Mais conhecida como os Gigantes do Nordeste, ali estão as 28 maiores elevações acima de 1800 metros de altitude do nível do mar, da Bahia e de toda a região Nordeste do Brasil, sendo o pico do Barbado (2033 m) o ponto culminante. Foi aí que Marlon Schunck, Marcelo Melo e Thales Pordeus Ferreira realizaram uma travessia inédita, no estilo “montanhismo ultraleve”. Ao longo de 8 dias percorreram 145 km e subiram 20 picos entre os 28 mais altos. Foi uma travessia exploratória de forma totalmente autônoma, sem a utilização de transporte para aproximação, pernoitando em acampamento selvagem, carregando todos os equipamentos e comida para 10 dias de expedição. O percurso começou na cidade histórica de Rio de Contas-BA e terminou 145 km depois em Catolés de Abaíra-BA. Foram ao todo 6.133 m de ganho de elevação, em um terreno difícil, bastante desnível, com muitos obstáculos por conta das formações rochosas de arenito, em um sobe-desce, pula[1]pedra, escalaminhada e passagens expostas entre os matacões de rocha. Além da vegetação de caatinga, cerrado de altitude e muito vara-mato. No caminho iam desviando de cactos, arbustos, capim alto, mata fechada e áreas de charco. O clima foi instável, com períodos intercalados de chuva, cerração, sol e vento forte. A navegação em boa parte do percurso foi sobre a carta topográfica e posição no terreno pelo GPS, principalmente na aproximação dos picos onde não havia trilhas, já que a região é inóspita e pouco frequentada. As poucas trilhas que tinham, estavam basicamente nos 3 picos icônicos acima de 1900 m: Barbado, Itobira e Almas. Havia algum rastro de trilha e alguns totens perdidos em outros 6 picos acima de 1900 m. Sendo que o conjunto destes 9 picos são conhecidos por Gigantes do Nordeste. E os demais picos acima de 1800 m foram alcançados através da navegação visual apoiada pela carta topográfica e GPS, abrindo caminho pelo terreno acidentado e buscando uma passagem até o cume.
Essa travessia começou a ser planejada ainda em 2022, sem que nenhum dos integrantes tenham estado ali antes dessa jornada. Para traçar as possíveis rotas e o trajeto a ser explorado, foram estudadas cartas topográficas e o Google Earth. É uma região espetacular e muito promissora para o montanhismo brasileiro, e não perde nada aos principais destinos de montanha do sul e sudeste do Brasil.
Foi escalado as seguintes elevações: Pico do Barbado (2033 m), Pico do Elefante (1980 m), Pico da Lapa Grande (1970 m), Pico das Prateleiras (1965 m), Pico das Almas (1958 m), Pico do Corvoão (1955 m), Pico do Escorrido (1953 m), Pico do Itobira (1940 m), Pico do Altino (1918 m), Pico do Cigano (1890 m), Pico da Brenha (1890 m), Pico do Ouro Fino (1878 m), Pico do Castelo (1858 m), Pico da Campina (1850 m), Pico do Bicho (1845 m), Pico da Contagem (1836 m), Pico das Couves (1836 m), Pico Esbarrancado “Taquara Oeste” (1820 m), Pico da Mata do Cigano ou Morro do Ariquemes (1817) e Pico da Taquara “Leste” (1810 m).
Data: 02 a 09 de junho de 2024
Local: Serras Altas da Bahia entre os municípios de Rio de Contas e Abaíra
Destaque para os baianos que tiveram importância na conquista das montanhas e na abertura e manutenção das trilhas existentes, como: Dmitri de Igatu, Orlandinho Barros, Chico Trekking, Tilú e Peter Stofte.
Relato
DIA 01
Partimos a pé desde o centro histórico de Rio de Contas-BA, seguindo por estradas rurais com poucas casas em meio a roças de manga, café e ponkan. Mas, também, por muita mata de Cerrado protegidas por RPPN que formavam a base e encostas da Serra das Almas. Depois de um pouco mais de 3h e 14km de estradas de terra, chegamos no povoado de Brumadinho, as margens do rio Brumado e aos pés do Pico das Almas. Logo a frente paramos para um lanche rápido e ainda seguimos por mais 4km até a entrada da trilha para o Pico das Almas. Daqui em diante fomos por uma trilha bem batida atravessando uma vegetação de cerrado de altitude bem preservada, em meio a muitas formações rochosas pelo caminho. Já na base do Pico das Almas e próximo a nascente do rio Brumado, no lugar conhecido como vale do Queiroz, largamos nossas mochilas, onde seria nosso acampamento base, estávamos na cota1550m. Catamos as mochilas de ataque e partimos em direção ao pico. No começo da subida passamos por algumas lajes de pedra que nos fez perder o rastro da trilha. Aqui ajustamos o GPS e apontamos para o cume, subindo, pulando e cruzando pedras e matacões, entre cactos, arbustos, capim e banhados, sempre em direção ao topo. Não tardou muito e encontramos o Portal das Almas, uma formação rochosa que parecia um portal por onde a trilha passava. De volta a trilha fomos ganhando altitude até chegar em um paredão formado de conglomerados rochosos e por ali fomos escalaminhando até alcançar os 1958 metros do cume do Pico das Almas. Aqui assinamos o livro cume e ficamos contemplamos a paisagem, logo depois armou um tempo feio e retornamos montanha abaixo até onde seria nosso acampamento base. Ali montamos nossas barracas e pernoitamos.
