Tira, põe, deixa ficar… Polêmica das estacas retiradas do Mont Blanc tem novos capítulos

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Em junho de 2023, noticiamos aqui no Portal AltaMontanha que o montanhista e guia Christophe Profit foi condenado pelo tribunal de Bonneville, na França, por retirar algumas estacas instaladas em uma rota do Mont Blanc. Na época, ele foi denunciado pelo prefeito de Chamonix, Jean-Marc Peillex, que alegou que o ato colocava em risco a vida de outras pessoas. No entanto, essa história não parou por aí.

Profit com as estacas que retirou em 2022. Foto: arquivo pessoal.

As estacas em questão tinham 1,80 m de altura e foram instaladas pelos guias de Saint-Gervais com o objetivo de garantir a segurança dos montanhistas. No entanto, Profit, que defende um montanhismo mais puro, alegou que montanhistas inexperientes ou sem o devido conhecimento poderiam se acidentar ao utilizar tais estacas. Segundo ele, esse foi o motivo pelo qual as retirou, em 2022.
Ainda assim, ele foi condenado a pagar uma multa de 600 euros como indenização pelas duas estacas retiradas em território francês, enquanto as outras duas, localizadas em território italiano, não foram reclamadas. Profit recorreu da decisão e deve receber a resposta até janeiro de 2025.

Profit durante a audiencia. Foto Thomas Pueyo

No entanto o caso está longe de ser encerrado. Este ano, em 27/08, os guias de Saint-Gervais reinstalaram estacas de madeira que, juntamente com uma corda, funcionavam como um corrimão. A ação foi realizada poucos dias após a morte de um montanhista que caiu nesse trecho após um escorregão.
Porém, apenas dois dias depois da instalação do corrimão até que Profit anunciou que havia retirado a corda e que voltaria com ferramentas mais adequadas para remover as estacas de madeira, uma vez que não conseguiu retirá-las em sua primeira tentativa. Segundo ele, fez isso em nome da ética do montanhismo e da segurança de todos.
Além disso, agora o seu advogado Laurent Thouvenot entrou com uma ação contra Jean-Marc Peillex por ter instalado elementos artificiais em um ambiente natural protegido. Entre os argumentos, está o fato de que esse ato vai contra a filosofia do montanhismo, defendida pela declaração de patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO. Ele também reforça que o corrimão induz montanhistas inexperientes a correrem riscos desnecessários, uma vez que há uma outra rota menos perigosa para subir o Mont Blanc.

Cume do Mont Blanc – Foto Maria Tereza Ulbrich

Portanto, o debate sobre as implicações éticas dessa ação deve seguir por um bom tempo, assim como os debates em outras montanhas ao redor do mundo, incluindo no Brasil.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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