Travessia das Fazendas 36 h – com bônus

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O roteiro era livre, o tempo disponível cerca de 36 h, com pontos de entrada e resgate na serra do Ibitiraquirê. Na travessia anterior da serra eu observara as péssimas condições do livro de cume do Taquaripoca. Decidi unir ao agradável de uma travessia das fazendas entre a Fazenda da Bolinha e a Fazenda Pico Paraná, a utilidade de contribuir com a guarda do livro antigo (talvez possível, após secagem) e a reposição do mesmo. Para a ousadia, não hesitei em convidar a Amanda Mascaro que organizara o rolê, em parceria com a Daniela Paz. Como a caminhada seria mais extensa que o “básico” que outros fariam, procuramos iniciar assim que possível, após passarmos pelos trâmites de ingresso e controle na Fazenda da Bolinha.

O início da aventura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Começamos a subir às 7 h. Apesar do dia ter nascido, na mata ainda estava escuro e iniciamos sob a luz das lanternas. Às 8h13 já havíamos deixado o trecho de mata e subíamos pela laje do Camapuã. Chegamos ao cume dele às 8h50 e após alguns registros descemos em 6 pouco ajuizados até o Camacuã… 5 de ataque e esse que voa escreve, de cargueira, já que a trilha do fim de semana também cumpria o papel de treino para trilha seguinte, mais longa…. na descida, segui um rastro mais batido à direita, e alcançamos uma região de lajes rochosas bastante inclinada. Passei por elas sem maiores transtornos, mas não era algo totalmente tranquilo. Descemos com cuidado, observando que havia marcas de passagem mais à esquerda (na verdade, uma trilha bem mais consolidada).

Alcançamos o primeiro platô e dele, agora no rastro mais batido seguimos para o seguinte, perdendo altitude relativamente rápido. Um rastro à esquerda, num trecho de maior inclinação e propício me fez supor a presença de água e sai da trilha principal para averiguar. A poucos metros, de sob uma rocha, um discretíssimo fluxo de água se acumulava em uma pequena poça antes de escorrer para o nível abaixo. Com o canudo que sempre levo, bebi até me fartar. Aproveitei para repor toda a minha reserva de água, na certeza de que, ao voltarmos, a poça estaria com o nível recuperado. Foi um alívio, pois o sol estava bastante intenso. Descemos mais alguns mineiros até alcançar o platô seguinte, denominado cume do Camacuã (9:30) minha impressão é de que seria na verdade um falso cume do Camapuã… mas não tenho tanta bagagem de geografia e geomorfologia para assegurar isso… de forma que “fizemos” mais um cume, rsrs. Eu, a Amanda, a Daniela, o Valter, o Rei e o Paulo fizemos uma parada rápida para apreciar a sombra e a tranquilidade daquele pequeno arvoredo no platô e iniciamos o retorno, mantendo uma velocidade bem razoável encosta acima. Na passagem, tratei de reabastecer novamente todo o inventário de água, filtrando a água para obter melhor qualidade, por ter-se turvado na coleta.

Vista do Camapua partir do Camacua – pontos coloridos sao meus companheiros.

Alcançamos o cume do Camapuã às 10h40, tendo consumido precisamente 1h30 entre ir e voltar do Camacuã. Instamos os amigos a seguirem, agora em direção ao Tucum, do qual alcançamos o cume às 11h25. Iniciamos a longa e técnica descida em direção ao Vale dos Perdidos, precedidos por um grupo que faria a ida até o Cerro Verde de ataque, e que tinha menor desenvoltura na superação dos lances verticais, resultando em pequeno congestionamento nas vias com cordas. Muito gentilmente, aos poucos e conforme os trechos permitiam foram dando passagem ao nosso grupo e logo descíamos com maior celeridade até o aprazível regato que corre no fundo do vale, onde o grupo decidiu por fazer uma pausa maior para lanche e descanso. Apesar de saber que aqueles “poucos minutos” se estenderiam um bocado, tínhamos tempo, mesmo que navegássemos à noite … e não nego que foi uma pausa agradável.

Aproveitamos para nos hidratar mais fortemente com sucos instantâneos. Enquanto descansávamos, nossos colegas de montanha, que fariam apenas o bate e volta ao Cerro Verde nos alcançaram e seguiram para o cume de destino. Alguns do nosso grupo haviam descido à nossa frente pareceram estranhamente felizes de se reunirem a nós. Talvez tenham tido alguma dificuldade na navegação ali, pois já caminhos que podem enganar, facilmente. Lanche feito, vestimos as cargueiras e retomamos a caminhada, agora em direção ao cruzo Cerro Verde X acesso Taquaripoca e Itapiroca.

