Desde que este bichinho me mordeu, ou seja, desde o primeiro relato aqui deste blog (após minha visita ao Parque Nacional Picos de Europa, na Espanha) sempre estou pensando em lugares novos para visitar, em busca de paisagens inóspitas, do isolamento, como também, em busca de um teste físico para meu corpo. Há tempos que, quando penso em viajar, já não passa pela cabeça ir a determinadas cidades, quando penso em viajar, isso significa a qual montanha ou parque nacional irei subir ou visitar.
Tudo começou em 2013 durante minha visita ao Parque Nacional do Itatiaia. Na portaria da parte alta do PNI, avista-se uma imponente cadeia de montanhas ao outro lado. Perguntei para o guarda da portaria “Que lugar é aquele?”. “É Serra Fina”, me respondeu. Com o passar do tempo, meu plano imediato na verdade, era fazer a travessia Petrópolis x Teresópolis. Havia inclusive definido uma data com uns amigos para realizar esta empreitada, mas o projeto desandou. Depois disso, num belo dia, me informo que o pessoal da agência Gente de Montanha anuncia uma saída para a Travessia da Serra Fina. Fiquei olhando para aquele anúncio, e rapidamente percebi que era a oportunidade que precisava para ganhar experiência em uma expedição mais desafiadora. Conhecida como a mais difícil do Brasil, a Serra Fina é, para usar uma expressão que escutei de um mineiro que encontrei em Passa Quatro, (cidade onde começa o trajeto), “está para testar o caboclo”. Ou, usando outra expressão, que escutei de nosso guia Pedro Hauck, da Gente de Montanha, “lugar onde a criança chora e a mãe não ouve”. É até oportuno citar o Pedro aqui, pois essa expressão na verdade, ele usou para descrever certas trilhas que ele e Jurandir, (outro guia) realizaram nas montanhas do Paraná. Pedro rebate a fama da Serra Fina como a travessia mais difícil do Brasil. Segundo ele, há inúmeras outras mais difíceis que esta, porém, desconhecidas. Não duvido nem um pouco. Até porque, a viagem que irei relatar agora é a de alguém que enfrentou o tremendo desafio da Serra Fina, mas que ao mesmo tempo, considerando minha pouca experiência, acredito que a realizei sem muitas dificuldades. Digo isto sem me gabar, ou seja, foi difícil? Claro que foi! Mas honestamente, pensava que ia ser mais. E digo isto também, com a consciência de que claro, o serviço dos guias foi vital para meu sucesso e meu conforto. Inclusive, sem eles, devo dizer que não haveria menor chance de realizar a travessia, e caso a fizesse sem seu suporte, e se caso a completasse, certamente iria passar por angustias traumáticas, das quais seus trabalhos me pouparam.
Saí do Rio de Janeiro com destino a Passa Quatro, Minas Gerais. Mesmo sentido de Itatiaia, portanto, já conhecia o caminho. Num dado momento, saio da auto-estrada, na saída 34 que nos leva a Cruzeiro. Até aqui, estava ainda incerto sobre o que me esperaria. No carro, não escutava música sequer, ia apenas guiando o veículo com uma sensação duvidosa sobre se estava realmente preparado para isso. Meus amigos de trilha aqui no Rio, a Lucélia e o Norivaldo, indiretamente, diziam que eu estava sendo ambicioso demais, de que nossas humildes subidas à Pedra da Gávea já nos bastava por um momento. Além deles, na estrada, me lembrava também que o próprio guia da agência, Bruno Poumayrac, antes de confirmar meu lugar no grupo, me disse que era preferível alguém com mais experiência. Tomei isto quase como uma questão pessoal hehe! Embora eu tenha que entender que para ele eu era um completo desconhecido, e que também, para o sucesso de seu trabalho, deve-se levar em conta a experiência de cada cliente seu. Mas beleza, essas incertezas terminaram num determinado momento quando na rodovia sentido Passa Quatro, avista-se de repente a imponente Serra Fina, enorme! Gritei “uhuuu!”, enquanto meu carro cruzava a estrada em direção as montanhas. O sol brilhava intensamente, as cores da paisagem me animaram de tal maneira que finalmente subi o som do carro ao máximo, e aleatoriamente tocava uma música a qual