As 9hrs estacionamos sem nenhum problema no Largo Mendes, simpática pracinha da pacata e tranqüila São Roque, onde fizemos os últimos ajustes de nossas mochilas de ataque. A partir dali eu, Vivi e Fabio começamos já a caminhar rumo nosso destino, distante algo de 10km dali, afim de aproveitar a manhã fresca e q prometia um dia estupidamente quente e ensolarado logo a seguir. Já havia feito essa pernada uns 5 anos atrás mas estava curioso em saber das condições da trilha além de explorar alguns detalhes q passaram desapercebidos naquela outra ocasião.
Tomamos a Av. John Kennedy indo pro norte, e logo a seguir a Av. Antonio Dias onde , logo ganhamos a Av. Brasil, sempre acompanhando o emplacamento sentido “Rodovia Castelo Branco”. Como São Roque ta localizada no fundo de um vale, a partir daqui ainda não há contato visual com o Saboó, daí a necessidade de ganhar o asfalto afim de alcançar o pico.
Uma vez na estrada e ir deixando a cidade aos poucos lá atrás, a pernada torna-se bem entediante e sacal com muitas subidas e descidas pelo asfalto. Contudo, a meio-caminho já somos brindados com o vislumbre do morro à noroeste, um domo arredondado q se esparrama em cristas menores p/ sudoeste e lembra muito um animal em repouso. O destaque deste trecho asfaltado foi a qtidade enorme de bichos mortos a beira de estrada, desde morcegos, urubus e gambás! Mas 4km depois tomamos uma estrada à esquerda, as 10hrs, sinalizada por “Bairro Saboó” e dali em diante não tem mais erro. Pra minha surpresa atualmente a estrada esta asfaltada, à diferença da vez anterior, onde comi poeira jogada pelos veículos q la transitavam ate não poder mais.
Descemos um vale agraciados pela sombra fresca de pinheiros e eucaliptos ate alcançar um cruzamento marcado por um totem da SAS (Sociedade Amigos do Saboó) q nos indica seguir pela esquerda, cruzando uma ponte onde marulham as águas q nominam a serra, o largo e manso Córrego do Ribeirão. Mas se ate então tínhamos o privilegio de sombra fresca, agora a pernada endurecia numa íngreme piramba totalmente desprovida de vegetação, e o sol e calor fortes já começavam a fazer escorrer muito suor em nossos rostos.
Após passar por um clube de aeromodelismo e um novo totem da SAS, sempre serpenteando ora o alto ou encosta de morros desnudos, eis q as 11hrs damos no Bairro Saboó, com um sol desgraçado fritando nossos miolos! Claro q não nos fizemos de rogados e estacionamos brevemente num boteco local pra molhar a goela antes de dar continuidade a pernada. Nos demos o luxo de mandar ver um refri e uma breja Prost(!?), mas apenas uma pra não correr o risco de permanecer ali pelo resto do dia.
Deixamos o bar ainda pela estrada principal, passamos algumas casas esparsas, uma igreja, um segundo bar e uma escola, já atentos ás ruas transversais à esquerda q vão de encontro á base do pico, cada vez mais próximo. É ai q deixamos a estrada principal pra tomar a Rua Amora e por ela seguir ate o final, subindo suavemente em meio à sombra fresca. Poderíamos tb ter continuado pela estrada principal q daríamos no estacionamento ao pé-do-morro, mas isso nos custaria uma volta sacal e enorme q preferimos dispensar.
Chegando no final da rua e quase na base do morro, q agora apresenta-se como um triângulo agudo, em frente á penúltima casa vemos claramente um trilho subindo o capinzal da encosta da montanha. Uma vez nele basta acompanha-lo ate o fim, ignorando as bifurcações menos batidas. Bordejando desimpedidamente em suave ascensão a face noroeste do morro, serpenteamos no aberto em meio á ressequidas samambaias, baixos arbustos e muito capim. O sol e calor novamente se fazem sentir quase q emanando do solo. Não corre brisa alguma o q intensifica o desgaste físico, e varias paradas são feitas nos escassos trechos sombreados por precárias e mirradas arvores. No caminho topamos com um casal de crentes e a Vivi recebeu extraordinariamente uma benção pra se livrar da “amarração” q o evangélico alegou “sentir” nela. Agora a Vivi pode conquistar sem receios td gloria e vitoria sem ameaça de olho gordo.
