Não deu nem uma semana do meu primeiro reconhecimento á Serra do Voturuna q não me contive em voltar praqueles lados no domingo sgte. Entretanto, as condições desta nova investida foram totalmente diferentes daquela 1ª ocasião: ao invés das trocentas baldeações de transporte publico, agora fomos no conforto e rapidez dum veiculo particular; o tempo limpo, quente e transparente em nada se comparava á opacidade fria da semana passada; e desta vez tinha a cia do Clayton e da Lore, q se animaram em me acompanhar após terem visto as fotos daquela serra q sequer sabiam da existência. Pois é, nem eu sabia dela ate o fds passado, e devido ao tempo curto (e pouca regularidade de condução) me limitara ao reconhecimento somente do setor leste do Voturuna. Agora, com condições ideais, mataríamos o resto. Ou seja, o setor leste.
Dessa forma saímos cedinho de Sampa, tocamos pela Castelo Branco (SP-280) e bastou acompanhar a (ótima) sinalização pra Barueri e, na sequencia, Santana do Parnaiba. Lá chegamos bem antes do programado, pouco antes das 8hrs, e deixamos o veiculo em segurança numa das travessas próximas do terminal rodoviário. Com tempo de sobra passamos na padoca ao lado do terminal, onde tomamos um demorado desjejum. Mas no badalar das 8:45hrs nos pirulitamos pro terminal e embarcamos no buso “Suru (via Cururuacara)” q nos deixaria na boca da trilha de acesso a serra. Se perder este ônibus o outro so sai as 11hrs! Alem do mais, como faríamos uma curta travessia (não retornando pelo mesmo caminho), achamos melhor (logisticamente) deixar o carro em Santana do Parnaiba pra busca-lo depois, ao final da pernada.
A viagem de buso é rápida e após serpentear o casario colonial do bairro São Luis, deixamos Santana pra atrás enqto largas vistas se revelam no quadrante oeste. Vistas estas q logo descortinam a Serra do Voturuna, elevando-se elegantemente naquela direção. No caminho é preciso prestar atenção nas referencias pra desembarcar, e é bom já ir ficando de pé após passar pelo chique Condominio Voturuna. Saltamos então no pto de intersecção do asfalto com a Rua Nhambu, as 9:10hrs, onde tb tem como referencia um belo laguinho e uma placa escancarando “Rancho Tucson”.
Daqui em diante basta tocar pelo chão de terra batida da Rua Nhambu ate o final, sem erro. Primeiro na direção oeste pra depois começar a desviar, em suave aclive, pro norte. No caminho haverão algumas chácaras e sítios, alem de muitos ca~es q farao a gentileza de anunciar sua presença. Ao dar no alto duma morraria pelada já teremos uma bela vista da Serra do Voturuna, espichando-se a nossa frente em td quadrante norte. Dali a estrada desce tangenciando um campo de futebol pra depois tocar rumo o pé da serra de fato, onde a declividade aumenta um pouquinho arrancando as primeiras gotas de suor escorrendo pelo rosto.
Após a última chácara a tal Rua Nhambu se estreita cada vez mais até findar numa clareira, de onde parte a trilha oficial. Pra minha surpresa aqui havia dois veículos estacionados, cujas placas (Jandira e Itapevi) denunciavam q não teríamos a serra somente pra nós e q a galera de Osasco conhece bem os atrativos do Voturuna. Mergulhamos então no frescor da mata fechada, as 9:50hrs, indo em direção duma dobra serrana, no meio dum vale cavado ladeando a encosta serrana. A caminhada é agradavel e em nível, e os sons da mata inundam o os ouvidos, assim como o de um correguinho marulhando a nossa esquerda. Pela proximidade da rua Nahmbu, desta vez havia sinais duma “prática religiosa” no caminho, nome politicamente correto pra trabalho, macumba ou despacho, embora a sujeira deixada pelos mesmos seja totalmente incorreta.
As 10hrs chegamos na simpática Cachu Voturuna, onde ficamos o suficiente pra clicar a agua despencando duma altura superior a 20m, em vários niveis e patamares rochosos. Mas o descanso é breve pq, se a trilha ate a cachu era sussa e nivelada, agora nossa rota embicava pro alto e forte de vez. Da cachu basta retroceder um pouco q logo se avista uma picada subindo a íngreme encosta. Diferente da vez anterior, agora havia fitas plásticas marcando a trilha, q não tem erro nenhum qto a navegação. De qq forma, basta seguir as captações de água no trajeto. Sem segredo. E tome piramba pra cima! Escalaminhada atraves de degraus rochosos, de terra e por raizes expostas, se firmando no arvoredo, pedras e galhos em volta. Uma subida q lembra muito a do Pico Itaguacira, nas bandas de Paranapiacaba.