nunca havia prestado atenção, mas desde aquele momento ficou gravada na minha mente como uma espécie de trilha sonora da viagem, me lembrei dela algumas vezes durante a travessia: se chamava “Red Thing Called Love”, de um grupo chamado Loopless. ? ? ?Kiss me tenderly? ? ?, subia a música, bem antes do refrão, seguido por ? ? ?the way you want me to kiss you too? ? ?. A música não tinha nenhuma relação com montanhas ou viagens. ? ? ?hold me in your arms, the way you want me to hold you? ? ?. Mas mesmo assim, me transmitiu uma sensação de confiança vendo a Serra à minha frente, e me senti como abençoado ou permitido por ela. ? ? ?Love me in the way, you want me to love you? ? ?. Era como se minha amante não fosse um ser, mas uma entidade abstrata, que agora me permitia seguir meu destino. ? ? ?Sweet love, love me? ? ?.
Finalmente cheguei a Passa Quatro, e como o previsto em meu último post neste blog, fui o primeiro do grupo. Eram umas 15h, e fui muito bem recebido pela dona Doca no Hostel Harpia, no centro da cidade. Deixei minhas coisas ali, e fui dar uma volta neste agradável município. Descobri uma excelente loja de material de montanha, que vendia artículos de marcas importadas que nem no Rio de Janeiro se encontram. Depois disso, não resisti a uma mania que tenho de cortar o cabelo em barbeiros do interior. Até hoje meus amigos me zoam quando entrei numa barbearia de Matias Barbosa e pedi um corte igual ao do Forest Gump. Desta vez fiz algo mais discreto, e não lancei nenhuma moda! Voltei para o hostel e via a chegada de outros grupos. Conheci um camarada de Roraima que veio de Boa Vista só para a travessia. Fomos jantar num japonês ali perto, cujo o serviço nos decepcionou pelo preço cobrado. Voltamos para hostel. Mais gente chegando. Não havia muito o que fazer. Fui para minha cama umas 21h e cochilei. Era umas 23h00 quando me levantei e fui fora fumar, e encontrei com dois porteadores de uma agência local chamada “Andar”, eles me impressionaram muito. Estavam se preparando para iniciar a travessia durante a noite, muito, mas muito carregados mesmo, afim de montar o acampamento para seus clientes antes de qualquer outro grupo, e assegurar os melhores lugares no primeiro pernoite da travessia. Por volta da 00h30, o grupo da Gente de Montanha chegou. Reconheci o Maximo Kausch que entrou rapidamente para inspecionar o quarto, nos cumprimentamos e voltei a dormir. Logo entraram todos os outros e em pouco tempo, todos a dormir. Eram umas 5h00 quando Maximo e Pedro nos acordaram para a partida. Bruno estava em cima do meu beliche. “Você é o Roberto?”, me perguntou. “Prazer”. Tomei meu banho antes de sair, separei o essencial na
mochila: roupas de frio, saco de dormir, isolante térmico, meias, meu prato e meu copo, barraca, bastão de caminhada, etc. Bruno é o responsável pela logística, e ia nos chamando para conferir o material que cada um levava, e logo dividimos o peso da comida entre todos. Mesmo minha
mochila pesando aproximadamente 15kg, fiquei impressionado com o peso que os guias carregam nas suas, é quase injusto, mas, são os ossos de seu ofício. Por volta das 7h00 nossa van nos aguardava na porta do hostel, e partimos rumo ao acesso da trilha, por uma estrada de terra. Chegando lá, uma subida de leve pra começar, que nos leva até um poço d´água, um local chamado “toca do lobo”, onde nos abastecemos, sempre lembrando que a travessia da Serra Fina é conhecida também pelos poucos pontos de acesso à água, o que corresponde a cada um, carregar no mínimo 3 litros. A próxima fonte estaria a umas 4 horas dali, depois, só haveria água no dia seguinte, próximo à Pedra da Mina, na nascente do Rio Claro. Pois bem, começamos a subida rumo ao pico do Capim Amarelo. A trilha inicial é uma subida razoável de 1h30 mais ou menos, que nos leva até um platô de onde podíamos avistar o tal Capim Amarelo. Rápida parada para um descanso. Como quem não quer nada perguntei, não lembro a quem, ” Nós vamos subir até ali?”, após a resposta positiva, fiquei calado.
