Tirolesa do Pão de Açúcar gera polêmica entre montanhistas e moradores

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O projeto de implantação de uma tirolesa entre o Pão de Açúcar e o morro da Urca no Rio de janeiro tem gerado polêmica entre os montanhistas e moradores da região. A tirolesa terá 755 metros de comprimento e o percurso entre as duas montanhas durará cerca de 50 segundos. O aventureiro que quiser atravessar o percurso assim poderá atingir a velocidade de 100 km por hora.

A tirolesa será instalada próximo aos cabos de aço do bondinho.

O Parque Bondinho Pão de Açúcar investirá cerca de 50 milhões no projeto. A tirolesa terá quatro linhas com cabos de aço de 15 milímetros de diâmetro e deve ser inaugurada no segundo semestre de 2023. De acordo com o que a diretora de negócios do Bondinho Pão de Açúcar, Ana Lucia Sevaltici, contou ao site Panrotas, o projeto da tirolesa busca interferir o mínimo no ambiente natural do local. “É um projeto inovador e orgânico do Escritório Índio da Costa, na qual não removemos uma árvore. A passarela de acesso a tirolesa, encravada na pedra com vista para Baía de Guanabara em um dos pontos mais altos do Rio de Janeiro, já será uma experiência em si”, falou.

Além da prefeitura, a gestão da UC (Unidade de Conservação), o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade) também aprovaram o projeto.

Com a nova atração, o parque também prevê ainda uma revitalização do espaço construído para receber os turistas no cume do Pão de Açúcar. Todavia, o projeto de revitalização do espaço ainda está em fase de aprovação na prefeitura.

Montanhistas e moradores da Urca contra a tirolesa e “revitalização” do cume

No entanto, as obras e mudanças na montanha mais famosa do Rio de Janeiro despertou questionamentos entre parte dos montanhistas que frequentam o local. Além disso, o início da implantação da tirolesa deixou os moradores da vizinhança indignados. Eles também acreditam que a nova atração irá descaracterizar o morro da Urca.

Em um abaixo assinado os montanhistas e moradores contrários a obra alegam que não há informações suficientes sobre o impacto das obras e da nova atração. No documento, eles lembram algumas intervenções que afetaram o ambiente dessas montanhas no passado. “Os morros do Pão de Açúcar e da Urca, já foram vítimas de muitas outras propostas nocivas, como a iluminação com potentes holofotes na base da face oeste do Pão de Açúcar, feita pela CCAPA, que dizimou os insetos e outros animais noturnos, mas foi logo removida; e a tentativa de uma empresa de instalar um gigantesco cometa de Natal iluminado, na face norte do Pão de Açúcar”, cita o abaixo assinado.

Movimento contrário questiona o impacto visual e ambiental da nova atração.

Será que o número de turistas atraídos compensa o impacto ambiental na unidade de conservação? E o impacto na vizinhança, foi avaliado? A própria estrutura de transporte para o topo comporta o impacto do público?”, questionou o movimento contrário a obra. Eles criaram um grupo chamado Pão de Açúcar Sem Tirolesa também se colocam contra o projeto de reforma das estruturas do cume.

Comparação de como era a estrutura em 2014 e como ficará após a revitalização apresentada pelo movimento contrário as intervenções.

Após algumas perfurações no começo desse mês, um ofício da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima (Smac) determinou que parte da obra fosse paralisada até que seja obtido um nada a opor da Geo-Rio. No entanto, a prefeitura informou que, do ponto de vista urbanístico, as obras estão de acordo com os parâmetros do município. Assim, as obras de implantação da tirolesa continuam.

Posição da Femerj e da ACTA

A Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ) faz parte do conselho consultivo do Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca (MoNa Pão de Açúcar) e participou do processo de aprovação da obra. Ela realizou algumas consideração sobre a tirolesa.

Segundo nota de esclarecimento, instituição é a favor da preservação da integridade de ambientes naturais. “Locais de aventura devam ser deixados tão livres e naturais quanto possível, de forma que não tire a oportunidade das gerações futuras encontrarem suas aventuras nesse limitado recurso que são as montanhas”.