Atingimos o alto da serra por volta das 11hrs onde uma coisa já me chamou a atenção: queimadas haviam removido boa parte do samambaial seco do ultimo trecho íngreme da ascenção. Outra coisa q chamou a atenção era a presença dum quarteto de jovens acampados na clareira gramada q domina este inicio de topo serrano. E não era pra menos, com água pura correndo e um aprazível poço bem do lado o lugar é um achado nestas bandas. Conversando rapidamente com eles soubemos q eram os proprietários dos veículos no inicio da trilha; haviam chegado no final do dia anterior dispostos a curtir a lua cheia nas alturas. Perguntei se haviam tido problemas com carrapatos e responderam q não, pois as queimadas haviam sumido com quase todos. Pois bem, com sol martelando a pino na cachola, fizemos um breve pit-stop ali na cia daquela galerinha. Aproveitamos pra mordiscar um lanche e bebericar nossos cantis. O Clayton, por sua vez, não resistiu e caiu no pocinho, q serviu como legitima yakuzzi natureba!
Nos despedimos do povo acampado coisa de 15min após chegar e prosseguimos nossa pernada pelo alto da serra. Ao invés de tomar a picada q ia no sentido leste tocamos por outra, bem batida, q seguia pro norte, acompanhando por descampados o correguinho q abastecia a cachu (e o poço). Logo acima, no caminho, havia outra simpática clareirinha gramada pra acampar, porem mais exposta, e uma gde área enlameada q aparentava ter sido um antigo curral. Havia tb dois cavalinhos solitários pastando naquela desolação de campinas parcialmente chamuscadas pelo fogo. A pernada prossegue então tranqüila, desimpedia e em suave ascenção, começando a abandonar a nascente do correguinho ao mesmo tempo q bordeja as colinas sgtes, virando lentamente pra noroeste, sentido um bosque no alto da serra.
Mas a gente não atravessa o bosque e o contorna pela direita ate desembocar na beirada norte da serra, as 12hrs, mais precisamente no vértice dum enorme e fundo canionzão! O “V” formado pelas íngremes encostas q o cercam possibilita avistar, ao fundo, uma pequenina Pirapora do Bom Jesus ao lado do espelho dagua da Represa do Rasgão! Após muitos cliques bastou ladear a beirada do cânion sentido oeste, sem erro, uma vez q a trilha tava bem batida! Foi aqui q percebemos q as queimadas não haviam dado cabo totalmente dos maleditos carrapatos, pois achamos alguns indecentes passeando por nossas canelas!
Ao deixar o canionzao pra atrás, ganhamos a larga e ampla crista formada por vegetação rasteira e ressequida, sempre subindo suavemente. Aqui a trilha some e surge novamente logo adiante, mas não tem problema pq o sentido é um só: pra cima, ou seja, oeste! Olhando pro lado podíamos avistar espigões serranos menores (não mto íngremes) q derivavam do principal, caindo em tds as direções e q podem tb bem servir de acesso ao alto da serra.
E assim, finalmente, as 12:40hrs, pisamos no pto culminante da Serra do Voturuna, os 1270m do alto do Morro Negro. O topo é largo, tem um marco de concreto e é beeem exposto. Um sol implacável castigava nossas cacholas e nos obrigou a consumir td agua a tiracolo. Enqto o pessoal descansava eu identificava os acidentes q a majestuosa panorâmica de 360 graus revelava a nossa volta: a oeste estava o estreito espigão em declive pelo qual iríamos descer, os contornos da pequena Araçariguama e a verdejante Serra do Ribeirão; ao norte prevalecem os contornos escarpados e esmeraldas da Serra do Japi, Serra do Piraí e da pacata Cabreuva, logo atrás; ao sul descortina-se um panorama semi-urbano, com São Roque, Osasco e parte de Sampa dominando a horizontalidade desse quadrante; e finalmente a leste temos td trajeto percorrido, ou seja, a continuidade da Serra do Voturuna ate o Mirante (o outro Morro do Voturuna, pela carta), ao lado de Santana do Parnaiba.
A descida se deu pelo espigão suave q dá continuidade a estreita crista, rumo oeste, descendo lentamente atraves duma picada bem batida em meio a vegetação predominatmente rasteira. E assim fomos aos poucos perdendo altitude, eventualmente passando por selados de ligação contendo mato maior, porem pouca coisa. Durante a descida já fui estudando a melhor forma de cair num trecho da estrada q interliga Araçariguama e Pirapora de modo a nos deixar o mais próximo da cidade. Avaliando a carta e o panorama q se descortinava a minha frente deu pra ter uma idéia da rota q ser tomada.