Já dava uma ideia do que seria a travessia, ou seja, a progressão em um terreno de grande desnível, pela crista da serra, um eterno sobe e desce, corriqueiramente num mato fechado por onde nossas mochilas se enroscavam, o que me irritava muito! Acho que 70% da travessia se dá num mato repleto de pequenos bambus, os quais muitas vezes dificultam nossa passagem. Os outros 30% são o alívio de caminhar numa vegetação de altitude, que na Serra Fina predomina uma espécie de capim, de vários tamanhos na verdade, de cor amarelada, chamado ali de capim elefante. O solo, muitas vezes é úmido, ou quase lama, e várias vezes escorregamos, sobretudo em grandes inclinações. A subida ao Capim Amarelo foi nosso primeiro teste. Nesta acensão, era comum progredir por trechos de escalaminhada, e encontrar cordas fixas por ali. Chegamos ao Capim Amarelo e, inicialmente nosso objetivo era pernoitar neste local. Entretanto, devido a quantidade de pessoas que já estavam acampadas, nossa única opção foi seguir em frente, encarando um declive, o qual achei muito complicado de fazer, muito pelo desgaste da acensão até o Capim Amarelo; e também, por ser o primeiro dia, estávamos como que frios ainda. Neste declive, meu joelho já me perguntava quando iríamos chegar. Ao término do descenso do Capim Amarelo, haveria outra subida para encarar, portanto, depois disso, logicamente, haveria que descer de novo! Feito isto, agora faltava um pouco mais para chegar ao acampamento de nosso destino, que se chamava “Maracanã”. Antes, passamos por um acampamento, também lotado, chamado “Avançado”.
Seguimos pela encosta da montanha até chegar ao “Maracanã”, onde já havia também muitas pessoas acampadas. Fui recebido por um camarada logo na “entrada”. Eu estava com fome e puto da vida por certos trechos do caminho que nos levava até ali, pela dificuldade de avançar pelo mato, pelo cansaço e pela fome. Falei isso resumidamente a este camarada, e sua resposta foi “é cara, eu já havia prometido pra mim mesmo que nunca mais voltaria a fazer a Serra Fina, e olha onde estou agora!”. Fui ao encontro de meus colegas ao fundo do acampamento pensado que isso, provavelmente iria acontecer comigo também. Chegando lá, as barracas do grupo já haviam sido montadas pelo Pedro e Jurandir, faltava só a minha, que era individual e eu a carregava nas costas. Enquanto montava minha barraca, Maria, a namorada do Pedro, preparava o jantar junto com Maximo. A noite caiu, e comemos um delicioso risoto ao funggi. Começou então a sessão de piadas do Bruno, uma espécie de stand up pessoal que se repetiu todas as noites seguintes. Dávamos muitas gargalhadas com ele. Nos relaxava. Era um ponto alto da viagem estar com alguém tão divertido. Era umas 20h00 quando fomos dormir, na verdade, desabar em nossas barracas. No dia seguinte teria mais!
