuva incessável. Os dias quentes e claros de verão haviam sido abruptamente interrompidos pela passagem duma frente fria q trouxera mta precipitação a tiracolo. Mas como qq trilheiro persistente q se preze a esperança é a “última que morre”, decidi se ia ou não na última hora mesmo. Contudo, foi mesmo o Nando q me convenceu a colar junto dele. “Essa chuva não dura muito! Mais tarde sopra vento do interior e dispersa td isso ai..”, insistiu. Na verdade ele ia visitar o Bruno, seu amigo alemão numa chácara e, finalmente, eu cabei indo junto na esperança de q desse tempo de curtir alguma cachu local.

E assim após rodar algo de 52kms do asfalto da Régis Bittencourt (SP-230) em meio a um incerto brumado alternado com respingos finos, chegamos na pacata São Lourenço da Serra. A cidade ganhou esta última terminação pra se diferenciar de sua homônima mineira e homenagear a cidade da qual se emancipou até recentemente, Itapecerica da Serra. Minúscula, td orbita na pacata cidade ao redor da Pça 10 de Agosto. Dali tocamos pra bucólica Estrada de Itatuba, q mergulha num mar de morros lindamente cobertos dum misto de mata original com secundária, até chegar no sitio onde reside Bruno, amigo do Nando.

Como a chuva não dava trégua, ficamos na casa dele tomando um café da manhã tardio, enqto Bruno nos contava daquele pacato município q o deixara encantado e pelo qual trocara o inferno de Sampa. E não era pra menos, pois de sua varanda, ao invés da horizontalidade cinza da urbe, podia se apreciar as verdes escarpas da Juréia. “Aqui tenho qualidade de vida, mesmo indo e voltando td dia de moto e, qdo disposto, de bike!”, dizia ele. De fato, antiga rota tropeira, São Lourenço cresceu timidamente alavancada em parte pela agropecuária e algum comércio. “Mas a verdade aqui é ´cidade-dormitório´ pq td mundo trampa na capital…”, entrega Bruno. Inserida no meio duma área de preservação de mananciais, a região é farta de rios e, consequentemente, de muita mata. E esse era nosso foco naquele dia, caso São Pedro colaborasse.

Já quase pensávamos em retornar pra paulicéia qdo a chuva amansou por volta das 11hrs, reascendendo nossas esperanças de rolê. Bruno então tomou a dianteira e topou nos levar numa breve caminhada pelos arredores. Beleza, melhor do que nada! Não bastasse, o Tatu, seu agitado pulguento nos acompanhou tb. Inicialmente tomamos uma vereda de cortava a propriedade, em meio a úmida vegetação, e num piscar de olhos alcançou o alto dum morro. Próximo dali não apenas havia uma enorme tocaia de caçador como um deslumbrante mirante com vista espetacular do quadrante leste da região, onde uma infinidade de morros verdejantes emoldurava frestas de Sampa, Embu e Osasco, a distância.

Na sequência retrocedemos novamente aos fundos da propriedade e tocamos por uma vereda q mergulhava suavemente em direção ao baixadão  dum vale. Forrada de folhas nosso caminho ziguezagueava a ardilosa encosta dum morro ate dar no interior do vale, onde havia uma nascente cristalina. “Esta nascente aqui abastece minha propriedade e do entorno!”, frisava Bruno. Dali surgiam bifurcações em tds as direções, mas a gente tomou aquela q praticamente acompanhava a nascente, em nível, q por sua vez ganhava mais volume dos tributários do entorno.

Trilha em nível bem agradável, cercada de mata nativa q vez ou outra ganhava focos de pinus e araucárias, sem mesmo assim perder seu encanto. O silêncio da mata só foi quebrado subitamente pelo estrondo característico duma queda, q logo se materializou a nossa frente. Discreta porém visualmente bonita, aquele pequeno trecho encachoeirado girava uma rústica (e simpática) roda d’água, posicionada estrategicamente logo adiante. Bromélias, ipês, bambus, cedros, imbuias, palmitos-juçara, manacás-da-serra e tantas outras espécies ornavam o caminho a cada passo dado, até q a vereda emergiu no aberto.