A picada nos deixou numa estrada de chão, as 13:40hrs, q bastou tocar indefinidamente agora em ziguezagues pra descer o restante da serra. E assim caímos noutra estrada de terra maior, mas ao invés de tocar por ela decidi “democraticamente” q tocaríamos direto pro norte, rasgando o capinzal q tivesse na nossa frente no peito. E assim fomos avançando na raça, varando o pouco mato alto q havia na frente. E após saltar uma vala e descer uma encosta marromenos alta, pisamos no bendito asfalto por volta das 14:40hrs, cientes de q havíamos abreviado uns 3kms de caminhada se tivéssemos seguido pela ultima estrada de terra.
Uma vez na Estrada Araçariguama – Pirapora foi so acompanha-la ate o final. O sol forte e o cansaço já tavam pegando bem. O calor parecia emanar do chão naquela pernada q parecia não ter fim, ate q numa curva da estrada consegui avistar a pacata cidade, cada vez mais próxima. Uffaaa! Contudo, olhando pra trás agora tinha uma vista da face oposta de td espigão da Serra do Voturuna á do inicio da pernada e ela era menos verde a a outra pois revelava, infelizmente, duas enormes pedreiras maculando, em parte e verdadeiros rasgos verticais, seu contraforte norte. Pena.
Pirapora do Bom Jesus é um charme de cidade e importante centro de peregrinação religiosa de São Paulo. Pirapora (“peixe q pula”, em tupi) recebe romeiros o ano inteiro. Eles chegam de bike, charrete, cavalo..e a pé, tanto é q mal chegamos, as 15:30hrs, alguem me perguntou q promessa estávamos pagando. A cidade festejava alguma coisa (Festa do Bom Jesus?) pois havia uma estrutura montada rente o rio, som rolava alto e muitos visitantes deliciavam-se nas barraquinhas cheias de quitutes em torno da simpática Igreja Matriz. Tinha até um robusto boi de vedete p/ muitas fotos q deixou o Clayton com agua na boca! Mortos de cansaço e, principalmente, de calor encostamos no primeiro barzinho q vimos e lá ficamos bebemorando a empreitada e, enqto mastigávamos uma porção de calabreza, observávamos a vida passar pela pacata Pirapora.
Pois bem, o dia já findava qdo zarpamos dali, atravessamos a ponte sobre um fétido e espumante Rio Tietê (onde duvido q tenha “peixe pulando” a justifique o nome da cidade) e tomamos um buso sentido Santana do Parnaiba, onde chegamos no maior bréu, pegamos o veiculo e retornamos pra Terra da Garoa. O Clayton e a Lore ainda ensaiaram aproveitar o restinho de noite pra prestigiar o “Rock Spirit” (festival de filmes montanheiros) no Ibirapuera mas q nada! O cansaço falou mais alto! Além do mais pra quê ver filme outdoor sendo q já havíamos tido nossa cota merecida de mato! Tô fora..prefiro ir a campo mesmo, sujar a bota, e aproveitar aquele domingo lindo e ensolarado!
Segundo o artigo 1º da resolução q pretende transformar a Serra do Voturuna em Parque, o Morro Negro (ou Morro Voturuna) integra um "monte quartzítico, parcialmente florestado, situado entre Sant. de Parnaíba e Araçariguama. O tombamento se faz para proteger a pequena serra como acidente geológico e topográfico, dotado de solos pobres, densas florestas de encostas fragilmente implantadas, recursos hídricos representados por torrentes radiais e remanescentes representativos da flora e da fauna regional, que dão ao Voturuna o caráter de refúgio forçado da natureza tropical na região".Também podem ser encontradas algumas infos no site da Secr. de Est. da Cultura, que qualifica a área, dentre outras coisas, como "refúgio forçado da fauna regional, devido à devastação e ocupação intensiva dos espaços que a circundam".
É de se esperar que a divulgação dessa bela região chacoalhe o Poder Público no sentido de preservação oficial deste belo serrote doméstico, q não deve nada em termos “montanhisticos” aos badalados Lopo (Extrema), Pedra Grande (Atibaia),, Saboó (São Roque) e tantos outros morros próximos da maior metrópole da America Latina. E com um diferencial: agua e poço no alto da serra! Uma sugestão de roteiro bacana é sair bem cedo e percorrer td extensão da Serra do Voturuna, programa q deve consumir um dia cheio, ou até menos conforme o ritmo. Basta começar pelo bairro do Refúgio dos Bandeirantes (Santana do Parnaíba), ganhar o Morro do Cruzeiro, extremo leste do Voturuna, e dali tocar indefinidamente pela cumieira serrana sentido oeste, passando pelo Mirante, locais de acampamento (e água), canionzão, Morro Negro e dar no asfalto, já perto de Pirapora do Bom Jesus. Não tem erro, pois é td navegação visual. Dica dada.