Até aqui, percorremos 27,5 km, sendo que destes, 18 km foram em estradas rurais e 10 km de trilhas na Serra das Almas, totalizando 1055 m de ganho de elevação. Alcançamos o cume do Pico das Almas (1958 m) 1/20.
DIA 2
Acordamos cedo e partimos para o nosso próximo destino, que seria a Serra do Itobira. Logo cedo desmontamos o acampamento abaixo de uma garoa fina e partimos com nossas mochilas. No primeiro momento tentamos seguir um trackloc que o Tilú de Rio de Contas nos havia passado. Porém o caminho não tinha uma trilha propriamente dita. E sim, muita vegetação fechada, tentamos algumas investidas e vimos que sem facão e com o clima que estava, iriamos levar muito tempo e não conseguiríamos vencer os 30 km previstos para hoje. Infelizmente tivemos que abortar essa possibilidade de ir pelo mato e seguimos mais um dia de estrada de chão.
Logo que saímos da trilha da Serra das Almas, descemos pela estrada até a comunidade de Brumadinho e depois de umas dicas com os moradores locais, seguimos por trilhas cortando caminho e passando por dentro de sítios e pomares. Alcançamos as margens do rio Brumadinho e fomos margeando-o até chegar no povoado do Giló, até aqui foram 3km de trilha pelo cerrado e a garoa tinha dado uma trégua. A partir da comunidade seguimos por estradas rurais novamente, cruzamos pela Ponte do Coronel sobre o rio Brumadinho e andamos mais uma meia hora. Atravessamos outra ponte, de um afluente do rio Brumadinho e ali descemos até a beira do rio para tomar um banho e almoçar. O sol começou a dar as caras entre as nuvens. Logo depois seguimos nossa caminhada pela estrada em um pequeno aclive. Vimos no mapa que havia um caminho secundário que saia lá na frente, cortando caminho por uma trilha, decidimos seguir por este desvio. Logo a frente a estrada empoeirada terminava em uma casa, encontramos um casal de idade separando as ponkans que haviam colhido, eles nos disseram que poderíamos seguir pela propriedade deles, pois ali havia uma trilha que saia lá na estrada principal. Agradecemos, e então fomos pela trilha indicada. Saímos na estrada, e seguimos caminhando, logo a frente já era possível ver o Pico do Itobira no horizonte. Mantivemos o passo firme até a comunidade da Fazendola. Paramos para descansar um pouco, tomar uma água e comer uns chocolates. Aproveitamos para dar um trato nos pés e fazer alguns ajustes nos equipamentos. Até aqui foram 20 km de jornada, já era 15h da tarde. Então nos recompomos e partimos novamente, o Pico do Itobira estava cada vez mais perto, parecia um farol nos guiando o caminho, já do outro lado, mais distante, o Pico das Almas se erguia imponente. Em pouco mais de uma hora chegamos em outra comunidade, o povoado Caiambola. Seguimos em frente e mais adiante a estrada acabou e virou uma trilha, que entrava para dentro das montanhas da Serra do Itobira, daqui víamos o pico do Oiteiro e o pico do Itobira. Caminhamos mais um pouco até as margens do rio Cumburu e por volta das 18h montamos acampamento em um bosque na mata ciliar do rio.
Até aqui percorremos 28,5 km, sendo que, destes, 23 km foram em estradas rurais e 5 km em trilhas pelo caminho, totalizando 469 m de ganho de elevação.
