Você já ouviu falar no Caminho de Santiago? E no Peabiru ou Tapé Aviru, como é conhecido no Paraguai?
Os peabiru (na língua tupi, “pe” – caminho; “abiru” – gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos guaranis desde muito antes do descobrimento da América do Sul pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente. A designação Caminho do Peabiru foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra “História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán“, no início do século XVIII. Outras fontes, no entanto, dizem que o termo já era utilizado em São Vicente logo após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500. Conta a história que o português Aleixo Garcia percorreu o Peabiru em 1524 e o espanhol Álvaro Nuñez “Cabeza de Vaca” o fez em 1537, quando teria revelado para os europeus a existência das Cataratas do Iguaçu.
O principal destes caminhos, denominado Caminho do Peabiru, constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Atlântico, mais precisamente, Cusco, no atual Peru (embora talvez se estendesse até o oceano Pacífico), ao litoral brasileiro na altura da baía de Paranaguá (atual estado do Paraná), estendendo-se por cerca de 3.000 quilômetros, atravessando os territórios dos atuais Paraguai e Brasil, além de Peru e Bolívia. Segundo relatos históricos, o caminho conectava as regiões das atuais cidades de Assunção, Ciudad del Este/Foz do Iguaçu, Alto Piquiri, Ivaí, e Tibagi, à região da baía de Paranaguá, e litorais de Santa Catarina e São Paulo.
Restam ainda, em pontos isolados de mata e em algumas localidades, reminiscências desse caminho, que se caracterizava por apresentar cerca de 1,4 metro de largura e leito com rebaixamento médio em relação ao nível do solo de cerca de 40 cm, recoberto por uma gramínea denominada puxa-tripa. Nos seus trechos mais difíceis, o caminho chegava a ser pavimentado com pedras. Em alguns lugares, era sinalizado com inscrições rupestres, totens e símbolos astronômicos de origem indígena.
Na década de 1970, uma equipe coordenada pelo professor Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, identificou cerca de 30 km remanescentes da trilha no estado do Paraná. Ao longo desse trecho, foram, ainda, identificados sítios arqueológicos com vestígios das habitações utilizadas provavelmente quando os indígenas estavam em trânsito.
Atualmente, a exemplo do que existe no Caminho de Santiago, tanto o Governo do Paraná, quanto o Paraguai têm projetos de revitalizar o Peabiru, como caminho turístico, com foco na história comum e na natureza, conectando paisagens.
Para debater o tema e coordenar as propostas do Governo do Paraná e do Paraguai, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Governo do Paraná e o ICMBio vão promover, em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, nos próximos dias 28, 29 e 30 de novembro, o Seminário Internacional Caminhos do Peabiru/Senderos Tapé Aviru, una Ruta Común Paraguayo-Brasileira.
O seminário, com duração de três dias, visa a estreitar as relações entre os projetos brasileiro e paraguaio, buscando trocar experiências e aprendizados na montagem e operação de caminhadas de longa distância com fulcro histórico, cultural e natural, ajudando a criar estratégias sinérgica sde implantação, gestão e divulgação do Peabiru como patrimônio histórico e cultural comum aos dois países e, por meio dele, melhorar a integração fronteiriça na área de Ciudad del Este/Foz do Iguaçu. Participarão do seminário especialistas do Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia e Estados Unidos. Entre os palestrantes teremos Nat Scrimshaw, presidente da Rede Mundial de Senderos (Núcleo para as Américas) e Omar Sakr, presidente da Lebanon Mountai Trail, referência mundial no assunto.
Também vão proferir palestras profissionais que estão implementado a política pública Rede Brasileira de Trilhas, no Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Turismo, ICMBio, Governo do Paraná, Governo de Santa Catarina, Associação Rede Brasileira de Trilhas, Caminho dos Goyazes, Caminho de Cora Coralina, E-Trilhas, pesquisadores e voluntários. Do lado paraguaio, destacamos a presença de Anthony van Humbeek, fundador da Rede Paraguaia de Senderos e de pesquisadores da Univesidade Nacional de Assunção.
No dia 28 de novembro, o seminário será no auditório da Itaipu Binacional, em Hernandarias, e no dia 29 de novembro será no auditório do Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu. Dia 30 ocorrerá uma oficina de planejamento e implementação de trilhas, somente para profissionais do setor e voluntários da Rede Brasileira de Trilhas.
O evento é gratuito.
A seguir a programação prevista:
Seminário Internacional Caminhos do Peabiru
Seminario Internacional Caminos del Tapé Avirú
Fecha/data: 28 y/e 29 Nov/2022
1er dia en Itaipu (Paraguay) / 2º dia en Parque Nacional Yguazú (Brasil).