Trilha em meio a Mata Atlântica pode desaparecer graças ao projeto da BR-101

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Esta notícia foi publicada originalmente em 14/04/2008. Porém, 4 anos e meio depois, continua quentíssima. Os projetos para a construção da BR-101 no local continuam sendo tocados, quase que em segredo, pelas autoridades, e a região, cada vez mais ameaçada, já sofre com o inflacionamento de seus terrenos que, futuramente, farão margem a rodovia.

 

Safári fotográfico pela Picada do Cristóvão, na região do ainda não poluído Rio Cachoeira, alerta para o problema do projeto da BR-101, que infelizmente é ansiosamente esperado pelos sitiantes, apesar da beleza e integridade da natureza no local.
 
Alguns montanhistas paulistas e paranaenses realizaram entre os dias 5 e 6 de abril de 2008, um safári fotográfico pela antiga picada do Cristóvão, que liga o distrito de Bairro Alto, no litoral paranaense ao Planalto, numa região que era anteriormente conhecida por Paiol Queimado (hoje Terra Boa). Entre os montanhistas destacava-se entre eles, a presença do renomado fotógrafo de natureza Zig Koch.
 
O safári fotográfico percorreu toda a velha estrada pré-colombiana de "Praia Grande" a "Porto Cacatu" e registrou as ruínas da Janela da Conceição, da Janela da Cotia, da Piscina do Elefante, do Aqueduto e da velha Usina da Cotia, além é claro, de toda a beleza natural que o ambiente proporciona, e o pernoite foi no enigmático Disco-Porto.
 
Esta região consiste numa área muito preservada, no meio da Serra do Mar paranaense, encravada entre as duas maiores montanhas do estado, o Caratuva e Pico Paraná. Lá foram realizadas algumas das antigas obras da construção da usina hidroelétrica Parigot de Souza.
 
Os visitantes, quando observam atentamente dos cumes das montanhas vizinhas, podem observar um grande platô de cimento, resultado dos restos das estruturas usadas naquelas obras e, como o não compreendiam como aquilo fora parar lá, apelidaram o local de Disco Porto.
 
O tempo excelente contrastou com o estado precário da trilha neste final de verão, toda tomada pela vegetação exuberante que ao longo dos anos retomou seu aspecto intocado e muito dificultou o avanço do grupo.
 
"A situação quase se complicou no alto da serra quando só o fotógrafo Zig percebeu a presença de uma enorme jararaca enrolada ao lado da trilha depois que três montanhistas já haviam passado a menos de 10 cm do réptil." Disse um dos montanhistas.
 
Contudo, na região do Bairro Alto, em Antonina, as notícias do projeto da BR 101, que passará pelo local, e da reativação da velha Usina de Cotia, já agitam o mercado imobiliário e muitos sitiantes estão radiantes com a possível "valorização de suas terras" e a perspectiva de melhorar de vida com a abertura destas frentes de trabalho e do "progresso" que se instalará na região.
 
Atualmente, um grupo formado por montanhistas e ambientalistas chamado "101 Motivos" tenta sensibilizar o governo estadual e, quiçá o governo federal, das ameaças ambientais que a construção desta estrada pode causar na biodiversidade do local.
 
Um dos pontos que é alertado massivamente é que que tal obra, na verdade, é contrária aos interesses econômicos, uma vez que não trará grandes benefícios econômicos ao povo paranaense, além de deteriorar uma das poucas reservas ecológicas que ainda possibilitam estudo, tanto científico quando ecológico e contribuem nas pesquisas farmacêuticas e biológicas.
 
Bom lembrar que mesmo o próprio argumento da "melhora" de vida dos moradores da região apresenta-se vago e sem critério, uma vez que, após a dilapidação da propriedade rural que hoje possuem, não restará alternativa senão debandarem às grandes cidades, onde encontrarão somente dificuldades e tornar-se-ão mais um dado estatístico do sério problema referente ao inchaço populacional das capitais brasileiras.
 
Vale ressaltar que, ainda no aspecto econômico, a destruição daquela área para a construção de uma auto-estrada de passagem, representa a perda de um excelente poderio turístico àquela região, que mesmo sem praticamente nenhum comprometimento ou auxílio estatal, atualmente já retorna bons dividendos àqueles que trabalham com o ecoturismo.
 
"Será uma tarefa inglória explicar a esta pobre gente todos os malefícios e perigos que esta obra representa para eles próprios, ao Paraná e também ao Brasil como um todo." Disse um dos montanhistas.
 
Redação AltaMontanha.com
 
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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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