Sempre acreditei q o Pico Itaguacira e Pedra Grande de Quatinga fossem a mesma montanha. Por situar-se na divisa de Paranapiacaba e Mogi, ambas as regiões reivindicam a “posse” da elegante montanha, recebendo assim denominações diferentes. Pois bem, estava errado. Foi graças à insistência do Carlos, q sobrepôs a carta da região com imagens precisas do Google Earth q chegamos a conclusão q eram picos diferentes, porém bem próximos! Sendo assim, nas duas ocasiões em q estive supostamente no Itaguacira na realidade estava com os pés sobre a Pda Gde! Essa constatação foi a gota d´água pra realizar a união dos picos, algo q já cogitara desde a primeira vez q estivera na ilustre montanha, pois o Itaguacira é visivelmente mais alto q a Pda Gde! Pra corrigir esta desfeita nos 2 relatos anteriores basta trocar apenas Itaguacira por Pedra Grande, assim como em cia do Carlos resolvi finalmente fazer a travessia entre os dois picos avaliando as possibilidades “in loco”, munidos apenas com meu conhecimento do local, uma carta e uma bússola.
Após um suculento pão-na-chapa da Padoca Barcelona, q nunca esteve tão delicioso, encontrei o Carlos em Rio Gde da Serra naquela manhã fria de domingo pra logo embarcarmos no latão rumo Paranapiacaba, aonde chegamos às 8:40. As brumas a mto haviam se dispersado dando lugar a um sol radiante e um céu azul impar. Como nossa empreitada era incerta, apressamos nosso passo afim de otimizar ao máximo a luz natural. Em tempo, a decisão de iniciar o acesso pela vila inglesa foi puramente logístico.
Assim, deixamos Paranapiacaba pra trás pra mergulhar no frescor da bucólica estrada do Taquarussú ate alcançar a vila do mesmo nome as 9:30. Sempre descendo suavemente pela estrada de terra, serpenteamos um enorme reflorestamento de eucaliptos ate dar no aberto, ignorando a bifurcação q dá pro Camping Simplão. Daqui já se tem um vislumbre da silhueta do serrote q acolhe a Pda Gde, esta, porém vista por “trás”. Sempre seguindo a passo ligeiro pela principal cruzando por algumas chácaras, onde latidos estridentes do “Sitio Cachoeira” quebram o silencio da jornada, as 10:15 topamos com o famoso orelhão q serve como referência. Deixamos a estrada pra adentrar pela estreita estrada á direita, agora indo de encontro ao miolo da Serra da Pda Gde, q agora exibe sim seu belo domo de granito reluzindo ao sol, a leste. Subindo e descendo suavemente, nos deparamos com nova bifurcação com placa, onde tomamos á esquerda ignorando a q nos leva ao Pesqueiro de Trutas Pedrinhas.
Visivelmente adentrando num vale q bordeja a encosta das montanhas, ganhamos altura de forma imperceptível um tempão ate deixar a estrada em favor de uma trilha de motos erodida, na qual nos poupamos de dar enorme volta pela esquerda. Mas às 11hrs topamos com a entrada da trilha da Pda Gde, sinalizada de forma discreta, ao lado da porteira de uma fazenda. Dali não tem mais erro, pois basta tomar a picada, obvia e bem batida, q sobe uma crista ascendente de forma imperceptível pra depois palmilhar em nível a encosta esquerda da montanha. Visivelmente bordejando a montanha, após passar um filete d´água é q a subida aperta de vez e a piramba íngreme q se segue só é vencida mediante escalaminhada brava onde nos firmando nos troncos ou qq apoio à mão, onde se ganha altura num piscar de olhos.
Mas meia hora após entrar na trilha é q emergimos de fato no alto da Pedra Grande, com um forte vento frio soprando no suor escorrendo pelo rosto, q nos obriga a trajar anorakes apesar do sol brilhar soberano no firmamento. Pausa logicamente pra descanso e pra algum petisco, enqto apreciamos o belo visual q se descortina á nossa volta, do alto dos quase 1140m daquele maciço granítico. Um vasto capinzal e alguns pequenos trechos lajotados dominam o topo, cuja vista panorâmica é realmente soberba e permite um vislumbre geral em 360 graus, seja da Represa de Taiacupeba, das Cabeceiras do Quilombo e de Cubatão, de td trecho feito desde Paranapiacaba, de Quatinga, etc..enfim, uma vista realmente deslumbrante. Dali tb observamos claramente o selado de ligação q deve ser atingido, rumo sul, pra depois prosseguir ininterruptamente pela crista, sentido o Pico Itaguacira, já a leste.
Após discutir a melhor tática de acesso e avaliar as demais possibilidade de fuga na carta, as 12:10 tomamos uma picada q sai do topo e percorre a crista indo no sentido desejado, isto é, sentido sul, onde perdemos altitude as poucos. Eu já havia percorrido esta crista noutra ocasião e sabia q dali havia condições de aceder o selado avistado, so não sabia se havia trilha ate lá. Pois bem, aqui o trajeto é tranqüilo e desimpedido, com algumas brechas na vegetação q permitem visualização da crista e selado q devemos atingir.
Mas não dá nem meia hr q a vereda nos leva numa bifurcação em “T”, onde o sentido agora a tomar é obvio, o ramo da esquerda, já q o da direita desce a serra sentido sudoeste e vai dar próximo do Camping Simplão. Mas após um bambuzal logo minhas suspeitas de inexistência de trilha se confirmam, pois não andamos nem 50m q a tal “trilha” some definitivamente, nos obrigando a simplesmente descer a serra no vara-mato. Sem referencia, é aqui q a bússola tem papel fundamental, sempre azimutando pro sul/sudeste. Por sorte o mato aqui não é espesso, bastando apenas ser contornado na mesma medida q perdemos altitude.