Acordamos por voltas das 6h00, desmontamos o acampamento. Tomamos nosso café da manhã, que consistia em tapiocas com requeijão, queijo e mel, bolos e café. Neste momento, um dos nossos colegas de grupo anuncia sua desistência. Quando surge uma situação como esta, Bruno já estava preparado, e fez um contato com alguém associado a sua empresa para levar o cliente de volta . Na verdade, depois deste ponto, já não há como desistir. Iniciamos o trajeto rumo à Pedra da Mina, um dos cartões postais da viagem, e ponto da próxima coleta de água. A trilha começa contornado a montanha pela encosta até chegar a um trecho de escalaminhada, de onde há uma impressionante vista ao Capim Amarelo, dando-nos perfeitamente o panorama do tortuoso declive percorrido no dia anterior. Era quase inacreditável que havíamos feito este percurso. Pouco depois deste trecho de escalaminhada, caminhamos pela crista da serra, para logo avistar a impressionante Pedra da Mina. Antes dela, há um lindo vale, com vegetação mais rasteira (para minha alegria). Com esta vista eu estava realmente motivado e feliz por estar ali, já andava inclusive junto ao pelotão da frente. Seguimos o declive até chegar ao vale onde paramos para almoçar e coletar água na nascente do Rio Claro. Comemos sanduíches no pão sírio com atum e cenoura ralada. Doce de leite de sobremesa. Passamos ali mais de 1 hora acho, e dando gargalhadas com Bruno contanto suas histórias de quando era barman num bar de São Paulo, chamado Sky.
Após o lanche, colocamos a mochila nas costas, e seguimos para o ataque ao cume da Pedra da Mina. Maximo consultou seu GPS e calculou o desnível, me disse que em 40 minutos estaríamos lá. Nessa hora eu era o último do grupo, pois caminhava no modo japonês, fotografando compulsivamente todos os ângulos que podia. No dia seguinte estaria algo arrependido, pois a bateria da câmera iria acabar! Entretanto fiz belas fotos nessa subida. Chegando ao cume todos nos saudamos, e consegui um cigarro! Havia decidido não levar fumo comigo, mas este cigarro estava muito bom! Tiramos as fotos oficiais da conquista do cume da Pedra da Mina, 2798m, quinta montanha mais alta do Brasil. Pouco depois iniciamos a decida para outro vale do outro lado do cume, onde iríamos passar a noite. Linda vista. Eu estava muito feliz, me sentia ótimo, este segundo dia era o que realmente esperava da travessia. Nesta decida ia conversando com Maximo sobre suas experiências no Aconcágua, onde ele passa boa parte do ano, e me contava casos vividos nessa montanha. Falávamos também de livros sobre montanha, e sobre o potencial do Brasil, pouco explorado, em turismo de aventura; e da gestão burra dos parques nacionais brasileiros, que não permitem a ampla visitação, como no caso de Itatiaia, altamente restrito. Diga-se de passagem que a Serra Fina não está em nenhum parque, o que permite portanto o alto fluxo de pessoas. Se isto é bom ou ruim, não sei dizer. Desde já não é nítido nenhum impacto ambiental significativo. Por outro lado, posso estar de acordo quanto à uma organização melhor dos locais de acampamento, mas não é nada que tenha nos prejudicado. No término da decida da Pedra da Mina, chega-se a um vale bem encharcado. Pedro já nos havia alertado pelo rádio de Maximo sobre isso. E ali, pois, encharquei meus pés, e para piorar, eu estava vestindo dois dos 4 pares de meia que havia levado, sendo que um já estava sujo; ou seja, na metade da travessia eu tinha só um par de meia limpo e seco. A noite ia caindo e o frio chegando, e meus pés estavam molhados! Chegamos no acampamento, o ritual de sempre, armei minha barraca enquanto o jantar era preparado: macarrão! muito carboidrato! e de entrada umas linguiças fritas! Bruno mais uma vez, fez a todos rir muito, desta vez contando a história de como conquistou sua namorada Bárbara.