DIA 3
O dia amanheceu limpo e logo após o café, já estávamos com barracas desmontadas e mochilas nas costas, partimos as 7h, e de cara já enfrentando uma subida forte até uma cascatinha. Onde paramos para apreciar o dia lindo que fazia e coletar água, não sabíamos como seria daqui para frente a questão de água, já que estávamos na estação seca. Pelo caminho encontramos alguns muros de pedra que serviam para delimitar as antigas áreas de criação de gado. Passamos por trechos de cerrado, algumas campinas, até chegar em uma floresta na base do Pico do Itobira. Neste ponto decidimos deixar nossas mochilas e partir para o pico da Campina de ataque. Não havia trilha, ajustamos o azimute em direção ao cume e fomos pra cima. Passando por arbustos fechados, cactos, matacões de pedra, algumas escalaminhadas, pulando pedra, atravessando banhados e campos rupestres (por isso o nome de Campina) até alcançar ao cume do pico da Campina (1850 m). Levamos ao todo 1h30, para subir ao cume e descer de volta até as mochilas. Pegamos nossos equipamentos e partimos para o cume do Itobira, uma subida forte e bem íngreme por uma trilha batida e as 10h30 alcançamos o cume do pico do Itobira (1940 m). Ficamos ao todo uma hora e meia no cume, explorando todas suas elevações, apreciando a paisagem, observando toda a serra ao redor e identificando as montanhas que iriamos subir nos próximos dias. Depois de assinado o livro cume, descemos a encosta do Itobira, já de olho no pico da Taquara “Leste”. Logo abaixo no colo que separava os dois picos, saímos da trilha e fomos mirando nosso objetivo. largamos nossas mochilas e fomos outra vez de ataque até o cume. No percurso alguns trechos de capim alto, brejo e alguns lances de trepa-pedra. Em menos de uma hora, desde o topo do Itobira, já estávamos no cume do pico da Taquara “Leste” (1810 m). No retorno fomos pulando rocha abaixo e desviando dos cactos, até alcançar as mochilas de novo. Paramos por uma meia hora para almoçar por volta das 13h30. Neste ponto era uma nascente, mas não conseguimos coletar água por conta do capim e do barro. Desta forma seguimos o talude em direção a algumas arvoretas que formavam uma mata ciliar. Naquela matinha conseguimos coletar nossa água para o resto do dia e para o pernoite. Agora nosso objetivo era encontrar um local adequado para instalar nossos aposentos para a próxima noite. E por volta das 15h encontramos um local plano aos pés do Pico do Itobira com uma vista fantástica da sua face norte. Barracas montadas, partimos para mais uma ascensão, agora ao pico do Esbarrancado “Taquara Oeste”. Foi uma subida suave, desviando de rochas pelo caminho, de encontro com sempre-vivas, orquídeas terrestres, canela de ema e de um grande escorpião amarelo. Quando alcançamos o topo, vimos que estávamos em um falso-cume, descemos um pouco e logo subimos até o cume do pico do Esbarrancado “Taquara Oeste” (1820 m). Mais uma vez apreciamos a vista e fomos cada vez mais identificando as montanhas ao redor e entendendo a formação geológica destas Serras. Retornamos ao acampamento durante o pôr do sol, o suficiente para chegarmos ainda com luz natural.
Hoje foi um dia intenso, subimos 4 picos, entretanto percorremos apenas 10,5 km em terreno quase sem trilhas, porém tivemos 1049 m de ganho de elevação. Alcançamos os cumes do Pico da Campina (1950 m) 2/20; Pico do Itobira (1940 m) 3/20; Pico da Taquara “Leste” (1810 m) 4/20 e o Pico do Esbarrancado “Taquara Oeste” (1820 m) 5/20.
DIA 4
Amanheceu chovendo, tudo fechado de cerração, mas a vontade de escalar os picos ao redor era muito grande. Decidimos manter o acampamento montado e ir de ataque, e assim partimos em direção ao pico das Couves. No mapa tínhamos 4 picos (Itobira, Esbarrancado, das Couves e Oiteiro) formando um círculo, entre eles uma depressão, onde sua vertente descia a noroeste, entre o das Couves e o Esbarrancado formando o riacho da Cruz, afluente do rio Água Suja. Nas encostas do Itobira e do Oiteiro tinha uma floresta frondosa, com árvores de mais de 20 metros, um resquício de mata atlântica de altitude, já que estávamos na cota 1650 m. Entretanto na parte mais baixa a 1600 m, uma mata de arvores baixas e retorcidas, um encontro de cerrado com caatinga formando um vara-mato quase intransponível. E foi por aí que nos embrenhamos abaixo de chuva, fomos ziguezagueando tentando encontrar uma passagem pela vegetação densa. Às vezes, abaixávamos para passar pelos arbustos, outras vezes empurrávamos com o peito. Até que encontramos um degrau alto com rochas e muita vegetação que formava a barranca do riacho da Cruz, que vertia em direção a uma grota. Estava tudo molhado e perigoso escorregar. Neste momento decidimos mudar a rota e tentar entrar pela floresta, já que a vegetação agressiva e o obstáculo formado pelo cânion nos dificultavam a passagem. Demos uma volta e chegamos nas margens do riacho mais acima, ali foi possível atravessar as águas até o outro lado, nisto, parecia que tínhamos cruzado o portal de Nárnia, entramos em um mundo completamente diferente. Aos nossos pés