Temporada de Escalada no Himalaia 2012

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Iniciou mais uma temporada de escalada na Primavera do Nepal, e há informes preliminares de inúmeras expedições latinas a quatro dos cumes do Himalaia. Confira:

Por Rodrigo Granzotto Peron

ANNAPURNA (e, talvez, DHAULAGIRI)

A grande estrela da atual temporada de escalas é o Annapurna (8091m), o 8000er mais perigoso de todos, com grau de periculosidade (número de cumes dividido pelo de mortes) de 33%, elevadíssimo (trocando em miúdos: cada 3 cumes há um morto), e também o único 8000 que ainda não chegou a 200 cumes (são 191). A título comparativo, como divulgado com exclusividade aqui no site, o Everest possui 5.655 cumes (30x mais).

O grande problema com o Annapurna é que a rota normal, embora não seja tecnicamente complicada, é extremamente perigosa, e as avalanches varrem-na inúmeras vezes ao dia, tornando os escaladores alvos fáceis. Assim é que 61% dos mortos na montanha foram colhidos por avalanches ou quedas de blocos de gelo.

Historicamente, são essas as incursões latinoamericanas no Annapurna:

1988 – Miguel Lito Sanchez (ARG), tentativa
1988 – Ramiro Navarrete (ECU), cume no Annapurna Leste (8060m) [nova rota] 1988 – Francisco Espinoza (ECU), tentativa
1995 – Carlos Carsolio (MEX), cume
2000 – Joaquin Molins Gil (ARG), tentativa
2007 – Fernando Gonzalez-Rubio (COL) e Ivan Vallejo (ECU), cume
2011 – Adolfo Dell’Orto Selman, Andrés Jorquera e Marcelo Gonzalez (CHIL), tentativa

Como se vê, apenas três cumes dos nove alpinistas que tentaram.

Na presente temporada, há quatro latinos por lá:

Badia Bonilla Luna e Maurício Lopez Ahumada (MEX), o simpaticíssimo casal Una Pareja En Ascenso, cuja ambição é culminar juntos todos os catorze 8000. Já possuem cinco cumes principais e três secundários (pararam nas antecimas do Shishapangma, Makalu e Broad Peak). Segundo as últimas informações divulgadas, estão em processo de aclimatização. Pretendem escalar sem oxigênio engarrafado e pela rota normal.

O paranaense Waldemar Niclevicz possui, agora oficialmente, um programa para fechar os 14 oitomil. Com sete culminados, incluindo o mais difícil de todos (K2), é um passo lógico em sua carreira angariar os restantes. Para 2012, escolheu logo o mais casca-grossa de todos. Livrando-se do Annapurna, os demais não vão impor dificuldades ao nosso maior escalador. Waldemar integra a equipe espanhola de Carlos Soria (apelidado carinhosamente de “vovô do Himalaia”, aos 73 anos de idade). Chegou ao BC no final de março, e no momento já escalou até o Campo 3. Já está aclimatado, e esperando uma janela de tempo bom para o ataque definitivo à montanha. Já houve um ataque preliminar no dia 20 de abril, mas os espanhóis e também Niclevicz abortaram por causa dos ventos fortíssimos nas encostas superiores (na descida, a equipe espanhola foi assolada por uma grande avalanche, sem maiores repercussões, por sorte). Se o cume ocorrer logo, é provável que Niclevicz rume ao vizinho Dhaulagiri, e tente um double-header.

O outro brasileiro no Annapurna é Cleo Weidlich, recuperando-se de um acidente com o seu joelho no Kangchenjunga ano passado, que custou duas expedições que já estavam programadas (K2 e Shishapangma). De volta à atividade, a amazonense, segundo informação em seu blog, conseguiu sucesso no ataque ao cume do dia 20, e entrou para a história como o primeiro alpinista do Brasil a culminar o Annapurna (ela é, também, a primeira mulher sulamericana a conquistar esse 8000. Relatos preliminares davam conta de que ela teria utilizado oxigênio, mas pela declaração de Cleo ela culminou noox. O trabalho de abertura da rota foi capitaneado pela equipe de sherpas contratada por Cleo, liderados pelo top sherpa Chhang Dawa (com, agora, nove 8000 no currículo), bem como pelos sherpas dos espanhóis (Soria escala usualmente na companhia de seu fiel-escudeiro Muktu Lhakpa). No cume, juntamente com a manauara, estavam dois indianos, dois chineses (Zhang Liang e Wang Jing) e outros sete sherpas nepaleses. Maiores detalhes são esperados para breve. Cleo sofreu frostbites (congelações) e está em Kathmandu se tratando. Caso não sejam graves, é provável que ela também rume ao Dhaulagiri e tente um double-header.

Como sempre acontece no Annapurna, todas as temporadas, podemos esperar um ataque coletivo ao cume, com as expedições unindo esforços e partindo juntas, numa mesma data.

EVEREST

O Everest vai estar repleto de latinos em 2012.

Com a empresa australiana Himex, estão escalando os mexicanos Javier (Javi) Perez e Hector Sanchez (Chino) Torres. Segundo informações no website da empresa, os integrantes da equipe estão no campo-base, enquanto prosseguem os trabalhos de fixar a rota ao cume. Alguns dos membros já até dormiram no cume do Lobuje East (6129m), como forma de turbinar a aclimatação do organismo. O destaque da Himex é Phurba Tashi (19 cumes no Everest), e que pode ultrapassar o recorde de Apa Sherpa (já que Phurba sempre culmina duas ou mais vezes por temporada).