No dia seguinte, levantamos às 6h00 da manhã, mas antes de sair das barracas escutamos um grupo de porteadores passando ao nosso lado, provavelmente eram da agencia Andar, eles balbuciaram algo como gabando-se de estar saindo na nossa frente. Logo, no café demos risada desse suposto espírito competitivo. De nossa parte, já tínhamos uma rotina estabelecida: a de desmontar o acampamento e tomar café da manhã. Nesta manhã foi cogitada a ideia de fazer a travessia em três dias, ou seja, ir até o Itamonte naquela mesma jornada, mas isto foi logo deixado de lado. Estávamos tentando planejar um modo de chegar à Passa Quatro antes dos outros grupos, para não haver congestionamento no banho do hostel, e para não ficar muito tarde para grupo que voltaria à São Paulo, . Decidimos que faríamos neste dia, portanto, uma investida maior que nos outros, e passaríamos a noite em algum ponto bem próximo ao trecho final da travessia, isto é, na base do Cume Alto dos Ivos – 2520m. Ao mesmo tempo, resolvi o problema das minhas meias usando a limpa que me restava, e colocando a suja e seca por cima dela para enfrentar o dia. Não tive problemas de frio nos pés naquela noite. O dia amanheceu bem fechado, estávamos no meio de uma nuvem, que encobria todo o vale, e nossa visão não chegava a 20m à nossa frente. Partimos para a marcha do dia, com Pedro e Jurandir largando adiantados, como sempre. Não parava de me impressionar a capacidade desses dois andar tão rápido com todo aquele peso. A uns 200 metros do acampamento paramos à beira do riacho para nos abastecer de água. O lugar era estreito para acomodar a todos, e eu estava em último da fila. Como calculei que ainda tinha água o suficiente vindo do dia anterior, ou seja, uma garrafa de 1.5l e metade de minha bolsa hidratação, me calei quando Bruno perguntou se todos já haviam enchido seu estoque. Seguimos em frente, subindo mais uma encosta como de costume, no meio dos bambus finos e irritantes.
Conforme o dia avançava, a visibilidade continuava escassa, e assim permaneceu durante toda esta etapa, infelizmente; pois quando por alguns relapsos, a nuvem dava tréguas e uma pequena fresta de horizonte se abria, podíamos supor que estávamos rodeados de belas paisagens, compostas por montanhas rochosas que se abriam entre falhas enormes. Dava uma breve dimensão que o lugar deveria ser impressionante. Perguntei ao Bruno se estávamos realmente perdendo alguma vista fora de série, e sua resposta foi “sinto dizer que sim”. E era essa a sensação que tinha ao caminhar pela estreita cresta da Serra Fina. Era claro para mim, o fato de que em alguns trechos, a passagem era mais estreita que nos outros dias, e isso me deixava a imaginar o cenário pelo qual estava rodeado, mas que infelizmente não podia ver. Continuamos com os típicos sobes e desces da Serra, e logo percebi também que a investida mais longa na caminhada estava atrasando nosso almoço. Minha água na bolsa de hidratação havia terminado, e minha garrafa de 1.5 l estava dentro da mochila. Não podíamos parar, tudo bem. Numa escalaminhada no meio do bambusal, e nas dificuldades do passo no solo lamacento, vi que Francesc, um catalão que mora em São Paulo, talvez dividisse comigo um certo desconforto a mais nessa jornada. Disse a ele quase sussurrando “tengo hambre, tío”, e ele com a mesma sutileza disse “yo también”. Finalmente paramos para almoçar, e comi tudo o que podia. Nesta hora, era bom comer bastante, pois os guias também queriam tirar peso da mochila; podíamos comer quantas maças quiséssemos, havia fartura. Estávamos na base do Pico dos Três Estados, 2665m.