uma serrapilheira que afundava nossas pernas até os joelhos, algo que eu nunca tinha visto. Acima de nossas cabeças, árvores enormes, e ao redor, uma vegetação menos fechada e mais fácil de passar. Porém aqui perdemos o senso de direção, pois íamos desviando de bambus, cipós e árvores caídas. Abrimos o mapa e vimos que já estávamos próximos de uma campina entre os picos do Oiteiro e o das Couves, logo em frente encontramos um caminho que nos levou até o campo. Na verdade, era um grande charco, uma nascente com muitas turfas, flores e bromélias. A nossa esquerda se levantava o imponente paredão de quase 200m da face norte do Oiteiro e a nossa frente um vale, parecia uma grande rampa que levava ao topo do pico das Couves. Decidimos tentar primeiro o pico das Couves, já que o Oiteiro que estava parcialmente escondido sob a cerração e se mostrava mais desafiador. Aqui não havia trilha, com o GPS aberto na carta topográfica, traçamos uma rota pelas curvas de nível mais espaçadas, sabendo que teríamos que ir desviando obstáculos no caminho. Seguimos rio acima primeiramente, depois fomos trepando pedra, desviando de matacões de rocha, cruzando lajedos, indo cada vez mais alto até o GPS mostrar que estávamos no ponto mais alto da montanha. A visibilidade ali era zero, o vento frio e a chuva não deram trégua. Tiramos a foto clássica no cume do Pico das Couves (1836 m) e já começamos a descer novamente, o caminho não era o mesmo, mas nos levou até o charco lá embaixo. Paramos um pouco, tomamos uma água, comemos alguma coisa e ficamos mirando o Oiteiro por detrás das nuvens, não conseguíamos achar um caminho seguro. Era um paredão que tinha algumas canaletas que “pareciam” possíveis passar, entretanto, com aquela chuva, nos parecia perigoso demais tentar escalaminhar aquelas rochas, sem ter certeza de que, logo acima conseguiríamos seguir ou teríamos que desescalar. Depois de muita discussão, decidimos abortar a subida para o Oiteiro. Seguimos desta vez pela floresta, pois pelo mapa aparecia algumas manchas de área aberta e mais a frente já sairíamos próximo ao acampamento. Depois de alguns vara-matos e perdidas, vimos que as manchas não eram o que pareciam, e sim, um campo sujo e fechado de arbustos, lianas e bambuzinhos. Até que, de repente encontramos nossos rastros e chegamos de volta ao acampamento. Desmontamos tudo o mais rápido possível e já seguimos para o nosso próximo destino, que seria a base do Pico do Altino. Descemos um vale, ali havia um rastro de trilha, que ora aparecia e por muitas vezes sumia. Havia muitos obstáculos no caminho durante a descida, com degraus altos para desescalar com pedras molhadas, lajes de pedra escorregadias, pontos sem saída que davam em precipícios, onde tínhamos que desviar ou voltar. Por volta das 13h chegamos no fundo do vale na cota 1440 m e paramos as margens do rio Taquara para almoçar. A partir deste ponto começamos a subir, logo a frente entramos em um trecho que havia sido queimado, o fogo consumiu a vegetação e apagou o rastro de trilha, expondo muitas formações rochosas que se ergueram a nossa frente. Perdemos um tempinho tentando vencer esses obstáculos, até que conseguimos encontrar uma passagem. Chegamos no rio Água Suja e fomos seguindo-o rio acima, passamos pela lapa da Mutuca, uma caverna no caminho. Aí entramos em uma área bem plana rodeada de montanhas, o Pico do Altino a nordeste, o Pico do Escorrido ao norte, Pico do Corvoão a noroeste e o Pico das Prateleiras a leste. Esse trecho havia sido consumido por um incêndio também, que devastou toda a área. Fomos seguindo em direção a um vale, pela margem direita do rio que separava o Pico do Altino e do Escorrido. Quando estávamos quase no colo, vimos uma barraca do outro lado do rio em um patamar mais alto. Nos aproximamos do pessoal e ali estava o Chico Trekking acampado com um cliente dele. Então, nos juntamos a eles e montamos nosso acampamento.
Percorremos 15,70 km e tivemos um ganho de elevação de 580m abaixo de chuva e muita cerração. Alcançamos o cume do Pico das Couves (1836 m) 6/20.
DIA 5
Pela manhã a cerração forte persistia, trocamos uma ideia com o Chico Trekking e pegamos umas dicas para os próximos cumes do dia. Deixamos o acampamento montado saímos em direção ao Pico do Altino. Estávamos sem visibilidade e sem trilha, com o GPS aberto íamos mirando o topo e andando sempre pra cima, ora desviando de rochas, outras as escalando até alcançar o cume do Pico do Altino (1918 m). Aqui assinamos o Livro cume, importante ressaltar que os livros cumes estão nos 9 picos acima dos 1900 m, chamados de “Gigantes do Nordeste”. Esse foi um projeto de Dmitri de Igatu e Orlandinho Barros que escalaram essas montanhas e deixaram os livretos em todos essas montanhas para registro de passagem. E aqui no Altino encontramos as assinaturas de alguns amigos, o próprio Dmitri, além do Peter Toffe, Chico, Tilú, Thais Cavichiolli e Pedrão do Brasil. Mas não havia muito mais de 15 assinaturas em 4 anos de registro, sendo muitas assinaturas de retorno dos montanhistas e guias da região. Voltamos