Mas muito pior seria se o sistema os deixasse de fora porque assim não seria nem democrático e muito menos livre. Democracia só funciona quando o comando da maioria respeita a opinião da minoria.
Podemos pensar assim também no montanhismo que, na acertada expressão do Bito Mayer, “sempre foi uma atividade meio anárquica”. É visível que as federações e os clubes não representam o pensamento da comunidade dos que se dedicam aos esportes de montanha, nem ao menos representam a maioria simples, metade mais um. Tanto é assim que o número de praticantes “independentes” ou não federados cresce de forma geométrica enquanto grande parte dos clubes lutam para não encolher.
Clubes sempre serão panelinhas, amigos que se reúnem por afinidade, e quem não se encaixa no esquema pode cair fora, fazer o seu ou aproveitar sua prazerosa solidão. Mas a federação é algo maior, impessoal, que deve representar o conjunto do pensamento e defender seus ideais.
A proposta da Fepam em acolher também os independentes é boa e oportuna porque permite a participação da grande maioria dos praticantes dos ditos esportes de montanha nas demandas que lhes dizem respeito. E é fundamental lhes dar direito ao voto na devida proporcionalidade. Um clube com 100 sócios ativos deve ter 10 vezes mais peso do que outro com apenas 10, isto é apenas justiça.
Sempre estivemos organizados numa democracia soviética que decide por unanimidade, a portas fechadas, representa apenas os mesmos de sempre, nunca é obedecida e está economicamente falida.
Neste sentido é bem-vinda a iniciativa da Fepam, mas ainda não é suficiente. Para os “independentes” se federarem é necessário muito mais do que isto. É fundamental entrar em sintonia com as idéias e os desejos desta massa crescente que, verdade seja dita, congrega também os expoentes máximos do esporte, tanto em experiência como em ousadia. Entrar em sintonia com o livre mercado e aceitar que além dos exorcistas de praxe ninguém mais acredita que os “independentes” são seres malévolos, egoístas e depredadores da natureza.
Para fazer a diferença o esforço deve ser ainda maior porque não é o montanhista que vai mudar para se filiar a federação. As federações é que precisam mudar para interessar ao montanhismo.
Parabéns à administração Natan Fabrício na Fepam por enfim perceber que há muito tempo o “rei anda nu” e ousar propor novas soluções. Tímidas ainda, mas depois de séculos de cegueira finalmente apontando na direção correta.