Dali tomamos outra picada maior q contornava o sopé do morro até então palmilhado, onde cruzamos um simpático lago, as ruinas duma construção – tomada por bromélias q se agarravam vigorosamente em seu telhado – e um belo túnel formado por um bosque de pinnus. Brechas de sol se alternavam com inconvenientes respingos finos indicando q o resto do dia provavelmente seria assim. Mas ignorando este detalhe prosseguimos nosso caminho, agora dando a volta na propriedade por outra vereda q finalmente interceptou o começo do caminho. Final de rolê, claro! Até pq agora o Bruno tinha outros compromissos. Em tempo, esse caminho o Bruno apelidou de “Trilha do Morro”.

Nos despedimos do Bruno e tomamos caminho em direção ao centro da cidade, mais precisamente no entorno da Praça 10 de Agosto, onde bebericamos uma gelada enqto observávamos o pacato movimento local e decidíamos o q fazer. Como eram quase 13hr e o sol surgia com força através das nuvens, optamos em ir pro cartão postal da cidade, no caso, a Cachu dos Prata. Tocamos outra vez então pela Regis Bittencourt, sentido Curitiba, atrás do primeiro retorno em direção a Sampa. Ali, é preciso atentar ao “Pesqueiro Pantanal” adentrar na terceira estrada á direita, mais precisamente no km 309, q ta meio escondida ao sopé dum baixo morrote. Em caso de dúvidas basta perguntar aos locais, pois não há nenhuma sinalização da cachoeira.

Dali em diante bastou rodar menos de 2km pela razoável estrada de chão e pronto, chega-se na Cachu dos Prata, mais precisamente na entrada da fazenda que abriga a queda. Uma placa cobrando entrada (R$10) já dá a entender que qq coisa por ali é cobrada, mas como era dia de semana não havia ninguém e adentramos assim mesmo. A queda é bonita e longe de ser selvagem, mas o contexto rural lhe confere aquele típico charme caipira. Do largo e amplo estacionamento gramado, onde há banheiros e uma rustica vendinha fechada, já podíamos avistar a bela queda. Ali as aguas do Córrego Barrinha eram despejadas duma altura menor q 3m, ao largo dum razoável paderão de rochas. Por conta da chuva matinal a água q se represava no enorme poço ao pé da cachu tinha uma coloração turva, pra depois seguir seu curso sinuoso pela pastagem em direção ao Rio São Lourenço.

Donos daquele pequeno e bucólico paraíso refrescante, ficamos um tempo ali curtindo o lugar e a queda, sem vivalma perto. Mas td q é bom dura pouco, pq não tardou em aparecer o caseiro q tomava conta da propriedade e, de quebra, do acesso a queda. O tiozinho só queria ver quem tava na cachu, pois disse que o lugar ferve nos finais de semana, além de conversar um pouco, claro. Comentou que a queda ta inserida na “Fazenda dos Prata”, cujo dono é um médico de São Paulo, e que a cobrança é pra manter o lugar limpo e em ordem. “Sacumé, apesar das placas pedindo pra não jogar lixo no chão tem sempre irresponsáveis que parece não sabem ler!”, queixava-se o simpático tiozinho. Em tempo, por ser um lugar apropriado pra família toda, é “proibida terminantemente a reprodução de som do gênero ´proibidão´ e quem desobedece a norma é gentilmente convidado a se retrar do local..”, completa. Ah, se esse rigor se estendesse tb aos “sujismundos”..

Por volta das 15hr nos despedimos do senhor dando início ao retorno pra “Paulicéia”, onde mal tocamos o asfalto e caiu um aguaceiro dos infernos, cunhando de vez nossa decisão de encerrar o bate-volta. Sim, foi uma visita parcialmente aproveitada mas q deixou boas impressões. São Lourenço da Serra tem vários outros atrativos naturebas: as cachus do Paiol, dos Lavras e de Itatuba; trilhas que levam a minas d’água no fundo de vales como a ptos culminantes locais; a enorme Lagoa Ranieri; a Reserva Particular Paiol Maria; além da comunidade Itatuba, entre outros. Isso sem falar em remansos no próprio rio q abastece o município. Paradoxalmente, a “Cidade Natureza” não explora td seu potencial por puro desinteresse das autoridades e da iniciativa privada. Sem investimento, São Lourenço ocupa mesmo é o penúltimo lugar no ranking de riqueza da Grande São Paulo. Pena, pq eu já descobri a cidade como boa alternativa pras pernadas próximas. Resta que outros tb façam o mesmo, mas principalmente aqueles que realmente façam a diferença pra cidade. Só assim é que São Lourenço da Serra fará jus, orgulhosa e merecidamente, ao emblemático epiteto que ostenta.

 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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