Mas não tardou a chegarmos a base oficial da montanha, onde havia um rústico quiosque improvisado onde mandamos ver mais uns refrescos. Adiando o inevitável começamos a subida de fato do morro sob sol inclemente, q naquele horário estava à pino. No entanto, apesar de desgastante, a subida do pico é curta e leva menos de 1hr, o desnível não ultrapassa os 200m. A trilha é obvia, feita por um carreiro largo, ora erodido ora pedregoso, q sobe aos ziguezagues a encosta menos íngreme da serra, por sua vez bem árida e exposta, à diferença dos verdejantes vales dali. Daí o nome Saboó, q em tupi significa “Morro Pelado”.
Após subir a encosta e ganhar o selado da crista principal, segue-se o ultimo trecho íngreme feito de pedregulhos soltos ate q finalmente damos nos 1000m exatos do amplo cume do morro, as 12:10, onde a confortável cobertura de capim apresenta tristemente restos de visitantes anteriores, ou seja, lixo e fogueiras. Nos presenteamos com um merecido descanso (com direito ate a breve cochilo!) acompanhado de lanche, ao mesmo tempo em q apreciávamos a bela panorâmica da região, com vistas de Mairinque, Ibiúna e parte de S. Roque. Assim como da vez anterior no cume havia dois crentes ajoelhados orando. É incrível como esta montanha em particular virou alvo de evangélicos em busca de bênçãos. Mais tarde soubemos , q eles consideram o Saboó “mágico”. Então tá.
Bem, mas aqui td mundo vem e é lugar comum. Vamos à travessia! Avaliando a topografia q se apresenta à nossa frente, estudamos a melhor forma de retornar pelo sul, evitando maiores desníveis, abismos e vales extensos. Assim, as 13hrs descemos ate o 1º colo (sudoeste), pra depois atingir o selado gramado da base da crista oeste da mesma serra. Engraçado q este aqui é um lugar mto interessante, bonito e desprovidos de sujeira p/ acampar, só não dispondo de água. Dali vamos ganhando altitude em ardilosos ziguezagues o morrote de quartzito e continuar rumo sudoeste, subindo e descendo a crista desimpedidamente.
Não há trilha óbvia, mas o sentido é obvio e o pouco mato rasteiro q há não oferece maiores dificuldades. Infelizmente há vestígios evidentes de queimadas recentes por td morro e serra do entorno, empobrecendo uma paisagem q noutras circunstâncias seria mto mais deslumbrante. Desnecessário tb dizer q passar por estes trechos de mata calcinada nos deixou totalmente pretos de fuligem.
Chegando enfim no ultimo morrote da crista notamos q suas faces sul/sudoeste/sudeste terminam abruptamente, mas voltando um pouco p/ norte é possível descer c/ menos declividade ate uma trilha logo abaixo, ao pé do morro, visível daqui e q vai no sentido desejado. Descemos cautelosamente em ziguezagues – de modo a não escorregar pela terra e pedregulhos secos – ate alcançar a tal trilha, passando a bordejar a base do morro ate q caímos novamente na continuidade da crista da serra, agora mais abaixo onde ela apresenta-se mais larga e abaulada.
Fixamos novamente uma trilha (ou caminho, ao sul) q temos q alcançar e q era visivel do Saboó. Deixamos a trilha q palmilhamos (q se perde p/ oeste na mata) e continuamos por um descampado de capim queimado ate o fim, cada vez mais próximo da trilha avistada, q agora está na encosta oposta a nossa frente, separada apenas de um vale fundo e verdejante. Pois bem, avaliamos a melhor forma de cruzá-lo e começamos a varar-mato, desescalaminhando a parte menos inclinada, aos poucos, o capim-gordura seco nos cobre totalmente obrigando a abrir caminho na raça! No fundo do vale somos brindados com um bucólico riozinho cujo bem-vindo marulhar ouvíamos de longe e naquele horário soava como musica a nossos ouvidos. Como o calor e sol das 14hrs estavam de chapar côco, nos brindamos um belo tchibum num poção q coroava este belo remanso escondido do Saboó, onde tivemos mais um merecido pit-stop.
Refeitos e devidamente revigorados, meia hora depois ganhamos fôlego suficiente pra subir a encosta oposta e, estudando o trecho menos pirambeiro, escalaminhamos o morro sem gde deficuldade ate logo emergir no aberto, bem mais acima. Andando pelo capinzal temos uma nova vista da Serra do Ribeirão, agora vista do extremo sul, e onde alcançamos a picada anteriormente avistada. Atravessando um pinheiral ganhamos altitude ate desembocar outra vez no alto da serra, agora numa picada maior e obvia q a percorre sentido sudoeste. Se fosse um grupo maior ou horário avançado, acamparia por aqui, o topo desta larga crista é repleto de capim fofo e protegido por belos pinheiros perfilados.