ao acampamento, desmontamos nossas barracas e seguimos em direção ao Pico do Escorrido, nossa próxima montanha do dia. Em pouco tempo chegamos no colo que separa as duas montanhas e que demarca o divisor das duas trilhas de acesso, sendo a que viemos pelo rio da Água Suja e do outro lado a trilha dos Rolling Stones que vinha de Catolés. Neste ponto seguimos escalaminhando pela face norte, um trecho bem exposto até o topo desse paredão. O tempo começou a melhorar, com algumas aberturas de céu azul, mas o vai e vem da cerração ao sabor dos ventos persistia. Largamos nossas mochilas e saímos de ataque para o Pico do Escorrido. Uma montanha com muitas rochas espalhadas por todo lado, misturado com uma vegetação de cerrado, com a presença de muitos arbustos, grandes bromélias e cactos. As 11h20 alcançamos o cume do Pico do Escorrido (1954 m). encontramos o livro cume, deixamos nossa marca e voltamos até as nossas mochilas. Rumamos então em direção ao Pico do Corvoão, na base da montanha encontramos novamente o Chico Trekking que ia a nossa frente guiando um montanhista. Deixamos nossas mochilas, e começamos a subir, no caminho encontramos muitos cristais revirados por garimpeiros a procura de algum diamante, ouro ou provavelmente por cristais mesmo. Subimos até um falso cume e ali um platô onde cruzamos um charco com muitas bromélias até chegar no cume do Pico do Corvoão (1955 m). Onde assinamos também o livro cume e depois descemos até as nossas mochilas, onde fizemos uma pausa para o almoço. Seguimos por um vale de vertente sul e depois a oeste pela encosta do Corvoão e descemos até a nascente do rio Água Suja. A vertente por onde descia o rio, era um vale de cristais. Todo o chão era recoberto de cristais de pedra, espalhados por toda a parte. Era interessante ver o contraste do branco dos cristais com a relva verde que tentava crescer nesse terreno pedregoso. E bem a nossa frente o imponente Pico das Prateleiras, que era formado por blocos de pedra, sobre pedra, todos “emprateleirados”. Rodeados de uma vegetação cerrada, composta por arvoretas retorcidas, cactos pontiagudos, bromélias e muito capim alto. Deixamos nossas mochilas em um lajedo e iniciamos a subida, ao mesmo tempo que íamos varando mato, íamos também escalaminhando os obstáculos que iam aparecendo, no geral esses rochedos variavam de 1 a 4 metros de altura em geral, que estavam espalhados em todo o terreno. Foi um trecho bem cansativo, com algumas passagens expostas entre os matacões. Chegamos no platô do cume do Pico das Prateleiras (1965 m) a quarta maior montanha do nordeste, andamos um pouco até achar o livro cume. No topo estava tudo fechado de cerração, além de ventar bem forte. Para descer pegamos outro caminho, pois enxergamos um rastro de trilha e alguns totens, mas como o terreno era todo de pedra, perdíamos fácil o caminho e assim fomos desescalando e deslizando as rochas até chegar novamente no vale de cristais, nas margens do rio Água Suja. E então seguimos rio acima até encontrar as mochilas e continuamos até o divisor de água do rio Água Suja com o rio do Bicão, aí começamos a descer um vale estreito com árvores mais altas. Saltamos um cerca de arame farpado nova e bem montada, e do outro lado a Mata dos Frios. Chegamos no fim da tarde com a noite chegando, ainda deu tempo de escolher um bom lugar e montar acampamento as margens do rio. Foi uma noite agradável, onde fiquei um bom tempo apreciando aquela paisagem escura, com um céu super estrelado entre montanhas altas.
Neste dia percorremos 17,50 km com um ganho de elevação de 784m e conquistamos 4 cumes. Alcançamos o cume do Pico do Altino (1918 m) 7/20, Pico do Escorrido (1954 m) 8/20, Pico do Corvoão (1955 m) 9/20 e o Pico das Prateleiras (1965m) 10/20 e acampamos na Mata dos Frios.
DIA 6
O dia amanheceu ensolarado, conseguimos ver melhor onde havíamos acampado, o rio apesar de estreito, não tinha como passar sem se molhar, e não queríamos nos molhar logo cedo. Cada um foi percorrendo as margens tentando achar uma passagem. Eu fiquei por ali mesmo e vi alguns galhos presos a vegetação, levados por alguma enxurrada recente, então resolvi pegar galhos espalhados ao redor e fui amontoando junto com aqueles até formar uma “ponte” e consegui passar. Chamei o Thales e o Marcelo e cruzamos do outro lado, secos. Ali tinha uma trilha e um ótimo ponto de acampamento. O Thales abriu o mapa com um trackloc, na qual resolvemos seguir. Fomos pela crista da montanha, uma subida suave, chegamos em um charco com capim muito alto, demos umas perdidas por ali, até encontrar a trilha novamente, onde subimos uma laje de pedra e ali deixamos as mochilas. Daqui em diante era um terreno de lajeados, cortados por vegetação baixa, íamos subindo o máximo pela linha da rocha até cruzar uma faixa verde, e novamente seguir sobre a laje lisa. E as 9h20 alcançamos o cume do Pico da Lapa Grande (1970 m) a terceira maior elevação do nordeste, levamos 1h40 desde o rio do Bicão até aqui. E a vista era fantástica, tendo o Pico do Barbado bem ao nosso lado e do outro lado, o