Ao longo da história as cidades foram se expandido e seus habitantes se distanciando cada vez mais da natureza. As florestas atuam na melhoria do clima, diminuição da poluição, manutenção do ciclo da água… estes espaços também promovem benefícios à saúde, oferecendo oportunidades de recreação e lazer para a população, além de melhorar a paisagem das cidades, reduzindo o impacto visual do metal e do concreto.
O texto acima está em placa na entrada da trilha Mozart Catão, acessada pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Pouca gente sabe, mas tal caminho é feito em uma montanha muito vista, mas pouco conhecida da população: O Santo Antônio Mirim. E o texto serve muito bem para ilustrá-la, visto que é de extrema importância para a beleza cênica e o desenvolvimento do montanhismo na cidade.
A montanha tem 1.319 metros de altitude e oferece opções de caminhada e escaladas de diferentes tipos. Para facilitar a identificação visual do leitor, ela fica bem ao lado do pórtico da cidade e, muito tempo atrás, também era conhecida como Pico da Bandeira. Como já citei no início da coluna especial de hoje, a trilha mais conhecida do Santo Antônio Mirim é a Mozart Catão, que leva ao mirante Alexandre Oliveira. Ela tem acesso depois do camping, na estrada da Barragem, no Parna-SO. Cerca de um quilômetro, em um desnível de terreno de 106 metros, que pode ser vencido em pouco mais de 20 minutos.
Pelo caminho, avista-se de alguns pontos, Dedo de Deus, Cabeça de Peixe, Nariz e Verruga do Frade. Quem fizer a caminhada em silêncio, contemplando o que de melhor a natureza nos oferece, ainda pode dar a sorte de ver esquilos e diferentes pássaros. Dependendo da época do ano, encontra-se pelo caminho algumas pequenas quedas de água.
No mirante, com altitude de 1.190 metros, destaque para o lago do Comary e parte da CBF, casa da nossa seleção de futebol. De frente para a Serra dos Cavalos, avista-se boa parte da cidade e outras montanhas, como a Tartaruga, bem distante dali. Os homenageados em questão Mozart e Alexandre – foram importantes montanhistas de Teresópolis que há nove anos morreram quando escalavam a face sul do Aconcágua, na Argentina.
Além dessa trilha, futuramente os excursionistas e amantes do verde da Mata Atlântica poderão desfrutar de outro caminho, que vai levar até outro mirante, o do Dedo, acessado anteriormente nas proximidades do Soberbo. Porém, como a passagem começou a ser freqüentada por vândalos e caçadores, foi fechada pela direção da unidade de conservação ambiental. Agora, os interessados em chegar ao local com uma vista fantástica para o Dedo de Deus, Escalavrado e outras montanhas vai ter que passar por dentro do parque, próximo da pousada.
Parque dos lagartixas
Para quem prefere subir pelas paredes, o Santo Antônio Mirim não deixa a desejar. Pelo contrário. Conta com vias fáceis, para quem está começando a guiar, por exemplo, e as mais cascudas, até com proteção móvel.
Mas o interessante é que muitos escaladores que freqüentam o local desconhecem o nome da montanha, a tratando como Fritz, por conta de uma das vias daquela parede, a Fritz Reuter um 4º grau (com lance de A1), conquistado em 1977 por Mário Arnaud e Nilo Guerreiro.
São vias de fácil acesso e curtas, ideais para essa época do ano em que pode chover na parte da tarde ou para quem tem pouco tempo, por exemplo. Agora, é importante lembrar que a pessoa não pode deixar de passar na portaria do parque antes, pois, apesar de não ser cobrado ingresso e o acesso ser por fora, é necessário preencher um termo de responsabilidade”, lembra Guilherme de Carvalho, diretor de escaladas do Centro Excursionista Teresopolitano.
O traçado mais conhecido dessa parede e outras vias de aderência são acessadas através de um terreno baldio na Rua Carlos Smile, antes do prédio. Em outro canto da montanha, bem ao lado do pórtico, um grande diedro (Junção de duas paredes de pedra formando ângulos de aproximadamente 50º a 90º), o Tetramanon. Um quinto grau, quase todo com proteção móvel, inclusive uma parada. Foi conquistado em 1987 pelos conhecidíssimos no meio Alexandre Portela e Sergio Tartari, em parceria com o teresopolitano Mozart Catão.
Ainda falando em escalada, as paredes do Santo Antônio Mirim foram berço para muitos atletas na cidade, que deixaram ali suas marcas. Algumas das outras vias da montanha são: Calango Boy (6º VIsup, Daniel Guimarães e Alex Girino, 1999), CBF, Variante (VI, Mozart Catão e Luiz Caminha, 1989), Garotos Podres (6º VIIa A0, Daniel Guimarães, Gustavo Jimmy Cliff, Diogo Marassi, Alex Girino e Ricardo Monstrinho), Cruz-Credo (6º, Wilson Soares), Jardim do Inferno (4º V, Mozart Catão, 1984), Jardim do Paraíso (6º VIIa, Luiz Caminha, Marco Maciel, Mozart Catão e Pedro Cézar Caliano, 1989), e Jogo da Velha (5º VIIa, Dudu Guarilha e Alex Girino, 2002).
Em tempo: A primeira via aberta no Fritz remete-se a década de 60, conquistada com uso de pés de galinha (espécie de grampos bem maiores do que os atuais), para vencer o paredão e alcançar o mastro de bandeira que ficava no cume.
Conheça, preserve
Como já deu para perceber, essa montanha é de extrema importância para o município. Inclusive, não muito tempo atrás falou-se em construir um teleférico do cume até o Mirante do Soberbo. Projeto de antiga administração do Parque Nacional visando incrementar o turismo, mas que acabou não saindo do papel.
Enfim, se você já conhece as trilhas e vias do Santo Antônio Mirim, ajude a divulgá-las e preservá-las. Se tem vontade de conhecer, vá a uma das reuniões sociais do Centro Excursionista Teresopolitano. Única entidade representativa do esporte na cidade, o clube funciona todas as terças-feiras, a partir das 20h, na loja da Sociedade Pró-Lactário, número 555 da Avenida Lúcio Meira, ao lado da ponte. Mais informações através do e-mail [email protected]
Por Marcelo Medeiros – Diário de Teresópolis