Ao reparar q não havia mais o q descer e q o terreno estava nivelado, percebemos q já havíamos atingido o tão almejado selado, por sinal encharcado e por onde corria um filete d´água. Dali foi só apontar a bussola pra nordeste ate ganhar a encosta q viesse a surgir. Ai fomos varando-mato ate ganhar a encosta e subir sem gde declividade ou qq dificuldade a mesma. Percebemos q estávamos na crista q nos levaria ao Itaguacira qdo nos vimos em nível, com mato caindo de ambos os lados.
Uma vez na crista bastou só rumar sempre pra nordeste, sem sair da rota. A vegetação, formada por muita mata arbustiva, mas principalmente arvores de porte mediano, permite fácil transito neste inicio de caminhada. Mas logo q surgem voçorocas sucessivas de fina taquarinha q as coisas se complicam, uma vez q elas se agarram a qq saliência da mochila ou em qq parte do corpo, como se fosse velcron. Em mais de uma ocasião desviamos da cristas pra andar pela encosta, onde a abundancia destas malditas taquarinhas era menor. Além delas havia muita mata caída, onde arvores tombadas formavam verdadeiras clareiras na crista, as quais tb havia q desviar pelos flancos. E visu? Bem, nenhum, a não ser nas frestas esparsas pela mata.
Assim fomos avançando pela abaulada crista na medida em q as condições se mostravam mais favoráveis pra caminhar, sempre de olho na bússola, subindo e descendo cocorutos com bastante freqüência. As vezes tínhamos a impressão de encontrar vestígios de uma precária trilha no alto, q logo desaparecia. Ate q após um gde bambuzal seguiu-se a subida derradeira ao alto do Itaguacira, ascenção esta ate bem fácil. Até lá eu já estava td ralado pelas taquarinhas, q deixaram marcas tanto nos braços como pernas, alem de sujeira e mato por td canto do corpo.
Pois bem, após cruzar uma espessa floresta de bambus secos, as 14hrs atingimos o alto dos 1.996m do topo do Pico Itaguacira, pois já não havia mais pra onde subir, apenas descer. Chamou-nos a atenção a mata bem alta, composta de arvores enormes, onde um pica-pau fez questão de anunciar nossa tímida conquista. Pelas frestas da vegetação podíamos avistar o monólito da Pedra Grande emoldurado do mais denso e espesso verde. Na verdade o topo do Itaguacira é meio q decepcionante, pois à diferença de sua vizinha não possui nenhuma laje ou mirante rochoso, mas estávamos contentes por concluir o desafio proposto. Por se situar no limite municipal imaginamos algum marco no topo, mas se ele existir deve estar coberto de mato uma vez q não vimos nenhuma trilha de acesso ao cume ou algo q o valha. Ou seja, o Itaguacira deve ser um pico q ninguém vai, algo corroborado pela inexistência de qq vestígio de lixo deixado por alguém.
Após breve descanso e goles do cantil, decidimos o q fazer. Sem qq trilha de acesso ao pico tínhamos q dar um jeito de descer. Avaliamos rapidamente a carta e constatamos q seguindo pra nordeste a continuidade da crista nos levaria ate próximo da estrada de Taiacupeba. Mas a opção mais pratica pra nós era rumar pra noroeste e cruzar com alguma estrada de fazendinhas da região q fatalmente desembocariam em Quantinga, bem mais próxima q Taiaçupeba. E foi isso q fizemos, começamos a descer a íngreme encosta no vara-mato, inicialmente com bastante facilidade bastando apenas se apoiar no arvoredo ao redor onde perdemos altitude rapidamente. Mas não tardou pra ter de atravessar uma interminável encosta de bambus secos onde o quebrantar dos mesmos diante nossa passagem forçada era o som reinante deste trecho. Passados os bambus vieram os emaranhados de fino cipó, q repetiram o sufoco da travessia agoniante em meio das taquarinhas da crista, e q me distanciou do Carlos.
Sujos e ralados, as 15hrs desembocamos numa estrada calçada q coroou nossa navegação perfeita de forma impecável. Dali bastou apenas acompanhar a estrada, q desceu cruzando por um enorme canil, onde a algazarra dos pulguentos (felizmente presos) anunciou nossa presença. Um tempo depois nos vimos saindo do Sitio das Águas e olhando por sobre o ombro, dávamos adeus ao pico alcançado, sua crista soberba e à parede rochosa vertical da Pda Gde. O resto da andança é trivial e sem maiores dificuldades.
Chegamos em Quatinga as 14hrs pra encostar num boteco e bebemorar a travessia com umas brejas geladas. O busão pra Mogi so tomamos meia hora depois, a tempo de chegar em Sampa inicio de noite. Contentes e conscientes do prazer proporcionado da missão cumprida e dos dois maiores cumes da região conquistados, fica ai a dica de mais um belo bate-volta adrenado. , E q pra travessias legitimamente selvagens por cumes montanhosos não há necessidade de ir longe demais e mto menos da exigência da utilização do tal aparelhinho do GPS. Com pouca coisa e boa disposição é possível ter um domingão radical e aventureiro com conquistas genuínas e prazerosamente selvagens. E ai, que tal encarar a travessia por toda crista do Itaguacira até Taiacupeba?
Texto e fotos: Jorge Soto
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