Aqui não tem mto erro pois a navegação é visual e basta tomar qq picada/estrada rumos São Roque, perfeitamente visível à sudeste. Assim, após um tempo acompanhando a crista sentido sudoeste, cruzamos um vasto pinheiral q dá , noutra estrada onde tomamos à esquerda, pois a da direita seguia em meio a mata p/ oeste. Agora perdemos altitude em longos e demorados ziguezagues q nos levam a outro vale, cuja vegetação densa e exuberante contrasta com a do Saboó. No fundo deste, atravesso rústica ponte e uma pequena e simpatica represa sobre o Ribeirão Monjolinho, onde nos brindamos com mais um descanso, as 15:30hrs! O local é cênico: um enorme piscinão represado, cercado de um belo gramado cujo ribeirão após a barragem serpenteia em meio à floresta repleto de plácidos remansos e principalmente poços e piscinões à montante! Destaque pro ótimo lugar pra acampar, cercado de arbustos forrados de amoras e morangos silvestres!
Retomamos a pernada desta vez subindo suavemente o vale pela verdejante encosta oposta ate dar numa trifurcação. Como aqui não há visibilidade de S. Roque, o jeito é se orientar c/ bússola e tomar a estrada q siga p/ sudeste ou q suba ao topo afim de poder saber q rumo tomar, ou seja, tomamos a da esquerda, q logo se torna uma picada em meio a um denso e espesso samambaial. No alto da serra novamente, andamos um bom tempo em nível ate dar noutra poeirenta estrada de terra, q me leva p/ sudoeste (direita). Felizmente aqui há uma casa c/ locais, q nos dão infos preciosas: seguindo a estrada iria dar em Mairinque! Mas do lado da mesma casa havia uma aceiro (e uma trilha) q acompanhava uma linha de alta tensão sentido São Roque! Ótimo!
Descemos então outro verdejante e úmido vale, sempre acompanhando as linhas de alta tensão, p/ subi-lo seguida em meio a voçorocas de carrapichos e lírios-do-brejo q bordejam trechos alternados de terra seca, lama e brejo. Emergindo da mata fechada segue uma piramba íngreme ate q finalmente desembocamos numa estrada de terra mais movimentada, a Estrada do Condor, na frente do Sitio do Sossego. Seguindo agora p/ esquerda (sudeste) e c/ a cidade visível já não tinha mais erro, bastou descer e subir sinuosamente morros menores, beirando sítios, já dentro dos limites do bairro do Guaçu. Olhando pro norte temos o ultimo vislumbre as Serra do Ribeirão, cuja silhueta abaulada e de graciosos contornos se destaca na iluminação daquele final de tarde, ainda q maculada por fumaça oriunda de queimadas.
Após um ultimo trecho sacal de estradas de terra finalmente damos no asfalto, já quase na entrada da cidade, as 17hrs. Refazendo td caminho do inicio, antes de partir estacionamos num boteco onde bebemoramos a empreitada, retiramos as botas pros nossos pés respirarem e constatamos minúsculos carrapatos agarrados ao corpo, pra desespero da Vivi. Mandamos ver mais uns salgados e até um dogão, pra somente zarpar dali um pouco depois q escureceu. Claro q voltei pra paulicéia no mundo dos sonhos, torcendo pra q as coceiras dos carrapatos não passasse de mero fruto do meu subconsciente.
O Saboó é daqueles morrotes próximos q sempre se ouve falar mas nunca se dispõe a encarar, afinal, no intimo de cada montanhista, morros parecem ter um status inferior ao de , uma montanha maior. Contudo, como “quem não tem cão caça com gato”, o Saboó não deixa de ser uma simpática montanha q pode ser uma boa opção próxima à urbe, seja ela feita de carro ou a pé, pra um programa p/ uma manha ou tarde ensolarada. Ou até pra uma empreitada maior, c/ pernoite ou não, num final de semana de tempo bom c/ céu estrelado. Assim, além da tradicional e curta de trilha de fácil acesso, o Saboó proporciona tb uma travessia doméstica p/ quem se dispõe a explorar cristas e vales desta pouco conhecida mas igualmente interessante Serra do Ribeirão.
Texto e Fotos: Jorge Soto
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