Com a empresa canadense Peak Freaks, estarão escalando os guias Angel Armesto (ARG) e Joshua Jarrín Molina (ECU). Este último integra o projeto do top climber Ivan Vallejo – “Somos Ecuador en las montañas del mundo” – e fez cume no Khan Tengri e na face sul do Aconcágua. O brasileiro Armando Oliveira integra a expedição da Peak Freaks. Em contato por e-mail, foi confidenciado que irá fazer, nessa primeira experiência, apenas um trekking até o campo-base do Everest, com possível escalada de alguns dos “sentinelas” circunvizinhos (Gokyo Ri, Kala Pattar). Com certeza a experiência será incrível e, quem sabe, no futuro, Armando retorne para efetivamente escalar o Big E.

Com a empresa americana Patagonian Brothers, estarão escalando os gêmeos argentinos Damian Benegas (3 cumes no Everest) e Willie Benegas (dez cumes). Também com eles, os argentinos Fernando Rodriguez de Hoz e Hernán (El Pampa) Carracedo. O time também está no campo-base. Em entrevista para um website local, Fernando mencionou que ir ao Everest, para um montanhista, “é igual a ganhar uma copa do mundo, para um jogador de futebol, ou receber um Oscar, para um ator, ou angariar Wimbledon, para um tenista, ou ser presidente, para um político”.

A grande atração da temporada do Everest é a mega-expedição chilena. Sob a liderança do experiente Rodrigo Jordán, está lançada a Expedición Vertical Everest Chile 20 Años, em comemoração aos vinte anos da primeira expedição chilena ao Everest, que colocou Cristán García-Huidobro no cume. Para 2012, além do líder, integrarão o time os top climbers Ernesto Olivares e Eugénio (Kiko) Guzmán, além de Juan Diaz, Felipe Olea, Juan José Varela, Sebastián Irarrázaval, Gabriel Becker, Sebastián Varela, Paulo Grandy, Lorenzo Ruiz, Pedro Vidal e Cristobal Hurtado. Segundo a última informação colhida no site da expedição, os chilenos já se instalaram no campo-base, já iniciaram o processo de aclimatação (foram instalados os campos 1 e 2, e para o dia 28 de abril, devem fixar o campo 3, a 7300m), e todos já subiram o Kala Pattar.

Por fim, há a expedição do costa-riquenho Warner Rojas Chinchilla, que pretende ser o primeiro alpinista de seu país a culminar o Everest (os nascidos na Costa Rica são chamados localmente de “ticos”, portanto ele tentará ser o “primeiro tico” no Everest). A aventura será filmada e incluirá informes especiais ao vivo para uma televisão local, incluindo televisionamento direto do cume, caso ele consiga êxito.

SHISHAPANGMA

O autor do presente texto obteve informação de que o argentino Ariel Perinetti, um escalador de Mendoza, Argentina, se juntou à expedição basca ao Shishapangma, composta por três alpinistas muito famosos no circuito: Juanito Oiarzábal (que busca terminar o seu projeto 2x14x8000, que consiste em subir todos os oitomil por duas vezes cada), Carlos Pauner (com doze 8000 culminados) e Juanjo Garra (seis 8000).

A expedição basco-argentina vai tentar a Rota Austríaca na Face Norte, que não é a rota padrão ao cume. Ocorre que a rota padrão praticamente não tem tido cumes nos últimos anos. A aresta final é perigosíssima, e quase ninguém se dispõe a atravessá-la da antecima para o cume principal. Assim, a Rota Austríaca, que evita essa aresta e sobe diretamente ao cume principal, tem se mostrado a rota mais factível.

O Shishapangma, este ano, está com uma particularidade desagradável. O governo chinês impôs uma quantidade absurda de exigências, atrapalhando as expedições (essas restrições têm sido a tônica nos últimos anos, em resposta às manifestações budistas no Tibete. Esse ano os monges atearam fogo ao próprio corpo e um inclusive morreu queimado). Para a primavera de 2012, Pequim determinou que as expedições ao Shishapangma têm um permit de apenas 30 dias. Logo, o time de Juanito tem que chegar no campo-base, se aclimatar, subir, fazer cume e vir embora em apenas um mês (contra os dois a três meses normalmente utilizados). De se esperar, portanto, uma incursão ligeira com um rápido assalto ao cume.

KANGCHENJUNGA

O nosso vizinho Chile está determinado a conquistar todos os 14 oitomil de forma coletiva. Ao contrário do Brasil, em que há uma busca individual por todos os 14, no Chile o mote é a conquista conjunta. Assim, nos últimos anos, têm havido várias expedições chilenas aos 8000 que lhe faltam. Um desses, é o Kangchenjunga.

Para tentar esse feito, o time está composto por Luis Alvarez (líder de expedição), Daniel Rutllant, Alex Koller, Rodney Gonzalez, Mario Sepulveda e Rodrigo Retamal. Do país natal, gerencia o projeto e organiza a logística o famoso Andrés Jorquera.

O time chegou em Kathmandu em 6 de abril, instalou o campo-base no dia 21, e já iniciaram a aclimatação e reconhecimento da rota, com fixação do campo I (6200m). Como consta no site da expedição, pretendem instalar o campo II e o campo III nos próximos cinco ou seis dias. O ataque ao cume está previsto para meados de maio.

Por: Rodrigo Granzotto Peron
*Atualizado até 25-4-2012

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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