Todavia, como o Pão de Açúcar e o Morro da Urca já são cumes já fortemente antropizados (com intervenções humanas), a FEMERJ não se opõem ao projeto da tirolesa. Contudo, a instituição pede que sejam observados alguns pontos para evitar ou mitigar impactos com a nova atração.

:: Leia aqui as considerações feitas pela FEMERJ na integra.

Esses pontos vão desde manter a integridade da rocha durante a instalação, considerar o impacto visual, até a proteção das vias de escalada e trilhas para que não sejam interditadas nem afetem a fauna e flora local durante a obra. Também há recomendações especificas para a tirolesa em funcionamento que abrange a questão de segurança como a redução de ruídos e a gritaria do publico da nova atração. Já o aumento na produção de lixo, o aumento no fluxo de carros, entre outros, deve ser mitigado tanto durante a obra como na fase de operação.

Fabio Nascimento, Presidente da Associação Carioca de Turismo de Aventura (ACTA) também não vê problemas com a nova atração.  Ele destacou em uma publicação que “os impactos ambientais serão mitigados e compensados”. Para ele, a nova atração irá gerar empregos em renda para a comunidade local e pode melhor inclusive a relação entre os visitantes e a proteção ao meio ambiente. “Há no projeto um plano de comunicação para apresentar aos visitantes informações de Educação Ambiental e do MoNA (Monumento Natural), não só os que vão pelo Bondinho, mas também os que utilizam a UC pela Pista Claudio Coutinho e Trilha do Morro da Urca (áreas já adotadas pela empresa)”, escreveu ele.

 

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

6 Comentários

  1. Ao que parece, o projeto da tirolesa é bem menos preocupante que o da reforma das estruturas do cume que, aliás, nem parece uma reforma mas sim a construção de uma nova e impactante mega-estrutura no local.

  2. Paloma yamagata em

    Olá pessoal, bom dia.
    Acho q cabe alguns esclarecimentos e também citar algumas informações que só vieram à tona após a publicação desta matéria.
    1. Acredito que ninguém seja contra a revitalização das instalações existentes hj nos 3 morros (pão de açúcar, morro da urca e babilônia). Existe uma gde diferença entre revitalização e expansão (seja em área construída e/ou novas atividades/atrações)
    2. A própria FEMERJ emitiu um parecer em
    Mar/23 mudando a sua posição ref a multitirolesa baseado em cartas dos clubes q integram a federação
    3. Diferente do q fala a CCAPA (vulgo parque do bondinho) não houve uma ampla consulta a sociedade civil, ou se houve foi muito mal feita pois muita gente ou não sabia do projeto ou foi apresentado inicialmente a um projeto “inonfensivo.
    4. O movimento @paodeacucarsemtirolesa não se restringe a montanhistas e moradores da urca mas conta com uma lista de entidades, nacionais e internacionais, que já se posicionaram formalmente contra o projeto pelos mais diversos motivos. Cito alguns abaixo:
    ICOMOS BRASIL
    FAM-RIO
    AMOUR
    REVOVA URCA
    FEEMERJ
    SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESPEOLOGIA
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ARQUITETOS E PAISAGISTAS
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E MINEIRO
    CARTA DE OURO PRETO PARA A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DO PATRIMÔNIO CULTURAL
    SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA
    5. As licenças foram emitidas em mai/jun22 porém em momento algum nos processos de licenciamento há menção ao desmonte em rocha (158,9m3 segundo relatórios da própria CCAPA) somente admitido em mar/23. Desta forma entendo q o IPHAN não só analisou o projeto de forma equivocada (levando em consideração apenas a interferência na paisagem e não ref a mutilação do bem tombado contrariando o decreto lei nº 25 de 1937) assim como todo o processo de licenciamento deveria ser revisto a partir do momento q existem novas informações.
    Finalizo com uma frase do Claudio Prado de Mello (arqueólogo e ex presidente do INEPAC) “o q preocupa é uma paisagem tombada ser adulterada apenas para fins financeiros e promocionais”.

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