Antes, ao sairmos da primeira matinha, passamos pelo cruzo para o Siririca, à nossa direita, que descartamos e continuamos a subir em direção ao Cerro Verde. No cruzo, eu e a Amanda deixamos as cargueiras e subimos de ataque até o cume, alcançado as 14h24 onde fizemos o registrando passagem, relatando nossa origem, destino próximo (Taquaripoca) e pretenção se acampamento, no Itapiroca. Como havia dois livros, um já completamente preenchido, recolhemos esse para entrega na Fazenda Pico Paraná.

Na descida, antes de recolher as cargueiras, o Rei e o Paulo, mais escolados, “sumiram”, certamente receosos de mais uma roubada extra, rsrs… talvez inocentes, a Fernanda e o Márcio manifestaram interesse de seguir com a gente no ataque ao Taquaripoca. Combinamos que nos aguardassem no cruzo entre o Cerro Verde, o Itapiroca e o Taquaripoca. Ao chegarmos, não encontrando ninguém, concluímos que haviam mudado de ideia, preferindo seguir direto para o acampamento. Saberíamos depois que erraram em alguma passagem, após esse cruzo, descendo mais que o necessário antes de começar a subir pela encosta do Itapiroca, buscando a crista.

Se os amigos fugiram da roubada, o quarteto de ouro não daria o vexame de fazer coro… eu, a Amanda, a Dani e o Valter tocamos em direção ao Taquaripoca, eles de ataque, eu de cargueira… o progresso foi rápido, por uma trilha menos batida, mas que as meninas à frente souberam rastrear lindamente.

Sem grandes dificuldades, alcançamos o cume do Taquaripoca às 15h40, recolhemos o segundo livro de cume dessa pernada e deixamos o novo livro de cume, com orientações básicas aos que nos sucederem quanto à guarda e função do livro, registro da nossa passada e um fraternal abraço aos trilheiros vindouros.

Ao centro, Amanda com o novo livro de cume, ao fundo, a “ligação alta” entre o Vale dos Perdidos e o Siririca (E)

Fizemos algumas fotos da impressionante parede vertical que separa o Cerro Verde do Taquaripoca e apreciamos a vista por alguns minutos, antes de iniciarmos o retorno ao cruzo, alcançado ainda antes das 17 h. Não sem antes, um descuido resultar na queda da minha perna direita numa fenda escondida pela macega do cume, ralando meu joelho, por sob a calça.

No cruzo, rapidamente nos paramentamos e tratamos de descer até o colo Cerro Verde – Itapiroca, buscando a encosta para a longa subida. Deixamos as lanternas de prontidão, pois sabíamos que, na mata, precisaríamos delas ainda antes que o dia findasse. Alcançando o pequeno ponto de água que há na subida do Itapiroca, fizemos uma parada mais longa para hidratarmo-nos bem e coletarmos a água para a subida, o jantar e a pernoite. A partir dali, subimos a passo tranquilo, apreciando a mata e as vistas do dia que findava, com direito a pequenas janelas para os morros vizinhos, conforme ganhávamos altitude.

Projetamos que chegaríamos ao cume 19:30 e ao acampamento às 20h… o erro foi pequeno, registramos a passagem no cume do Itapiroca às 19:20 e 20h, já estávamos com acampamento montado, preparando uma substancial e deliciosa janta coletiva que teve cuscuz doce e salgado, macarrão, nhoque (Valter), sopas, chás e doces.

Antes das 22 h eu estava recolhido na barraca, adequadamente abrigado dentro do saco de dormir. Dado trauma do impacto do joelho na pedra, quando na queda, pedi um tandrilax a Dani… por prevenção, tomei também cloridrato, prevenindo eventuais câimbras.

Dia 2

Acordei à 5 h e sai para aproveitar a vista das montanhas ainda sob a escuridão da lua crescente. Com a curta caminhada do dia, aproveitamos para fazer um café sem pressa, apreciar o nascer do sol e desmontar acampamento tranquilamente.

Graças à medicação meu joelho estava bem menos inchado que ao deitar na véspera. Mesmo assim, por prevenção, cortei da minha lista a subida ao Caratuva, procurando poupar o joelho para a semana seguinte. Começamos a descida às 9 h e mesmo poupando b a s t a n t e m e u joelho pouco antes do meio dia já estávamos na Fazenda Pico Paraná, devorando pastéis enquanto aguardávamos a vez para tomar um espetacular banho quente.

Entregamos os dois livros recuperados ao pessoal da fazenda, para que  fizessem a guarda. Às 15 h todos os colegas de viagem haviam retornado e seguimos de van para almoçar antes do retorno.

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