Travessia Terra Boa – Cacatú

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Interessante relato do Lauro, que reproduzimos. É de extraordinária valia aos projetos que envolvem aquele território inóspito. Relato que nos obriga a trabalhar em cima do croqui, para perfeita compreensão da marcha efetuada. Incursão protagonizada pelo trio Gustavo (Tavinho) Castanharo, Giancarlo (Cover) Castanharo e Lauro Correia de Freitas, este o escriba. Proeza de grande porte, mas que eles mantêm discretamente.

Aproveito a oportunidade para esclarecer, de uma vez por todas, de que o Morro do Getúlio é o Caratuva. Maack, na ocasião das suas medições e descobertas, nomeou os picos com nomes de ilustres personalidades de seu tempo. Toponímia que a legislação brasileira não permite. Daí, a opção pelos nomes tupi-guaranis.

Pelo roteiro executado, o nome Getúlio refere-se a Pedra do Grito (1). Feitas essas observações vamos à transcrição:

“Partimos da BR 116, sentido ao Morro do Caratuva, pois queríamos incluir um cume nessa nossa travessia. Ao chegarmos ao topo deparamo-nos com nosso primeiro desafio: chuva e frio. Aproveitamos o dia todo para descanso, pois sabíamos que o segundo dia seria puxado, pois a intenção era passar a curva do Rio Cacatú (trecho mais íngreme de nossa incursão) para ficarmos tranqüilos no terceiro dia.

No segundo dia, cedo iniciamos a descida. O trecho é íngreme e em pouco tempo o rio toma dimensões de porte. Neste percurso quase sua totalidade foi por dentro do leito. Ao chegar no trecho crítico, após algumas horas, tivemos que fazer um estudo e desviamos a rota em quase 180 graus, para transpormos a enorme rampa da curva do rio, que pode ser avistada do cume do Ciririca (2). Deparamo-nos com enormes paredões que nos fariam desviar no sentido Cerro Verde. Após este obstáculo ser transposto, retornamos ao rio que nos saudou com a visão de uma imponente cachoeira.

Continuamos a travessia ora pelo rio, ora pelo barranco, para desviar as piscinas. Achamos vestígios de palmiteiros, que nos levaram a um excelente refúgio para o pernoite.

No terceiro dia, continuamos a seguir os sendeiros dos extrativistas, até chegarmos numa trilha que apelidamos de “avenida palmital”, devido ao fato de estar bem batida.

Percorremos um bom trecho da avenida até chegarmos num ponto em que a trilha se tornava confusa e parecia voltar ao Cerro Verde (provavelmente para despistar os Florestais). Decidimos voltar ao leito do rio pelo qual percorremos mais algumas horas. Resolvemos ladear o barranco e ir por dentro da mata, porque dentro do rio a caminhada estava muito lenta.

Algumas horas de mata e conseguimos chegar até a represa do Rio Cacatú. Deste ponto até a usina de papel foi rápida e em pouco tempo estávamos na estrada que liga Antonina a Guaraqueçaba. Do recanto do rio Cacatú, após estarmos bem descansados, conseguimos carona até Antonina, dando por encerrada a empreitada”.

* * * * *

Publicado na Gazeta do Povo, 31 de maio de 1997

Protagonistas: Gustavo (Tavinho) Castanharo, Giancarlo (Cover) Castanharo e Lauro Correia de Freitas.

Locais visitados: Trilha do Pico Paraná, Morro Caratuva, Fio de Ligação, Curso do Rio Cacatú, Estrada para Guaraqueçaba e Antonina.

  Referencias explicativas: 

   (1) A Pedra do Grito é um enorme pedregulho a beira da trilha no ponto em que se inicia a                  definitiva descida até a Fazenda PP, onde os antigos gritavam avisando de seu retorno                  para que a esposa do Belisário Armestrong iniciasse a fritura dos "Bolinhos de Graxa".

   (2) Cachoeira do Cacatú

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Sobre o autor

VITAMINA – Henrique Paulo Schmidlin Como outros jovens da geração alemã de Curitiba dos anos de 1940, Henrique Paulo foi conhecer o Marumbi, escalou, e voltou uma, duas, muitas vezes. Tornou-se um dos mais completos escaladores das montanhas paranaenses. Alinhou-se entre os melhores escaladores de rocha de sua época e participou da abertura de vias que se tornaram clássicas, como a Passagem Oeste do Abrolhos e a Fenda Y, a primeira grande parede da face norte da Esfinge, cuja dificuldade técnica é respeitada ainda hoje, mesmo com emprego de modernos equipamentos. É dono de imenso currículo de primeiras chegadas em montanhas de nossas serras. De espírito inventivo, desenvolveu ferramentas, mochilas, sacos de dormir. Confeccionou suas próprias roupas para varar mata fechada, em lona grossa e forte, cheia de bolsos estratégicos para bússola, cadernetas, etc. Criou e incentivou várias modalidades esportivas serranas, destacando-se as provas Corrida Marumbi Morretes, Marumbi Orienteering, Corridas de Caiaques e Botes no Nhundiaquara, entre outras. Pratica vôo livre, paraglider. É uma fonte de referências. Aventureiro inveterado, viaja sempre com um caderninho na mão, onde anota e faz croquis detalhados. Documenta suas viagens e depois as encaderna meticulosamente. Dentro da tradição marumbinista foi batizado por Vitamina, por estar sempre roendo cenoura e outros energéticos naturais. É dono de grande resistência física e grande companheiro de aventuras serranas. Henrique Paulo Schmidlin nasceu em 7 de outubro de 1930, é advogado e por mais de uma década foi Curador do Patrimônio Natural do Paraná. Pela soma de sua biografia e personalidade, fundiu-se ao cargo, tornando-se ele próprio patrimônio do Estado, que lhe concedeu o título de Cidadão Benemérito do Paraná.

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