planalto, que nos separava da Serra das Almas. O vento era muito forte, nos desequilibrando de cima das pedras, e também fazia muito frio, apesar do sol. Enquanto gravávamos alguns vídeos, cada um ia revezando para assinar o livro cume, pico este, que foi muito pouco frequentado. Durante o retorno, decidimos tentar chegar no Pico do Barbado através do colo que separavam as duas montanhas, pegamos nossas mochilas e fomos nos embrenhando pela vegetação hostil, pulando fendas e desviando de buracos profundos. Tentamos de todo o jeito, mas o terreno difícil e trechos expostos a precipícios e com muita vegetação nos fez recuar. Mas não desistimos, fomos contornando um cânion na expectativa de tentar cortar caminho. Mas outra vez entramos em um vara-mato, onde havia muitos rochedos que tínhamos que contornar, ora subíamos eles e os atravessava, em outros momentos depois de escalar as rochas dávamos de cara com fendas profundas, que nos fazia recuar e desescalar. Foram 3h de luta até voltar a Mata dos Frios novamente. Ali mais uma vez nos perdemos, não conseguíamos achar a trilha demarcada no trackloc que levava ao Pico do Barbado. O capim alto tinha tomado conta, enquanto o Thales e o Marcelo tentavam em vão achar a trilha, eu resolvi ligar o meu GPS e nele aparecia salvo sobre o mapa uma trilha diferente da deles. Então acabamos decidindo ir por ela. Seguia um vale rio acima, uma subida longa sem trilha, apenas um risco na tela do GPS, depois de quase 2 horas chegamos na base do Pico do Castelo. Paramos para nosso almoço e resolvemos tentar atacar o cume, largamos as mochilas e partimos de olho do pico. Atravessamos um riacho com muitos bambus e mata fechada, saímos em um campo muito sujo, com muito capim alto dificultando o avanço. Até que chegamos na base da montanha, um monte de pedras sobrepostos formando um “Castelo” de rocha com duas torres. De olho na torre maior formos subindo até que chegamos em uma muralha, quase intransponível, fomos circundando aquela formação rochosa até achar um ponto que começamos a escalar e aos poucos íamos vencendo obstáculos de 1 a 2 metros de altura. Até que chegamos no topo daquela elevação. Mas quando percebemos, vimos que a outra torre ao lado era maior. Então descemos, e fomos tentar encontrar um caminho ao topo da outra torre. A mesma saga de ir escalaminhando, algumas vezes recuamos e descemos novamente para subir mais ao lado, escalando por fendas e saltando precipícios, até chegar no cume verdadeiro do Pico do Castelo (1858 m). O sol já se preparava para encerrar o seu dia, descemos tudo de volta até nossas mochilas, coletamos mais água no riacho abaixo, pois não sabíamos se teríamos água mais para frente. E seguimos subindo pela mesma vereda que estávamos andando, a escuridão tomou conta do dia e tivemos que acender nossas lanternas. Até que por volta das 20h chegamos em um lugar plano, na base do pico do Barbado. Era um corredor cercado pelo Barbado de um lado e um morro do outro, ali o vento entrava com força exprimido entre as paredes. Foi bem difícil montar as barracas com aquele vento. Eu consegui erguer primeiro a minha lanshan, apesar do terreno com muitas touceiras. Depois fui ajudar o Thales com a Star River dele de armação e a Durston do Marcelo que tal como a minha, era necessário erguer com o bastão de caminhada. Depois de todos acomodados, cada um se recolheu cansado. A barraca chacoalhava com o vento, e eu tentando equilibrar minha espiriteira para não virar e causar um acidente, enquanto cozinhava uma polenta com bacon. A noite foi barulhenta, fiquei a alerta o tempo todo com a barraca balançando de um lado para o outro. Foi a noite mais fria da travessia com 10° C.
Neste dia percorremos 12,33 km com um ganho de elevação de 931m e conquistamos 2 cumes. O Pico da Lapa Grande (1970 m) 11/20 e o Pico do Castelo (1858 m) 12/20
DIA 7
Depois de uma noite tensa, a intensidade do vento diminuiu e todas as barracas passaram no teste, se bem montadas, são seguras para ventanias. Decidimos manter o local de acampamento aqui, entretanto, resolvemos colapsar as barracas, tirando a armação e deixando somente o toldo preso pelos espeques com nossos pertences dentro. Nosso objetivo do dia era escalar o Pico do Bicho, o Pico da Brenha e Pico do Guarda[1]Mor. Saímos pela mesma trilha que viemos no dia anterior, agora em direção ao Pico do Castelo, ao lado dele estava o Pico do Bicho. Neste momento havia muita cerração, então ajustamos o azimute em direção ao topo do Bicho e fomos trepando as montoeiras de pedra e varando a vegetação pelo caminho até atingir o cume do Pico do Bicho (1845 m). Paramos no topo para analisar a carta topográfica, o mapa indicava uma grota, logo abaixo do Bicho que rumava junto a base do Pico do Guarda-Mor, optamos então em descer até o fundo da grota e seguir por ali. Fomos pulando a pirambeira abaixo até chegar junto ao um fio de água que corria entre os paredões. Fomos seguindo por dentro dela, desviando da vegetação, o mato estava bem fechado. Muitas vezes tivemos que escalar os rochedos ao redor para