Continuo agora às minhas andanças pelo Centro Oeste, desta vez num município pouco povoado de Goiás. Ele contém um belo relevo ondulado, uma natureza amena e um importante acervo de pinturas primitivas.
Serranópolis pertence ao chamado sudoeste goiano, uma grande e rica região agropastoril. Foi inicialmente colonizada por fazendeiros mineiros. Com o tempo, passou a receber agricultores gaúchos, interessados no plantio de soja – que hoje compartilha o espaço com o milho e a cana.
No passado distante, a região foi habitada por povos pré-históricos – oferecia desde abrigos rochosos e frutos variados do cerrado a campos e rios com presença de caça abundante.
Os índios xavantes, bororos e carajás costumavam atravessar esta região. Foram encontrados vestígios de povoações estáveis, datadas desde 11 mil anos atrás, nos cerca de 40 abrigos da região. O fóssil do Homem de Jataí, um dos mais antigos do Brasil, foi encontrado lá.
Os índios primitivos eram inicialmente caçadores-coletores, mas depois evoluíram para grupos ceramistas e agricultores. Eles deixaram representações rupestres no arenito basáltico da região.
As pinturas em coloração sépia são mais antigas (8 a 11 mil anos), com farta representação de pássaros, lagartos e figuras geométricas. Já as gravuras, mais recentes (2 a 3 mil anos), contêm grafismos abstratos.
Serranópolis integra a chamada Bacia Sedimentar do Rio Paraná, uma gigantesca depressão no interior do país. É recoberto pela formação do arenito de Botucatu, típico do Brasil Central.
Seu relevo é moderadamente acidentado, numa altitude média de 700m. Por se encontrar fora da Serra do Caiapó, não apresenta escarpas acentuadas. Na realidade, exibe panoramas agradáveis, com cristas, colinas e campos de belo visual.
A cobertura vegetal é o cerrado – embora robusto, não chega a representar uma vegetação fechada, exceto nas matas de galeria. Pude avistar aves e mamíferos, como curicacas, araras, seriemas, veados, macacos e catetos. A região é atravessada pelo Rio Verde, importante afluente da margem direita do Paranaíba, ao longo de seu curso para a Bacia do Prata.
Serranópolis é principalmente visitada por causa da RPPN das Araras, a 40 km da vila. Lá existiam três trilhas, a mais conhecida sendo a da Torre das Araras, um percurso de apenas 3 km com acesso à principal parede pintada da região. Hoje em dia, só esta permanece aberta, pois o local quase chegou a ser desativado. As demais eram os 4 km da Gruta do Guardião e os 6 km do Paredão.
A Trilha do Paredão (que puder fazer parcialmente) é espetacular, pois alcança uma alta parede vertical, antes de mergulhar na mata nativa felizmente preservada. Apresenta belos visuais distantes, das escarpas da serra, das copas das árvores na mata e das culturas no campo.
A outra atração é a Gruta e a Cachoeira do Diogo, 16 km ao norte da cidade. Situada numa fazenda de relevo acidentado, é um lindo circuito, onde você poderá descer até as duas grutas areníticas, avançar até a delicada queda e subir de volta pelo íngreme caminho na mata. As grutas foram refúgio de povos antigos e exibem belas gravuras lineares. Sob o forte calor goiano, o percurso me tomou 2 hs.
Um trek semelhante é o do Véu do Moquém, a 44 km a leste da vila. Este é o nome de uma cachoeira, menos cênica e mais seca que a anterior. Há também uma gruta arenítica pouco profunda. O percurso, uma espécie de repetição diminuída do anterior, é de 1½ hs.
Embora não de forma tão espetacular como em outros locais próximos, cerca de 40 cachoeiras podem ser visitadas. Listo abaixo três dentre as principais, com distâncias da sede e alturas de queda:
Ponte de Pedra 22 km ao norte 30m
Rio Corrente 28 km ao sul 30m
Retirinho 10 km a oeste 28m
A menos que você seja interessado na arte rupestre primitiva, não acredito que vá experimentar grandes emoções em Serranópolis. Entretanto, sua proximidade com o Parque das Emas de Mineiros (GO) e com o Templo dos Pilares de Alcinópolis (MS) sugere uma visita a esta região bonita e agradável.
Gostaria agora de falar brevemente dos PE goianos. O Estado apresenta 6 deles, dos quais apenas dois com tamanho razoável, o que surpreende, dada a grande dimensão de Goiás. Acredito que os três principais parques sejam:
Serra Caldas Novas C. Novas e Rio Quente 12.300 ha
Serra Pireneus Pirenópolis e Cocalzinho 2.800 ha
Serra Dourada Goiás e Mossâmedes 30.000 ha
Nesta série sobre o Centro-Oeste, já escrevi sobre estas unidades, todas elas bem interessantes. As outras três são muito pequenas, além de próximas a Goiânia ou Brasília.