Meu ânimo e meu humor haviam melhorado consideravelmente depois da comida, e estava pronto para atacar a 11ª montanha mais alta do Brasil. A inclinação desta me havia impressionado. Alguns trechos eram bem íngremes, maior até mesmo que a da Pedra da Mina, e com o vento frio batendo forte e aquele som ecoando nos ouvidos, me dei conta que eu estava praticamente escalando uma montanha! Isso me deu prazer. Cheguei ao cume, e o resto do pessoal já estava lá. Dessa vez nem havia cumprimentado ninguém pela conquista, já era rotina estar em cumes, hehe. Consegui um cigarro de palha com o grupo da Andar, que me durou até depois do jantar! Ficamos no cume por menos de 30 minutos e iniciamos a decida, que não me pareceu tão acentuada como o da subida. Na verdade eu já estava até acostumado. Pouco mais abaixo fizemos um contorno na encosta de uma montanha, e de repente, mais uma escalaminhada, esta, a mais acentuada de todas. Eu costumava compará-las com a carrasqueira da Pedra da Gávea, mas acho que encontramos poucas deste nível, mas parecidas, haviam com certeza. Não houve maiores problemas. Seguimos para mais um declive, e, conforme avançávamos, íamos escutando uns estalos de bambus sendo quebrados. Acho que foi Bruno que me disse, era Pedro e Jurandir abrindo o terreno para o acampamento. Nesta decida, a mata foi fechando mais até que chegamos num bosque denso, repleto de árvores e bambus, de modo que quase não havia como ver o céu. Ali estavam Pedro e Jurandir montando nosso acampamento. Dei uma olhada no terreno e conversei com os guias sobre o lugar onde colocar minha barraca. Prontamente, Pedro, Jurandir e Fransesc me ajudaram a limpar a área, e pouco depois meu local estava pronto. O jantar da noite era arroz com legumes, feijão e frango desfiado. Mais um banquete! Comi muito bem. Nossa rotina seguia com Bruno e suas piadas, mas hoje pude conversar mais com Pedro, que é geógrafo também, e nos deu uma aula sobre como a paisagem brasileira, sobretudo no Paraná, foi alterada pela colonização. Me indicou também o livro “A Ferro e a Fogo”, de um brasilianista chamado Warren Dean, sobre a exploração dos bandeirantes. Antes de dormir, ficou combinado que acordaríamos às 4h00 e partiríamos nos mais tardar, às 5h00 para o trecho final, afim de executar o plano de chegar adiantados à Passa Quatro.
Em ponto, saímos para a última investida. A boa notícia foi dada por Pedro, que anunciou o bom tempo. Deveríamos portanto, ter vistas limpas no amanhecer. Com cada um portando sua lanterna na cabeça, iniciamos a subida do último cume a ser conquistados por nós: O Alto dos Ivos. Durante esta acensão, tivemos o privilégio de presenciar um espetacular amanhecer, agora sim, com a paisagem despejada, olhávamos para trás, e estava ali o imponente Três Estados, e mais várias outras montanhas que compunham a paisagem. Chegamos ao Altos dos Ivos por voltas das 6h15. Pouco depois, mais um privilégio, assistimos ao sol surgindo por trás do Parque Nacional do Itatiaia, e os contornos do Picos das Agulhas Negras, das Prateleiras e o Morro do Couto. Foi foda. Me lembrei do dia de 2013 em que eu estava do outro lado me perguntado, que lugar era aquele ao guarda do PNI. Maximo estava ao meu lado e me disse, “cara, já vi isso tantas vezes na minha vida, e nunca me canso” . Sua sinceridade ao dizer isso me impressionou, pois ele já presenciou amanheceres de lugares como montanhas de 8000m nos Himalaias, de 6000m nos Andes, de 5000m na Patagônia; e agora, nossa “humilde” Serra Fina ainda era capaz de impressioná-lo. Fiquei pensando nisso por alguns minutos, de como cada lugar e cada momento é único em si mesmo.Tiramos a foto oficial. Nesta altura eu já não tinha mais bateria, nem de câmera, nem de GPS. A da câmera, me doía mais, com certeza. Agradeci ao Maximo, ao Bruno ao Pedro e ao Jurandir pelo brilhante trabalho que fizeram.