desviar do vara-mato, e por ali tínhamos que ir pulando fendas, desescalando rochas para evitar o mato. Mas acabávamos sempre tendo que voltar pelo leito do riacho cruzando a mata. Foi um trecho muito difícil, levamos quase 3h para progredir 1 km, devido à complexidade do terreno. Isso é uma característica aqui das Serras Altas, um amontoado de rochas, uma vegetação cerrada e sem trilhas. Já era quase meio-dia, estávamos no limite do horário para voltar, pois iniciamos as 7h, 8h45 estávamos no cume do Bicho, foram aproximadamente 5h de caminhada até aqui e teríamos que voltar tudo isso. Chegamos no fim da grota, ali se juntava outro riacho que descia de um talvegue do Pico do Guarda-Mor. Os paredões ficaram mais altos, e demos uma perdida por ali. Foram momentos delicados por conta do horário, os picos estavam mais próximos, mas ao mesmo tempo distantes. Até que achamos uma passagem escalando um rochedo e ali encontramos algumas lajes de pedra. Essas formações tinham um padrão paralelo, com alguma vegetação de cactos e arbustos que as separavam, já tínhamos entendido como estavam alinhadas essas lajes. O tempo tinha limpado, um céu azul, mas ventava bastante. Conversamos um pouco e decidimos tentar o pico da Brenha, pois parecia que o caminho era mais curto e sem obstáculos. E assim fomos seguindo pelas lajes, começamos a progredir mais rápido, alcançamos a encosta do Pico da Brenha, apesar de íngreme, a vegetação era rala e parecia mais fácil subir, até que as 12h30 alcançamos o cume do Pico da Brenha (1890 m). A vista dali era fantástica, tínhamos uma visão de 360° de toda as Serras Altas. Parei para observar melhor o terreno, o caminho que tínhamos feito, abri a carta topográfica e consegui visualizar uma outra rota para voltarmos, um caminho bem mais curto, sem ter que voltar por dentro da grota, e pela trilha que passava pelo Pico do Castelo. Foi um momento de apreensão, o Thales e o Marcelo queriam voltar por onde viemos, pois já sabíamos o caminho, tinham receio de pegar outro vara-mato daqueles e não chegarmos de volta. Eu falei para eles que em no máximo 2h estaríamos de volta ao acampamento, eles duvidaram um pouco, mas meio a contragosto aceitaram. Partimos as 12h45 do cume da Brenha, descemos a encosta mais ou menos pelo mesmo caminho que viemos, porém ao invés de pegar as lajes de pedra para voltar para a grota, cortamos antes e fomos avançando pela crista do morro paralelo ao Bicho, que juntos formavam essa grota. Mas do outro lado deste morro havia o cânion do riacho Caiado, mais profundo, que fomos contornando-o. Neste trecho, tivemos que enfrentar uns rochedos maiores, e mais complexos de passar, íamos escalando, passando por fendas estreitas em locais expostos, descíamos deslizando até um patamar mais baixo, e logo subíamos de novo. Mais à frente, outro maciço rochoso, mas este era diferente, entre as pedras formou-se um jardim com árvores grandes, muitas bromélias e orquídeas, era algo surreal no meio daquela paisagem predominante de cerrado e caatinga. Foi um trecho bem difícil, logo a frente descemos novamente e subimos até uma lapa. Paramos para descansar um pouco, era por volta de 14h, aproveitamos a sombra e almoçamos. Contornamos a lapa, e a nossa direita o cânion do Riacho Caiado e a esquerda víamos o Pico do Barbado, fomos seguindo por lajes de pedra em um terreno bem mais limpo, com menos vegetação e poucos obstáculos rochosos. Mais à frente saímos na trilha que havíamos percorrido, o passo diminuiu e ficamos mais tranquilos, era 15h15 quando chegamos nas nossas barracas novamente. Errei o tempo, mas chegamos bem. Porém ainda era cedo, tínhamos mais luz do dia, então o Thales sugeriu que fossemos até o cume do Barbado, pois estava a apenas 1h de subida. De pronto aceitamos e já desmontamos nossas barracas e partimos. A subida para o Pico do Barbado era muito bonita, cruzamos um pequeno cânion de uns 10 metros de profundidade que penetrava montanha adentro, ali embaixo arvores altas e uma formação rochosa interessante. Quando era 16h10 já estava no cume do Pico do Barbado (2023 m) a maior montanha da Bahia. Um lugar sensacional, dali a visão era de 360°, naquele momento não havia ninguém mais alto que nós em toda a região nordeste do Brasil. O livro cume tinha muitas assinaturas, era o pico mais frequentado das Serras Altas, por ser o mais alto de todos e por sua proximidade com Catolés e uma trilha que o ligava a comunidade. Ficamos um bom tempo ali apreciando aquele momento. Decidimos tocar mais adiante, até o acampamento do riacho Forquilha no colo do Barbado com o do Elefante. Foi uma descida forte, com degraus altos e pontos escorregadios por conta de vertentes de água. Teve um trecho que nos perdemos por uma calha de água pensando que fosse uma trilha, quase fomos barranco abaixo, voltamos e depois de umas voltas conseguimos achar a trilha rodeando um rochedo. Já estava escurecendo e tivemos que acender as lanternas, mais um pouco de descida chegamos no local utilizado para acampamentos. Montamos as barracas e nos recolhemos para descansar.
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No cume do Pico do Barbado (2033 m) o ponto culminante do Nordeste com nossas mochilas UL Alto Estilo
Foi um dia bem puxado, onde enfrentamos muito vara-mato e trepa-pedras entre rochedos de até 10m de altura, ora desviando e a maioria das vezes empurrando no peito mesmo os arbustos, cactos, capim e todo tipo de obstáculos que surgiam. Caminhamos apenas 11,50 km com um ganho de elevação de 560 m. Onde alcançamos os cumes do Pico do Bicho (1845 m) 13/20, Pico da Brenha (1890 m) 14/20 e o Gigante do Nordeste, o Pico do Barbado (2033 m) 15/20 e pernoitamos no acampamento Forquilha, no colo do Barbado com o Elefante.
DIA 8
Essa foi a nossa última noite acampados, o dia amanheceu com cerração, desmontamos nossas coisas e tentamos coletar um pouco de água. Estávamos exatamente no divisor de águas e a água naquele ponto estava parada, e com sinal de sujeira humana, descemos um pouco a trilha em direção a Catolés mas a água não estava boa também. Então fomos para o outro lado e conseguimos achar uma nascente um pouco acima com uma vazão bem pequena, mas o suficiente para enchermos nossas garrafinhas. Com a mochila nas costas partimos em direção ao topo do Pico do Elefante, uma subida muito íngreme, em vários pontos tivemos que utilizar mãos e pés. Alcançamos um pequeno platô com vários pontos do terreno que haviam sido revirados por garimpeiros em busca de cristais ou outras pedras preciosas. Logo a frente alcançamos o cume do Pico do Elefante (1980 m) o segundo mais alto das Serras Altas e do Nordeste. Paramos ali em meio a cerração fechada que não permitiu ver nada ao redor. Assinamos o livro cume, tiramos nossas fotos e partimos pela cumeeira da serra do Cigano. Desviamos para atacar o cume do Pico da Mata dos Ciganos, logo abaixo no cume formava uma grota com uma mata exuberante, com árvores altas e frondosas muito preservada, naquele rincão protegido pelas montanhas ao redor. O tempo começou a abrir e o sol voltou a dar as caras. Circundamos a mata em um patamar mais alto na cota acima de 1800 m. Fomos sentido norte pelas encostas do Pico do Ouro Fino, fizemos mais um desvio para alcançar o Pico da Contagem, um pequeno morro com muita vegetação de caatinga e amontoados de pedra espalhados por todo o lado. De volta a base o Ouro Fino, paramos para almoçar, neste momento com sol a pino fazia calor, não havia nenhuma sombra para nos proteger. Reforçamos o protetor solar e seguimos mais adiante para pegar uma vertente entre o Ouro Fino com o Cigano, quando alcançamos o colo, vimos a trilha que descia para o vale do Bem-Querer que levava até a comunidade de Catolés de Cima. Ali deixamos nossas mochilas e fomos de ataque, primeiro para alcançar o cume do Pico do Ouro Fino (1878 m). retornamos pelo mesmo caminho e depois subimos a encosta do Pico do Cigano, quando chegamos no topo, era um chapadão fechado com uma vegetação arbustiva, fomos varando esse paredão de arbustos até atingir o ponto mais alto do cume do Pico do Cigano (1890 m), a nossa última montanha da travessia exploratória pelas Serras Altas da Bahia. Voltamos até nossas mochilas e começamos a descer o vale do Bem-Querer, era 15h e levamos mais 2h30 até a pequena comunidade de Catolés de Cima. Quando chegamos ali, tinha um bar com música brega tocando bem alto, já estava escurecendo. Resolvemos parar para comemorar nossa travessia com uma cerveja bem gelada. Em pouco tempo já havíamos chamado a atenção de toda a comunidade. Apareceu um senhor, o seu “Preto”, que nos ofereceu um pouso no “prédio”, na qual só ele tinha a chave e era o responsável pelo lugar. Conversamos entre nós e aceitamos a oferta, já que estávamos cansados e ainda teríamos mais 5 km até Catolés de baixo. Nisso seu Preto foi buscar a chave e voltou, nos levou então ao “prédio”, que não tínhamos ideia do que seria. Quando ali chegamos, era uma antiga escola, de uma sala só, com um pequeno banheiro externo e uma cozinha desativada. Dentro da sala de aula, ainda havia algumas carteiras abandonadas e uns colchões espalhados, nos acomodamos ali e dormimos a noite toda, enquanto chovia lá fora. No outro dia agradecemos a hospitalidade do seu Preto e da comunidade e ainda caminhamos mais 5 km embaixo de chuva até Catolés, onde conseguimos um carro para nos levar até a Chapada Diamantina para mais um trecho de trilhas.
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Atravessando a cumeeira da Serra do Cigano, encoberto pela cerração o Pico da Mata do Cigano (1817 m)
Este foi um dia longo com 18,50 km percorridos em 12h de caminhada com 705m de ganho de elevação. Onde alcançamos os seguintes cumes: Pico do Elefante (1980 m) 16/20, Pico da Mata do Cigano “Ariquemes” (1817 m) 17/20, Pico da Contagem (1836 m) 18/20, Pico do Ouro Fino (1878 m) 19/20 e por fim o Pico do Cigano (1890 m) 20/20. E assim finalizamos a primeira travessia exploratória das Serras Altas da Bahia, após 145 km de jornada, 8 dias de percurso, 20 montanhas escaladas, em uma região fantástica e cheia de montanhas, vales e grotas ainda por explorar